LUAN 25
Desde que meu pai morreu minha casa passou a ser o pior lugar do mundo. “Cuide da sua mãe, filho, você agora é o homem da casa” foram as exatas palavras do pastor. Minha mãe sempre foi meio fanática, ela cresceu na igreja, conheceu meu pai e casou, tudo como manda a palavra. Só que meu pai não era tão louco como ela, ele era um respiro no meio desse fanatismo religioso dela.
Culpa! Porra essa palavra me perseguiu a vida inteira, na igreja eu era o garoto que perdeu o pai, na escola eu era um pretinho fudido que todos adoravam zuar, “não revide Luan, dê a outra face” a pastor, como eu queria mandar o senhor ir a merda. Sendo justo com o pastor eu queria mandar todo mundo tomar no cu.
— Luan onde você estava meu filho! — Vai começar, acho que minha mãe se daria muito bem com Caio, já que ambos me odeiam.
— O que foi mãe? — Nem consigo fingir mais, já tem dias que nossa relação está um merda, ela descobriu através de uma revelação que estou escondendo algo dela e desde então aqui em casa está um inferno ainda pior do que era.
— Você estava na casa de Jezabel não era Luan! — Pronto, agora vem uma sessão de xingamentos bíblicos para com uma pessoa que ela não conhece, mas tem certeza absoluta que existe.
Deixo a fala sozinha e vou até a cozinha tomar uma água. Infelizmente para mim irmã Madalena não vai parar de gritar até que eu escute tudo que ela tem para me dizer.
— O pastor perguntou por você, o que aconteceu Luan, você está se desviando, eu oro todos os dias, não sei mais o que fazer.
— Que tal parar de orar mãe, ou melhor a senhora poderia orar pedindo outras coisas, tenho certeza que Deus não deve mais aguentar ouvir suas reclamações sobre mim.
— Olha isso, essa Jezebel está corrompendo meu filho, meu senhor, o que eu fiz Eterno para merecer isso? — Só queria que uma vez ela entendesse que não é sobre ela.
— Mãe eu tenho que sair a confra do trabalho aqui a pouco, a gente pode ter essa discução quando eu voltar?
— Voltar, e quando você vai voltar Luan! Está sempre no mundo meu filho, na casa.
— De Jezabel!
— Não me responde garoto, honrar pai e mãe Luan! Vigia meu filho!
Ela consegue sugar minhas energias e minha felicidade, mas internamente tem algo que ela não vai conseguir tirar que é esse novo sentimento nascendo aqui dentro, Ykaro é tão lindo, lembro que a primeira vez que o vi foi meio louco, o cabelo ondulado castanho, os olhos cor de âmbar, os lábios rosados, o corpo magro porém definido, pouco mais baixo que eu, porra o moleque entrou na minha mente e ficou.
Lembro perfeitamente, ele usando uma camisa dos the Strokes fazendo a melhor caipirinha que já provei na vida. Transei com a Stella no mesmo dia, depois claro me senti um lixo, sujo, errado, isso tudo porque transei com ela imaginando como seria transar com Ykaro e isso aconteceu de novo e de novo. O cara passou a aparecer no meus sonhos, na minha punheta, até acordado no trabalho ficava pensando em como seria beijar a boca rosada dele, eu amor mulher, não que eu tenha dormido com muitas, mas as que eu dormi foi muito massa, Stella então é sensacional.
Só que ai veio a noite em que transei com ela e ele estava lá, nem sei como me concentrei e logo quando achava que tinha passado a gente trocou uma mão amiga, caralho. A mão do Ykaro meu deu mais prazer do que qualquer buceta que eu já tinha comido. Foi surreal de bom e foi indo, achei que ia morrer quando ele me chupou no banheiro, meu coração nunca esteve tão disparado.
O mais louco de tudo é que não tinha culpa com ele, não como tinha com as mulheres com quem transei. Com Ykaro eu só quero mais, a noite em que ele me ligou eu fui correndo e não me arrependo, o sexo com Ykaro me fez querer viver pela primeira vez e ainda faz, cada vez que estou dentro dele me sindo o rei do mundo, me sindo bonito, desejado, a carinha que ele faz quando meto nele é a coisa mais fofo que já vi e dar para ele então, maluco nunca pensei que daria meu cu para alguém e agora só penso nisso, transar com ele é bom, me sinto livre, não tem protocolo, não tem rotulo, não tem cobrança, o que nos der vontade de fazer a gente simplesmente faz.
“Nego, você vai querer carona ou vamos nos encontrar lá?” — Estava justo pensando nele quando chega uma mensagem sua.
— Luan eu vou chamar o pastor para vir orar por você.
— Oi? — Me perdi pensando no Ykaro que nem notei que ela ainda estava falando comigo — mãe!
— Eu não sei mais o que fazer, você não era assim Luan, quer saber se o Ygor ainda fosse vivo você estaria matando ele de desgosto — meu sangue ferve, não tem nada que eu odeie mais no mundo do que que falem do meu pai, ainda mais dessa forma.
— Cala a porra da boca mãe! — Nunca tinha gritado com ela na vida, na real, a última vez que gritei com alguém foi na escola com os moleques que faziam bullying com Adriano. Boquiaberta minha mãe fica sem reação — desculpa mãe, é que eu tô cansado.
Já sentiu o peso da mãe de uma pessoa na sua cara? Eu já, seis, seis são o número de vezes em que minha mãe me bateu na cara, a primeira vez foi no meu aniversário de seis anos, o último que passei com meu pai, lembro que ela me bateu porque eu disse que não queria ir para igreja no dia do meu aniversário. Sete! Mais um para conta. Ela começa a chorar e se maldizer, cara não consigo mais fazer isso, quero gritar para ela que estou namorando um cara, que estou apaixonado — espera eu tô apaixonado? Estou! Caralho o que eu faço com isso? Caio vive me julgando por ser emocionado como o Adriano, será que se eu contar para o Ykaro ele vai recuar assustado.
Mais uma vez eu divago enquanto sou xingado pela minha própria mãe — vou te poupar de todas as palavras pesadas e de baixo calão da bíblia — perguntou se eu falar a verdade o que ela vai fazer, será que teria um AVC? Acho melhor não arriscar. Quando sua ira parece finalmente dar sinais de uma pausa sigo em retirada para o meu quarto, onde tranco a porta, inclusive tive que mudar essa fechadura para que ela parasse de ficar revirando meu quarto atrás de drogas.
“Eu encontro vocês lá, Nego” — respondo sua mensagem.
Nem o Adriano que é meu melhor amigo sabe da zona de guerra que é minha casa, quer dizer que todo mundo sabe que minha mãe é difícil, mas não tem a noção do inferno que é viver com ela. Eu não conto porque ele já vive me falando para sair daqui, se souber ai acaba minha paz. Não vou abandoná-la, ela é louca e me odeia, mas ainda é minha mãe e eu ainda sou o homem da casa — vai se fuder pastor Valdir!
***
O Quintal é um bar de MPB. O dono aproveitou bem o terreno, antes era uma casa e ele transformou no bar. Na entrada onde era a garagem e o jardim tem uma mesa de sinuca e uma bancos de pedra, na lateral um corredor quando cheio de plantas, nas paredes caricaturas de grandes nomes da música popular brasileira e os banheiros feminino e masculino. nos fundos tem duas árvores grandes — uma mangueira e outra que não sei de que é — as mesas e cadeiras são de madeira, só que as cadeiras não são daquelas dobráveis, na real acho bem confortável. No fundo tem um alpendre com a parte do bar, todo de madeira, desde as prateleiras, o balcão e os bancos, por fim um palco debaixo da árvore que não sei o nome.
As confras do banco normalmente são aqui, o dono é irmão de um dos gerentes e o espaço é bacana, quando tem as confraternizações do banco ele abre mais cedo para gente usar o local, daí quando dá a hora que os clientes dele costumam chegar a gente já fica livre para continuar por aqui ou ir embora.
— Luan tem certeza que esse barman é bom mesmo? — Seu Geraldo dono do bar ainda não está botando fé.
— Eu pago a diária dele se o senhor não gostar.
— Eita que eu to vendo que você confia mesmo então.
— O senhor nem imagina.
Seu Geraldo vive reclamando que até hoje não teve sorte com barman. Tanto que os drinks da casa quase não tem muita saída, quando o seu Ramos comentou que o irmão estava tendo que preparar os drinks do bar pensei na hora no Ykaro. Tenho certeza que o Ykaro vai sair daqui com uma proposta de emprego, ele é muito bom fazendo drinks e aqui vai ganhar bem mais do que no pub que ele está agora.
Eu acho que vai ser bom também ele não trabalhar mais com Stella, tipo eu vou conversar com ela e não sei ainda o que vai acontecer depois disso, acho que quando ela souber o que rolou não vai ser nada bom trabalhar com Ykaro e eu estou pensando nos dois. Eu gosto da Stella, ela foi a primeira mulher que eu realmente gostei, mas é que tudo que eu entendia como amor caiu por terra quando beijei o Ykaro. Estou confuso pra caralho, mas mesmo assim, mesmo que seja uma puta loucura namorar um cara, para mim estar com Ykaro foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Não faço ideia de como Stella vai reagir, também não sei se devo contar sobre o Ykaro, a gente meio que combinou de ficar em segredo por enquanto, só que tudo que menos queria era magoar a Stella — eu sei meio tarde para isso — no fundo Caio estava certo, ela devia ter fugido de mim. É escroto da minha parte pensar que se ela não tivesse me aceitado eu não teria ficado com Ykaro? Tipo vontade eu tinha, mas a situação que rolou entre a gente naquele dia, se não fosse aquilo duvido que a gente trocasse mais do que um olâ quando nos esbarramos na casa do Adriano.
— Luan, tem um pessoal te chamando na porta — Seu Geraldo me avisa.
— Valeu, deve ser o pessoal.
Ykaro está com uma camisa preta, calça social e um sapato social, mano eu quero arrancar essa roupa e foder com ele em cima da mesa de sinuca — preciso me controlar para não ficar com o pau marcando na minha calça. — Brene está com ele, impecável como sempre, mas perto do meu Nego ninguém consegue chamar mais a minha atenção do que ele.
— Oi Ne…Ykaro — me corrijo assim que a palavra quase escapa da minha boca, por sorte a decoração roubou o foco do Breno que não notou meu ato falho.
— E ai Luan, beleza — só agora ele me comprimenta.
— E ai Luan, onde a gente deixa essas coisas — Ykaro se refere aos doces e salgados.
Ajudo eles pegando o bolo que o Adriano fez. Deixei duas mesas perto do bar para colocar as comidas, mostro o bar para o Ykaro, depois ajudo o Breno a deixar tudo em ordem. Nossa, só de sentir o cheiro já quero comer tudo, Adriano tem mãos mágicas, tudo que ele faz fica incrível. Nas confras do banco suas receitas já são famosas, tanto que o Seu Geraldo até já pensou em fechar um acordo com meu amigo para colocar os brigadeiros dele no cardápio.
— Gente eu não vou poder ficar, meu pai vai precisar de mim — Breno acabou de receber uma ligação do pai — mais eu prometi ao Adriano que ajudaria.
— Relaxa parça, pode ir eu tomo de conta — digo o tranquilizando.
— Tem certeza?
— Tenho sim, eu já fiz isso antes eu sei montar os pratos certinhos e também o Adriano já me ensinou como cortar e servir esse bolo.
— Assim que eu me desocupar eu volto para ajudar — Breno é louco pelo meu amigo, só ele não ver isso, sabe nunca entendi porque o Caio não conta de uma vez para o Adriano que eles não tem nada e que é dele que o Breno gosta de verdade.
— Qualquer coisa eu ajudo ele — Ykaro se disponibiliza, mas duvido que vão dar paz a ele depois de provarem o primeiro drink.
— E então barman, vamos ver o que você sabe fazer — Seu Geraldo já está tratando isso como uma entrevista, só o Ykaro que não notou ainda, eu devia ter falado antes, mas é que nossos últimos encontros foram — meio agitados — não tive a oportunidade para essa conversa e acabei esquecendo.
— O que o senhor quiser é só pedir.
— Muito bem, eu quero um cosmopolitan!
— Na hora chefe — Ykaro é um barman incrível mesmo, ele nem para pra pensar, suas mãos começam a trabalhar, é como se ele soubesse de có como fazer qualquer drink que lhe pedirem.
Como imaginei, o pessoal atacou os salgadinhos do Adriano e os doces também, mas o trabalho do Ykaro não foi esquecido de forma alguma. Ele está fazendo tanto sucesso quanto, só para a metade da festa é que ele começa a ter um descanso, aproveito para chegar perto e poder conversar com ele — vou ser muito meloso se disse que já estava com saudades dele?
— Oi Nego, me faz uma caipirinha?
— Tudo pro meu Nego, vou fazer no capricho!
— E aí o que acho do bar? — Pergunto, na expectativa que ele tenha gostado, assim facilita na hora de aceitar o emprego e eu estou ainda mais certo agora que o Seu Geraldo só rasgou elogios para ele.
— É bem massa aqui.
— Massa, o seu Geraldo já falou com você?
— Sim, ele me ofereceu um emprego aqui, mas eu já tenho emprego.
— Nego, aqui você vai ganhar mais dinheiro.
— Você sabia que ele ia me oferecer esse trabalho? — Ykaro é muito esperto, ou eu que já estou meio altinho e não soube disfarçar bem.
— Sabia, desculpa não ter te contado, eu não queria que fosse segredo, é só que eu acho que aqui vai ser melhor para você — ele não parece ter ficado irritado, ainda bem, não quero brigar com ele, mas sei que vacilei por não ter contado — você tá bravo?
— Não, só que na próxima me fala antes tá? — que alívio.
— Tá bom, mas e ai o que você disse ao seu Geraldo?
— Falei que não estava disponível, mas ele me pediu para pensar na proposta antes de recusar.
— Mas porque você não quer aceitar?
— Eu já tenho um trabalho Nego — ele me chamar de Nego me deixa abobalhado todas as vezes, acho que o Ykaro ainda não se deu conta do poder que exerce em mim.
— Pelo menos pensa a respeito, aqui você vai ganhar mais e não é tão longe de casa, fora que os horários aqui são mais flexíveis, tipo nenhum dia você vai ter que trabalhar até amanhecer.
— Eu só não posso! — Ele está começando a se irritar, eu acho que deve ter alguma coisa haver com o passado dele, quero muito que ele me conte qual é o problema, mas preciso ouvir o conselho do Adriano sobre eu aprender a ser mais paciente.
— Tá, não vou insistir, só me promete que vai pensar pelo menos, ao invés de só recusar de cara.
— Beleza.
— Obrigado!
— Só porque você está me pedindo — ele deixa claro seu descontentamento, mas pelo menos ele ficou de pensar, assim pode ser que ele acabe aceitando.
— Eu vou falar com Stella quando sair daqui — meu time de assuntos é horrível, então só solto a informação, para só depois pensar que seria melhor preparar antes.
— O que você vai dizer para ela?
— Que eu estou gostando de outra pessoa, que trai ela e que me arrependo de ter traído ela, porém não consigo me arrepender de ter ficado com essa outra pessoa e por isso acho melhor a gente terminar.
— E se ela não aceitar numa boa?
— Para ser sincero eu não pensei muito sobre isso, mas estou certo do que preciso fazer, mesmo que isso me custe uma amizade com ela depois de tudo.
— Você tem certeza que é isso que quer?
— E você Ykaro, tem certeza que quer ficar comigo? — Devolvo a pergunta.
— Sim — ele me pega de suspresa com uma resposta seca e direta é a primeira vez que o vejo sem exitar ou querer não se entregar. Ele está entregue assim como eu.
— Eu quase contei para minha mãe hoje mais cedo, si isso não é certeza eu não sei o que é.
— Vai contar sobre a gente?
— Eu acho que devemos contar, mas isso tem que ser feito por nos dois, quando ambos estivermos prontos para nos assumir — digo e ele concorda com a cabeça.
— Estava pensando a mesma coisa.
— Depois que eu falar com ela eu vou para casa, você se importa se a gente só se ver amanhã? — Não sei como vou está depois do término, mesmo tendo certeza do que eu quero, terminar com Stella não vai ser fácil ainda mais que vou assumir minha traição, pois devo isso a ela.
— Eu entendo, toma o tempo que você precisar Nego — que bom que ele entendeu, com Ykaro tudo é fácil, até mesmo me entregar para um homem, só por ele ser esse homem faz tudo valer a pena, por mais difícil que vá ser.
O pessoal começa a encher o bar de novo e logo meu namorado volta a ficar muito ocupado. Já quase no final Adriano chega, ele está péssimo, conheço meu amigo, mesmo sorrindo eu sei que algo aconteceu. Ve-lo assim só faz me sentir mais culpado, não fazia ideia de que estava sendo um cuzão com ele, não posso culpar só o Caio, eu reconheço que o preconceito está muito enraizado dentro de mim, só que na minha cabeça nunca tinha sido homophobia com o Adriano. Grande hipócrita eu sou, ainda mais agora que eu namoro um cara, não sei o que eu sou, mas sei que desejar o Ykaro como eu desejo não me faz nem um pouco hetero.
— Oi amigo desculpa só chegar agora, já tá acabando né?
— Sim, mas está de boas — só agora vejo que Breno veio junto com ele, deve ter ido buscá-lo, ultimamente eles tem ficado muito juntos.
— Ah que bom.
— Adriano, a gente pode conversar rapidinho? — Preciso me desculpar.
— Eu vou aproveitar que o Ykaro ainda está servindo e pedir alguma coisa para mim — Breno se afasta, deve ter entendido que o assunto é particular.
Adriano é meu melhor amigo, desde a escola e nunca vi ele ficar puto comigo, eu sei que posso ser meio dramático às vezes, mas é que perder a amizade dele seria meu pior pesadelo, Adriano esteve comigo em todos os meus momentos bons e ruins, teve vezes em que ele me ajudou e nem faz ideia, tipo foi por causa dele que parei de sofrer bullying, quando revidei para protegê-lo acabei me impondo de tabela e assim os garotos passaram a ter um pouco de medo de mexer comigo.
— Adriano me perdoa, eu nunca imaginei que podia te magoar.
— Luan, tá tudo bem, eu só tava cansado, não devia ter expulsado vocês daquela forma.
— Não, você tem razão, eu vou mudar, prometo!
— Amigo, não quero que você mude, mas deixar de ser um pouco homofobico ajudaria muito — ele tem razão, preciso mudar isso, não dá para continuar pensando como um membro da igreja — tipo se você acha que o Caio vai pro inferno por ser gay eu automaticamente estou condenado também.
— Não, eu não penso assim, olha eu sei que sou um babaca na maior parte das vezes e que sou ciumento, mas é que o Caio também provoca! — Fico irritado só de falar dele.
— Eu sei Luan, mas acontece que você precisa se conter cara, de verdade, não tem que ser amigo do Caio, mas precisa respeitá-lo.
— E ele vai me respeitar também?
— Eu vou ter uma conversa com ele, só não quero ter que entrar em uma guarda compartilhada, mas se pelo jeito foi um vacilo tentar insistir em uma amizade entre vocês dois.
— O que você quer dizer com isso? — Ele está estranho.
— Eu resolvi que não vou mais tentar forçar, você está com os dois, mas de forma separada daqui para frente.
— Adriano eu não quero que você precise escolher — na verdade eu queria sim, mas tenho noção de que não posso exigir isso. Infelizmente!
— Eu sei, mas pelo menos por um tempo vou tentar evitar esses encontros.
— Você me desculpa por ser um amigo ruim?
— Você não é um amigo ruim Luan, pelo contrário você é meu melhor amigo e sabe que não precisa ter ciúmes do Caio, vocês dois são especiais para mim da mesma forma.
— Fala isso para ele.
— Tá vendo? Vocês estão brigando e ele não está nem aqui — Adriano abre um sorriso.
— Desculpa.
— Estamos bem e isso é tudo que importa para mim agora, beleza? — Agora me sinto bem mais leve, Adriano não está puto comigo.
— Sim, odeio brigar com você — digo e ele me dá um abraço apertado do jeito que ele sabe que eu gosto. Abraço de urso.
— Adriano? — Tô pegando coragem para contar, não dá para ter segredos com ele, tipo não vou falar do Ykaro, mas ele tem que saber que estou entrando em uma nova fase e que é um pouco intimidante, ele vai me entender e quem sabe até me apoiar.
— Pode falar — ele diz rindo.
— Adriano, era com você que eu queria falar — seu Geraldo nos interrompe — rapaz vamos negociar esses brigadeiros.
— Já falo com o senhor — ele responde todo orgulhoso do seu trabalho — o que era Luan?
— A gente fala depois, não é nada importante — meio que não posso fazer minha revelação na frente do seu Geraldo né!
— Beleza, vamos lá seu Geraldo, de quantos brigadeiros estamos falando?
***
Tudo aconteceu da melhor forma possível, ainda sinto que tem algo incomodando o Adriano, mas quando ele quiser me contar sei que vai fazer isso — só espero saber primeiro que o Caio, ele vai odiar se o Adriano contar para mim primeiro — descobri também que ficar perto do Ykaro sem poder beijá-lo é muito difícil. quase me esgueirei pelo bar para tentar lhe beijar no escondido rapidinho, mas achei melhor não, pois todas as pessoas com quem trabalho estavam lá.
Stella está no trabalho, então mando uma mensagem para ela avisando que precisamos conversar quando ela sair. Estou bem nervoso, vai ser a conversa mais difícil que já tive com alguém, ela é muito especial e eu errei feio com ela, nem sei se existe perdão para a traição que eu fiz, só espero que um dia ela possa me desculpar e que possamos ser amigos, pois Stella teve uma passagem muito especial pela minha vida, ela foi uma das pessoas que me deu forças para largar a igreja, só que no final foi o Ykaro que de fato tem me salvado dos meus próprios preconceitos e da culpa que me perseguiu até aqui.
“Olha só meu namorado lembrou que eu existo”
“Desculpa” — tenho pedindo muitas desculpas ultimamente, isso não é bom.
“Vai lá para casa hoje?”
“Vou, me avisa quando você estiver indo para casa” — Preciso resolver isso o quanto antes, não dá mais para manter esse segredo.
Vou para casa, tenho que pensar muito bem no que vou dizer, não posso falar nada sobre o Ykaro, porém tenho que está preparado para o caso dela querer saber com quem eu a traí, não quero ter que mentir, mas a verdade é complicada, me meti em uma situação bem difícil. Não sei se é uma boa ideia ter essa conversa agora a noite, também, mas a cada dia que eu minto para ela pior a situação fica.
Chegando em casa vejo um grupo da igreja todo reunido na minha sala, a vontade que me dá é de voltar na mesma pisada e me afastar desse lugar, mas minha mãe praticamente pula em cima de mim assim que me vê.
— Luan, o pastor tem um convite muito especial para lhe fazer — olho para ele esperando para saber o que é esse convite, me sinto meio desconfortável por ter umas seis pessoas junto do pastor, para mim parece uma emboscada.
— Luan sua mãe disse que você anda um pouco afastado da palavra, estamos aqui para lhe convencer a voltar e também para orar pela sua vida — eu odeio poucas pessoas, meu pai sempre me dizia que o ódio é um veneno para alma e para o coração, mas juro por Deus e pela memória do meu pai que eu odeio esse pastor!
— O senhor não está sentindo falta de mim e sim do meu dízimos — ainda não faço ideia de onde está vindo essa coragem, pode ser cansaço de baixar a cabeça, ou algo em mim realmente mudou depois que conheci o Ykaro.
— Que isso varão, jamais, Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou?E, se, porventura, a acha, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram.Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca. Mateus 18:12.
— Olha pastor, com todo respeito do mundo eu estou muito bem onde estou e não é do meu interesse voltar.
— Ele está com o inimigo no corpo pastor, eu falei! — Minha mãe começa o seu show, estou tão cansado disso tudo, tipo ela chamou o pastor e outros irmãos na tentativa de me coagir.
— Não estou te reconhecendo Luan?
— Já falei o que eu tinha para dizer para o senhor e mãe por favor me deixa em paz, eu pago a porra das contas dessa casa, eu banco a senhora o que mas a senhora espera que eu faça?
— Eu só quero sua salvação Luan! — As irmãs de fundo falando aleluia, meu irmão, isso aqui é um hospício só que levei muitos anos para me dar conta.
Vou para o meu quarto, pois discutir com minha mãe não vai me levar a lugar algum, agora eles estão começando uma oração na porta do meu quarto, na moral pensei que isso só acontecesse em novela, puta merda. Como se eu já não tivesse muita coisa na cabeça ainda tenho que passar por isso, de novo, a resposta da minha mãe para tudo que ela não consegue entender ou aceitar é orar e fazer essa cena, toda vez, estou cansado dessa merda na moral.
Dormir e acordar com Luan foi tão bom, me pergunto agora se não seria melhor dormir e acordar todos os dias com ele, ao invés de viver com uma fanática religiosa — se ela não fosse minha mãe já teria me mudado a muito tempo. Quando o circo lá fora finalmente se encerra eu saio do quarto atras de algo para comer, já está quase na hora eu sair para casa da Stella. Pensava até que minha mãe já estaria indo para cama, mas ela preferiu me dar um baita susto quando entrei na cozinha e peguei ela sentada tomando café sozinha.
— Vai sair?
— Vou — nem tenho como negar, estou usando uma bermuda jeans preta e uma polo também preta.
— Vai para casa da Jezabel?
— Sim, mas ainda volto para casa hoje — disse sem olhar diretamente para ela, ao invés disso estou pegando queijo e presunto na geladeira para fazer um misto.
— Não sei mais o que fazer com você Luan, você nunca tinha respondido o pastor daquela forma, quase me matou de vergonha e de desgosto.
— Foi a senhora quem chamou eles aqui, olha mãe, eu não quero brigar, mas a senhora tem que entender que eu não sou mais o garotinho que era arrastado para igreja, aquilo não faz mais sentido para mim.
— Se seu pai estivesse aqui — dessa vez eu a interrompi batendo com a pau da mão na mesa com toda minha força, ela toma um susto.
— Para! Me escuta, o meu pai morreu e eu não tenho culpa do que aconteceu com ele, assim como também não estou saindo da igreja para te atingir, essa é minha decisão e você vai ter que aceitar, caralho mãe, estou exausto de ter essa mesma conversa com você todos os dias!
— Eterno, eu te peço salva meu filho, ele está completamente entregue ao inimigo — suas lagrimas fazem meu sangue ferver, até perdi a porra da fome.
— Quer saber, desisto, estou saindo — largo tudo em cima da mesa e saio.
— Luan, volta aqui! — Não dou ouvidos a ela, só saio andando até meu quarto, pego minha carteira, minhas chaves, o celular e saio de casa, atrás de mim ouço sua oração exageradamente alta, ai gosta de chamar atenção, puta que pariu, mais uma vez ela é minha mãe, mas suas ações só me fazem querer está cada vez menos com ela.
A igreja quase acabou com minha vida, com minha capacidade de pensar, com minhas relações, já chega, se eu tenho coragem para pedir o Ykaro em namoro sinto que tenho coragem para fazer qualquer coisa. Pego um uber e vou para casa da Stella. repasso na cabeça mais uma vez o que vou dizer e como vou dizer. O porteiro me deixa entrar — até porque ele já me conhece. Sigo até o apartamento com o coração acelerado, parece até o dia em que vim aqui para pedi-la em namoro.
— Oi amor — ela me beija assim que abre a porta, não consigo desviar a tempo então nossos lábios acabam se encontrando em breve selinho.
— Oi Stella, você parece cansada.
— Hoje o trabalho foi de mais, acho que vou precisar uma massagem nos pés — respito fundo e então chama ela pelo nome.
— Stella, precisamos conversar.
— O que foi? Eu não tô chateada com seu sumiço, só esquece isso Luan, está tudo bem.
— Não é só sobre isso, tem uma coisa que eu preciso mesmo te contar — ela começa a notar o peso na minha voz e seu semblante muda, vamos até o sofá onde ela se senta de frente para mim.
Assumir uma traição não é simples, ainda mais quando se ainda está traindo, não foi algo que veio e passou, pelo contrário, é algo que estou vivendo. Eu a fiz confiar em mim e eu mesmo quebrei essa confiança. Por mais que eu veja o Ykaro como sendo a única escolha possível que eu posso fazer agora, não tem como pensar que não fui um escroto babaca com Stella, nunca tinha traído ninguém, e pensei que nunca faria, mas fiz e agora estou aqui diante dela escolhendo bem minhas palavras para confessar minha falta de responsabilidade que tive com ela.
— Eu menti para você, bem na verdade eu estou mentindo para você.
— Como assim, o que tá acontecendo Luan?
— Stella — meus olhos estão lacrimejando — eu me odeio por ter feito isso com você, não foi nem um pouco justo ou decente da minha parte.
— O que você fez, Luan, me conta — seu rosto começa a tomar uma coloração avermelhada, assim como seus cabelos ruivos.
— Eu estou te traindo Stella — digo de forma seca, pois não existe forma melhor de falar isso.
— Como assim, você não está todo certinho? — Pouco a pouco sua face vai se fechando, prevejo uma tempestade prestes a estourar — você acabou de me dizer que está me chifrando?
— Sim, eu não planejei isso, mas aconteceu.
— Ah, não planejou? Nossa tadinho — Stella fica de pé e começa a andar de um lado para o outro — a quanto tempo?
— Duas semanas.
— Você transou comigo seu filho da puta, você dormiu comigo e agora me diz que enquanto estava comigo também estava comendo um puta na rua? — Sua voz começa a se exaltar.
— Stella, você tem todo direito de me xingar e se irritar comigo, mas por favor acredite em mim eu não queria que isso tivesse acontecido dessa forma, eu nunca tinha sido infiel antes.
— Que sorte a minha né Luan, que você tenha resolvido começar justo comigo.
— Eu sinto muito — ela arruma o cabelo colocando o para trás.
— Você ainda dormiu com um puta Luan, depois de ter vindo nessa sala e me pedido em namoro de joelhos, ainda sim você ficou com outra pessoal. Duas semanas e só agora você resolveu me contar?
— Eu errei, eu sei disso.
— Errou? Você sabe? Que piada é essa Luan, você quer a porra de um premio por ter reconhecido sozinho que me trair foi errado? — Ela está gritando comigo, não esperava que isso fosse escalonar tanto — E agora o que você espera que eu faça, que eu diga tá tudo bem meu amor, só não faz mais tá bom.
— Não, eu — volto a respirar — eu quero terminar.
— Você quer o que?
— Eu vou ficar com a — do nada, sem aviso, levo o segundo tapa na cara, o primeiro da minha mãe e agora da Stella.
— Filha da puta, você um filho da puta! — E do nada ela avança para cima de mim como uma fera selvagem, me arrancando com suas unhas, eu seguro seus pulsos e tento me defender.
— Para! — Só depois do meu gripo é que ela para de tentar me bater e cai no sofá, agora eu que me levanto para tomar distancia dela — Stella eu juro não planejei que nada disso acontecesse, mas eu me apaixonei.
— E eu Luan, você não me amou, então porque pediu para namorar comigo?
— Eu gosto de você Stella.
— Vai para o inferno seu mentiroso, vem cá, ela não fica puta com você quando sua consciência começa a pesar e você se arrepende das coisas que faz?
— Stella, por favor.
— A culpa é cristã, ela lida bem com essa merda, como ela reagiu quando você disse no dia seguinte que deus não estava feliz com você? — Eu fico em silêncio então ela volta a gritar — responde!
— Stella eu sinto muito, mas o que eu estou sentindo é verdadeiro e quero investir nisso, me arrependo de não ter te contado antes e de ter te traído.
— Piada, né? Você é um escroto Luan, minhas amigas me disseram isso, quer saber a pior coisa que eu fiz na vida foi trocar o Ykaro por você.
— Como assim?
— Eu estava com Ykaro antes de você me pedir em namoro, ele me tratava bem, só que eu pensei que você me amava de verdade, aí deixei ele para ficar com você.
— Você e o Ykaro estavam namorando? — Estou sem saber o que pensar ou como reagir.
— Sim, e ele me mandou ficar com você. Nossa, como eu fui imbeciu, puta que pariu, eu mereço ser uma otária mesmo.
— Não, Stella, a culpa foi toda minha, eu não devia ter te traído, devia ter te contado antes e.
— E o que, terminado comigo? Quem é, quem é essa puta?
— Stella.
— Quem é essa vagabunda Luan!
— Eu vou embora, espero que possa me desculpar um dia.
— Eu nunca mais quero te ver seu escroto, eu estou com nojo de você, eu pensei que você fosse um homem Luan e não um moleque, no fim o Caio tem razão, você não presta, só o idiota do Adriano não vé o quanto você é podre, um macho escroto — é muito duro ouvir essas palavras, mas não posso culpa-la por está chateada.
— Tchau.
— Sai daqui seu filho da puta, some da minha vida e olha vou te avisar logo, seu covarde, quando eu te ver com essa puta na rua manda ela ficar espeta.
— Stella.
— Sai daqui! Vai pro inferno Luan!
Ela me empurra e me bate até que eu esteja fora do apartamento, depois bate com toda a força a porta na minha cara. Eu tinha que voltar para casa, mas agora que eu sei de uma coisa, preciso ouvir da boca do Ykaro. Pego um uber e vou direto para casa dele. Chegando mando uma mensagem avisando que estou na porta, não tenho mais a chave então não consigo entrar, ele vê minha mensagem e não demora muito para vir abrir a porta para mim.
— Nego, o que aconteceu — ele parece preocupado.
— Ykaro você ficava com a Stella? — Ele me encara estatico — Responde Ykaro?
— Sim.
— Você ficou com ela depois que a gente começou a ficar?
— Nego entra, vamos conversa no meu quarto por favor.
— Responde Ykaro — estou tentando me manter firme para não desabar.
— Não, não faria isso com você — não sei por que mais confio nele, e agora ouvindo da boca dele me sinto um pouco mais aliviado.
— Cadê o Adriano?
— Ele saiu com Caio e o Breno, eu estou sozinho, entra por favor, vamos conversar.
Faço o que ele me pede, no quarto ele tranca a porta e me puxa para sentar com ele na cama.
— Nego, quando eu conheci a Stella a gente ficou amigo e acabou rolando, ela me ajudava e eu ajudava ela.
— Ajudava ela com o que?
— A te esquecer — sinto uma pontada no peito, já fiz muito mal para Stella, talvez eu seja mesmo um escroto.
— E quando acabou?
— Quando você começou a namorar, eu juro Luan, eu só fiquei com ela no dia em que você também estava.
— Porque não me contou Ykaro?
— Não tinha o que contar.
— Porra Nego, você sabe que eu sou ciumento, eu falei isso para você, droga — ele me puxa para um abraço e começa a me beijar.
— Me perdoa Nego, eu não queria esconder nada de você, só que eu não sabia que as coisas chegariam a esse ponto.
— Eu acredito em você, mas não quero mais segredos entre nós, para isso dar certo temos que ser sinceros.
— Tá.
— Você ficou com alguém enquanto a gente tava ficando?
— Sim, com a dona do loft que a gente foi, mas só foi porque eu queria te esquecer, eu sabia que você estava com a Stella e nem passava pela minha cabeça que a gente iria namorar.
— Tá, você ainda quer ficar com ela?
— Não, nem com ela, nem com Stella e nem com ninguém mais que não seja você Nego.
— Eu terminei com a Stella Ykaro, agora estou livre, me diz vamos fazer isso?
— Sim, a gente vai, eu quero mais do que já quis qualquer outra coisa na vida — nossas bocas se encontram novamente em um beijo diferente dos outros, dessa vez o peso da traição sumiu, dessa vez estou beijando meu namorado e da maneira correta, daqui para frente vai ser sempre assim, só eu e ele.
