Capítulo 15: O Adeus ao Primo e o Olá ao Namorado
A semana pareceu se arrastar. Fiquei ansioso para receber o Rui na minha casa. Nós falávamos todos os dias, nem que fosse para dar boa noite ou só dizer que estava bem. Seus horários eram loucos e não tinha muito tempo livre, mas, mesmo com saudades dele, entendi que para lhe provar que podíamos ter algo sério, teria que lhe dar espaço. Por sorte, minha rotina também era bem cheia, então ficava nas minhas coisas e aproveitava as chances de falar com ele quando era possível. Assim, estava tudo dando certo.
Na quinta-feira, estava voltando para casa depois do treino e escutei minha vó conversando com alguém. Achei estranho uma visita àquela hora, porém segui para a cozinha para ver quem era. Antes de chegar, reconheci a voz do Luan e meu corpo se enrijeceu. O que ele queria? Será que ele havia decidido se assumir para a gente? Muitas perguntas começaram a girar na minha mente, porém a única forma de ter uma resposta era ir até ele para descobrir.
— Olha, João, quem lembrou que tem vó! — Disse Dona Helena, toda animada.
— A vó... só não venho mais porque não tenho muito tempo. Oi, João, como você está? — Me perguntou como se ainda fôssemos amigos.
— Estou bem, e você, Luan? — Foi tudo que consegui dizer.
Ficamos jogando conversa fora com minha vó, mas ele não entrava no assunto de estar namorando e nem eu quis falar nada para não parecer que estava vigiando ele ou coisa do tipo. Por um momento, parecia que nada tinha mudado. Luan estava sendo legal e estava me convencendo de que talvez nossa amizade estaria de volta.
— Luan, posso falar contigo, primo? — Me perguntou com um sorriso.
— Claro.
Fomos para meu quarto e lá ele começou a falar.
— O Professor me disse que você terminou com ele — Perguntou, falando baixo.
— Sim, somos só amigos agora — Respondi, sem entender onde ele queria chegar.
— Ele disse que você conheceu alguém. Finalmente você criou juízo, João?
— Como assim "juízo", Luan? — Meu tom de voz já não estava mais tão suave.
— Dispensou o Professor por uma mina, não foi não? — Perguntou, buscando uma confirmação minha.
Fiquei incrédulo com o que tinha acabado de ouvir, esperando o momento em que ele diria ser uma pegadinha de muito mau gosto. Como ele poderia vir até minha casa cobrar algo assim? Quem ele achava que era para me julgar daquela forma? Meu sangue ferveu de raiva, mas em respeito à minha vó, resolvi manter a calma e não partir para cima dele e lhe socar até saciar minha raiva. Então respirei fundo e falei.
— Luan, não estou com uma mulher. Estou saindo com um cara. Eu já falei para você que sou BI — Falei cada palavra pausadamente para que ele entendesse o que estava dizendo.
— Cara, não sei por que você insiste nisso. Resolveu namorar com o carinha da academia?
— O nome dele é Pedro e não, não estou com ele. Luan, o que você quer, cara? Fala de uma vez qual seu problema comigo? — Perguntei bem sério e olhando nos seus olhos.
— João, eu só me preocupo contigo. Você só está confuso — Ele insistiu. — E me sinto responsável por isso.
— Você só pode estar brincando. Cara, eu sou BI e isso não tem nada a ver com você. Tira da sua mente que isso não é sobre você. E outra, quem você pensa que é para vir aqui me falar isso quando você mesmo está namorando seu colega de AP?
Ele ficou pálido e completamente imóvel.
— Não quero ouvir suas hipocrisias. Estou saindo com um cara e estou muito apaixonado, se quer saber.
— Eu... João, eu... — Ele tentou falar, mas o interrompi.
— Luan, na moral, eu não ligo mais. Espero que você seja feliz e que esse cara com quem você está agora te dê forças para se assumir, assim como estou encontrando minhas forças no Rui. Segue seu caminho e deixa eu seguir o meu.
Abri a porta do meu quarto. Ele ainda me encarou por um tempo até sair sem dizer mais nada. Não tinha mais o que ser dito. Não sabia o que ele pretendia com essa visita, porém, pela primeira vez, fiquei feliz de ele ir embora. A curiosidade não existia mais, nem sentia raiva dele, só não queria mais saber. Também foi a primeira vez que consegui dormir bem sem me preocupar ou pensar no Luan.
Algo em mim havia mudado. Sabia que já tinha tentado de todas as formas entender as razões do meu primo, mas ele não fazia sentido para mim. Por mais que tentasse entender, não chegava nem perto. Uma hora simplesmente cansei de tentar e resolvi seguir em frente de verdade, sem esperança ou desejos de uma reconciliação.
Como Rui iria na minha casa na sexta, queria que tudo fosse perfeito, então resolvi que era melhor preparar o terreno. Tinha que falar com Dona Helena e torcer para que ela gostasse do Rui para que tudo fosse perfeito. Tive medo dela achar ruim o fato dele ser mais velho, entretanto o melhor era avisá-la ao invés de deixá-la descobrir sozinha na hora em que ele chegasse.
Minha ansiedade estava a mil. Ele viria depois do plantão, perto do horário de almoço. Trabalhei olhando para o relógio, vendo a hora passar. Fui para casa me lembrando da conversa que tinha tido com minha vó mais cedo.
— Vó, vou receber uma visita amanhã e ele irá dormir aqui — Falei de uma vez, sem rodeios.
— Uh, não gosto dessa ideia de você trazendo qualquer um pra cá — Disse, olhando para a TV onde passava sua novela.
— Ele não é qualquer pessoa. Ele é meu namorado. — Foi estranho falar isso em voz alta, mas gostei do som.
— Namorado? Olha só quem está criando juízo — Disse ela com sua voz amorosa.
— O nome dele é Rui e ainda não é oficial, mas quero muito que seja e acho que ele também quer ser meu namorado, vó — Falei com um sorriso bobo.
— Dá para ver que você está apaixonado. E o que ele faz? Onde se conheceram?
Contei tudo para ela: onde nos conhecemos e que ele era médico. Ela pareceu feliz quando falei que ele era um cara responsável e muito lindo. Tentei ser bem casual quando disse que ele era mais velho que eu.
— Filho, idade no amor não importa. Você é "de maior", não tem problema. Desde que esse homem realmente queira algo sério com você, eu não tenho problema em recebê-lo aqui.
— Tenho certeza que ele me faz bem, vó.
— Isso dá para ver nos seus olhos, meu neto.
Cheguei em casa, tomei um banho e vi a mensagem dele dizendo que já estava a caminho. Meu coração batia com força toda vez que sabia que o encontraria. Era louco me sentir assim por ele, já que nunca tinha sentido esse desejo por ninguém. Rui mexia comigo de maneiras que nem era capaz de explicar, só de sentir. Sentia um choque no meu corpo quando ele me tocava, um calor do seu beijo e pensava em tudo que poderia viver com ele.
Quando recebo uma mensagem sua informando que tinha chegado, fui para a porta como uma criança feliz prestes a ganhar um presente. Ele estava lindo, usando uma calça jeans e uma camisa de botões branca. O convidei para entrar. Minha vó estava na cozinha terminando de preparar o almoço.
— Dona Helena, esse é o Rui — Falei. — Rui, essa é Dona Helena, minha vó.
— Boa tarde, é um prazer conhecê-la. João fala muito da senhora — Disse ele, sendo educado.
— Seja bem-vindo, Rui. Estou quase terminando o almoço. Vão lá pra cima, quando estiver pronto eu chamo.
— Vai me deixar levar o Rui pro quarto, vó? — Digo, brincando.
— Ah, meu filho, você não disse que ele é seu namorado? Então Rui tem passe livre aqui em casa. — Minha brincadeira voltou contra mim e fiquei corado.
Subimos para meu quarto e lá Rui me puxou para um abraço e um beijo. Ficamos assim até ele quebrar o silêncio.
— Namorado? — Disse com um sorriso.
— Eu disse que a gente estava... desculpa, não quero preocupar e nem nada — Me embolei com minhas próprias palavras.
— João, eu gostei. Gostei de ser apresentado como seu namorado.
— Então você quer ser meu namorado? — Fiquei muito feliz.
— Claro que eu quero. Seria louco de não querer namorar um gostoso que nem você.
— Então você só está comigo por causa da minha rola? — Falei em tom de piada.
— Pensei que era óbvio — Respondeu, entrando na brincadeira.
Rimos e voltamos a nos beijar. Mesmo sendo brincadeira, aquele assunto foi o suficiente para me deixar de pau duro. Assim que abracei ele, senti que Rui também ficou duro e um choque percorreu meu corpo. Mas, antes que pudéssemos fazer alguma coisa, minha vó nos chamou para almoçar.
Mas nem dei muita importância à nossa interrupção, porque sabia que teríamos tempo ainda. Já que ele iria dormir comigo, já comecei a pensar em mil coisas que queria fazer com ele ali no meu quarto.
