Depois do ataque

Um conto erótico de Leandro Gomes
Categoria: Homossexual
Contém 1087 palavras
Data: 11/12/2025 23:12:06

Enterrei Caius com as próprias mãos. Nenhum soldado me acompanhou — não permiti. A terra estava fria, úmida, pesada, como se o mundo resistisse a deixá-lo partir. Quando depositei o último punhado sobre o corpo dele, senti como se estivesse enterrando também uma parte de mim. Mas mesmo naquele silêncio profundo, havia algo mais.

Eu sabia. Ele estava ali. Valek. Não o vi entre as árvores, mas senti sua presença se aproximar como um pensamento que não podia impedir. O ar ao redor ficou mais denso, mais frio, mais íntimo do que deveria ser.

“Ele não merecia morrer”, murmurei, com a voz desgastada.

“Ele não te merecia.” - A resposta veio atrás de mim, tão suave quanto uma respiração na nuca.

Virei-me num sobressalto, mas não havia ninguém. E então senti o toque. Uma mão — ou algo como uma mão — pousou no meu ombro, leve demais para ser humana, firme demais para ser imaginação. Meu corpo inteiro estremeceu, não de desejo, mas de dor crua.

“Não toques em mim”, consegui sussurrar, com a voz quebrada.

“Mas tu me chamaste.”

“Não chamei!”

“Chamaste, Varro. Quando a dor é profunda, tua alma grita. E eu sempre ouço.”

Tremi. De raiva. De medo. De algo mais, algo que me corroía.

“Vim porque pertencemos um ao outro.”

“Pertencemos nada”, rosnei, mas até meu próprio protesto soou fraco.

Ele não respondeu. Mas senti a proximidade aumentar — não em passos, mas como se a própria noite se inclinasse para mim. E então ele me envolveu. Não foi abraço. Não foi consolo. Foi domínio. Um calor estranho percorreu meu corpo, contradizendo o frio da presença dele. Meu coração batia rápido demais, minha respiração ficou curta — e quando abri a boca para dizer algo, seus lábios tocaram os meus.

Eu o empurrei, mas não com força suficiente para afastá-lo. A dor pela morte de Caius se misturava à fúria, ao desprezo… e ao desejo traidor que minha pele insistia em despertar. E ele sabia. Claro que sabia. Seu beijo aprofundou-se, intenso, inevitável — e aquela parte de mim que ainda sangrava encontrou nele um consolo perverso, insuportável. O calor que odiava sentir retornou, subindo pelo ventre, queimando a garganta.

Tentei resistir.

Fracassei.

Valek me despiu e se despiu lentamente enquanto me beijava. Queria empurrá-lo para longe de mim, mas meu desejo me levava a agarrá-lo, trazendo-o contra meu corpo. Beijei-o avidamente, com desespero, como se disso dependesse a minha vida, ou o que restava dela. Beijei desde sua boca, passando pelo seu peito forte, depois seu abdômen, até chegar no seu membro. Sentia falta do gosto salgado do líquido transparente e viscoso, do cheiro de seus pelos pubianos que me deixam extasiado. Quando me preparei para colocar seu falo em minha boca, Valek me interrompeu e, pela primeira vez, inverteu os papéis.

Um tumulto de sentimentos me invadiu nessa hora. Ele nunca antes havia feito isso durante nossos momentos de paixão. Caius tinha sido o único que me deu prazer dessa forma — com a boca. Enquanto sua língua passeava ao redor da minha glande e pelo corpo do meu pênis, ele me olhava com ternura. Olhei para ele e me senti confuso ao enxergar o rosto de Caius, tão nitidamente que fechei e abri os olhos pensando ser delírio. Então entendi o que ele fazia. Valek zombava de mim e do meu amor por Caius da forma mais sórdida e cruel, mas também prazerosa, bem ali ao lado da sepultura do meu amado. Chegando ao clímax, segurei forte a sua cabeça, até sentir meu membro tocar sua garganta. Fiz isso com raiva, mesmo em meio ao prazer, mas ele sorria. Enquanto me derramava em sua garganta, eu chorei copiosamente.

Valek olhou para mim enquanto lambia o sêmen que ainda saía do meu pênis. Uma raiva se apoderou de mim de forma animalesca. Levantei-o e o virei de costas. Ainda com meu membro ereto, eu o penetrei com força e violência — de uma só vez eu o fiz. Ele, porém, se deleitava de prazer, contorcendo-se e gemendo, me incentivando a continuar daquele jeito. Quanto mais ele se deleitava, mais raiva eu tinha, e mais força empregava nos meus movimentos. Então, me derramei pela segunda vez, agora dentro dele. Ele se virou para mim e, tocando em meu ombro, me vez abaixar e colocou seu membro em minha boca, derramando todo seu mel em minha garganta.

“Pertencemos um ao outro, Varro. Para sempre", disse dando leves tapas em meu rosto.

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Nos dias seguintes, meus homens perceberam que algo em mim mudara. Tornei-me mais calado, mais duro, mais distante. Paravam de falar quando eu passava; evitavam meus olhos; temiam meu silêncio. Eu já não dormia direito. E quando dormia, era por pouco tempo. Porque ele vinha. Todas as noites. Não importava se eu estava nos meus aposentos na torre, nas muralhas, ou em algum canto isolado tentando respirar o luto — ele surgia como sombra condensada, como aroma distante de ferro e neblina. E então me tomava. Às vezes com brutalidade contida, outras com uma estranha ternura que me feria mais do que qualquer golpe de espada. Às vezes me tomava e às vezes se entregava a mim para tomá-lo. Nessas ocasiões, eu sempre via Caius em seu rosto. Penso que fazia isso para me punir.

Eu sentia seu toque antes mesmo de vê-lo; e quando minhas mãos — tremendo — encontravam seu membro ereto, eu já tinha perdido qualquer controle. Eu o odiava por isso. Odiava-o por não me deixar morrer com a parte de mim que Caius levara. Odiava-o por preencher o vazio com algo que queimava como febre. E odiava-me ainda mais por responder.

Após cada encontro, ele sumia tão silenciosamente quanto chegara, deixando meu corpo exausto, após drenar meu sangue, e minha mente em ruínas. A culpa, então, se acumulava como poeira de guerra em meus pulmões. Mas na noite seguinte, quando eu jurava que resistiria… ele retornava — e eu cedia novamente.

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O vampiro não apenas me desejava. Ele me reclamava para si.

Cada toque dele me lembrava de algo terrível: Eu não era livre. Não desde a primeira noite em que o vi avançar contra os bárbaros. Não desde que pronunciou meu nome como se fosse dono dele. E agora, após a morte de Caius, eu estava mais preso a ele do que nunca. Porque o vazio que o amor deixou era um espaço onde o vampiro entrava sem pedir permissão. Porque a dor abria portas. Porque o luto me quebrara — e ele recolhia, noite após noite, cada fragmento de mim. E moldava-os com suas mãos frias.

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