Marina sempre fora uma criatura de extremos. Na adolescência, o espelho lhe devolvia a imagem da "garota girafa": alta, desengonçada e de uma magreza que parecia esticar sua própria autoconfiança. No entanto, o encontro com o ferro mudou tudo. Ao ingressar na faculdade, a fragilidade havia sido obliterada por camadas de músculos densos, esculpidos com a precisão de um mestre. Agora, como fisiculturista profissional, sua presença era uma força da natureza; uma estrutura de ébano onde a simetria encontrava a potência bruta. Marina amava a glória dos palcos, mas, no fundo, sentia que faltava uma camada de humanidade naquela armadura.
O anúncio para um "filme de arte focado em contraste físico" pareceu a peça que faltava. Ao chegar ao estúdio, ela encontrou um cenário despido de adornos: apenas uma mesa de madeira maciça sob refletores crus. Vestindo seu biquíni de competição — uma seda mínima que realçava cada fibra muscular — ela deitou-se sob o olhar atento da produção.
Para sua surpresa, o roteiro exigia a imobilidade. Tiras de couro macio foram ajustadas em seus punhos e tornozelos, prendendo-a à madeira. Ao seu redor, a equipe e os figurantes se aproximaram; eram pessoas comuns, baixas e magras, que sublinhavam a sua própria imponência. Marina sentiu uma onda de êxtase silencioso. Naquele momento, ela era um Titã. Sentia que as tiras não eram para contê-la, mas para proteger aqueles seres frágeis de sua força vasta. Era a glória do poder absoluto sob controle.
— Ação! — gritou o diretor.
A câmera começou a rodar, capturando a solidez de seu corpo. Dedos curiosos começaram a traçar as linhas de seus deltoides, admirando a dureza de seus bíceps. Marina mantinha uma expressão pétrea, uma estátua de bronze inabalável. Contudo, o toque logo deixou de ser apenas admirativo para tornar-se exploratório. Uma mão deslizou pelas suas panturrilhas musculosas e alcançou as solas de seus pés descalços.
Apesar da pele espessa e das veias saltadas pelo esforço atlético, a sensibilidade ali era absoluta. Ao sentir os dedos estranhos percorrerem o arco de seu pé, um choque elétrico atravessou sua coluna.
— Hihi... hihihi! — Marina soltou um escape curto de riso, mordendo o lábio com força para retomar a compostura.
A pessoa notou a fenda na armadura e insistiu, usando as pontas das unhas para riscar levemente o couro do calcanhar da atleta.
— Hahaha! Não... hihihi! — A titã começou a tencionar. Seus músculos, antes estáticos, agora ondulavam em uma dança involuntária.
O ataque espalhou-se como um incêndio. Dedos ágeis buscavam as áreas que o treino não podia endurecer. No abdômen, enquanto uma mão traçava os gomos definidos, as pontas dos dedos começaram a "caminhar" rapidamente pelas laterais, entre as costelas. Nas axilas, toques suaves nos dorsais faziam Marina arquear as costas, a força bruta rendendo-se àquela tortura lúdica.
— Hahahaha! Parem... hihihi! Uhuhuhaha! — As gargalhadas profundas começaram a ecoar, quebrando a seriedade do estúdio.
A resistência de Marina desmoronou por completo quando uma segunda pessoa se juntou ao ataque nas solas de seus pés.
— AHAHAHAHA! HIHIHIHI! HAHAHAHA! — Ela sacudia a cabeça, os cabelos balançando enquanto o riso explodia em sua forma mais pura. — HIHIHI! EU NÃO... HAHAHA... CONSIGO! UHUHUHAHA!
Era uma visão hipnótica para todos no set: o corpo mais forte da sala sacudindo-se e tremendo sob o toque mais leve. A gigante poderosa agora ria com o desespero de uma garotinha.
— HEHEHEHE! HAHAHA! POR FAVOR... HIHIHIHI! — Os espasmos faziam seus quadríceps saltarem e as veias do pescoço aparecerem, mas não por esforço competitivo, e sim por um êxtase incontrolável de cócegas.
— Corta! — o diretor bradou, satisfeito.
As mãos se retiraram instantaneamente. O silêncio voltou, preenchido apenas pelo som da respiração ofegante de Marina e alguns últimos suspiros residuais.
— Ufa... hihi... — Ela tentava recuperar o fôlego, sentindo o sangue pulsar nas extremidades.
O diretor aproximou-se com um sorriso de triunfo.
— Era exatamente isso, Marina. O contraste entre a força monumental e a garotinha interior. Você expôs sua essência hoje.
Semanas depois, após receber o pagamento e ainda sentindo o formigamento delicioso nos flancos e solas, o telefone tocou. O convite era para uma performance ao vivo em uma galeria, sob o tema "A Força Rendida". Marina olhou para seus músculos no espelho, lembrou-se daquela sensação de ser vencida pelo riso e, pela primeira vez, sorriu não para os juízes, mas para si mesma.