Passadas algumas semanas depois da última aventura com Marcos, o motorista de aplicativo, Cristina estava leve e solta outra vez. Seu antigo vizinho André (conferir no EP. 1) não era mais tristeza, era agora uma saudade agradável. Marcos rendeu poucas aventuras, porém boas e o suficiente para fazê-la voltar à normalidade de seus dias pós André. Mas, ao mesmo tempo, as coisas já não iam tão bem no trabalho.
Cristina trabalhava de segunda à sabado no escritório de uma transportadora de alimentos, estava há um mês na nova função. Desde que aceitou a promoção, precisou diminuir drasticamente seus momentos de lazer e até deu um tempo em seu recente projeto de DJ. Praticamente só tinha tempo para o trabalho e o curso de design de moda.
Carolina, sua amiga mais próxima do trabalho, tentou diversas vezes convencer Cris a sair da rotina exaustiva a convidando para festas, passeios e até almoços e jantares em sua casa. Mas a rotina corrida da amiga realmente tava complicada.
— Olha, Cris, sei que o salário de supervisora deve ser bom, mas agora eu sinto falta da minha amiga — disse Carolina depois de convidá-la para um jantar.
— O salário nem é lá essas coisas, Carol — respondeu Cristina —, mas já é bem melhor do que quando eu era analista. Tô conseguindo ajudar mais em casa e pagar meu curso, mas também sinto falta de sair mais com a galera, com você.
— Ver se arruma um tempinho qualquer dia desses.
— Mês que vem completo dois anos de empresa, vou entrar de férias. Vou ter tempo de sobra e vamos tirar esse atraso. Prometo, amiga!
— Verdade! Excelente, Cris. Combinado!
Agora era Cristina aguentar só mais duas semanas até entrar de férias e poder ter ao menos um mês pra descansar e ter algum lazer de novo.
Cristina já quase não suportava seus novos colegas de equipe. Pedro, o supervisor de frota, era um conservador horrivelmente chato que, vez ou outra, fazia piadas homofóbicas na sala quando estava somente Cris e Carlos, o coordenador, que contribuia rindo daqueles preconceitos disfarçados de piada. Somente na frente de Orlando, o gerente, eles se comportavam de forma 100% profissional.
Carlos, o coordenador, era um homem evangélico de 40 anos, casado e com um casal de filhos. Quando ficava a sós com Cristina na sala e, as vezes, na copa na hora do almoço, ficava se insinuando para ela. Cris fingia não entender para não ter nenhum tipo de atrito com ele, temia qualquer tipo de confusão por ser recém promovida, a antiga supervisora da operação havia sido demitida por causa de uma situação com o Pedro e ela não queria nenhum envolvimento com nenhum deles além do trabalho.
Orlando, o gerente, já era um homem sério e misterioso. Dizia poucas palavras e essas poucas eram sempre sobre o trabalho. Sempre almoçava fora da empresa, não por se negar a ficar junto com os demais mas porquê gostava muito de um restaurante popular que tinha há poucos KM de lá.
Cristina se despedia de Carolina na entrada do centro de distribuição, deu um abraço forte na amiga, na mesma hora sentiu aquele perfume suave e doce no ar. Perfume esse que agora soava familiar, mas não era o da amiga. Era o de Orlando. Ele passou por elas e disse “Boa tarde!”, as duas responderam com a mesma educação e seriedade. Ele já ia saindo quando pareceu lembrar de algo e deu meia-volta.
— Cristina, sobre aquelas documentações que você me falou mais cedo... o cliente me respondeu agora — disse o gerente.
— Ah, sim, Sr. Orlando. O que foi resolvido?
— Estamos com um pequeno problema no sistema — o telefone dele tocou na hora —, te explico melhor depois — Orlando atendeu e saiu em direção a sala outra vez.
Carolina olhou com um ar malicioso para Cristina, que já esperava algum comentário impróprio da amiga.
— Alto, forte, educado e cheiroso... esse homem é um charme, não acha, Cris?
— Nunca o vi por esse lado, Carol... ele é sempre muito sério e profissional.
— E isso também não é, de certa forma, um pouco excitante também, hum?! — Carolina provocou outra vez.
— Você é uma safada sem igual, Carol! — respondeu Cristina envergonhada — Deixa eu voltar pra o trabalho que é melhor.
— Isso, vai pegar ele na sala, cachorra — Carolina imitava uma cachorrinha para Cristina, provocando a amiga que sorrio envergonhada de forma discreta.
— Até depois, safada — respondeu Cris.
Quando Cristina voltou pra sala, sentiu aquele frio extremo do ar condicionado que Pedro sempre deixava em 16°C quando saía para almoçar junto com Carlos. Orlando ainda falava ao telefone com o cliente. Ela vestiu o casaco, voltou pra sua mesa e continuou seu trabalho. Percebendo que ela sentia frio, o gerente se levantou da sua mesa e enquanto falava ao telefone pegou o controle do ar condicionado na mesa de Pedro e aumentou a temperatura. Cristina agradeceu a gentileza com um olhar de aprovação e um sorriso discreto, Orlando apenas acenou rapidamente com a cabeça.
Pedro e Carlos saíam para almoçar uma hora depois de Orlando e Cristina, por causa disso ela sempre tinha duas horas de paz nesse horário, pois tirava seu horário de descanso junto com Carolina e eles saíam na hora que ela estava voltando. Então ela ficava ali na sala, atualizando as demandas e, ao seu lado, o gerente Orlando que estava sempre focado no trabalho.
Quando o gerente encerrou a ligação, voltou ao assunto das documentações com Cristina. Foi até a mesa dela e começou a explicar:
— Com sua licença, Cristina. — ele indicou que pegaria o mouse do computador dela, Cris afastou e ele começou a navegar pelo sistema da empresa — Veja, não estamos conseguindo emitir as documentações desse cliente por conta dessa falha sistêmica aqui... — ele apontava para a tela explicando tudo para ela.
— Bem que eu imaginei, Sr. Orlando. Vou entrar em contato com a equipe de T.I.
— Não precisa, Cristina, eu já fiz isso e estão resolvendo. Só espero que não demore tanto, porque essas documentações precisam ser emitidas ainda hoje.
Cristina ficou um pouco preocupada, não podia fazer hora extra naquela semana por conta do curso. Qualquer horinha a mais no trabalho resultava em atraso na faculdade e era semana de prova. O gerente notou a perturbação dela.
— Não se preocupe se precisar ficar mais um pouco, estarei aqui pra ajudar e, se me permitir, posso deixá-la na faculdade.
— Ah, Sr. Orlando... seria uma grande ajuda. Muito obrigada! — Cristina respondeu surpresa com tudo aquilo. Ela começava a ver seu gerente da mesma que sua amiga, todos aquelas qualidades além do trabalho.
— Por nada! — ele respondeu simplesmente.
Cristina era quase vinte anos mais nova que o seu gerente mas, durante aquela hora de paz e silêncio na sala, imaginou diversas situações hipotéticas de como seria sair um dia só com ele, para onde ele a levaria, como a trataria fora da empresa, como seria o beijo dele e, melhor ainda, como seria seu sexo. Ela pensava essas coisas até ser interrompida pela chegada de Pedro e Carlos, ou “Os bobalhões” como ela se referia a eles quando falava com Carol.
Faltava meia hora para o fim do expediente quando Cris recebeu uma ligação da equipe de T.I. informando que o sistema estava estável outra vez. Ela ficou com eles na linha por alguns minutos enquanto faziam os últimos testes de emissão. Enquanto falava ao telefone seguia fazendo suas outras tarefas, caminhando pela sala, imprimindo notas e etc.
Na mesa ao lado, Carlos observava cheio de malícia. Ficava olhando sem discrição nenhuma para todo o corpo de Cristina. Quando olhava a boquinha dela, pequena e com lábios carnudos, não imaginava outra coisa se não receber um sexo oral dela. "Deve fazer um boquete como ninguém!", pensava. A parte que mais o prendia era a bunda dela, bem redonda e volumosa, marcando na calça uma fenda chamativa para ele. Pensava logo nela sentando de costas pra ele, ali mesmo na sala e ele gozando tudo dentro dela. “Que rabo incrível!”, pensava enquanto massageava o pau sob a calça.
Carlos ficava imaginando mil e uma coisas, feitichizando o corpo dela, pensando como iria prová-lo. Era o que ele mais queria, ficou com o pau completamente duro só de observá-la pela sala. Fazia tempo que tentava chamar a atenção dela sem êxito nenhum. Mas se ele quisesse finalmente comer aquele cuzinho tão desejado, teria que ousar mais. Pelo menos era o que ele achava.
Quando Cristina finalizou a ligação, só então percebeu que estava a sós com Carlos na sala. Sr. Orlando havia saído para uma reunião rápida e Pedro tinha ido ao banheiro. Carlos estava em pé bem atrás dela, pegando notas fiscais na impressora, ela sentiu ele colocar a mão no seu ombro e se afastou rapidamente com o susto.
— Muito problema aí, lindinha?
— Nada demais.
Carlos voltou a segurar seu ombro e se aproximou ainda mais, ela sentiu o volume do pau dele roçar no seu braço. Estava muito duro. Então ele desceu sua mão até parar no início do seio de Cristina e continuou:
— Se precisar de alguma ajuda, estou animado para te ajudar — ele olhou para o próprio volume na calça quando disse "animado".
Cristina já havia entendido e afastou a cadeira para mais perto da mesa, encarou ele com um olhar de nojo.
— Obrigada por querer ajudar mas, por favor, não se aproxime assim de mim de novo.
— Vai se fazer de difícil agora?! Você não quis virar mulher pra isso mesmo?!
A raiva por aquela humilhação quase não cabia dentro de Cristina. Ela tentava se controlar ao máximo para não surtar com o colega asqueroso.
— Vou te pedir só mais um vez: não se aproxima de mim assim de novo, por favor!
— A quem você quer enganar, sua puta?! — Carlos respondeu voltando a se aproximar e a pegando pelo pescoço.
Na mesma hora que Cristina explodiu em fúria ao empurrar o colega e disparar palavras de repulsa contra ele, o Sr. Orlando entrou na sala testemunhando a cena.
— O que estar acontecendo aqui? — perguntou o gerente com sua voz grave e séria.
— Esse babaca asqueroso tá me assediando! — exclamou Cris tomada pela raiva.
— O quê?! — reagiu Orlando.
— Essa vadi... — Carlos quase sai do personagem na frente do gerente e percebe que vai precisar escolher bem as palavras pra se livrar daquilo — essa mulher enlouqueceu, eu só estava pegando algumas notas na impressora e, por acaso, esbarrei nela enquanto me oferecia para ajudá-la com as documentações atrasadas.
— Desgraçado! Mentiroso! Assediador! — gritou Cristina.
Orlando, que apesar de estar sempre calado e focado no trabalho, já tinha percebido o suficiente do comportamento tanto de Pedro quanto do próprio Carlos para se sentir inclinado a acreditar em Cristina naquela situação. Mas ele também não poderia dar razão a ninguém sem alguma prova.
— Carlos, você está liberado. Pode ir pra casa.
— Mas, Sr. Orlando…
— Amanhã todos nós conversaremos sobre isso de cabeça fria, então, por favor, agora vá para casa. É o melhor a se fazer.
— Ok, Sr. Orlando!
Carlos juntou suas coisas e foi embora. Cristina, sentada em frente ao seu computador, tremia de raiva segurando o choro. Orlando se aproximou dela assim que Carlos deixou a sala.
— Cristina, pode sair um pouco, tomar um ar. Você também está liberada por hoje, assim que estiver pronta posso te acompanhar até a chegada do Uber. Não quero que o Carlos te surpreenda lá fora — disse o gerente.
— Tudo bem, Sr. Orlando. Vou apenas tomar um ar, mas volto para emitir as documentações atrasadas.
— Não, Cristina. Eu posso fazer isso, está tudo bem por aqui. Você pode ir.
Cristina se levantou da cadeira e, por impulso, segurou as mãos do gerente enquanto insistia:
— Eu insisto, Sr. É o meu trabalho, só preciso respirar uns minutinhos lá fora. Também nem posso ir para casa, estou em semana de prova. Então é melhor que eu me recomponha aqui mesmo.
Orlando, seu gerente, apenas ficou calado a encarando, parado ali com ela segurando suas mãos enquanto se explicava. Pela primeira vez a olhou além da “Supervisora Cristina” e viu uma jovem e forte mulher trans, determinada e indiscutivelmente linda.
— Tudo bem, Cristina. Faça como achar melhor então. Estarei aqui para o que precisar.
— Muito obrigada! — ela respondeu enquanto saía da sala.
Ela saíu na mesma hora em que Pedro voltava do banheiro. Quando ele entrou na sala percebeu a ausência do amigo. Perguntou todo sem jeito por Carlos ao gerente, que apenas respondeu que tinha o liberado um pouco mais cedo hoje.
No jardim da empresa, Cristina fumou sua pontinha de maconha, que tinha guardado para depois da prova, e chorou de raiva por alguns minutos. Tinha vontade de agredir Carlos, até ele não conseguir mais assediar ninguém. Quando notou, já havia passado mais de vinte minutos do fim do expediente e voltou correndo para o escritório.
Chegando lá, apenas Orlando estava na sala. O ar condicionado estava em 22 °C, do jeito que ela gostava de deixar durante sua hora de sossego depois do almoço. Orlando a olhou como se esperasse que ela lhe falasse algo, mas ela travou e apenas deu um sorriso tímido enquanto seguia para sua mesa. Então, em um momento raro, foi o gerente quem rompeu o silêncio.
— Tomei a liberdade de começar as emissões… — ele disse.
* * * * * * * * * * C O N T I N U A * * * * * * * * * *
