ADRIANO 19
Vou do trabalho até em casa praguejando contra o universo por permitir que eu tenha um chefe tão escroto, como se não bastasse ter mudado o Nathan ele ainda fez questão de ir junto — sério eu odeio esse cara e olha que sou a última pessoa que você espera que odeie alguém. Esse escroto pega no meu pé desde que dei um fora nas investidas dele e justo agora que vou me livrar dele levo essa rasteira, parece até que o infeliz sabe que eu tô com Nathan e fez de propósito para me afetar!
Amanhã meu boy começa no horário novo, só queria ver ele hoje, porém a mãe dele agora está inventando mil coisas essa semana, ela já tá “preocupada” com esse horário novo dele e agora tá colocando mil e um empecilhos para ele sair hoje comigo.
Nessas horas que eu penso o privilégio hetero, tipo tem que ser um caso muito específico para que o namorado não possa ir na casa da namorada ou até mesmo que tenham que namorar em segredo. Isso é tão injusto, tipo que mal um cara amar outro pode causar na família tradicional brasileira? Ainda mais que só o que tem é bixa adotando criança e começando famílias por aí, eu mesmo pretendo ter os meus um dia!
E para fechar minha noite na merda Caio está ocupado, Breno tem um jantar de trabalho com o pai dele e eu estou até com medo de mandar mensagem para o Luan e descobrir que ele já tem alguma coisa para fazer com a namorada dele. Quando foi que fiquei tão carente? Se bem que hoje eu tenho motivos para querer me distrair com meus amigos, né? Ah quer saber o não eu já tenho.
— Luan, onde cê tá? — Pergunto quando ele atende a chamada.
— Em casa, por que?
— Vem pra cá, estou puto e não queria ficar sozinho agora.
— Tá, tô indo — que bom, pelo menos ele está livre.
Quer saber, vou fazer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate que é o favorito dele. Por sorte ele não demorou, foi quase que só o tempo do uber dele mesmo, acabei de por o bolo no forno quando vejo ele entrando na cozinha.
— Conheço esse cheiro!
— É sua recompensa por ter atendido meu chamado.
— Ai sim — o sorriso dele já é sulficiente para me animar um pouco — cadê o viado?
— Luan!
— O Caio — ele diz dando de ombros.
— Hoje é quinta, ele deve está trabalhando.
— Ele tem ido muito para sauna né?
— Verdade — não tinha pensando muito nisso, mas Luan tem razão.
— Será que ele está finalmente tendo um rolo?
— Acho difícil, Caio é alto suficiente, quase uma planta que faz fotossíntese de tesão — Luan riu da minha piada besta, ainda bem que ele veio, meus amigos me animam só por estarem perto.
— Mais ai conta esse babado bicha — de vez em quando, principalmente quando o Caio não está por perto, Luan faz sua imitação muito mal feita de viado, segundo ele é porque eu fico mais solto quando tem um gay, no caso o Caio por perto.
— Já falei que a Luana é péssima?
— Isso é h o m o f o b í a — Luan soletra para mim toda vez que quer dar um de esperto.
— Querida, homofobia é a senhora imitando um gay caricato — nós dois caímos na risada.
— Mas sério, qual foi o problema? Tá mal por conta do Nathan ter mudado de horário e do seu supervisor ter acompanhado ele?
Durante o almoço Luan já tinha ouvido minhas lamentações, mas em defesa dele no almoço ainda estava um pouco mais otimista sobre minha relação, mas eu soube que não ia vê-lo hoje e nem amanhã, isso me derrubou. Sábado eu tenho trabalho e ainda o lance do trabalho do Luan, nem sei se vou conseguir vê-lo no sábado e domingo normalmente a família dele não o deixa sair, ou seja quando que vou ver meu boy desse jeito?
— Ele não é tipo, maior de idade?
— Sério Luan, vai meter essa?
— Tá bom, vacilei, mas em minha defesa eu posso dormir fora de casa.
— Mentindo para sua mãe.
— É, mas aí, ele também não tem como mentir, um amigo que dê cobertura para ele ou algo assim? — Sabe que não tinha pensado nisso.
— Olha não tinha pensado nisso, vou mandar mensagem para ele agora perguntando — ele sorri para mim — o que?
— Nada, só que eu posso ser um amigo tão sábio quanto o Caio.
— Vocês devem ter sido irmãos em uma vida passada, é a única explicação que eu consigo formular.
— Deus me livre!
A ideia é não pensar sobre o que aconteceu, só quero ficar de boas — como vou ter dias bem puxados a partir de amanhã prefiro não beber, — Luan deu a ideia de vermos um filme. Quando o bolo fica pronto sirvo e ele como sempre me enche de elogios, até volta a comentar sobre o MEI, eu sei que ele tem razão e o Breno até se prontificou em me ajudar com a burocracia, é só que ainda tenho um pouco de medo de não dar certo sei lá, com a sorte que eu ando tendo não sei se é o melhor momento para isso.
— Vamos ver Wicked, você ainda não viu comigo.
— Tá bom, só porque você está xoxo hoje, porque você sabe que detesto musical.
— Luan, tu gosta de musical, tu não gosta é de ouvir o Caio cantando!
— Verdade.
Depois de dois filmes e um bolo inteiro só para mim e ele já me sinto muito melhor, até queria ver mais um filme, mas o sono está começando a bater, mas se ele quiser ver mais um eu topo — mesmo sabendo que vou dormir no meio.
— E ai Luan, já quer ir dormir? — ele está focado no celular e não escuta quando eu falo, então tento outra vez — Luan!
— Oi, foi mau, o que? — Não sei o que ele acabou de receber no celular, mas seja o que for o deixou meio desnorteado.
— Quer ver outro filme ou já quer dormir?
— Amigo — conheço bem ele e pela hora a namorada dele deve está chamando ele para dormir com ela — como você está?
— Pode ir.
— Não, tipo se você ainda não quiser ficar sozinho eu fico — eu sei que ele ficaria e isso para mim já é suficiente — bem estragaram minha noite, não vou ser hipócrita e estragar a sua também, vai lá.
— Você é o melhor! — Olha não sei o que ela fez, mas para ele ficar tão ansioso assim tenho que tirar o chapéu para Stella.
Luan corre para tomar um banho rápido, confesso que fico muito curioso para dar uma olhada no celular dele para saber o motivo de tamanha felicidade — eu tenho a senha e ele nunca foi de grilar por eu mexer no celular dele, mas eu conheço a Stella, melhor não, vai que é uma foto e tudo que menos quero agora é pensar nela nua toda vez que a encontrá-la.
— Adriano aquela camisa pólo nova que eu comprei tá por aqui né?
— Tá sim, você deixou aqui no dia que a gente comprou ela no shopping e nunca usou.
— Certo.
Tá, eu já tive uma queda pela Luan quando a gente se conheceu, mas hoje de verdade ter um homem de mais de um e oitenta só de toalha no meu quarto não mexe mais comigo, juro! Não mexe, assim eu sou gay e ele é um homem de mais de um e oitenta né, mas somos só brothers.
— Para onde vocês vão?
— Oi?
— Eita que meu amigo ficou fora de órbita com uma mensagem, pelo menos um de nós vai se dar muito bem hoje né — tem um brilho nos olhos do Luan que nunca vi antes, ele está apaixonado pela Stella de uma forma que eu não conhecia, tipo é o mesmo Luan, mas só que em uma versão mais curioso, tipo mais leve e solto, sem tanta culpa, deve ser isso que está deixando meu amigo assim, eu só consigo ficar feliz por ele está se libertando dessas correntes da culpa cristã, Stella é gata e ele merece ter tudo que sempre quis sem se sentir mal depois.
— Adriano — nem preciso deixar ele terminar, já sei o que ele quer.
— Pega, sério, às vezes acho que você só me deu esse perfume para você também usar quando está aqui.
— Você não usa — ele me deu um perfume caríssimo que é igual o dele, só que eu sou meio desapegado de perfume e acaba usando mais minhas colônias fraquinhas mesmo.
— É que o confeiteiro não pode andar tomando banho de perfume quando vai trabalhar na cozinha né.
— Só desculpas, o perfume em tempo de vencer — ele diz isso toda vez que vai usar o meu.
— Se ele vencer você pede para usar o do Ykaro — Luan quase deixa o perfume cair — eita que pressa, te acalma macho, ela não vai começar sem você.
— O Ykaro tem esse perfume? — Sério, bixo o Luan só não se perde na rua porque ele anda muito de uber, o cara não reconhece nem o próprio perfume nos cantos, eu amo meu amigo, mas tenho muita paciência para esse homem desligado.
— Tem, inclusive ele usa horrores, não sei como você não notou.
— Eu tenho que ir, tem certeza que vai ficar bem?
— Mal eu iria ficar se te impedisse de ir com esse fogo todo atrás do seu rabo de saia.
— Te amo moleque, se precisar manda uma mensagem.
— Também te amo, mas duvido muito que você fosse ver uma mensagem minha hoje — ambos rimos, depois o acompanho até a porta e fico esperando o uber com ele.
Melhor arrumar essa cozinha antes de dormir e a felicidade do Luan até me acordou um pouco, espera o que é isso, a chave do Caio, por falar em desligado olha só quem esqueceu a chave aqui, agora ele deve está performando então melhor guardar para ele, só para passar na cara dele vou esperar até que ele dê falta, Caio não se permite errar nunca, não sei como ele consegue, — mas o pior é que o viado quase sempre tem razão.
Só o tempo de guardar a chave no bolso ouço a campainha, “sabia que ele iria vir procurar essa chave” pensei. Com um sorriso vitorioso no rosto vou até a porta, mas para minha surpresa não é o Caio e sim o Breno — minha nossa senhora, por que homem fica tão bonito quando veste roupa social?
— Breno? E ai!
— Foi mau vir sem avisar é que eu tava jantando aqui perto — ele tem em uma das mãos uma sacola de papel com a logo de um restaurante.
— O que é isso?
— Você tem que provar essa sobremesa, bem, não sei se você já jantou, mas trouxe comida para gente.
Eu conheço esse restaurante e não fica perto da minha casa, não que eu já tenha comido lá, mas é que eles tem as melhores sobremesas, por isso conheço, mas vai ver eles podem ter aberto, o que importa é que ele trouxe comida.
— Já comi, mas sempre tem espaço para comer comida boa — Breno abre um sorriso largo — coloca o carro para dentro, está tarde.
— Beleza!
Breno desabotoa alguns botões da camisa e tira os sapatos, ele parece cansado, mas de alguma forma sua energia sempre é boa, tipo ele é uma boa companhia. Nossa esses doces que ele trouxe são um verdadeiro pecado de tão bons. Eu amo a comida desse lugar, só que é absurdamente caro, essa deve ser a terceira vez na vida que como algo de lá, a primeira foi quando Luan passou no concurso e disse que eu poderia escolher o lugar para gente jantar e comemorar e a segunda foi quando levei um fora do médico que eu achei que seria meu marido um dia, mas melhor esquecer essa segunda vez.
— Como foi o jantar?
— Foi igual a todos os outros.
— Você gosta de ser advogado Breno? — A surpresa da pergunta fica aparente na sua face, ele pensa um pouco antes de responder.
— Olha, eu amo o direito, mas odeio o direito da forma que eu faço.
— E porque você não muda? — Corro o risco de parecer ingênuo, mas a pergunta só veio e então falei.
— Meu pai, desde sempre eu cresci na sombra dele, na minhã família quem não é médico é médico.
— Deixa eu adivinhar, você não tem jeito para ser médico?
— Nem um pouco, mesmo assim quase fiz medicina — agora eu que fiquei surpreso.
— O que te fez mudar de ideia?
— Meu tio, ele é médico há muitos anos, ele me buscou no segundo dia do Enem, tivemos uma conversa e ele me fez perceber que eu só não queria direito por causa do meu pai.
— Caio disse que você é tipo um Harvey Specter — faço referência a única série de advogados que eu já assisti e isso o faz gargalhar.
— Olha não é querendo me gabar mais, minha taxa de sucesso é boazinha.
— Boazinha, fala sério, você perdeu quantos casos desde que começou?
— Um.
— De vários, tá vendo, você é pica mana!
— É, mas não pego os casos que eu queria pegar — sinto uma certa tristeza na sua voz.
— E que caso você gostaria de pegar?
— Eu sempre sonhei em ser defensor público e trabalhar com penal.
— Oxe, penal logo? — Nunca pensei, ainda mais que ele trabalha só com empresas.
— É que na faculdade eu tive um professor queer maravilhoso especialista só em direito penal e a melhor parte é que quase todos os seus clientes são da comunidade, sei lá isso me acendeu uma vontade de fazer o mesmo.
— Defender pessoas da nossa comunidade e sem cobrar, isso é bem sua cara — o sorriso dele é meio tímido, mas ainda sim bonito, Breno é um cara fofo e bonito, sério queria entender os motivos do Caio não querê-lo.
— Mais você, me conta porque não queria ficar sozinho mais cedo? — Caio deve ter contado para ele.
Luan meio que me ajudou, mas não vou mentir que poder desabafar um pouco mais sobre isso não me faria bem. Breno me escuta com atenção e sem julgamentos, ele é um cara muito legal. Só depois que termino de falar e peço sua opinião é que ele abre a boca.
— Caio não gosta dele né?
— Aquela ali não gosta de ninguém né? — Breno faz que sim com a cabeça rindo.
— Olha.
— Ai não você também mulher, pela amor, todo mundo parece ter algo contra o Nathan.
— Como sua mana vou te apoiar em tudo Adriano, mas como seu advogado tenho que dizer que esse carinha tem umas coisas meio estranhas mesmo.
— Que chique eu tenho um advogado! — Fico todo me achando.
— E poderia ter mais ainda — Breno diz algo, mas é tão baixo que não escuto.
— O que?
— Nada, mas e aí você vai fazer o que, tipo como vocês vão se ver agora?
— Ainda não sei, esse é o problema.
— Você não falou com ele sobre isso.
— Bem, o Luan me deu uma ideia — conto para ele minha ideia de mentir para os pais do Nathan para podermos nos ver mais e quem sabe até dormirmos juntos.
— E ele topou? — Breno parece ter entrado no modo advogado de tão sério que ficou.
— Ele não me respondeu ainda, deve está dormindo uma hora dessas já.
— Ele não te dar boa noite antes de dormir? — Não ligo muito para isso, acho que por conta disso não notei que nos falamos pouco por telefone.
— No início nós falamos muito por telefone, mas aí depois a gente meio que se viu todos os dias então não, mas também não temos nem um mês que começamos a ficar né.
Breno comprou as preocupações do Caio, não vai ter jeito de conseguir convence-lo do contrario, porém ele assim como Luan não ficou me enchendo com isso, eu sei sua opinião e para ambos isso já basta, como está tarde chamo Breno para dormir aqui e ele topa, bom que como hoje os outros não estão aqui então ele vai poder dormir bem mais confortável na rede, já no quarto pego uma toalha limpa para ele e aproveito para por uma rede limpa também, por sorte tenho mais de uma — isso sem contar a do Luan que ele literalmente comprou então é mesmo dele.
— Aqui oh, como o Caio e nem o Luan estão aqui, você pode dormir na rede — Breno faz uma cara de quem quer me dizer algo, mas não está com coragem — você não dorme de rede, né?
— Não — releva, se sentindo um pouco constrangido.
— Ah, sem problema, pode dormir na cama então.
— Tem certeza, não quero te incomodar — é fofo a preocupação dele.
— Nada, eu fico na rede, não tenho problemas com isso.
— Ah, tá, beleza então — Breno é um cara muito parecido comigo no sentido de não querer incomodar ninguém, deu para perceber ele meio chateado por achar que está me tirando da cama, ele é um cara legal!
***
Acordo antes do Breno — não quis falar nada, mas a real é que durmo meio mau quando faço isso na rede, só que uma vez na vida não mata né — Breno dormi tranquilamente na minha cama, ele está usando uma bermuda folgada minha. Sabe que nunca tinha reparado no corpo dele, tipo sou comprometido e ele é praticamente o boy do Caio, só que olhar não mata.
Seu corpo é magro, porém definido, os bicos do peito dele são meio rosados, o que combina bastante com sua pele branca. Ele é lindo, não lindo de beleza — quer dizer não só de beleza, foi o que eu quis dizer — tipo seu sorriso tímido, o fato de ser um amigo preocupado e que se doa para os outros, acho que Breno seria um ótimo defensor público, sua generosidade é uma das suas maiores qualidades.
Saio do quarto evitando fazer barulho para não acordá-lo, vou passar um café e preparar umas panquecas para tomarmos café, eu normalmente deixo Caio e o Luan se virarem com seus cafés da manhã quando eles dormem aqui, mas Breno não é tão de casa assim. Ao passar pelo quarto do Ykaro vejo a porta entre aberta e a cama dele feita, estranho ele não é de acordar tão cedo assim, mas pensando bem não vi ele chegar. Deve ter dormido fora, só espero que ele esteja bem.
Coloco o pó de café na máquina, depois pego os ovos e a massa para preparar a panqueca, o açúcar está acabando, preciso por isso na lista. A campainha toca quando estou quase finalizando tudo, agora deve ser o Caio sem a chave dele para variar, só para provocá-lo vou abrir o portão com a chaves dele. Antes que eu possa abrir minha boca quando abro a porta me deparo com a mesma mulher que estava discutindo com Ykaro naquela noite no bar.
— Pode chamar o Ykaro para mim, por favor — ela tem um ar esnobe que me deixa profundamente incomodado, mas lembro que ela irritou muito ele.
— Bom dia, né — digo de propósito só para alfinetar — sinto muito mais ele não está em casa.
— Ele pediu para você dizer isso? — Só que me faltava a essa hora da manhã essa criatura vir tentar testar minha paciência.
— Não querida, ele realmente não está em casa, tente o telefone dele, quem sabe você consegue falar com ele — ser passivo agressivo não é minha especialidade e sim do Caio, mas eu me esforço.
— Eu vou esperar — ela faz menção de entrar, mas não saio do lugar, não vou deixar essa criatura entrar na minha casa, ainda mais sabendo que o Ykaro não quer papo com ela.
— Sinto muito querida, mas eu vou sair em breve então não vai ser possível, melhor mesmo você tentar falar com ele por telefone.
— Ele não está me atendendo! — A mulher começa a se exaltar.
— Talvez ele esteja dormindo a essa hora, ele trabalha a noite não sei se você sabe — ela é tão escrota que nem parece lembrar de mim, então não faço questão de deitar para essa moça.
— Ele está aí não está? — Ela começa a tentar olhar por cima do meu ombro e pior, começa a gritar o nome dele do nada — Ykaro, Ykaro! Eu sei que você está aí!
— Mona você é maluca? — A amapô fica estática com minha reação — está vendo a moto dele aqui no estacionamento por acaso — cedo um espaço só para que ela veja.
— Onde ele está?
— Mona eu não sou gps e nem secretário dele, Ykaro é um homem adulto e pode dormir onde ele quiser e com quem ele quiser pois até onde sei ele é solteiro.
— Você sabe com quem está falando? — A mona ficou louca de vez, querendo vir dar carteirada comigo um hora dessas.
— Pam, o que você está fazendo aqui? — Carmen surge por trás dela — que escândalo é esse?
— Caio, né?
— Carmen, Carman Sanfortal — corrige, se ela tinha esperança de pedir ajuda para ele essa chance se foi no momento em que ela desdenhou dele — posso saber o que você quer aqui a essa hora gritando com minha amiga?
— Só quero falar com Ykaro.
— E eu estou lhe dizendo que ele não está, quer saber agora que você falou ele disse mesmo que ia dormir com alguém essa noite — minto mesmo, só para deixar ela bem fula da vida.
— Ele me paga se acha que vai brincar comigo!
— Meu amor, ele nem te quer — os olhos da mona me fuzilam com força, Carmen fica entre a gente para evitar que me atraque com essa maluca.
— Melhor você mana, a Madrinha já disse que ele não está em casa — completa Carmen.
A mulher fica muito contrariada, mas faz o que Carmen disse e vai embora pisando forte — eu em, que maluca — entra no carro e vai embora. A essa hora atrás de macho e pior ela está forçando a barra com um cara que já deixou claro que não quer nada com ela, vai entender, posso já ter ficado muito apaixonado, mas graças às deusas nunca me prestei a esse papel e espero nunca passar.
— Entrar na Madrinha.
— O que essa mona queria?
— Encheram o saco, Ykaro já deu um fora nela, mas aparentemente ela não entendeu o não.
— Isso que dá tirar a virgindade dos outros — Carmen simplesmente solta.
— Que história é essa?
— O Ykaro foi o primeiro dela.
— Como você sabe disso? — Sério, às vezes Carman me assusta.
— Eu sei de tudo Madrinha e também trouxe pão — ela se detém por um momento — o que o carro do Breno está fazendo aqui?
— Ah ele dormiu aqui — digo inocentemente já voltando para cozinha.
— Espera, e o Luan?
— Veio, mas saiu antes do Breno chegar com comida.
— Breno veio dormir aqui sozinho — é raro, mas às vezes ainda consigo surpreender. Só que não percebo de imediato que ela pensa que algo aconteceu.
— Só vocês dois?
— Sim, eu dormi na rede e ele na cama, não estou entendendo ele já dormiu aqui antes.
— Mas nunca sozinho com você — pelo que eu conheço dessa gay sei que as engrenagens na sua cabeça perversa estão girando, só aí começo a entender a situação.
— Não rolou nada madrinha, eu jamais faria isso com você e você sabe muito bem disso, sem contar que eu namoro tá.
— Ai Madrinha acorda, só você não vê.
— Vê o que? — Detesto quando meu amigo está montado enquanto estamos conversando, pois a Carmen ainda é mais enigmática do que o meu amigo Caio.
— Bom dia! — Breno interrompe a conversa correndo os olhos.
— Bom dia principe, então era aqui que você estava — Carmen o questiona.
— Oi, e ai, você chegou agora? — Ele pergunta ainda tentando acordar.
— É, teria chegado antes, mas alguém esqueceu algo.
— Desculpa, puta merda Carmen me perdoa, ontem eu bebi um pouco de vinho e trouxe umas coisas por Adriano provar, ficou tarde e acabei dormindo aqui, no meio disso tudo esqueci de por o celular para carregar e não vi quando você me ligou, me perdoa, eu pago seu uber, quanto foi?
— Tá tudo bem, só que dá proxima vez me avisa né, fiquei preocupada!
— Perdão!
— Não quero o dinheiro do Uber, mas vou querer um batom da Boca, só como retratação.
— Sim senhora! — Breno está arrasado, dá para ver na sua cara.
— Aqui amigo café — entregou uma caneca para ele — e suco para você Madrinha?
— De laranja sem gelo — Carmen diz indo em direção ao quarto tirando sua montação no caminho.
— Dormiu bem? — Pergunto ao Breno quando ficamos sozinhos na cozinha.
— Mais ou menos, tipo fiquei mal por ter te tirado da cama.
— Liga não, foi legal dormir de rede — minto.
— Melhor do que dormir na sua cama?
— Não — admito.
— Na próxima acho que nós dois podemos dormir na cama, na ultima vez foi de boas não foi? — Sua fala me faz lembrar que acordei no peito dele.
— Sim, foi sim — meu sorriso é meio constrangido e ao mesmo tempo me divirto lembrando da minha gafe, ainda bem que ninguém viu.
Breno só de óculos e uma bermuda folgada que deixa suas pernas cabeludas à mostra, nossa é impressão minha ou ficou quente de repente, “que isso Adriano, se comporta”.
— O que foi? — Pergunta ao notar que estou encarando ele.
— Nada, só estava aqui pensando na lista de coisas que preciso comprar para fazer a encomenda de amanhã e mais um cento de salgados que preciso entregar mais tarde.
— Se você quiser, estou de folga hoje, posso ir com você comprar as coisas.
— Vai ser ótimo, alias você vai estar disponível amanhã? Vou precisar levar as comidas.
— Pode contar comigo, para você estou sempre livre — o sorriso dele ilumina a cozinha, eu amo ele ser tão generoso e prestativo.
Termino o suco do Caio, aproveitou para fazer um para mim também, Breno espera até tudo está pronto para comer, então peço que ele arrume a mesa enquanto chamo meu amigo no quarto.
— Madrinha está tudo pronto — Caio está sentado na frente do espelho tirando sua maquiagem.
— Obrigado meu bem, estou indo.
— Ah você esqueceu sua chávez aqui em casa sabichão.
— Na verdade eu deixei elas aqui de propósito.
— Ata, até parece, por que você faria isso?
— Porque a senhora não mora mais sozinha, melhor preservamos a privacidade do seu roommate.
— Mas ele me disse que não se importava — digo pensativo.
— Vai ver que ele só não queria te contrariar, né Madrinha.
— Você acha que eu devo pedir a chave do Luan?
— Se eu entreguei a minha ele deve entregar a dele também, afinal.
— Já entendi, foi uma pergunta besta, bem normalmente você está certa sobre essas coisas, vai ver o Ykaro só não quis dizer nada para não ficar um climão né — agora que Caio falou até que faz sentido, tipo sou meio desligado as vezes, é engraçado as pessoas tentando me dizer uma coisa e eu entendo outra completamente contrária, sou muito ruim nesse negócio de ler nas entrelinhas.— Mas olha você vai poder vir aqui sempre que quiser, normal tá.
— Isso nem é uma questão, só que agora vamos bater antes de sair entrando, ainda mais com Ykaro cercado de mulher querendo ele, vai que a gente pega algo que não devia — Caio diz brincando, mas essa possibilidade é totalmente possível.
— Vou falar com Luan hoje no almoço, ele vai entender.
— E ele tem opção? — Caio diz rindo só para provocar.
— Não, não tem, o que vale para um vale pro outro — digo abraçando meu melhor amigo gay.
— E como tá o babado com o Nathan?
— E, tá com tempo, a história é longa.
