Do Paraíso ao Abismo 7.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 4329 palavras
Data: 27/11/2025 15:29:47
Última revisão: 27/11/2025 17:07:37

Ana Flávia:

Um suspiro profundo, e a profissional em mim assumiu o controle. Sou apenas uma ferramenta para o prazer deles. Endireitei os ombros e cruzei a sala, o som abafado dos meus passos no carpete espesso. O ar mudava conforme eu me aproximava, pesado com um perfume amadeirado caro e uma expectativa crescente.

— Esperávamos por você, Ana. — O homem disse. Sua voz era um baixo suave, mas com uma autoridade que cortava o murmúrio da festa. — Eu sou o Ricardo. E esta é minha esposa, Carla.

Ele estendeu a mão, não para um aperto, mas para guiar minha própria mão até seus lábios. Seus olhos não saíam dos meus, escuros e avaliadores. Carla ficou ao lado dele, uma mulher esbelta com um vestido de seda que destacava cada curva. Seu sorriso era cortês, mas seus olhos percorriam meu corpo com uma curiosidade avidamente calculista.

— Estávamos admirando seu… trabalho. — Ricardo disse, seus lábios se curvando levemente contra meus dedos antes de soltá-los.

— Espero que tenham gostado do espetáculo. — Provoquei.

— Foi instrutivo. — Carla respondeu, com malícia. — Você parece ser muito versátil.

Ricardo deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Seu dedo sob meu queixo foi firme, inclinando meu rosto para cima.

— Versátil é uma boa forma de descrever também. Eu diria dedicada. Você se entrega completamente, não é? Como uma verdadeira profissional.

Seu polegar passou pelo meu lábio inferior, e uma pontada de antecipação correu por mim. Aqui vamos nós.

— Vamos pular as preliminares, querida? — Ele perguntou, mas não era realmente uma pergunta. — Carla adora observar primeiro. E eu adoro pôr as coisas à prova. Quero testar o que estou pagando.

Sem esperar minha resposta, sua mão desceu para o decote do meu vestido, encontrando o zíper. O som do metal deslizando foi absurdamente alto. O tecido caiu em volta dos meus pés, me deixando de pé apenas de calcinha e salto alto perante eles. O ar condicionado arrepiou minha pele nua.

— Linda. — Carla murmurou, seus olhos fixos nos meus seios.

— Sim. — Ricardo concordou, seu olhar devasso percorrendo meu corpo. — Um belo instrumento de prazer.

Ele se sentou pesadamente em uma poltrona de couro, desabotoando sua calça. Sua ereção surgiu, grossa e impaciente. Ele apontou para o espaço no chão entre seus pés.

— Aqui. De joelhos.

A ordem foi direta, cortando qualquer artifício. Obedeci, ajoelhando-me no carpete macio. A perspectiva mudou; eu agora olhava para cima, para ele, e para Carla, que se aproximou, parando ao lado do marido para assistir.

— Abra essa boca bonita. — Ricardo comandou.

Quando obedeci, ele não foi gentil. Ele enfiou para dentro, preenchendo minha boca de uma vez.

— Isso, sua vadia gulosa. — ele gemeu, suas mãos entrelaçando-se em meu cabelo, não para guiar, mas para segurar. — É assim que você gosta, não é? Essa boquinha foi feita para isso.

Meus olhos arderam, mas um ruído de aprovação saiu da minha garganta. Eu me concentrei na sensação, no peso em minha língua, no modo como meus lábios se esticaram.

— Veja só, Carla. — Ele disse, sua voz tornando-se mais áspera. — Perfeição absoluta. Nascida para engolir pau como uma putinha de luxo. Cada centímetro.

A degradação era um choque frio, seguido imediatamente pelo calor do elogio. Minha mente nadou, agarrando-se às palavras contraditórias. Eu me movi sobre ele, criando um ritmo, minha saliva escorrendo pelo meu queixo.

— Mais rápido. — Ele ordenou, e eu obedeci, meus músculos da mandíbula queimando.

Suas palavras continuavam, uma torrente que me mantinha desequilibrada.

— Você é tão incrível. Uma putinha submissa de primeira. Vale cada centavo.

Ele puxou meu cabelo, puxando minha cabeça para trás, seu pau saindo da minha boca com um estalo úmido. Eu ofeguei, olhando para ele, confusa. E então seu tom mudou, tornando-se quase reverente.

— Mas que obra de arte você é. Olhe para você. Totalmente focada. Totalmente nossa. Você é magnífica.

O elogio foi como um gole de água doce no deserto. Um gemido escapou da minha boca, uma necessidade genuína que nasceu da confusão emocional.

— Volte. — Ele sussurrou, e eu mergulhei de volta, com mais vontade, ansiosa pela próxima rodada de elogios, seguidas de atitude de dominância.

Ele me usou por um tempo, com controle rígido, elogios quase degradantes

— sua cadela safadinha…

Seguido de:

— Putinha boqueteira gostosa…

Finalizando com:

— Que piranha incrivelmente deliciosa…

Cada insulto, travestido de elogio, me fazia querer provar que ele estava errado; cada elogio, disfarçado de insulto, me fazia querer provar que ele estava certo. Era exaustivo e viciante.

Ele finalmente me empurrou para longe, ofegante.

— Deita no chão. Agora. De costas.

Eu me deitei no carpete, meu corpo exposto à luz suave. Carla se ajoelhou perto da minha cabeça, dedos leves percorrendo minha testa, alisando a franja.

— Você está se saindo tão bem. — Ela sussurrou. Um contraste de doçura com a dureza de Ricardo, era um outro tipo de tortura.

Ricardo ficou de pé sobre mim, seu pau ainda brilhando com minha saliva. Ele olhou para sua esposa.

— O que você acha, querida? Ela merece mais?

— Ela está implorando por mais. — Carla respondeu, seus dedos agora traçando meus lábios. — Não está, putinha? Você precisa disso.

— Ouviu a patroa. — Ricardo disse, ajoelhando-se entre minhas pernas.

Ele agarrou meus quadris com uma mão, apontando a cabeça do pau já devidamente protegido com a outra na entrada da minha buceta, erguendo-me sem pedir permissão. Ele entrou em mim de uma vez, sem cerimônia, arrancando um grito rouco da minha garganta.

— Ahhhhhhhh… Filho da puta…

Eu estava tão molhada, tão aberta para ele, que a invasão que antecipava dor, acabou se tornando incrivelmente prazerosa.

— Finalmente. — Ele grunhiu, começando a se mover com estocadas curtas e potentes. — A sua utilidade é real. Um dinheiro bem investido em prazer.

Ele se curvou sobre mim, seu suor pingando no meu peito.

— Diga… Diga que você é nossa putinha.

— Eu sou sua putinha… Eu gemi, o choque de cada estocada sacudindo meu corpo.

— Errado. — Ele diminuiu o ritmo, penetrando fundo e parando, me fazendo sentir cada veia pulsante. — Você é a putinha de nós dois. Uma adorável vadia alugada. Nunca se esqueça disso.

Carla se inclinou, seus lábios perto do meu ouvido.

— Ele está certo… — Ela murmurou, sua voz um contraste suave com as ações brutais do marido. — Você é minha putinha também. Tão obediente. Fazendo tudo que mandamos.

A dualidade era de enlouquecer. Eu estava sendo aberta por um, adorada pela outra, e denegrida por ambos. Meus sentidos estavam em curto-circuito, focando apenas na fricção crua dentro de mim, no sussurro doce em meu ouvido, na voz áspera que me nomeava de formas pejorativas.

Ricardo aumentou o ritmo, seus quadris batendo contra os meus com uma força que prometia hematomas.

— Vou acabar com você… — Ele rosnou. Vou encher sua bucetinha de puta.

Carla me virou o rosto para o dela, seus olhos escuros prendendo os meus.

— E você vai agradecer por isso, não vai? — Ela perguntou, sua voz suave como veludo. — Você vai agradecer a nós dois por usar você tão bem.

A pressão dentro de mim se acumulou, uma onda monstruosa prestes a quebrar. O insulto, o elogio, a posse, o uso… tudo se fundiu em um único ponto de necessidade pura.

— Sim… eu gritei, minha voz tremendo de aprovação. — Obrigada. Por favor… não para. Ahhhhhhhhhhhh…

A respiração ofegante, o eco das últimas palavras de Ricardo ainda zumbindo em meus ouvidos. O carpete áspero contra minhas costas nuas, meu corpo ainda tremendo com os espasmos do orgasmo que ele havia arrancado de mim.

Ele se afastou, e por um segundo, tudo ficou silencioso, exceto pelo som abafado. Meus músculos estavam moles, relaxados. Apenas outro ato.

Mas os olhos de Ricardo não mostravam nenhum sinal de término. Eles brilhavam com uma luz predatória renovada. Ele trocou um olhar com Carla, um sorriso quase imperceptível passando entre eles. Um frio percorreu minha espinha, uma antecipação totalmente diferente da anterior.

— Vira. — Ricardo ordenou, seu tom era dominante e inquestionável.

Eu me mexi, meu corpo respondeu antes que minha mente pudesse processar completamente. Virei-me, apoiando-me nos cotovelos e joelhos, a posição me expondo completamente, minha nudez oferecida a eles. O ar frio da sala atingiu minhas costas, arrepiando a pele ainda quente e suada.

— Assim mesmo, putinha obediente. — Ele me elogiou, ou xingou, aprovando.

Suas mãos agarraram meus quadris, seus polegares pressionando a carne macia, me marcando.

— Agora, fica quietinha e se entrega.

Ouvi o farfalhar do vestido de seda de Carla. Ela se moveu para frente, parando diante de mim. Seus saltos finos estavam alinhados com os meus olhos. Ela colocou a mão sob meu queixo, erguendo gentilmente meu rosto até o dela. Seu sorriso era sereno, mas seus olhos estavam cheios de desejo e malícia.

— Ricardo disse que você tem uma boca tão talentosa, Ana… — Ela sussurrou, sua voz suave como seda. — Deixa que conferir, ver se é mesmo verdade.

Ela soltou meu queixo e, com as duas mãos, pegou a barra de seu vestido. Movimentos lentos, deliberados. Ela puxou o tecido para cima, revelando primeiro seus tornozelos esbeltos, então suas panturrilhas, suas coxas… Ela não usava nada por baixo. A pele alva, o triângulo bem cuidado de seus pelos pubianos, e então, o centro úmido e rosado foi revelado diante de mim.

— Abre bem, essa boquinha. — Ela ordenou, tão dominante quanto o marido.

Minha boca se abriu instintivamente e Carla, lenta e graciosamente, sentou-se sobre o meu rosto, tomando posse. O mundo desapareceu, reduzido ao peso e ao cheiro dela. O perfume floral caro de sua pele misturado com o aroma inebriante de sua excitação.

Ela se acomodou, seus quadris repousando sobre meus ombros, suas coxas enquadrando meu rosto. Não havia ar. Apenas ela. Apenas o sabor salgado e doce de sua carne, a textura suave de sua pele contra minha testa, meus olhos fechados. Eu a lambi, experimentando, uma passada longa e plana da língua.

Um tremor percorreu seu corpo.

— Isso… que delícia… — Ela gemeu baixinho, suas mãos encontrando meu cabelo, não com a força brutal de Ricardo, mas com uma posse firme. — Assim. Mostra para mim o quanto você é dedicada.

Enquanto me concentrava em Carla, senti Ricardo se posicionando atrás de mim. Suas mãos abriram minhas nádegas, seus dedos ásperos contra a pele sensível. Ele não fez nenhum esforço para ser gentil. Um gemido abafado escapou de mim quando ele se enterrou em mim de uma vez, uma penetração profunda e completa que fez, sem querer, cravar as unhas nas coxas de Carla.

— Ai, cachorra… tá se rebelando.. — Ela quase gritou.

Eu estava aberta, esticada, preenchida por ele novamente, mas daquela vez a invasão era diferente, mais profunda, mais impiedosa.

Ele começou a estocar num ritmo lento, pesado, que ecoava através da minha pele. Cada investida me empurrava mais contra o rosto de Carla, e eu respondia mergulhando minha língua mais fundo nela, sorvendo, lambendo e chupando, me afogando nela.

— Que cena espetacularmente depravada… — Ricardo disse aos risos, sem parar de socar dentro mim como um bate estaca.

Suas mãos apertavam meus quadris com tanta força que eu sabia que ficariam roxos.

— A putinha chupando buceta como se sua vida dependesse disso, enquanto leva pau sem dó. Você é mesmo uma profissional. Muito sem vergonha, aliás.

Seu insulto, ou elogio, me atingiu no mesmo instante em que minha língua castigava o clitóris inchado de Carla, e ela arqueou as costas com um grito abafado. A contradição era vertiginosa.

— Não… não tenho. — eu gemi, minhas palavras distorcidas pela situação em que me encontrava.

— Fala mais alto. — Ele exigiu, estocando em mim com força renovada

— Não tenho vergonha mesmo. Adoro o que faço. — A frase saiu mais alta, um grito abafado pelo corpo de Carla.

Ele riu, um som áspero e triunfante.

— Não, não tem mesmo. É o que é. Uma vadia profissional, apaixonada pelo que faz.

Seu tom mudou, tornando-se quase maravilhado. Ele diminuiu o ritmo, roçando profundamente dentro de mim, fazendo-me gritar.

— A forma como você se entrega… É de enlouquecer. Você é perfeita assim. Totalmente devotada. Nascida para isso.

As palavras me envolveram, tão quentes e intoxicantes quanto o corpo de Carla contra meu rosto. Eu me concentrei em minha língua, circulando, sugando, dedicando-me totalmente a dar prazer a ela, como se meu próprio prazer dependesse daquilo.

Carla começou a mover os quadris, encontrando o ritmo da minha língua. Seus dedos se enrolaram com mais força no meu cabelo, puxando-me mais para perto. Seus gemidos ficaram mais altos, menos contidos.

— Isso… assim mesmo, boa garota. — Ela ofegou. — Você faz isso tão… tão bem. Não para. Ahhhhhhh…

Ricardo aumentou o ritmo novamente, suas coxas batendo contra as minhas com um som úmido e repetitivo.

— Ouviu ela, putinha? Não para. — Sua voz era um afrodisíaco em meu ouvido. — Toma o que queremos te dar. Sua cadela gulosa. Toma tudo.

Eu estava sendo puxada em duas direções, rasgada entre a frieza de suas palavras e o calor de seus elogios, entre a invasão brutal dele e a posse suave dela. Minha mente desligou. Já não havia Ana, apenas sensação. O peso de Carla, a fricção de Ricardo, o sabor salgado, o som de corpos se movendo, gemidos, grunhidos…

Carla ficou mais rígida, seu corpo ficou tenso.

— Eu vou… Ana, não para… — Ela gritou, e então um tremor violento a percorreu.

Seus músculos se contraíram em torno da minha língua, e um fluxo quente de seu prazer atingiu minha boca. Eu bebi, engasgando-me um pouco, mas não recuando, lambendo-a através de cada onda, cada contração, até que seu corpo relaxou sobre o meu rosto.

Ricardo viu, sentiu.

— Agora sou eu… — Ele urrou, seus movimentos se tornando irregulares, frenéticos.

Suas mãos me puxaram para trás contra ele, cada investida mais profunda que a anterior.

— Vou marcar você por dentro, sua vadia alugada. Vou te encher de porra.

O orgasmo me atingiu sem aviso, uma convulsão violenta que fez meu corpo tremer e minha mente desligar. Minha buceta apertava o pau de Ricardo, tentando mantê-lo lá dentro o maior tempo possível.

Ele rugiu como uma fera, um som triunfante e animalesco e então eu o senti, o jato quente e pulsante dentro de mim, enchendo a camisinha. Ele permaneceu imóvel por um longo momento, seu corpo curvado sobre o meu, ofegante. Carla ainda sentada no meu rosto.

O único som era nossa respiração ofegante. Então, ele saiu de dentro de mim, e eu desabei completamente no carpete, meu rosto finalmente livre de Carla. Eu puxei o ar profundamente para os pulmões, meu corpo tremendo, incontrolável.

Carla se levantou e endireitou seu vestido, sua mão passando pela minha testa suada com uma doçura maternal.

— Magnífica. — Ela murmurou, sua voz um pouco trêmula. — Simplesmente magnífica.

Ricardo se ajeitou, olhando para baixo, para mim. Seus olhos percorreram meu corpo, uma massa trêmula e marcada no chão.

— Com certeza, precisamos repetir.

Eu fiquei ali por alguns minutos, sozinha, me recuperando, a noite atingia seu auge, e a mansão parecia vibrante. As risadas, os sons abafados e a música distante criavam um eco estranho, como se tudo ali vibrasse em excesso.

Eu me levantei, me ajeitei o melhor que consegui, me vesti novamente, e saí da sala principal com passos lentos, quase arrastados. Meu corpo ainda tremia, mas não era mais prazer, mas cansaço. Eu tinha feito valer cada centavo daquela noite. Sabia desempenhar meu papel melhor do que qualquer uma ali.

Encostei na parede fria de um corredor lateral e respirei fundo. Ajustei o vestido curto, que agora parecia apertado e pesado demais. Só um minuto de ar… só um minuto para mim.

Caminhei até uma porta quase escondida, uma saída lateral para o jardim. Lá fora, o ar era fresco, silencioso. As luzes espalhadas pelo chão iluminavam as árvores e o casarão enorme, imponente e antigo. Era tão bonito quanto sufocante. Parecia olhar de volta para mim.

Fechei os olhos e inspirei, puxando o ar calmamente. O coração ainda batia rápido, mas de um jeito diferente. Um arrepio estranho percorreu minha coluna, tão forte que me fez abrir os olhos rápido demais. Eu estava sendo observada.

Olhei ao redor, procurando alguém. Nada. Mesmo assim, a sensação não passava. Tentei ignorar. Massageei a nuca, respirei fundo mais uma vez e me virei para voltar.

Foi então que parei. Havia um casal parado a poucos metros de mim, imóveis, silenciosos, como se estivessem ali há muito tempo. A mulher me encarava com os braços cruzados, postura rígida. O homem, mais alto, mantinha as mãos nos bolsos e observava com uma frieza que fazia algo dentro de mim gelar.

Eu não reconhecia os rostos, mas o olhar era familiar. Algo dentro de mim apertou.

— Com licença... — Murmurei, tentando sair dali.

Quando tentei contornar os dois, a mulher deu um passo à frente, bloqueando meu caminho.

— Já temos tudo o que precisamos — Ela disse para o homem, com a voz calma demais. — A gravação deu certo?

Meu corpo inteiro travou. Eu conhecia aquela voz.

O homem respondeu sem tirar os olhos dos meus:

— Sim. Absolutamente tudo.

E então ele começou a remover a barba postiça. Depois as pequenas próteses no rosto. E, por último, as lentes de contato. Quando ele piscou e me olhou, com os olhos reais, o ar sumiu dos meus pulmões.

— Jor… Jorge…? — Minha voz saiu fraca, como se não pertencesse a mim.

Ele não respondeu. E não precisou. O olhar dizia tudo. Raiva. Nojo. Decepção. E o pior: convicção.

— Jorge… por favor… não é o que você pensa… eu… — Tentei me aproximar, desesperada.

Quando toquei o braço dele, um estalo cortou o silêncio. O tapa veio forte. Rápido e cruel. Caí para o lado, segurando o rosto, sentindo o gosto metálico na boca. Antes mesmo de a dor fazer sentido, as lágrimas começaram a cair.

A voz de Sara veio baixa, mas afiada como lâmina:

— Fica longe do meu amigo, sua vigarista barata.

Eu tentei responder, mas a palavra morreu na garganta. Ela se abaixou, olhou bem nos meus olhos e sorriu. Um sorriso frio, sem alma.

— Nós já sabemos de tudo. Do golpe. Da mentira. Da manipulação. — Ela inclinou a cabeça, como se estivesse apreciando meu desespero. — E sim. Já encontramos a sua irmã.

O chão pareceu desaparecer. Meu corpo inteiro tremia.

— Vocês… vocês não entendem… — Minha voz saiu sufocada.

Foi Jorge quem respondeu, com uma calma que doeu mais do que qualquer grito:

— Eu entendo perfeitamente. Afinal, vi com meus próprios olhos.

Ele se virou para ir embora. Sara o acompanhou. Antes de cruzar a porta, ela olhou por cima do ombro e disparou a sentença final:

— Se prepara. Dizem que na cadeia dá pra se divertir bastante. Vida liberal combina com você, não é?

E então os dois desapareceram pela porta. Eu fiquei ali, caída no chão frio, respirando rápido demais, sentindo o coração tentando escapar do peito. Não havia saída. Não havia desculpa. Fui pega em Flagrante.A farsa acabou.

E eu sabia, com absoluta certeza: o pior ainda estava por vir.

{…}

Jorge:

Eu achei que estava preparado. Tentei me fortalecer mentalmente, ouvi as explicações da Ana Beatriz e do Samuel, conferi as provas que Sara apresentou, encarei os fatos, mas nada, absolutamente nada, me deixou pronto para ver com os meus próprios olhos a verdade crua.

Ela estava ali. Ana Flávia. A mulher que eu achei que amava. A mulher que eu defendi, acreditei, protegi… e que por pouco não destruiu completamente minha vida. A falsa Ana, vilã de uma falsa história de amor.

E não era a raiva que queimava no meu peito, era uma mistura estranha de incredulidade com algo muito mais íntimo: repulsa.

Não pelo estilo de vida, pela festa, pelo clima explícito ao redor. Não por ela exercer sexualidade, cada um vive como quer, mas pelo roteiro. Pela manipulação. Pelo teatro calculado em cima da minha ingenuidade.

Ela não estava ali por prazer. Nem por rebeldia. Nem por liberdade sexual. Ela estava ali trabalhando. Repetindo o mesmo método, o mesmo sorriso treinado, a mesma voz doce calculada antes de ser usada como arma.

E quando ela saiu para os fundos, respirando com dificuldade, cansada, como quem descansa depois de um expediente profissional, eu só senti um vazio sólido dentro do peito.

A ficha não caiu de uma vez. Ela desmoronou lentamente dentro de mim. Como um prédio condenado, implodindo de dentro para fora. Silencioso, inevitável, definitivo.

Quando ela nos viu, primeiro estranhou, depois estudou, e só depois… temeu. Foi naquele segundo que eu percebi a maldade de quem usa as pessoas para ganho próprio. Nunca existiu destino, sintonia, química, nada disso. Tudo era estratégia.

Ela perdeu no próprio jogo. Perdeu o controle. Amadora, despreparada, tentando dar um passo maior que a perna, achando que tinha me isolado, me dominado, mas nunca chegou a dar o xeque mate.

Quando tirei a barba falsa, a lente, as próteses… algo em mim também foi arrancado. Um resto de ingenuidade infantil que eu ainda carregava.

Eu não disse nada. E foi libertador perceber que eu não precisava falar coisa alguma. Meu silêncio falava por mim: Você está acabada. E o desespero dela era a melhor resposta. Eu acordei. E ela nunca mais faria parte da minha vida.

Quando ela tentou me tocar, quando sua voz fina vacilou tentando inventar uma nova mentira, eu só senti nojo. Nojo daquela versão mau caráter de uma Ana que quase maculou uma linda história de amor repentina, forjada no encontro de duas almas que se encontraram e se queriam bem.

Nojo da minha própria cegueira. Da ilusão que eu insisti em alimentar mesmo com todas as bandeiras vermelhas tremulando na minha cara.

O tapa da Sara ecoou como ponto final. E ver a maldita no chão, tentando juntar dignidade e mentira ao mesmo tempo, me deu a única sensação real daquela noite: Eu estava livre.

Não quebrado. Nem arrasado. Um pouco ferido, mas completamente desperto. Pronto para seguir em frente, deixando aquela experiência arquivada para não cometer o mesmo erro no futuro.

Sendo honesto, eu finalmente sabia quem eu era, e quem nunca mais permitiria entrar no meu mundo.

Quando saímos daquela mansão, o ar lá fora parecia diferente. Frio, limpo. Real. Eu senti os pulmões se abrirem como se eu estivesse respirando de verdade após me libertar da névoa sufocante da enganação.

Sara caminhava ao meu lado em silêncio, e aquilo já dizia muito, porque ela jamais se cala quando acha que alguém está desmoronando, e só quando chegamos ao carro, ela finalmente perguntou:

— E aí… você tá bem?

Eu olhei para ela. Não como o Jorge iludido, romântico infantilizado que passou dois anos acreditando em uma mentira. Mas como alguém que acabou de enterrar um capítulo inteiro da vida. Não havia dor, nem drama, só… encerramento.

— Estou. — Respondi. — De um jeito que eu nem sabia que era possível.

Ela me estudou por alguns segundos, como tentando identificar alguma rachadura invisível.

— Uhum. — Ela resmungou. — Esse é aquele “estou bem” que significa “vou chorar no banho às três da manhã” ou o tipo “aprendi a lição, vida que segue”?

Eu respirei fundo, a resposta era uma só.

— O segundo.

— Jura? — Ela ergueu a sobrancelha, desconfiada.

— Juro. Desta vez, eu realmente acordei.

Sara abriu um sorriso, meio orgulhosa, meio aliviada.

— Então você oficialmente deixou de ser otário? — Ela provocou, debochada.

Eu ri de mim mesmo. De verdade. Não riso nervoso, não riso automático. Foi leve. Foi sincero.

— Acho que sim. — Respondi. — E não é que dói menos do que eu imaginava. Nem sei se chega a ser dor.

— Crescer é uma merda. — Ela completou, destravando o carro. — Mas combina com você.

Entramos. O silêncio que se seguiu era confortável e alguns minutos depois, ela cutucou meu braço, ainda dirigindo:

— Só pra saber… você tá com vontade de voltar lá dentro, dar um sermão dramático, citar Shakespeare, jogar vinho na cara dela, ou…?

— Sara… — Eu ri novamente — nem se me pagassem.

Ela bateu animada no volante.

— Pronto. Eu sabia. A cura veio.

— Não é cura — Corrigi. — É… clareza. Eu vi quem ela realmente é. E, sinceramente, eu não sinto perda. Sinto vergonha de ter permitido aquilo.

Sara pousou a mão no meu ombro, mais séria.

— Jorge… isso não te faz fraco. Te faz humano.

Eu encarei a janela por um segundo, vendo a mansão ficar pra trás como um símbolo de algo que não me pertencia, e nunca pertenceu.

— Agora eu só quero seguir. Sem mentiras. Sem ilusões.

Sara sorriu, voltando a brincar.

— Sabe… eu tô impressionada. Eu esperava te consolar, te dar chocolate, te oferecer terapia, talvez até te empurrar um balde de sorvete e dizer “esse mundo não presta”, mas… — Ela gesticulou de forma teatral. — olha você aí. Postura reta. Olhar firme. Voz calma. Quase um protagonista de filme de justiça.

— Exagerada. — Murmurei.

— Ahn… e já que estamos no clima de sinceridade. — Ela acrescentou — posso falar uma coisa?

— Fala.

— Bia tá esperando por você. Não do jeito desesperado, romântico, dramático… mas do jeito certo. Do jeito maduro. Do tipo que torce pra que você esteja no mesmo ponto para caminhar junto, não para ser salvo nem para se salvar.

Eu fechei os olhos por um segundo e a imagem da Ana verdadeira — o sorriso, o jeito dela me olhar sem máscaras, sem manipulação. — apareceu como uma cena de redenção, de recomeço esperançoso.

— Quando isso tudo acabar. — Eu disse devagar, me sentindo estranhamente calmo. — Eu vou falar com ela. Não com expectativa. Mas com verdade.

Sara soltou um assobio.

— Pronto. Agora sim. Esse é o Jorge que o mundo merece.

Eu ri.

— E você? — Perguntei — Satisfeito com o resultado do seu trabalho de espiã clandestina?

Ela deu de ombros, sorrindo orgulhosa de si mesma.

— Meu querido… eu sou praticamente seu anjo da guarda, seu príncipe montado num cavalo branco…

Ela me olhou novamente, e havia ternura fraternal, amor genuíno, não aquele romântico ou sexual, em seus olhos.

— Eu sempre soube que você não era fraco. Só tava com a pessoa errada. Agora… — Ela piscou. — Se prepare. Porque amanhã, o mundo dela desaba de vez.

Eu encostei a cabeça no banco, sentindo o peso sumir aos poucos. Me sentindo livre, sem sombras nublando minha mente, pensei: Eu não perdi nada. Eu escapei.

Continua…

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Parabéns pelo capítulo! ⭐️⭐️⭐️

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