- Sim.
Eu sabia disso há muito tempo desde o episódio embaixo da cama com o meu primo mas admitir em voz alta, e ao Raul funcionou como uma libertação, e um elo a mais entre nós, não que houvesse da minha parte interesse amoroso pelo Ru, não havia!
Mas aquele meu amigo era um gato!
Naquela idade podia muito bem se passar por um sujeito de vinte e cinco, era bem desenvolvido fisicamente, e o preto intenso dos cabelos e da barba contrastavam bem com a pele parda.
- Por que você está perguntando isso? - questionei.
Ele sacudiu os ombros.
- Ah! A galera do jiu comentou – ele coçou a cabeça – eles sacam logo. Mas nunca falaram nada com você não. Foi só uma percepção saca? Tipo, “ei Raul acho que aquele teu amigo tirou uma casquinha de mim” ou “ei Raul parece que teu amigo curte homem”.
- Impossível! - eu respondi.
Na minha cabeça eu não tinha dado pinta nenhuma. Como eles podia supor isso? Fiquei um pouco ofendido ao descobrir que muita gente entrava em lutas como o jiu-jitsu e o judô não pelo esporte em si.
Alguns se apegavam com o tempo mas muitos eram caras gays querendo tirar casquinha.
- Isso é bem preconceituoso né? - o Raul disse. - Mas é verdade. Eu mesmo passei por isso com um aluno. Bruno, ele gamou em mim, não me largava.
- E você?
- Eu o quê? Ele virou meu amigo – Raul olhou bem em meus olhos – não sou preconceituoso.
Eu respirei fundo e comi uma porção grande de assai sentindo a dor no alta da testa:
- Seus amigos estão certos eu sou mesmo…
- Tá.
Nunca mais voltamos a falar sobre isso. Tudo ia muito bem e tranquilo na minha vida, até que o João deu um jeito de reaparecer nela e embaralhar tudo novamente.
Mas levou tempo que passou voando na verdade...
Eu fiquei meses sem ter notícias mesmo sendo da mesma família.
Havia se passado um ano ou mais, eu nem pensava tanto nele como nos primeiros meses.
- Ei Henrique, - disse minha mãe – dê oi ao seu primo!
Ela virou o celular para mim e lá estava ele. O rosto havia mudado consideravelmente desde a última vez que nos vimos e um frio congelou a minha espinha. Eu desviei para não olhar tempo demais, e disse a minha mãe:
- Eu estou estudando mãe!
Ela olhou meus cadernos e livros:
- Seu primo João é ótimo em matemática não é João?
A voz do meu primo estava diferente também mais grossa:
- Dizem que sou…
Aquela maldita voz atraiu toda a minha atenção e os números ficaram embaralhados dentro da minha cabeça, sambando uns em cima dos outros.
Minha mãe se afastou com o celular, eu fechei os cadernos, e com a cabeça entre as perns fiquei com aquele zumbido estranho nos meus ouvidos.
- Larga de ser idiota! - eu disse para mim mesmo.
Por causa da minha mãe, fiquei sabendo que o João havia sido aceito no ITA, e estava um baita de um gostoso!
Eu olhei a foto dele em um evento esportivo, e não conseguir desviar os olhos dos traços do seu corpo, como alguém muda em tão pouco tempo?
Mas eu fingia não me importar, focava na dança em que cada vez eu ganhava mais destaque.
Após o ano novo, meu amigo Raul apareceu na minha casa de madrugada, meio bêbado, saltou o muro da casa, e apareceu na janela.
- Ru? - eu perguntei coçando os olhos.
- Eu… estou precisando falar contigo…
- Às três da madrugada? - falei rindo. - Se acenderem um fosforo perto de você…
- É sério, escuta – ele pediu se sentando n mureta da janela. - Eu vou pedir a Bia em namoro.
Eu conhecia a garota, uma ótima pessoa, ela fazia ballet no segundo piso da academia, dedicado inteiramente ao ballet clássico e aos instrumentistas.
- Puxa Raul ela é linda cara! Mas qual é o problema? Não vai dizer que menina comprometida?
Ele sacudiu a cabeça e aproximou-se demais de mim quase encostando o rosto do meu.
- Você não entendeu nada mesmo né?
- Entender o quê maluco?
- Que eu estou gamadão em outra pessoa…
Eu havia acendido a luz do quarto por isso via o rosto do meu amigo claramente. Ele estava com as bochechas coradas.
- Você está bêbado, precisa é de um banho, e dormir… Entra.
- Responde Henrique – insistiu.
Raul entrou no meu quarto, olhava para mim, e eu para ele, a nossa diferença e altura e de massa muscular era intimidante. Mas eu não tinha um pingo de receio dele, na verdade Raul se tornara a pessoa em quem eu mais confiava.
- Não dá Raul, cê está confundindo tudo…
Ele ainda tentou me agarrar mas acabou me abraçando e escondendo o rosto no meu pescoço. Raul fungou com o nariz pontudo por minha nuca, e eu estaria mentindo se dissesse que isso não mexeu comigo mas consegui contornar a situação.
- Só uma palavra sua cara – ele disse embolado – e eu não penso mais em ninguém, juro, você é tão lindo Rique…
Ele passou a mão em meu rosto. Eu o empurrei para a cama, tirei os seus sapatos, e o ajudei a dormir.
AVISO: "Meu primo virou um gostoso" é a primeira parte de uma história que começa nos anos de descoberta de dois primos e avança para a idade mais madura, onde acontece o desfecho propriamente dito. Desde já agradeço a todos que leram, e deram a estrelinha, obrigado, boa leitura!