Bosque Suspenso

Um conto erótico de Henrique
Categoria: Heterossexual
Contém 1069 palavras
Data: 25/11/2025 18:09:45
Última revisão: 25/11/2025 18:28:00

O domingo amanheceu sereno, e após um café tomado sem pressa decidimos caminhar no Bosque dos Altos da cidade. Escolhemos aquele lugar porque ele sempre nos traz uma paz difícil de encontrar nas ruas do bairro: árvores altas que filtram a luz, caminhos largos para a caminhada, o verde que se espalha em todas as direções e o som constante dos pássaros que parece dissolver qualquer pensamento pesado. Dentro do bosque, o silêncio não é ausência, mas presença, uma pausa que contrasta com o ruído das avenidas próximas. Entre sombras e folhas, surge a locomotiva de ferro exposta, testemunha silenciosa de um tempo em que os trilhos ditavam o ritmo do crescimento da cidade.

Caminhávamos lado a lado pelo bosque, trocando um bom papo enquanto deixávamos o verde nos envolver. O ar fresco e a paisagem se tornava parte da conversa, como se as árvores e os pássaros também participassem. Estávamos vestidos para a caminhada: eu com roupas leves de ginástica, ela com uma calça legging cinza e blusa branca, simples. A cada passo, o contraste entre o silêncio do bosque e o burburinho distante das ruas reforçava a sensação de que ali o tempo corria diferente, mais lento, mais nosso.

Parados diante da locomotiva, aproveitamos o espaço aberto para alongar o corpo antes de seguir a caminhada. O chão de cimento frio contrastava com o verde ao redor, e o silêncio do bosque parecia acompanhar cada movimento lento dos braços e das pernas.

Foi nesse momento que surgiu um rapaz, vestindo roupas esportivas, postura firme e olhar atento, como quem já está acostumado a observar gestos e corrigir posturas. Tinha cabelo curto, pele negra e um porte atlético que confirmava sua rotina de treinos e o trabalho como personal trainer.

Antes mesmo que eu pudesse cumprimentá-lo, minha esposa sorriu e o chamou pelo nome, ela já o conhecia, afinal era o personal da senhora sua amiga. Ele se aproximou com tranquilidade, cumprimentando-nos com um sorriso discreto, como se fosse apenas mais um encontro casual em meio às árvores e à memória de ferro que nos cercava.

Afastei-me por alguns instantes, caminhando até o bebedouro próximo para matar a sede. No trajeto de volta, reparei que minha esposa havia iniciado um alongamento, inclinando o corpo para frente, enquanto o rapaz permanecia logo atrás.

Os olhos dele estavam cravados na bunda dela, imóveis, como se cada curva revelada pela calça justa fosse um ponto de atração irresistível. Não piscava, não desviava, parecia hipnotizado, preso naquela visão que transformava o simples gesto de alongar em algo carregado de intenção.

Por um instante não soube se aquilo era apenas inocência dela ou uma provocação velada. O sorriso discreto dele, somado àquela encarada inquebrável, acendeu em mim uma dúvida incômoda: estaria ela apenas distraída, ou consciente da cena que se desenhava diante de nós.

De volta, encontrei a cena ainda em curso. Minha esposa permanecia inclinada para frente, alongando as pernas com movimentos lentos, enquanto o personal seguia logo atrás, os olhos cravados no rabo dela como se não houvesse mais nada ao redor.

A sensação me corroeu e, tentando quebrar o clima, perguntei:

— Está tudo bem aqui?

Ela se virou parcialmente, ainda mantendo a postura, e respondeu com naturalidade:

— Sim, querido, estou terminando o alongamento.

O personal, sem desviar o olhar, completou:

— Ela trabalha bem.

A frase soou como elogio técnico, mas em minha cabeça ecoava como insinuação. O modo como seus olhos permaneciam pregados, secos, implacáveis, transformava cada palavra em ameaça silenciosa.

Seria apenas paranoia minha, ou uma conexão começava a se desenhar diante de mim?

Em certo momento, ele se abaixou para pegar algo no chão, mas mesmo nessa posição não desviou o olhar, mantendo-o cravado nos contornos que a roupa realçava. Não era apenas a bunda que se deixava observar com clareza; havia detalhes incômodos, insinuados pelo tecido justo, que pareciam escapar ao simples gesto de alongar.

Ele então se aproximou mais, corrigindo a postura dela com um toque firme, que já não parecia apenas técnico. Enquanto mantinha a mão sobre o braço dela, comentou em tom elogioso:

— Está fazendo o movimento certinho, parabéns.

Em seguida, como quem busca criar proximidade, perguntou a idade. Minha esposa riu, inclinando levemente o rosto, e respondeu:

— Ah, tenho cinquenta e mais…

O sorriso dela carregava uma leveza provocadora, como se deixasse a dúvida suspensa no ar. Ele arregalou os olhos, surpreso, e soltou um elogio:

— Não parece de jeito nenhum… está com um corpo incrível. Eu tenho trinta e sete, e sinceramente, você está melhor que muita gente da minha idade.

O brilho no olhar dela me atingiu como um golpe silencioso, e dentro de mim ecoou um pensamento incômodo: cinquenta mais mesmo… O contraste entre o toque dele, o olhar prolongado e a reação dela fez meu peito acelerar, como se a paz do bosque tivesse se quebrado em mil pedaços.

O personal manteve o sorriso e, como quem revela uma lembrança guardada, comentou:

— Lembro de você naquele dia em que saiu da casa da sua amiga… estava bem produzida, chamou atenção.

Minha esposa ajeitou o corpo, rindo com leveza, e respondeu:

— Ah, sim… eu fui lá apenas para buscar minha amiga, tínhamos uma reunião pedagógica.

A explicação dela parecia simples, mas o elogio dele carregava uma intenção que me incomodava.

Enquanto falava, seus olhos não se desprendiam do rabo dela, colados, secos, como se cada palavra fosse apenas um disfarce para prolongar aquela contemplação silenciosa. E eu, preso à cena, já não sabia se assistia a um encontro casual ou ao início de uma conspiração íntima.

Respirei fundo e, tentando disfarçar o incômodo, falei:

— Vamos, amor, já está na hora de irmos.

Ela fez um ar de contrariedade, como se não tivesse gostado da interrupção, mas acabou concordando:

— Está bem… vamos.

Na despedida, o personal se aproximou com naturalidade e ela lhe ofereceu o rosto; o beijinho rápido pareceu inocente, mas em mim bateu um sinal de intimidade que não deveria existir.

Caminhamos juntos pelo bosque, e após alguns passos ela quebrou o silêncio:

— Está tudo bem?

Engoli a resposta, receoso de parecer ciumento demais, e murmurei:

— Sim… tudo bem.

Mas dentro de mim a dúvida não calava: cara, é um negro forte, boa pinta… será que teria despertado tesão nela? Ou sou eu que estou criando cena, alimentando paranoia sem motivo?

Não sei se vi um flerte real ou se apenas projetei meus medos.

email: bau.bru@outlook.com

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Comentários

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Muito bom, merece continuação.

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