Consequências de uma traição - 1

Um conto erótico de Nicolas
Categoria: Heterossexual
Contém 2797 palavras
Data: 25/11/2025 11:43:27

Consequências de uma traição - 1

Meu segundo pesadelo começou com uma ligação da minha mãe. O que não é nenhuma surpresa, eu acho. Ela costuma estar bem no meio da maioria das coisas ruins que me acontecem, de uma forma ou de outra.

Minha mãe foi uma das pessoas que me incentivaram a perdoar Jane durante nosso noivado, quando ela mentiu sobre ter jantado com um ex-namorado e retornado tarde da noite. "Ela te ama, Nicolas, e você tem sorte de tê-la. Ela é uma garota maravilhosa — não deixe essa pequena coisa estragar o que vocês têm."

E mesmo no meio do meu primeiro pesadelo, quando você esperaria que uma mãe estivesse totalmente do lado do filho em uma crise, ela continuava me dizendo que tinha que ser pelo menos parcialmente minha culpa, que Jane não teria feito o que fez sem motivos, que não podia ser como parecia... Blá, blá, blá. “Obrigado, mãe”.

Então, onde eu estava? Ah, sim, meu segundo pesadelo. Bem, tudo começou com uma ligação da minha mãe. O celular tocou no sábado, por volta das 11h15, bem na hora em que eu entrava em casa depois da minha aula de karatê. Eu estava encharcado de suor, ansioso por um banho e um almoço, mas não foi isso que aconteceu. O que eu recebi foi um soco forte e certeiro na lateral da cabeça.

— Oi, Nicolas, sou eu. Como você está, meu bem?

Suspirei. Minha mãe gosta de conversar, eu ficaria parado na cozinha até o suor secar nas minhas costas. — Oi, mãe, estou bem. E você?

Ela bateu papo por alguns minutos sobre o seu problema no quadril, sobre o cachorro dos vizinhos que latia à noite e a impedia de dormir, sobre o aumento do IPTU da casa dela. Eu ouvi pela metade, tomando um gole de cerveja, e esperei que ela chegasse ao ponto. Quando chegou, me arrependi de ter atendido o telefone.

— Nicolas, eu queria falar com você sobre a Jane. - Ela esperou um segundo, mas eu fiquei tão agitado que não consegui dizer nada, e ela continuou.

— Ela me ligou ontem à noite e tivemos uma longa conversa. Ela quer muito te ver, meu bem, mas está com medo de te ligar, então me pediu um conselho.

Dessa vez, encontrei minha voz. — Bem, ela DEVERIA mesmo, ter medo de falar comigo, mãe. Não tenho nada a dizer a ela, e não há nada que ela possa me dizer que me interesse ouvir.

— Não seja assim, querido. Eu sei que ela te magoou, mas isso foi há muito tempo, e.....

— Do que você está falando? “Me magoou”? Você acha que essa palavra resume o que ela fez? E não faz muito tempo — foram sete meses atrás. Acredite, eu não vou esquecer aquele dia tão fácil e nem quanto tempo se passou!

— Nicolas, não levante a voz para mim!

Suspirei, afastei o telefone da boca e esperei. Ela continuou

— Eu disse a ela que precisava ser corajosa e simplesmente ligar para você. Eu disse a ela que tinha certeza de que você seria justo e lhe daria a chance de vir vê-lo e dizer o que precisa dizer.

— Certo, mãe, serei tão justo com ela quanto ela foi comigo, pode deixar.

De repente, não aguentei mais. — Escuta, mãe, preciso desligar. A gente se fala depois. - E desliguei antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.

Jesus Cristo de bicicleta. A Jane queria me ver? Que lindo, lindo pra caralho.

######

Eu sabia que aquilo não ia ser o fim. Eu sabia porque conhecia minha mãe e conhecia Jane. Bem, uma vez pensei que conhecia Jane, agora não tinha certeza se algum dia a conheci de verdade. A Jane que eu acreditava conhecer, a Jane que amei com todo o meu coração, não tinha nenhuma relação com aquela que arrancou meu coração e meus pulmões do meu peito e os pisoteou enquanto sorria na minha cara.

Na semana seguinte, recebi mais três ligações da minha mãe, todas sobre o mesmo assunto, e uma mensagem da Jane. Ver a mensagem dela me deu um choque, como se eu tivesse tomado seis xícaras de café expresso de uma vez. Meu coração começou a disparar e, de repente, precisei descontar a raiva em alguma coisa. Quase Joguei o celular direto no lixo e fui para o quintal fazer uns exercícios de boxe. Levei quase uma hora para me acalmar.

Uma semana depois, recebi uma mensagem de áudio que minha mãe enviou. Sem suspeitar de nada, apertei o play enquanto pegava uma bebida na geladeira. Quando ouvi aquela voz, fiquei momentaneamente em choque, sem conseguir me mexer.

"Oi Nicolas, é a Jane. Enviei uma mensagem para você semana passada, espero que tenha recebido. Eu estava torcendo para poder..."

A essa altura, eu já tinha me atirado sobre o celular como se fosse uma cascavel e apertado o Delete. Na verdade, provavelmente apertei o maldito botão umas seis vezes, golpeando-o como se estivesse tentando matar alguma coisa. Acho que apaguei até a cx de entrada do Elon Musk.

De novo a adrenalina, de novo o coração acelerado. Por que aquela vadia não me deixava em paz? Corri para o andar de cima, troquei de roupa e fui para a aula de karatê.

Decidi parar de atender o telefone e bloqueei as chamadas dela. Recebi mais três mensagens da Jana de números diferentes nos dez dias seguintes, além de algumas da minha mãe e uma da Ângela, amiga da Jane e madrinha de casamento dela. Eu sempre gostei da Ângela, mas assim que soube o motivo, apaguei a mensagem dela também.

A situação estava ficando fora de controle. Quase todos os dias eu checava as mensagens e encontrava o celular cheio de mensagens que me deixavam nervoso e irritado. Era no watts, face, insta e até SMS ela me enviava.

Escolhi um horário em que sabia que Jane estaria no trabalho e deixei uma mensagem no SMS dela, com certeza ela não poderia ver naquele momento. Escrevi a mensagem com antecedência, usando o mínimo de palavras possível.

"Aqui é o Nicolas. Não quero te ver nem ter notícias suas. Não ligue, não escreva, nem venha me visitar."

Eu sabia que não ia funcionar, é claro. Dois dias depois, minha mãe me deixou uma mensagem. "Como você pôde ser tão cruel com a Jane? Ela me ligou chorando e me contou sobre a sua mensagem. Você não sente nada por ela?"

Sim, eu tenho sentimentos por ela. Gostaria de não ter, mas tenho. Gostaria que ela estivesse presa em areia movediça, afundando lentamente, gritando desesperadamente por socorro — e eu estivesse sentado em segurança em uma pedra a três metros de distância, segurando uma corda e sorrindo, observando-a morrer. Pra ela ter certeza que, mesmo podendo ajudar eu não faria nada por ela.

Minha mãe me deixou outro recado, pedindo que eu fosse lá no domingo para ajudá-la a mudar alguns móveis de lugar, e pra mim almoçar com ela.

Ela ainda morava na casa onde ela e meu pai me criaram, e estava ficando cada vez mais difícil para ela cuidar das coisas sozinha.

Então, mudei o sofá, umas cadeiras, o móvel da TV e os abajures de lugar, e ela me serviu sanduíches de salada de atum e me mimou bastante, enquanto eu esperava o pior acontecer. Ela não tinha mencionado Jane nem uma vez, então eu sabia que algo estava por vir.

E não é que, enquanto eu mordiscava um brownie, olhei pela janela da frente e vi o Jetta preto da Jane parando em frente de casa? Eu disse: "Com licença, mãe", e fui em direção ao banheiro nos fundos.

Enquanto minha mãe ia até a porta da frente para deixar Jane entrar, eu saí silenciosamente pela porta da cozinha e entrei no meu carro na garagem. Assim que a porta da frente se fechou atrás delas, liguei o carro e fui embora.

Duas horas depois, liguei para minha mãe. Quando ela atendeu, eu nem disse alô; apenas falei: "Se você fizer uma coisa dessas de novo, será a última vez que vai me ver"; e desliguei.

Davi estava sentado na minha cozinha comigo, tomando uma cerveja. Ele é o meu amigo mais próximo desde o ensino médio. Ele foi meu padrinho de casamento quando me casei, costumava ser meu parceiro de treino regular no karatê (até depois do meu primeiro pesadelo com Jane, quando comecei a levar isso muito mais a sério) e sempre foi a única pessoa no mundo com quem sei que posso contar.

Eu estava contando para ele sobre a Jane tentando entrar em contato comigo, e a expressão no rosto dele era difícil de descrever. Algo como a de um homem que acabou de engolir cinco ou seis minhocas.

E o que você disse para ela Nicolas?

Contei a ele sobre minhas brigas com minha mãe, todas as mensagens que eu havia apagado, a mensagem que mandei pra ela, e terminei falando da pequena dança que fiz no fim de semana anterior na casa da minha mãe.

Suspirei e disse: — Você já deve imaginar o que vai acontecer, não é? A Jane nunca vai desistir disso. A menos que eu consiga uma ordem de restrição, não vejo como ela vai me deixar em paz.

— Você tem alguma ideia do que ela quer?

— Nenhuma. Só sei que seja lá o que for, não pode ser bom. Toda vez que ouço a voz dela ou vejo uma msg dela, minha pressão arterial dispara. Juro, cara, tenho pensado em largar o emprego e me mudar para outro lugar.

— É, mas provavelmente ela te encontraria, mesmo se você se mudasse para a Mongólia. Ela é uma piranha, Nicolas.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. Então ele disse:

— Não fique bravo, tá bem? Só me escuta. Que tal se você concordasse em vê-la, e quando ela aparecesse eu estivesse aqui com você?

— Eu não quero vê-la, Davi, não quero vê-la, ouvir a voz dela, nem sequer ter que pensar nela!

— Eu sei, cara. Mas você acabou de dizer que ela nunca vai esquecer isso, seja lá o que for. Por que não acabar logo com isso? Arranca logo o esparadrapo de uma vez.

Suspirei, infeliz. — Deixa eu pensar, blz? Você pode ter razão. Uma hora desagradável, e talvez eu consiga me livrar dela."

######

No sábado seguinte, observei da janela da cozinha Jane subir a calçada da frente com um elegante vestido de verão amarelo que sempre foi um dos meus favoritos. Eu não conseguia olhar para ela, aliás, eu não conseguia nem pensar nela sem sentir emoções intensas e complexas.

Ela era absolutamente linda, ainda a mulher dos meus sonhos. Era pequena e esbelta, com olhos azuis claros e um cabelo loiro e sedoso deslumbrante que chegava a quinze centímetros abaixo dos ombros. E tinha o rosto jovem e inocente de um anjo: prova incontestável de que Deus tem um senso de humor doentio.

Quando a porta se abriu, ela disse:

— Oi, querido, eu estou... Davi? Ela pareceu muito surpresa.

— Sim, sou eu. - Disse Davi, com voz pouco amigável, abrindo a porta para que ela entrasse na casa. — Achei que Nicolas pudesse precisar de um reforço."

Ele fez um gesto para que ela se sentasse em uma poltrona na sala. Respirei fundo e sai da cozinha com três copos de água em uma bandeja. Eu havia me exercitado por uma hora naquela manhã e depois feito 30 minutos de respiração tranquila. Eu ia manter a calma, custasse o que custasse. Não importava que meu coração já estivesse disparado.

"Olá, Jane", eu disse baixinho, e coloquei um copo na frente dela.

Ela me deu um sorriso radiante e disse:

—É tão bom te ver de novo, querido! Você está ótimo. Tá malhando hein.

Não respondi absolutamente nada, em vez disso, fiz a cara mais inexpressiva que consegui. É a sua reunião, sua vaca, pensei comigo mesmo. Vamos logo com isso.

Sem se deixar abalar, ela disse:

—Na verdade, eu esperava que pudéssemos conversar a sós, Nicolas.

—Acho que não, Jane. Davi é um bom amigo, qualquer coisa que você queira me dizer, pode dizer na frente dele.

Ela hesitou por um instante, mas logo se recompôs.

—Tudo bem, meu bem, se é assim que você quer.

Observei-a compor uma expressão facial que pretendia ser ao mesmo tempo séria e sedutora. Que diabos ela queria?

—Nicolas, eu... percebi que cometi um erro terrível. O pior erro da minha vida, e sinto muito. Meu bem, eu... eu quero voltar para casa. É você que eu amo, só você, e eu quero que a gente fique junto. Que sejamos uma família novamente.

Achei que ia desmaiar e precisei de toda a minha energia e do meu treinamento de karatê para manter a compostura. Sentia meu coração batendo forte e fiquei um pouco tonto. Não me mexi.

Do outro lado da sala, Davi rosnou:

—Sua... vadia... desgraçada. Você tem muita coragem, sabia? - Sua voz era calma, mas gélida. — Depois do... depois do pesadelo que você fez o Nicolas passar, você acha que pode simplesmente entrar nesta casa e fingir que nada aconteceu? Você é uma filha da puta fria pra caralho.

Eu não tinha mexido um músculo. Na verdade, não tinha certeza se conseguiria ficar de pé sem cair. Observei o rosto de Jane, ela parecia completamente chocada com as palavras furiosas de Davi.

Finalmente, ela conseguiu esboçar um meio sorriso triste. Evidentemente, decidiu ignorar Davi, pois se virou diretamente para mim.

— Eu sei que fui horrível, meu bem, sério, eu sei. Você provavelmente ainda está muito bravo comigo, e—

—Para. - eu disse. — Para, Jane. Não diga mais nada. O que vc acha que eu sou, um maldito de um plano B.

Levantei-me devagar e voltei para a cozinha, deixando para trás um silêncio carregado. Abri a torneira e joguei no rosto e no pescoço, tentando controlar meus pensamentos.

Minha mente estava a mil. Isso só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Alguém decidiu que eu não tinha sofrido o suficiente, então ia me atormentar ainda mais. Eu realmente achava que já tinha passado pelo pior, mas parece que me enganei.

Naquele momento, descobri algo que preferiria não ter sabido. Eu pensava que quando você odiava alguém — odiava mesmo — você não amava mais essa pessoa. Mas eu estava enganado.

Eu odiava Jane mais do que jamais odiei alguém na minha vida. Mas meu coração cantava, eu ouvia os pássaros cantando docemente nas árvores, e meu sangue fervilhava de alegria. Ela queria voltar! Ela me amava!

Para dizer o mínimo, a descoberta de que eu ainda amava Jane, a amava desesperadamente, não me animou. Na verdade, confirmou que eu estava no meio do meu segundo pesadelo.

Levantei-me da pia, respirei fundo algumas vezes, devagar e profundamente, e voltei para a sala. Jane e Davi estavam sentados em um silêncio tenso. Ambos me observavam.

— Jane, você precisa ir agora. - Eu disse isso baixinho, tentando disfarçar o tremor na minha voz.

— Querido, eu—

— Agora mesmo, você precisa ir embora AGORA. Você já disse o que tinha para dizer. Não quero te ver nem ter notícias suas nunca mais. Não sei como posso ser mais claro do que isso.

Observei Jane enquanto seu rosto se desfazia em lágrimas e ela começava a chorar.

— Querido, eu sei que errei, mas eu realmente pensei que nós... - Sua voz foi diminuindo até se transformar em choro.

Eu simplesmente não conseguia suportar aquilo nem por mais um segundo. Virei-me e, sem olhar para trás, disse:

— Davi, você pode conduzir a Jane até o carro dela?

—Claro, cara.

Sem dizer mais nada, dirigi-me às escadas. Subi lentamente até meu quarto, ouvindo a voz de Jane atrás de mim, chamando desesperadamente: — Nicolas! Querido, por favor!

Sentei-me na cama, me sentindo entorpecido, esperando a porta da frente fechar. Então esperei pelo som do carro de Jane indo embora. Ele veio, finalmente, e eu voltei arrastando os pés para o andar de baixo e desabei no sofá. Davi voltou e sentou-se em uma poltrona em frente a mim.

— Jesus Cristo nas costas de um camelo. - Ele balançou a cabeça em espanto. — Ela não tem a mínima ideia, não é? Depois do que ela ....

—Davi. - Ele olhou para mim e viu as lágrimas no meu rosto.

— Davi, estou muito ferrado.

— O que você quer dizer, cara?

—Eu a amo! Amo-a loucamente essa piranha, quero-a de volta. Acredita nisso? Eu ainda a quero de volta! - Desabei em lágrimas, a única vez na minha vida que chorei na frente de outro homem. Mesmo no funeral do meu pai, consegui me controlar até ficar sozinho.

Tenho certeza de que Davi ficou constrangido, mas ele era um verdadeiro amigo. Sentou-se ao meu lado, colocou o braço no meu ombro, apertando com força, e ficou ali enquanto eu chorava como um bebê. Como um maldito bebê.

Continua

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Ah... A dúvida...aceitar a frustração, a certeza de um próximo erro e a humilhação imposta pela própria consciência... Ou seguir em frente e deixar tudo no passado? Quem nunca sentiu essa dúvida? Duas opções. Uma óbvia, cristalina e garantida. Outra lama pura. Quem não ficaria em dúvida?

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