Ela me disse que até tentou ignorá-los, focando no passeio, mas seu sexto sentido dizia que eles a encaravam. Ela parou em frente de uma vitrine de uma barbearia gourmet. Olhava distraidamente para os artigos quando notou que três outros homens lá de dentro a encaravam, curiosos. Aquela “onde de calor” surgiu novamente e ela voltou a caminhar, mas, disse que sem querer, olhou na direção dos dois negros e viu que eles a encaravam também, como dois lobos prestes a atacar. Seus olhares eram intensos e carregados de interesse. Clara, fiel à nova abordagem que discutimos com a Dra. Mariana, resistiu ao impulso e voltou a caminhar na direção oposta deles. Mas quando ela parou em frente a uma loja de lingerie, eles se aproximaram dela com sorrisos amigáveis e cheios de intenção:
- Desculpa, mas eu não pude evitar de notar você. - Disse Agenor, a voz grave, rouca, causou um arrepio imediato em Clara: - Você tem uma coisa... uma energia única, sabia?
Clara sorriu, um pouco nervosa, mas mantendo a compostura:
- Obrigada, mas eu... sou comprometida. - Disse, rindo e mostrando um anel, como se fosse o de nosso noivado: - Não ficaria bem eu ficar de papo com vocês, entendem?
[CONTINUANDO]
- Ué!? Mas... a gente só está conversando, né não, Centão?
- Sim, claro.
- Ainda assim, gente. Se meu namorado me vê assim, pode pensar mal. Eu prefiro não fazer nada sem a permissão dele.
Os dois trocaram olhares surpresos e ficaram em silêncio por um instante, claramente intrigados. Vicente, com um sorriso levemente malicioso, inclinou-se um pouco mais perto:
- Mas como assim “sem a permissão dele”!? Então, poderia acontecer de ele permitiria algo assim, tipo, a gente conversar, ou sei lá, fazer algo diferente?
As bochechas de Clara ficaram levemente ruborizadas. Ela entendeu a pergunta, sabia onde eles queriam chegar e a ideia já não lhe parecia tão ruim. Clara hesitou em responder, mas pegou o celular querendo ver até onde iria a coragem deles:
- Podemos descobrir. Tem coragem de pagar para ver? - Disse ela, desbloqueando o aparelho, como se fosse me ligar.
- Moça, como dizia meu avô, “a sorte favorece os corajosos”. Liga para ele, o pior que pode acontecer é eu tomar uma surra. - Disse o Agenor, sorrindo, mas ficando sério em seguida: - Ele não é polícia não, né? Anda armado ou coisa assim?
Clara sorriu do medo estampado no rosto dele, não conseguindo imaginar como eu, logo eu, seria capaz de infligir medo naqueles brutamontes:
- Não, nada de armas, mas para me defender, acho que ele seria capaz de surrar vocês dois, juntos.
- Taí uma coisa que eu gostaria de ver... - Disse Vicente, flexionando o braço e fazendo os músculos saltarem à frente de Clara: - No terreiro, eu me garanto. O seu namorado luta o quê?
- Vamos descobrir... - Disse ela, discando o número do meu celular.
Eu seguia vidrado, com a atenção toda voltada para o telão. Bem no momento em que um ataque ameaçava meu time, o celular tocou. Fui xingado de todos os nomes possíveis. Pior é que fizeram um gol no meu Vascão e como a Clara insistia, fui quase expulso do bar a pontapés. Saí para poder falar com ela, já sentindo um aperto no peito.
- Lucas? - A voz dela estava tensa, mas uma tensão controlada, quase boa: - Tô aqui em frente aquela loja de lingerie onde compramos aquele conjuntinho vermelho com cinta liga e espartilho, lembra?
A imagem dela vestida com aquela peça me fez sorrir para o nada com as boas recordações daquela noite:
- Lembro... Ô se lembro! - Deu uma gostosa risada: - Por que me ligou? Está pensando em comprar alguma coisa?
- Então... Não, mas talvez...
- Não tô entendendo, Clara.
- É que... tem dois caras aqui comigo... eles são... eles são gente boa. A gente estava conversando e... papo vai, papo vem... Enfim, eles queriam te conhecer pessoalmente. - Ela fez um instante de silêncio e depois cochichou, certamente para eles não ouvirem: - Desculpa, amor, mas são dois negões de parar o trânsito, altos, fortes, é... acho que são lutadores. Eles estavam me paquerando, e eu tô sentindo aquela coisa de novo. Não fiz nada, juro! Mas, sei lá, fiquei meio curiosa. Acho... O que você acha?
Eu respirei fundo, a mente girando. “Dois!? Ela quer sair com dois?”, pensei, aturdido. A proposta da Dra. Mariana ainda era uma incógnita e eu não sabia se estava preparado, nem hoje, talvez nunca, pior ainda considerando que ela pretendia ficar com dois. Mas a honestidade da Clara, o fato de ela ter ligado na hora, me fez não querer negá-la, não ainda. Ainda assim, resolvi testá-la:
- Clara, eu não posso sair agora, estou no meio do jogo e o meu Vasco já está perdendo. - Respondi, mantendo a voz firme: - Mas se você quiser, marque com eles pra amanhã à noite num bar, pode ser naquele da praça dois do shopping. A gente bate um papo, se conhece, e decidimos a partir daí, tudo bem?
Clara ficou em silêncio por um momento, surpresa com minha resposta:
- Tá bom, Lucas. Eu... Eu faço isso. Qual bar mesmo?
- Aquele, oooo... “Empório”. Fica lá na pracinha dos restaurantes. Marca às oito e me avisa se eles toparem.
Ela nem desligou. Eu a ouvi, ao fundo, conversando com os dois homens, mas não consegui entender o conteúdo. Pouco depois, ela voltou a falar:
- Amor, o Agenor quer falar com você?
- Comigo!?
- É. Peraí que vou colocar no viva-voz...
Instantes depois ouvi um vozeirão grosso e rouco:
- Tu é vascaíno, cara?
Estranhei a pergunta de cara, mas não neguei:
- Sou! E se for começar tirando sarro, a gente não vai se dar bem, porque...
- Carai! Centão, achei mais um da Torcida Jovem. - Ele disse, riu e logo voltou a falar: - Como tá o placar do jogo? Fala que a gente tá ganhando, vaia zero... pro Flamengo. - Falei, chateado.
- Porra!
A ligação caiu, mas logo Clara ligou de volta, rindo:
- Só me envolvo com pé frio mesmo... - Ela gargalhava, provavelmente por eles ainda estarem por perto: - Eles toparam, amor. Amanhã, às oito, no Empório. O nome deles é Agenor e Vicente.
Eu assenti, mesmo sabendo que ela não podia me ver:
- Tá bom, Clara. Agora deixa eu voltar que o jogo ainda não acabou.
Na noite seguinte, cheguei ao Empório antes da hora, escolhendo uma mesa no canto, onde podia observar a entrada. O lugar estava movimentado, com um duetos de violão ao vivo, o cheiro de cerveja e petiscos no ar. Clara chegou logo depois, vinha do cabeleireiro. Havia feito luzes que pareciam resplandecer mais sua presença, ainda mais porque estava usando um vestido preto justo que acentuava ainda mais cada curva do seu corpo, o cabelo solto, com mechas, caindo em ondas sobre os ombros. Ela chegou e me beijou, mas senti que estava nervosa, muito embora seus olhos brilhassem com uma mistura de excitação e apreensão.
Agenor e Vicente chegaram 10 minutos depois e, confesso, a presença deles era ainda mais impactante ao vivo do que através da descrição que Clara havia me dado ontem à noite. Agenor era uma montanha de músculos, a pele preta brilhando sob a luz suave do bar, o sorriso largo revelando dentes brancos perfeitos. Vicente era um pouco mais claro e, com seus dreads e olhos penetrantes, tinha uma energia um pouco mais contida, mas igualmente dominadora. Eles se aproximaram e me cumprimentaram com firmes apertos de mão e sorrisos confiantes. Só depois cumprimentaram Clara, mas apenas com apertos de mão respeitosos. Vi isso com bons olhos. Perguntaram se podiam se sentar e autorizei.
Eles pediram dois chopes e uma porção de calabresa frita. Aproveitei para pedir um suco de abacaxi com hortelã para Clara e outro chope para mim. Também pedi uma porção de fritas com queijo e bacon. Começamos a conversar e, claro, nosso Vasco surgiu antes de tudo na mesa:
- Caralho de jogo, meu! - Começou o tal Vicente: - Eu jurava que a gente ia ensacar o Flamengo. Eu até apostei duzentinhos no Vascão, mas acabei tomando no cu!
Agenor não perdeu a chance:
- Tu é burro demais, cara. Torcer tudo bem, mas gastar com aposta, e ainda mais com o nosso Vasco é pedir para ter prejuízo.
- Mas que bosta de vascaíno tu é, hein, mermão? - Brincou o Vicente.
- Sou só o bosta de vascaíno que não perde dinheiro, mané!
Caímos na risada e a conversa começou a envolver os jogadores, o corpo técnico, mas logo vimos que o sorriso de Clara começou a minguar e foi o Agenor que mudou a tônica da conversa:
- Então, Lucas... - Disse, a voz grave ecoando sobre a música: - A Clara falou bem demais de você. Disse que você é o cara!
Eu sorri, tentando manter a calma, apesar da tensão no meu peito:
- Se ela falou, tá falado!
- Joia!... - Falou Agenor novamente, bebendo um gole de seu chope: - E como é que é? Ela me falou que você tem a palavra, pode permitir ou não... A gente queria entender melhor isso aí.
Bebi um gole do meu chope e senti o olhar dos três me fuzilando: eles, ávidos de respostas e na esperança de algo mais; ela, curiosa para saber como eu iria sair daquela:
- É, algo assim. A gente tem um acordo. Se surge uma oportunidade e ela se interessa, ela me conta e eu decido se rola e o que rola.
Vicente riu, inclinando-se para frente:
- Isso é novo pra mim, cara, mas respeito. Ela disse que você é quem manda, e a gente tá aqui pra conversar, ver no que dá.
- Sabe que eu já conheci um casal que curtia essas parceria aí? Eles saíam com outros casais e rolava uma coisa muito joia entre eles. Tem que ser muito parceiro para dar certo. - Disse o Agenor, olhando para o Vicente: - Mas e vocês... tem muita experiência nisso aí?
- A gente!? - Surpreendeu-se Clara, sorrindo depois: - Que nada! A gente ainda está engatinhando, mas o Lucas é quem decide. Se ele topar, o jogo acontece.
- Tá. Já entendemos que ele decide, mas você também tem que querer, né não? - Perguntou o Vicente.
- Ah sim, claro! Se eu não quiser, não adianta ele querer.
Os dois se entreolharam por rápido instante e a encararam:
- Mas... e você, Clarinha, curtiu a gente? Acha que rola um bem querer aí?
Clara ficou vermelha, quase roxa com a pergunta e me encarou como se eu pudesse responder isso por ela. Ela estava com as mãos no colo, claramente desconfortável, mas seus olhos denunciavam seu interesse. Ela olhava para Agenor e Vicente com uma intensidade que eu reconhecia. Eu já imaginava sua resposta, mas a que saiu me surpreendeu:
- Preciso conhece-los melhor, Agenor.
Eles entenderam a mensagem e passaram a falar deles, e não pouparam nos detalhes. Falaram da vida, sofrida, humilde, mas que, como muito trabalho e dedicação voltada aos esportes, estavam conseguindo mudar a sua realidade e a de crianças numa favela da cidade. Aquilo pareceu ter encantado Clara, afinal, não é qualquer pessoa que se dispõe a fazer pelo próximo. E se via da forma como eles falavam como se orgulhavam da evolução das crianças, adolescentes, adultos e até idosos:
- Mas idosos também podem fazer capoeira? – Perguntei.
- Tudo tem um certo limite, Lucas. Claro que não posso pedir que eles darem certas cambalhotas ou mesmo voltas de 360 graus de forma muito rápida. Alguns deles tem labirintite, então imagine o estrago...
Clara se mostrava bastante à vontade, interagindo com todos, mas sem sair do meu lado. Num momento em que ela se ausentou para ir ao banheiro, Agenor foi mais incisivo:
- Então, Lucas... – Ele se inclinou em minha direção, os antebraços apoiados na mesa, a voz grave reverberando como o prenúncio de um trovão: - Quer dizer... você decide tudo, né? Tipo, se a gente pode ou não... se tu vai ceder a Clara para a gente ou não, certo?
Eu mantive o olhar firme, apesar do aperto no peito. Tomei o restante do meu chope, dando sinal para um garçom e o encarei:
- Não é exatamente ceder, Agenor. – Respondi com a voz calma, mas com uma ponta de firmeza: - Se ela quiser e eu concordar, eu não fico de fora. Eu irei junto. É assim que funciona.
Agenor ergueu uma sobrancelha, o sorriso se alargando, como se a ideia o intrigasse ainda mais. Vicente deu uma risada baixa, balançando a cabeça, os dreads balançando levemente:
- Mano, tu gosta de assistir!? Cara... isso é diferente. - Falou, o tom levemente jocoso, mas não ofensivo e com um brilho de curiosidade nos olhos: - Então, se rolar algo, é tipo... uma festa pra todo mundo, é isso?
- É mais ou menos isso. - Respondi, mantendo o tom neutro, meu olhar fixo neles: - Mas eu só decido depois de conversar com a Clara, sozinho, e se rolar, vocês irão respeitar a vontade e os limites dela, entendido?
- Beleza, cara! Respeito total. - disse Agenor, a voz carregada de uma confiança quase provocadora: - Mas deixa eu te falar uma coisa, Lucas... A Clara, ela tem uma vibe única. Dá pra sentir de longe. E, sem desrespeito, eu sei como lidar com uma mulher assim e o Vicente é de confiança. Pode ficar tranquilo que ninguém aqui irá abusar dela. Se você tá aberto a isso, a gente pode fazer acontecer. Sem pressão, claro. Mas acho que você vai gostar de ver ela brilhando.
Vicente também concordou com movimentos de cabeça e, ainda curioso, insistiu:
- E fala aí... Tu acha que a gente tem chance?
- Cara, eu acho que ela simpatizou com vocês, mas vamos esperar ela voltar. Eu dou uma ida ao banheiro também e vocês conversam com ela. Joguem o seu charme, deixem ela à vontade, mas curiosa. Quando eu voltar, vocês vão e eu converso com ela, certo?
Clara voltou do banheiro e pediu uma caipirinha, apesar de estar tomando seus remédios. Entendi de imediato que ela queria, mas estava lhe faltando a coragem. Falei que iria no banheiro e fiquei lá não mais do que 10 minutos. Quando voltei, vi que ela ria com eles de alguma coisa. Sentei-me ao seu lado e foi a vez deles ir ao banheiro. Clara se mexeu ao meu lado, o rosto corando levemente. Não conseguiu evitar que seus olhos castanhos seguissem os passos deles enquanto se afastavam:
- E aí? Quer continuar com isso? – Perguntei, chamando sua atenção.
Ela ficou vermelha e bebeu um gole de sua caipirinha:
- E você? Quer?
- Clara, não me enrola. Você quer ou não quer? – Insisti.
- Não se trata só de querer, Lucas. Tem muito mais coisa em jogo agora. Eu sei que te magoei quando te traí, mas agora eu tenho medo que você me veja como uma... uma puta qualquer, alguém sem valor.
- Então, você quer, mas não quer que eu vá, é isso?
- Não! Não é isso...– Ela bebeu outro gole: - Eu não quero fazer mais nada pelas suas costas, mas tenho medo de que essa “transparência”... – Ela fez aspas com os dedos para mim: - Possa fazer você perder o encanto que tem por mim, entende?
- Eu não posso decidir por você, Clara... – Falei e bebi um gole do meu chope.
Ela olhou em direção ao banheiro, pensativa, e suspirou fundo. Depois, me encarou:
- Eu sei o que eu quero e eu quero você comigo, sempre, mas bem, de corpo e alma.
- Mas você também quer ficar com eles, não quer?
Ela suspirou e balançou afirmativamente sua cabeça. Num movimento, colocou a minha mão entre suas pernas, encostando em sua calcinha e sentir que ela estava encharcada. Era a prova do que eu já imaginava.
Agenor e Vicente voltaram logo depois e apesar do desconforto evidente, havia uma faísca de desejo que ela não conseguia esconder deles mais. Eu conhecia aquele olhar, era o mesmo que vi na noite com Rafael, meses atrás. Meu estômago doeu, mas, ao mesmo tempo, uma onda de calor subiu pelo meu corpo, uma excitação que eu não queria admitir, mas que era impossível ignorar. A ideia de estar presente, de transformar o que antes era traição em algo compartilhado, era tão intrigante quanto assustadora:
- Bom, Clara, acho que a hora é essa... – Começou Agenor, encarando-a maliciosamente: - Será que eu ou o Centão, ou os dois, quem sabe... Será que teremos a chance de ver essa obra prima que a natureza esculpiu bem peladinha hoje?
As palavras dele eram como um anzol, tentando puxá-la para um território que eu ainda não sabia se queria explorar. Clara apertou meu joelho sob a mesa, um gesto que podia ser de nervosismo, apoio ou ambos. Eu olhei para ela, tentando ler sua expressão. Seus lábios estavam entreabertos, a respiração um pouco mais rápida, e seus olhos traíam o desejo que ela tentava conter. Ela queria isso, mas ela também parecia esperar por mim, por minha decisão, como se realmente estivesse entregando o controle:
- Lucas, posso falar com você um segundo? – Pediu Clara, a voz suave, mas com uma urgência que não passou despercebida.
- Claro. - Respondi, levantando-me da mesa: - Já voltamos, pessoal.
Agenor e Vicente assentiram, pegando seus copos. Peguei a mão de Clara e a levei para um canto mais reservado, fora do bar, perto de uma das entradas do shopping. Ela ficou de frente para mim, os olhos castanhos brilhando sob a luz fraca. Por um momento, eu me perdi na visão dela, a mulher que eu amava, que me machucara, mas que agora parecia tão vulnerável, tão disposta a ser honesta:
- Lucas, eu... eu não sei bem o que dizer... – Desviou o olhar para longe de mim, a voz trêmula, os dedos brincando com a alça do vestido: - Eles parecem ser bem legais. Eles... Não! Eles são um tesão e antes que você me pergunte, sim, eu tô sentindo um vontade enorme de ir, mas não quero fazer nada sem você concordar. Se você não quiser, eu respeito e a gente vai embora, mas você vai ter que me comer a noite inteira, porque estou com um fogo me consumindo hoje.
Eu respirei fundo, sentindo o peso da decisão. Parte de mim queria dizer não, levar Clara para casa e protegê-la, ou me proteger, daquele desejo que parecia consumi-la. Mas outra parte queria ver até onde isso podia ir. A proposta da Dra. Mariana ecoava na minha cabeça: transformar o impulso de Clara em algo nosso, algo que nos conectasse, em vez de nos separar:
- Clara, se eu disser sim, com quem você quer ficar, Agenor ou Vicente?
Ela hesitou, mordendo o lábio inferior, o rosto corando ainda mais. Então, deu uma risada meio triste, mas com uma coragem que me surpreendeu, respondeu:
- Com os dois... – Ela parou abruptamente, como se apenas agora realizasse o absurdo da proposta, tentando melhorá-la: - E com você também, é claro. Acho que é a chance de fazer algo que nunca fiz na minha vida, mas quero você lá comigo se você me prometer que não irá surtar.
As palavras dela foram como um soco, mas não me surpreenderam. Meu coração disparou e meu pau endureceu levemente. Senti um calor subindo pelo meu corpo, misturado com um ciúme que não conseguia ignorar. Dois homens. Dois estranhos. E eu, no meio disso tudo, tentando entender o que sentia:
- Você tá falando sério? Quer os três?
Ela assentiu, os olhos brilhando com uma mistura de vergonha e desejo:
- Eu sei que é loucura, amor, e não vou te forçar a nada. Mas se você deixar, eu quero. Quero que seja com você, que você esteja lá, que a gente faça isso juntos. Mas se você não quiser, juro, vou embora agora e não olho pra trás.
Eu fiquei em silêncio por um momento, a mente girando. Uma imagem de Clara com Agenor e Vicente, de mim ao lado dela, participando, observando, controlando, se formando em minha mente. Era tudo ao mesmo tempo assustador e excitante. Eu não sabia se estava pronto, mas sabia que recusar não me traria as respostas que eu buscava:
- Tá bom, Clara. - Falei finalmente, a voz firme, apesar da tempestade dentro de mim: - Vamos fazer isso. Mas com uma condição: você me mantém dentro. Não quero me sentir um estranho nessa loucura.
Ela sorriu, um sorriso que misturava alívio e excitação, e apertou minha mão com força:
- Eu prometo, Lucas. Você é o centro e será sempre.
Voltamos para a mesa, onde Agenor e Vicente nos esperavam, conversando animadamente. Logo os olhares curiosos nos encararam. Sentamo-nos, mas puxei Clara para mais perto de mim, minha mão possessiva em seus ombros, meus dedos tamborilando sua pele macia:
- Então, pessoal... – Comecei num tom acanhado, temeroso até eu diria: - A Clara e eu conversamos e ela...
- Não estou me sentindo muito bem! – Clara me interrompeu e eu, imaginando que ela queria conduzir a conversa, a encarei e sorri.
Ela também me encarou e sorriu, dando um gostoso selinho, antes de continuar:
- Gente, eu... gostei demais de conhecer vocês, mas eu não tô muito legal hoje.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS E OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL SÃO MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.