No Capítulo anterior:
- Débora, não foi idiotice; você era uma menina em uma situação impossível. Você fez o que achou melhor na época. Não tinha como você saber que o otário que ia casar com sua irmã teria curiosidade nas tais cartas. Acredito que um resumo basta para entender melhor quem é minha ex-esposa.
- Tudo bem, você tem razão quanto à eu ser, na época, uma menina ingênua em uma situação impossível, mas não seja tão duro com você. Vamos continuar com a história do casal de pombinhos apaixonados?
Continuando:
Na primeira carta Mauro, apesar de declarar seu amor, tenta se manter afastado fisicamente de Ruth. Entretanto, criou um método para eles se corresponderem, queria manter o vínculo.
Ruth respondeu, eu li o rascunho da carta que ela enviou. Basicamente ela aceita os argumentos do amante, mas reclama da sua falta de confiança. Diz que se ele tivesse explicado o plano antes, ela podia ter ajudado, minimizando as chances de dar errado. Ela argumenta que, se nosso pai não tivesse perdoado nossa mãe, todo o esforço teria sido em vão, que ele foi imprudente. Sugere que, se tivesse conhecimento do plano, poderia ter se comunicado comigo para que, como irmãs, tentássemos suavizar o coração do nosso pai juntas.
Fiquei irritada nesta parte da carta, pois ela sugere que poderia ter me manipulado.
Termina dizendo que só o perdoa se ele aceitar se encontrar regularmente com ela, para dividir a cama e os planos da construção da nova igreja.
Declara todo seu amor, assina e, num pós-escrito, explica que, enquanto ele não bolar um plano para eles se encontrarem, ela vai seguir com a comunicação por cartas.
Se a primeira carta mostrou um Mauro manipulador e apaixonado, essa mostrou que Ruth era areia do mesmo saco. Foi meu primeiro choque.
Mas não parou por aí. A segunda carta que Mauro enviou foi protocolar, sem grandes confissões, mas dois pontos chamaram minha atenção. Mauro não questiona as condições que Ruth impõe, pelo contrário, declara que também quer vê-la e que juntos construirão a igreja. Toda preocupação da primeira carta desapareceu. Percebi, pela primeira vez, que, apesar de bem mais nova, Ruth sabia como controlar seu amante.
O segundo ponto que chamou minha atenção foi que a maior parte da carta era sobre o que ele já tinha feito para concretizar sua empreitada e seus planos para as próximas semanas. Era praticamente um relatório de prestações de contas. O mais curioso era que dizia ter encontrado um espaço perfeito para igreja, mas que o proprietário queria um fiador ou o depósito adiantado de doze aluguéis. Ele não sabia o que fazer, pois não tinha fiador e não queria comprometer boa parte do capital em aluguéis adiantados, afinal tinha que reformar o galpão e preparar a estrutura de mídia e propaganda para inaugurar, ou seja, pelo menos seis meses sem nenhuma entrada. Surpreendentemente, ele perguntou se Ruth tinha alguma das suas ideias loucas para resolver a questão.
A terceira carta era uma resposta a um bilhete que ela deve ter enviado. Não li o bilhete, não tinha rascunho, mas pela resposta só pode ser isso. A carta começava com: “Conforme você me pediu, envio as informações sobre o proprietário”.
A carta era um dossiê, duas folhas A4 com informações das mais variadas sobre o proprietário do imóvel. Pelas anotações que Ruth fez, ela provavelmente o seguiu para complementar o dossiê.
Em suma, ela descobriu que o homem gostava de putas novinhas. Combinou com Mauro um esquema de sedução e chantagem. Mauro ligaria para o proprietário aceitando seus termos, ela iria junto como sua filha, entregariam os documentos para preparação do contrato e, “descobririam”, que um dos documentos foi esquecido em casa. Mauro alegaria que tem um compromisso com uma igreja, mas que sua filha iria buscar o documento. Ruth teria que convencer o proprietário a ir buscar o documento com ela, pois tinha medo de andar sozinha na rua... Na casa de Mauro, o homem seria presa fácil dos seus encantos. Mauro, escondido, devia fotografar a putaria. Reveladas as fotos, o proprietário teria de abrir mão de suas exigências para não ser exposto para sua mulher e cinco filhas.
Nas próximas cartas, ficou claro que tudo ocorreu conforme o planejado: não apenas conseguiram alugar o galpão, mas também descontaram do aluguel os gastos com a reforma. Um detalhe me deixou atônita: Ruth comentou com Mauro que gostou do sabor da porra do proprietário.
- Mas que vadia! Ela praticamente se prostituiu.
- Sim, e não foi ideia do Mauro, foi ideia dela! Mas fica pior, ela passou a negociar as benfeitorias para o galpão, sempre usando da sensualidade para conseguir descontos. Pelas cartas fica claro que ela engatou um caso com o líder de uma banda gospel muito popular, garantindo duas apresentações mensais. Ela reclama que o eletricista não cedeu, alega que ele deve ser frouxo ou gay.
- Estou chocado. Ela sempre me disse que sua experiência religiosa foi traumática. Não gostava de nada ligado à religião; fui ao Vaticano sozinho, ela preferiu ficar na piscina do hotel. Agora descubro que ela ajudou a construir uma igreja usando seu corpo como moeda de troca. Sinto-me um completo idiota, um otário de marca maior. E eu achando que nos amávamos, que nosso casamento era perfeito... Mais um boçal a ser usado; é isso que eu fui para Ruth.
- Você continua sendo muito duro consigo mesmo. Não tinha como você imaginar, ela é uma atriz, mente com tanta convicção que acaba acreditando nas próprias mentiras. Sei disso por experiência própria.
Juro que tentei esquecer as malditas cartas, tanto que queimei a maioria, mas não aguentei, acabei a confrontando.
Rodolfo, ela começou negando tudo, dizia que eu tinha entendido errado. Depois, percebendo que não tinha como fugir, passou a me acusar de me meter onde não era chamada, de invejosa. Por fim, implorou segredo, me prometeu mundos e fundos ao mesmo tempo em que me ameaçava.
Nosso convívio só não ficou pior depois disso por conta do nosso pouco contato. Mesmo assim, minha mãe percebeu e questionou Ruth. Ela inventou um namoro na igreja e sugeriu que eu estava com ciúmes.
Nunca fiquei tão brava como no dia em que minha mãe chamou minha atenção por invejar o namoro da irmã. Perdi a cabeça e contei tudo. Por incrível que pareça, minha mãe não acreditou, ou fingiu não acreditar, continuou insistindo na tese do ciúmes, agora turbinada pelo mandamento de não levantar falso testemunho.
Por uma semana não falei com elas. No oitavo dia presenciei minha mãe me esculachando para meu pai. Resolvi colocar um ponto final. Fiz duas cópias da primeira carta de Mauro, entreguei uma para cada e avisei que outra cópia seria entregue para meu pai. Ruth deu de ombros, mas minha mãe, leu a carta e ficou desesperada.
Por incrível que pareça, ela não se indignou com minha irmã, mesmo sabendo que ela continuava junto com o canalha que a roubou, ela se voltou contra mim. Ingrata foi o termo mais ameno que usou, quando ameaçou me agredir. Eu saí de casa.
Voltei horas depois, ela me procurou e disse que, se eu atrapalhasse sua vida com meu pai, ela ia pagar na mesma moeda, enviando uma amiga ao escritório onde eu trabalhava para fazer um barraco, alegando que eu estava tendo um caso com o marido.
Não tinha como vencer. Sem o trabalho, eu perderia minha liberdade, resolvi capitular. No outro dia, conversei com algumas colegas que moravam em uma república e decidi sair definitivamente de casa.
Peguei minhas coisas em um horário em que não tinha ninguém, levei para república e fui ao trabalho do meu pai. Inventei que fui promovida a assistente do diretor da empresa e precisaria chegar uma hora mais cedo todo dia. Como seria impossível seguir esse horário dependendo do transporte público, informei que estava me mudando para uma república de garotas da faculdade. Gostar ele não gostou, tentou me dissuadir, mas acabou aceitando. Passei a ir raras vezes a casa dos meus pais.
Me formei, fiz pós em marketing digital e fui trabalhar na IBM. Ganhando melhor, aluguei um apartamento, comprei um carro e fiquei noiva do meu primeiro namorado.
Ele fazia questão de conhecer meus pais. Enrolei o quanto pude, mas acabei cedendo. Conversei com meu pai e combinamos que eu o levaria para almoçar no domingo.
Eu estava morrendo de medo, meu relacionamento com minha mãe e minha irmã era superficial, só conversávamos o necessário para meu pai não desconfiar da animosidade que existia entre nós. No entanto, surpreendentemente, tanto minha mãe como Ruth foram muito simpáticas com meu noivo. O almoço foi um sucesso, a conversa fluiu, rimos muito de causos de nossa infância e falamos dos planos para o futuro. Tudo foi perfeito, meu namorado adorou minha família.
Apesar de desconfiar dessa inesperada hospitalidade, no fundo eu também fiquei feliz. Gostei de me sentir parte da família, contudo não conseguia deixar de pensar que elas, de alguma maneira, tentavam me manipular. Tudo mudou quando soube do estupro. Foi por acaso: fui visitá-las e cheguei no momento em que Ruth era intimada a prestar um novo depoimento. Curiosa, perguntei do que se tratava; no início, não queriam me contar, acho que pensaram que, por conhecer o passado promíscuo das duas, eu não acreditaria. Mas não foi o que aconteceu: nunca imaginei que Ruth pudesse incriminar um amante. Abalada por seu sofrimento, deixei minhas desconfianças de lado, resolvi apagar as mágoas e reconstruir os laços com minha mãe e irmã. Passamos a nos ver com mais regularidade; voltei até a ter uma certa cumplicidade com minha irmã.
- Estupro? Ruth nunca mencionou que passou por isso.
- Outra das mentiras da minha irmã. O suposto estupro nunca ocorreu. Desculpe, me desconectei da sequência dos eventos; em breve compartilharei essa história.
Foi nessa época que ela me contou que estava dividida, namorando sério com um professor de história medieval na universidade, mas que conheceu um mestrando e não resistiu, ficando com ele.
- Acredito que sei quem é o mestrando, dizem que é um otário...
- Pare de se autodepreciar, ou eu vou interromper meu relato!
- Calma, foi só uma piadinha...
- Tudo bem, mas me poupe, não me sinto confortável em te contar essas coisas, sinto-me um pouco responsável.
- Larga de onda Débora, você não foi e não é responsável pelas escolhas de sua irmã.
- Eu sei, ou melhor, conscientemente eu sei, mas o inconsciente martela que eu te joguei no colo daquela safada.
- Seu inconsciente tá viajando! Eu conheci Ruth antes de você, tudo bem que nós voltamos a ficar juntos quando ela foi na empresa fazer um barraco por eu ter te contratado, mas daí para achar que você “me jogou no colo da safada” vai uma grande distância...
- Não é disso que estou falando. Quando seu software foi escolhido o melhor do ano, você aproveitou a publicidade gratuita, dando várias entrevistas e expondo na feira de software pela primeira vez. Lembra?
- Claro, foi o ponto de virada. O prêmio foi importante pois abriu as portas da feira e me colocou na capa da principal revista do ramo no Brasil.
- Pois então, sua foto fez sucesso, além de ser o mais jovem premiado, você atiçou a libido da mulherada do meu departamento e a inveja dos programadores que sonhavam em desenvolver um software próprio. Um dia, na sala do café, ouvi que uma empresa de software parceira da IBM ficou interessada em desenvolver um produto para o mesmo público. Fiquei curiosa e levei para casa a revista com você na capa, queria ler a entrevista. Gostei muito do que li, sua maneira leve de pensar a administração de uma empresa de tecnologia me encantou, pela primeira vez, desde que entrei na IBM, pensei em mudar de emprego.
Não fazia ideia de que você era o mestrando que encantou minha irmã. Aliás, pelo que ela me falou, você era carta fora do baralho: escolheu se casar com o professor, financeiramente estável, de uma família tradicional de São Paulo.
Na feira de software, fui até seu estande. Gostei da postura dos seus técnicos, preocupados em explicar a metodologia que serviu de base para a escrita do produto e não em empurrá-lo garganta abaixo de possíveis clientes, como é usual no mercado. Aliás, foi na visita ao seu estande que conheci o Marivaldo, que na época cursava o último ano de engenharia da computação. Ele também estava encantado, só que por outros motivos: a arquitetura do seu software. Conversamos por muito tempo; ele foi o primeiro a me dizer que você ganharia o mundo, pois o produto era muito grande para ficar restrito ao mercado brasileiro.
- Meu Deus do céu, que saudades do Marivaldo, foi meu melhor colaborador, quantas noites viramos discutindo a melhor solução para detalhes do projeto. Eu lembro que foi você que o indicou e insistiu para que eu desse uma chance para o moleque, mesmo ele tendo pouca experiência. Foi um dos seus maiores acertos na empresa. Onde anda o Marivaldo?
- Obrigado, tenho muito orgulho de ter participado da ascensão profissional do menino, que é brilhante. Além disso, devolvi o favor: foi ele quem me convenceu, no dia que me conheceu, a enviar meu currículo para você. A última vez que nos falamos, ele estava na China, trabalhando em uma das maiores empresas de software do mundo.
- Vou tentar falar com ele, bateu saudades.
- Ele vai gostar, depois do divórcio você desapareceu, seus amigos ficaram preocupados.
- Sei que li muitos e-mails que me enviaram, mas não queria manter contato com pessoas que me lembrassem do período em que fui casado. Marivaldo, os outros meninos e meninas do time sempre estavam em casa, também eram amigos de Ruth. Não queria ficar explicando os motivos da separação.
- Eles não iam perguntar nada, Rodolfo. Você acha que dez pessoas absurdamente inteligentes, treinadas para encontrar problemas e desenvolver soluções criativas, não perceberam as singularidades do seu casamento?
- Não acredito! Eles sabiam que éramos liberais? Que tínhamos o casamento aberto?
- No início, não, mas acabaram chegando a essa conclusão. Apesar de São Paulo ser uma das maiores cidades do mundo, as pessoas com gostos parecidos acabam se esbarrando em barzinhos, casas noturnas e restaurantes. Seus colaboradores, embora não tenham o mesmo padrão de renda, ganhavam muito bem, eram jovens e solteiros. Ou seja, curtiam a noite nos melhores locais, os mesmos que você e Ruth frequentavam, juntos ou, eventualmente, com outras pessoas. Você era mais discreto; as vezes, que eles te viram com outras mulheres, foi em restaurantes ou barzinhos, não dava para afirmar que eram encontros visando sexo. Mas Ruth não tinha o mesmo cuidado; por várias vezes, foi flagrada trocando carícias e beijos com outros homens. Uma vez, Cynthia a viu pagando um boquete no estacionamento de uma famosa balada.
Não me falavam nada, sabiam que ela era minha irmã. Queriam te contar, achavam que ela simplesmente te traía, mas tinham receio do seu ódio se voltar contra o mensageiro.
Depois de muito conversar, resolveram te contar, mas aí sua infidelidade também foi descoberta. Em um happy hour percebemos que uma loira peituda, acompanhada, discretamente, mas insistentemente, olhava para você. Quando seu acompanhante foi ao banheiro, ela pegou o celular, digitou uma mensagem e, o alarme de nova notificação do seu celular tocou. Você leu a mensagem, olhou em direção à mesa da peituda e abriu um sorriso. Trocaram algumas mensagens e olhares. Quando o acompanhante da moça voltou, vocês já tinham guardado o celular.
Tudo muito estranho, mas podia ser uma coincidência, não é? Infelizmente para você, São Paulo, como já falei, é uma aldeia. Duas semanas depois, em uma balada, Sayaka encontra a loira e seu acompanhante com um grupo de amigos, todos publicitários. Para o azar do seu segredo, ela conhecia a maior parte deles, eram da equipe que desenvolvia as campanhas na primeira empresa que trabalhou.
Você conhece a Sayaka, ela é fascinada por resolver problemas aparentemente insolúveis. Lembra quando um usuário reclamou que depois de inserir uma quantidade “X” de dados o aplicativo mudava tudo que aparecesse em vermelho na tela para roxo? Ninguém conseguia entender o que estava acontecendo, onde estava o erro. Sayaka não desgrudou do seu computador até encontrar o problema.
Não foi diferente com a peituda, aliás Maria Izabel, ou Bel, como era chamada por todos. Sayaka ficou com o grupo, com seu carisma e simpatia, foi se fazendo notar. Em pouco tempo, ela e Bel já eram as melhores amigas...
Em uma ida ao banheiro ela deu o bote. Como quem não quer nada, perguntou a quanto tempo ela era casada. Bel caiu na risada, disse que não era casada, que o rapaz era um PA. Sayaka foi atriz, fez uma cara de alívio e disse que ficou preocupada, pois achou que ela era casada e já tinha visto ela com um moreno de olhos verdes e que, conforme suas fontes, tem uma rola enorme.
Bel caiu na risada, disse que o moreno se chama Rodolfo, que suas fontes tinham razão, a rola é enorme e ele sabe usar.
No outro dia, todos na empresa sabiam que você também traía Ruth. Todos decidiram não se envolver nesse rolo. Aos poucos, pontos foram sendo juntados, a conclusão óbvia era que vocês tinham um casamento aberto.
- Puta que pariu! Eu cheio de cuidados e a galera já sabia de tudo. Como você descobriu que ele sabiam?
- Então... Eles não me falaram nada, pensavam que, se eu já soubesse, iria contar para Ruth e você ficaria sabendo, podia dar merda; se eu não soubesse, com certeza daria merda, afinal todos sabiam que fomos criadas dentro de princípios religiosos e, apesar de não ser praticante, eles me achavam meio careta... Desconfiei que eles soubessem devido a alguns trechos de conversa que ouvi. Só tive certeza quando rompi definitivamente com Ruth, Sayaka acabou me contando das desconfianças do grupo, mas sem entrar nos detalhes. Toda a história fiquei sabendo quando, precisando de um hacker para minha investigação, procurei Sayaka.
- Agora entendi como você conseguiu tanta informação sigilosa, a Sayaka é foda, ela quebra qualquer sistema, consegue criar backdoors inimagináveis. Uma vez a vi entrar de zoeira no site da OTAN.
Mas me explica uma coisa, você nunca me contou o motivo da briga com Ruth, muito menos ela, sempre fugiu do assunto. Lembro que o clima ficou pesado em casa e na empresa. Se não me engano você pediu a conta alguns meses depois. O que aconteceu?
- Vou contar, mas não agora. Se eu não seguir uma linha do tempo fica difícil...
- Tudo bem, continue, professora!
- Engraçadinho!
- Fiquei remoendo a ideia de trabalhar na sua empresa. Passei a visitar seu site com regularidade, percebi que vocês estavam crescendo e seria só uma questão de tempo para você precisar de um profissional com minha experiência e intimidade com a área de tecnologia. Não deu outra, em uma das minhas visitas, ao acessar o campo “Trabalhe conosco”, vi a descrição de uma vaga que se encaixava como uma luva em meu perfil profissional, atualizei o currículo e enviei, o resto da história você conhece.
- Você foi uma das melhores contratações que fiz. Colocou ordem na casa. Foram anos maravilhosos, talvez por conta da sinergia que rolava entre nós; não consigo entender sua demissão. Lembro-me que te ofereci um aumento considerável para te dissuadir, mas não teve jeito.
- Você não sabe o quanto me faz bem ouvir seus elogios. Realmente éramos uma equipe fantástica, mas não tinha como continuar, a Ruth, para variar, fodeu com tudo.
- Eu imaginava que tinha o dedo dela. Apesar de vocês duas conviverem com civilidade, eu sentia que algo não estava bem. Na minha ingenuidade, acreditava ser reflexo do barraco que ela fez quando descobriu que você trabalhava comigo.
- Sua percepção foi boa. Nossa relação era estranha. Melhorou com meu noivado, como já te falei, passamos a trocar confidências, mas era algo artificial. Na verdade, nos suportávamos. As coisas degringolaram quando eu já trabalhava com você há uns três meses. Preocupada em entender a dinâmica da nova empresa, deixei de ir à casa dos meus pais. Trabalhava durante o dia e estudava as nuances do mercado de software à noite.
Meus pais, preocupados com meu sumiço, pediram para ela passar no meu apartamento para ver como eu estava. Ruth nunca tinha me visitado. Quando ela chegou, ficou admirada com meu cantinho. Ela acreditava que meu apartamento era uma kitnet mal decorada, como a que ela morou com minha mãe. Ficou atônita ao perceber que era um apartamento de dois quartos, uma suíte e um quarto transformado em escritório, muito bem decorado. Senti que a inveja a corroía; afinal, a irmã mais nova morava sozinha, sem ser supervisionada pelos pais, em um apartamento que parecia tirado de uma revista de decoração. O curioso é que ela me perguntava onde consegui dinheiro para uma decoração tão sofisticada, não acreditando na resposta, que garimpei os móveis em lojas de móveis usados e que a pintura e iluminação eu mesma fiz.
O caldo entornou quando ela reparou no laptop em minha mesa de trabalho, um MacBook Pro novinho em folha.
- Espera, o laptop que você usava era da empresa. Lembro que comprei um MacBook Pro para cada funcionário usar dentro do escritório, você era a única que tinha autorização para levá-lo para casa por não ter acesso ao programa de desenvolvimento do software. Rolou até inveja, os programadores pediram para ter a mesma autorização, obviamente eu não dei e expliquei as questões de segurança envolvidas.
- Exatamente! Mas a piranha não acreditou, sugeriu que eu devia estar transando com o chefe...
- Imagine, sempre fui adepto do mantra: “Em lugar que se ganha o pão não se come carne”, mas, para ser honesto, dediquei uma punheta à sua bunda...
- Chefinho! Seu punheteiro safado, cobiçando a bunda da sua funcionária! Eu não imaginava, você foi discreto, nunca percebi seus olhares.
Você percebe que está tirando meu foco da narrativa? Fique quieto e me deixe continuar.
Ela foi até a mesa e ficou namorando o laptop, mas não durou muito, desviou o olhar para a capa de uma revista especializada em software. Sim meu amigo, a revista que estampou sua foto e te apresentou como o melhor desenvolvedor do ano.
Espantada, pegou a revista e leu e releu a matéria. Ao terminar, ficou olhando para o vazio, esquecendo-se de mim.
Sem entender o que estava acontecendo, perguntei qual seu interesse por uma revista técnica. Foi aí que ela me contou que você era o mestrando que rejeitou para ficar com o professor. Meu queixo caiu! Sem pensar, disse que você era meu novo patrão. Achei que ela ia surtar, mas não. Ela abriu um sorriso maroto e disse que, com certeza, eu não estava trepando com você. Pegou sua bolsa e, sem falar mais nada, foi embora. Não tive mais contato com ela até o dia que ela apareceu no escritório. Ou seja, quando você começou a namorar Ruth, nosso contato era praticamente nulo; voltamos a ter contato social por sua causa.
- Eu me lembro, ela dizia que você era a irmã rebelde, que se afastou da família provocando uma crise familiar. Quando a convidei para morar comigo ela alegou que seus pais não suportariam perder outra filha. Continua a contar, estou ansioso para saber como as coisas evoluíram para você não ver outra saída a não ser a demissão.
- Rodolfo, eu deletei esse assunto da minha vida, me machucou muito. Vou falar por jugar importante para entender o caráter de minha irmã, mas não vou responder perguntas ou voltar a tocar nesse assunto.
Ruth morria de medo de que eu te contasse sua história. Me fez jurar nunca tocar nesse assunto. Eu prometi, disse para ela que minha relação com você era profissional, que não ia me intrometer na sua vida pessoal. Mas a vadia não acreditava, ela me via como um risco. Nos poucos contatos que tivemos, nunca falávamos do passado; por anos, não ouvi falar do Mauro ou de sua igreja. De uma hora para outra, ela começou a falar sobre ele. Percebi que ela queria minha cumplicidade. Não dei espaço, falei que não queria saber do que ela andava aprontando. Por outro lado, alertei que você era um homem muito inteligente, que ia acabar descobrindo.
Ela ficou muito brava, disse que sabia o que estava fazendo, para eu não me meter ou ia sobrar para mim.
Ela tentou destruir minha imagem com você, como não funcionou ela atacou de outro modo: seduziu e transou com meu noivo. Completamente envolvido o otário rompeu comigo e se desculpou por ter se apaixonado por outra. Quando fiquei sabendo que a outra era minha irmã, não aguentei. Pedi demissão para não ter que conviver com você e com ela.
- Meu Deus do céu! Por que você não me contou? Eu podia ter feito algo...
- Eu disse que não ia responder perguntas, mas, vá lá. Só vou responder essa. Eu ia te contar na rescisão, mas fiquei sabendo que o relacionamento de vocês era aberto. Achei melhor, para me preservar, não falar nada.
- Eu te entendo, não vou perguntar mais nada. Obrigado por ter se aberto comigo.
- O que tinha para contar sobre Ruth e seu estilo louco de viver, já falei. Eu, pessoalmente, não tenho mais nada a acrescentar. No entanto, as investigações trouxeram mais elementos. Para te contar, você vai ter que dar sua palavra de honra que nunca vai comentar a origem dessas informações. O método para obtê-las foi ilegal, não tenho como usá-las no processo nem sei se seriam úteis, mas, sem sombra de dúvidas, ajudam a traçar o perfil de minha irmã.
- Você tem minha palavra de honra, nunca vou comentar onde descobri o que você me falou, só não prometo não usar essas informações para confrontar Ruth quando você já tiver resolvido sua questão judicial. Mas me conta, como vocês conseguiram as informações?
- Foi simples. Fizemos um e-mail fake onde um suposto ex-irmão da igreja dos meus pais, indignado ao descobrir casos extramatrimoniais na comunidade, resolve gravar os amantes conversando e mandar, como arquivo de áudio, para todas as pessoas listadas na mala direta da igreja. O texto do e-mail tinha como função despertar a curiosidade de Mauro para o áudio. Ao clicar no ícone do áudio, ele ouviria um hino da igreja e, ao final, a frase: homem de pequena fé. Ele não tinha como imaginar que um software espião seria baixado junto com o áudio, nos dando acesso ao seu smartphone. Duas horas depois, teríamos absoluto controle; poderíamos ler seus e-mails, ver suas fotos e ouvir seus áudios. Como a conta do e-mail era antiga, tivemos acesso à anos de comunicação entre ele e Ruth, muitos esquemas para captar dinheiro, entre outras sacanagens, sem contar a quantidade de putaria com Ruth, outras mulheres e até com travestis. O ex “ministro da palavra”, agora pastor, era sujo e, com o passar dos anos, foi ficando pior.
- Ruth não percebia?
- Você continua minimizando a participação de minha irmã nessa história. Rodolfo, ela não foi vítima, não foi seduzida; mergulhou de cabeça nesse universo de sexo, dinheiro e poder. Na universidade, descobriu que seu apetite sexual não era incomum e conheceu outras garotas que, como ela, desejavam sexo todos os dias. Transou com colegas, funcionários e professores. Em um e-mail, ela relata que se relacionou com oito homens em uma festa, tornando-se uma devoradora de homens, famosa entre aqueles que apreciavam sexo intenso e violento. Ela não cobrava pelos encontros, mas vivia como uma prostituta. Uma colega, formada em psicologia, alertou-a sobre os riscos da compulsão em que ela vivia. Indignada, rompeu com a amiga; para ela, seu apetite sexual era o mesmo de toda mulher, a diferença é que ela não reprimia seus desejos.
- Tudo bem, você tem razão. É difícil para mim ver Ruth como uma mulher perversa; ela foi minha companheira. Por isso, tento amenizar seu lado, mas não consigo. Ela fez suas escolhas.
- Não se culpe, você é uma pessoa boa, amou Ruth intensamente. Eu acredito que é impossível deixar de ter sentimentos por quem fomos apaixonados, mesmo o amor morrendo, fica algo.
- Talvez, eu não saiba. O que mais dói é descobrir que a mulher que amei não existiu. Fico lembrando de nossos momentos; é frustrante.
- Eu não queria ter que te fazer passar por isso, mas, acho que era inevitável, você merece respostas. Por mais doloroso que seja, você precisa de uma conclusão, um ponto final que te permita abrir novos capítulos na sua vida, sem o peso de uma relação mal resolvida.
- Vamos continuar, agora que já foi a chapeleta, pode socar o resto...
- Engraçadinho... Onde eu parei?
- Você dizia que ela se tornou ninfomaníaca.
- Certo. Tudo corria bem; Ruth frequentava a igreja e era vista como a recatada namorada do pastor. Claro que um seleto grupo de fiéis sabia das atividades que rolavam, mas não afetava a vida comunitária, pois essas pessoas participavam ativamente das atividades pecaminosas na casa do pastor. Na universidade, ela se soltava; sua persona não tinha restrições, trepou com homens e mulheres de diversos tipos.
Obviamente, isso não durou. Os e-mails deixam claro que Mauro e Ruth começaram a ter problemas. O primeiro veio quando Ruth conheceu um engenheiro hondurenho que fazia especialização na USP. Através de uma amiga comum, ele a contatou, precisava de um profissional para revisar um artigo que estava escrevendo. No dia em que se encontraram para tratar dos prazos e valores, ela ficou deslumbrada. O engenheiro tinha quase dois metros de altura, preto, malhado e, pelo que ela entreviu, com uma ferramenta grande e grossa. Jogou todo seu charme. Conseguiu o serviço e, pela primeira vez, achou o pau de Mauro pequeno. O negão tinha uma rola enorme e absurdamente grossa; ela disse que tinha a mesma circunferência de uma lata de Coca-Cola, que não conseguia mamar, só conseguia colocar na boca metade da glande. Foi arrombada, mas adorou. Parou de biscatear e passou a dar apenas para o hondurenho e, nos finais de semana, para Mauro.
Por meses essa foi sua rotina, até que uma foda mais animada mudou tudo.
A USP estava em greve. Enquanto os alunos engajados se reuniam em assembleias ou em atividades de conscientização da comunidade acadêmica, os alienados simplesmente curtiam as férias fora de época. Tanto Ruth como Eduardo, o hondurenho, faziam parte do segundo grupo, não estavam nem aí para política universitária, simplesmente aproveitavam o tempo livre.
Em uma quarta-feira, foram à piscina do condomínio de Eduardo e passaram a tarde bebendo cerveja e se esfregando discretamente. O síndico era rigoroso.
Ao final da tarde, com o tesão turbinado pelo álcool, resolveram subir para o apartamento.
Ruth sempre foi fogosa, você bem sabe, mas com álcool no sangue ela perde a noção, pede rola, provoca o macho a ser bruto, se solta completamente. Foi exatamente o que aconteceu. Infelizmente, por um momento, ela esqueceu que o seu parceiro não era um homem comum, além de ter um pau, literalmente, cavalar, Eduardo era alto, muito forte e tinha uma pegada bruta. Apesar de adorar o conjunto da obra, Ruth sempre saía com hematomas e com dor na buceta depois das sessões de sexo. Bêbado, sendo provocado por Ruth a mostrar sua masculinidade, ele perdeu o controle de suas ações. As consequências foram trágicas.
Logo que entraram no apartamento começou a putaria. Em segundos estavam nus, enquanto Eduardo engolia seus seios, Ruth gemia como cadela no cio, quando ele desceu a boca para sua boceta, ela já não gemia, gritava. Os vizinhos ouviam tudo indiferentes, não se espantavam mais, os efeitos sonoros do casal já eram conhecidos, entretanto, nesse dia, as coisas foram diferente. Os sons foram se intensificando, de um lado Ruth pedia intensidade, de outro, Eduardo respondia com uma brutalidade acima da média. Seus tapas ecoavam pelo prédio, acompanhando os gritos de minha irmã. Sua bunda, pernas, seios e rosto tinham as mãos de Eduardo impressas. Além disso, chupões e mordidas em seus seios e coxas completavam o quadro. Ela estava sendo espancada e gozava como uma cadela no cio.
Eduardo gostava de um sexo bruto, mas, ainda na adolescência, aprendeu que na hora da penetração tinha que pegar leve. Seu pau era grande, poucas mulheres conseguiam recebê-lo por completo, mas o maior problema era a grossura. Várias prostitutas preferiam devolver o dinheiro a transar com ele. Sua esposa (sim, o safado era casado em Honduras e tinha três filhos) quase pediu a separação após a lua de mel. Por pressão familiar, acabou recuando, mas combinaram de transar uma vez por mês. Ou seja, apesar de Ruth ser dona de uma das poucas bucetas que engoliu sua jeba inteira, ela sofria com a grossura, principalmente no início da foda. Ele sabia que tinha que ser cuidadoso, mas o álcool e o tesão, aliados às provocações, o tornaram impulsivo. Abriu as pernas de Ruth, posicionou a cabeça na entrada e penetrou com força. O grito de dela foi ouvido em todo o prédio. Ela pediu para ele parar, mas ele não ouviu. Dominado pela luxúria, entrava e saía com força. Ruth, com a adrenalina bombando em seu corpo, esqueceu da dor e começou a gozar freneticamente, sem perceber que sua buceta foi rasgada e sangrava bastante. Percebendo os orgasmos sucessivos, ele a virou de costas, meteu na buceta para lubrificar e começou a forçar o cuzinho. Inacreditavelmente, apesar dos gritos de “você está estuprando meu cu”, ela aceitou sem maiores problemas, estava anestesiada pelo prazer. Eduardo, que nunca tinha comido um cu, estava encantado. Socou firme até gozar litros de porra no intestino de Ruth. Sem perder a ereção e, com a maior lubrificação do canal retal por sua gala, continuou os movimentos de entra e sai, agora com menor ímpeto. Nesse momento, ouviu um estrondo na sala.
Novamente, o síndico recebeu telefonemas reclamando do barulho e da “pouca vergonha” do casal em um prédio familiar. Apesar do “gringo” ter sido muito bem recomendado e, nos primeiros tempos, ter sido um inquilino modelo, nos últimos meses as reclamações se avolumaram. Ele chegou a conversar com o hondurenho, que prometeu evitar o pornô acústico; entretanto, cumpriu a promessa por pouco tempo, os gemidos, gritos e palavrões voltaram com força. Nesse dia, a pressão dos condôminos foi grande. Além dos telefonemas, sua caixa de e-mails estava cheia de reclamações; ele tinha que fazer algo. Resolveu telefonar, mas, obviamente, não foi atendido. Bravo com o descaso, foi até o apartamento. O momento foi infeliz para o casal: quando o síndico se preparava para tocar a campainha, ouviu Ruth gritar: “você está estuprando meu cu'. Não pensou duas vezes, sacou o celular e avisou a polícia de um estupro em andamento.
Uma viatura que estava próxima ao prédio foi acionada pela delegacia. Apesar do crime de estupro ser comum, com várias denúncias por dia, prender um estuprador em flagrante era raro, os policiais chegaram ao prédio minutos após o telefonema, Ruth ainda estava sendo sodomizada, os gritos e gemidos continuavam. Os policiais meteram o coturno na porta, invadiram o apartamento e, com armas em punho, se depararam com uma cena dantesca: uma mulher de quatro, coberta por um gigante negro com um pau monstruoso que entrava e saia de seu cu. Além disso a mulher apresentava marcas por todo o corpo, tendo sido, claramente, espancada.
Bêbada e atordoada pelo sexo selvagem, Ruth não percebeu a gravidade do que acontecia ao seu redor. Os policiais chamaram uma ambulância que a levou para o hospital. Localizaram o endereço do nosso pai em um cartão na sua bolsa e ligaram avisando que ela foi agredida, sem entrar nos detalhes. Desesperado, meu pai foi buscar minha mãe e, juntos, foram ao hospital.
Eduardo explicou que o sexo foi consensual, mas os policiais não acreditaram. Como uma ninfetinha linda, branca e de boa família aceitaria ser espancada e dar o cu para um preto com um pau monstruoso? Depois de lavrar o flagrante, ele apanhou bastante dos policiais.
No hospital, após passar por um exame de corpo delito, Ruth apagou após ser medicada. Mesmo desacordada, foi limpa e teve seus ferimentos tratados.
Ela só ficou sabendo do quanto agrediu seu corpo no outro dia, depois de passar por uma cirurgia. O grande problema foi devido ao alargamento do canal vaginal, esticados e comprimidos a exaustão pela rola de Eduardo, até provocar uma pequena ruptura na região do períneo. Em linguagem médica, uma rotura perineal.
- Simplificando, ela foi arrombada!
- Sim, exatamente isso. Seu períneo foi suturado, mas a médica não gostou do resultado e fez uma perineoplastia, uma pequena cirurgia para reconstrução e reaproximação dos músculos do períneo. Ela ficou internada por quatro dias.
- Uma vez, comentei que ela tinha uma cicatriz no períneo; ela me disse que se machucou na bicicleta quando criança. Mentirosa do caralho!
- Bicicleta? Eu acho que ela nem sabe andar de bicicleta. Deixa-me continuar.
Ela estava em uma puta encrenca. A polícia tinha certeza do estupro, Eduardo estava preso e nosso pai acompanhava a investigação e aguardava a denúncia. Se ela não falasse a verdade, a condenação do amante era inevitável; se falasse, livraria Eduardo da cadeia, mas papai ficaria sabendo de sua vida paralela. Obviamente, ela escolheu, em um primeiro momento, se proteger. Confirmou o estupro ainda no hospital.
Voltou para casa e, por imposição de nosso pai, ficou sem sair por dez dias.
Pelo que verificamos no processo, Eduardo comeu o pão que o diabo amassou. Durante o período em que ficou preso, foi espancado por policiais e colegas de cela, estuprado e torturado. Apesar de ser primário e ter bons antecedentes, ele foi mantido em prisão cautelar por precaução, a polícia tinha receio de que fugisse do Brasil, afinal, era estrangeiro. No entanto, as agressões sistemáticas forneceram elementos para sua defesa impetrasse um habeas corpus. Solto, Eduardo desapareceu, provavelmente voltou para Honduras, foi condenado à revelia, mas nunca cumpriu pena.
Ruth deu três depoimentos no processo, em todos sustentou a versão que contou para polícia.
- Mas que filha da puta, ela podia ter dado um depoimento em segredo, livrando a cara do pirocudo e sem o risco do pai descobrir. Sinceramente, eu me apaixonei por uma mulher que não existe; minha Ruth tinha empatia, se preocupava com as pessoas. A mulher que você está me apresentando é outra; parece que ela tem dupla personalidade.
- Não sou médica, mas não acredito que seja caso de dupla personalidade; ela sempre foi egoísta, eu cresci com ela e sei por experiência própria. Além disso, ela sempre foi manipuladora e uma grande atriz, mente na cara dura. Você viu nela o que quis mostrar para te conquistar.
Como eu te disse, esse foi o primeiro problema. Meu pai passou a ficar no seu pé, controlando suas saídas, dificultando ao máximo saídas noturnas e proibindo que dormisse fora de casa. Os e-mails mostram que ela estava irritada, reclamando que estava engordando por descontar na comida sua falta de sexo. Tentou voltar a vida louca na universidade, mas não conseguiu. Meu pai, preocupado com a filha, contatou os anciãos das igrejas perto da USP e, através deles, pediu para que os irmãos que trabalhavam lá vigiassem sua princesa. Ruth estava cercada, restava apenas as rapidinhas com Mauro antes e depois das atividades na igreja.
Na fissura, ela, ou melhor, eles, acabaram cometendo um erro fatal.
A igreja estava crescendo, cada semana brotavam novos fiéis. Mauro foi esperto, primeiro seguiu a cartilha das igrejas neopentecostais, comprou espaço em emissoras de rádio e intercalava uma pregação contra os pecados da vida contemporânea com propagandas a sua igreja como defensora dos valores cristãos. Mas ele foi além, contratou um programador e um publicitário para criar e administrar um site e uma página no Facebook, a nova rede social da época. O resultado foi fantástico, sua igreja tinha fiéis mais tradicionais, migrados de outras igrejas evangélicas e uma vibrante comunidade de jovens fiéis. Carismático, ele era o centro de tudo, considerando um exemplo de homem de fé.
- Impressionante a hipocrisia: pregava os valores tradicionais e curtia uma suruba!
- Pois é... Se ele fosse o único, vá lá, mas parece que tal hipocrisia é regra nesse meio.
Bom, mas ele era esperto. Quanto mais a igreja crescia, mais cuidado ele tinha com sua imagem. Ruth tornou-se um problema. Muitos fornecedores da igreja sabiam de sua promiscuidade, afinal ela foi moeda de troca na sua instalação. Ter sua imagem associada a uma pecadora não era bom. Mas, ao mesmo tempo, ele não abria mão de ficar com ela. Não foi difícil imaginar a solução do problema, nessas igrejas é muito forte o mito da conversão.
- Mito do quê? Não entendi.
- Eu explico. Eles acreditam que qualquer pecador, por pior que seja, pode ter seus pecados lavados pelo sangue de Cristo, basta acreditar Nele como seu salvador e confessar para comunidade todos seus pecados.
Demorou para ele convencer Ruth a se converter publicamente, declarando sua fé e listando algumas de suas iniquidades. Limpa de seus pecados, ela deixou de ser problema. Claro que eles evitavam ser vistos sozinhos, ela frequentava os cultos e reuniões com os jovens como uma fiel qualquer. Depois, se encontravam longe do templo e iam para um motel qualquer.
Ruth não estava feliz com essa solução, mas, racionalmente, entendia que não tinham opção. O problema é que, sem ter como arrumar outros ficantes, ela estava, constantemente, deixando a razão de lado, provocando Mauro com olhares, bocas, cruzadas de pernas e rebolados em lugares perigosos para quem queria manter a imagem de pecadora convertida. As meninas do grupo de jovens estavam percebendo as intenções de Ruth e passaram a observar com mais cuidado.
Em um sábado, Mauro pediu desculpas ao grupo por não poder participar das atividades, tinha um trabalho urgente a fazer no escritório da igreja. Ruth, desesperada por rolar, há dez dias não dava, não pensou duas vezes, pediu licença ao grupo para ir ao banheiro, mas, ao invés disso, foi para o escritório.
Mauro trabalhava no sermão do culto matutino do dia seguinte. Ironicamente, o tema era “A mulher virtuosa”. Entretido com os exemplos que elencava para cada versículo do texto bíblico, não percebeu sua jovem amante entrar no escritório.
Ruth, com cuidado, fechou a porta e, ainda fora do campo visual de seu macho, transformou seu vestido em um cinto ao libertar os seios e subir sua saia. Tirou a calcinha e foi para a poltrona em frente à mesa do amante. Quando Mauro levantou os olhos, viu Ruth de quatro na poltrona, pedindo para ser fodida.
Mauro ficou desesperado, tinham mais de trinta jovens na igreja naquele momento, se um, apenas um, visse aquela cena, sua carreira teria fim. Lembrou-se do flagra na kitnet e gelou. Implorou para Ruth se recompor e sair, falou do risco, tentou de tudo, mas ela fingia não ouvir e continuava a rebolar e pedir pica.
Descontrolado, Mauro elevou o tom da voz e ordenou que ela saísse, que a igreja não era lugar para isso. Seu discurso hipócrita, já tinha fodido Ruth naquele escritório várias vezes, foi interrompido pela porta abrindo. Algumas garotas que já desconfiavam de Ruth, notando sua demora no banheiro, foram atrás dela. Como não a encontraram no banheiro, foram para o escritório, ouvindo Mauro rejeitar minha irmã, invadiram o escritório.
Para elas a situação era clara, Ruth, a “puta da Babilônia”, como uma delas a chamou, fingiu se arrepender para tentar seduzir o pastor. Infelizmente para a pecadora, a fé do pastor era grande e, guardado por Deus, resistiu ao pecado carnal...
Mauro não teve escolha, expulsou a amante da igreja e se afastou dela. Nos e-mails, ele explica que estava sendo observado, que uma das garotas percebeu que, apesar de repudiar fazer sexo com ela, ficou de pau duro.
A última troca de e-mails dessa época termina com a ruptura do casal. Mauro comunica que era fundamental que ele se casasse. A comunidade não aceitava bem um jovem líder viúvo, sujeito às tentações da carne por não ter mulher em casa. Ruth se revolta, mas não adianta nada. Mauro fica noivo de uma viúva carola, mãe de um casal de adolescentes.
Foi nesse momento que Ruth decide que também tinha que se casar. Para com a putaria e escolhe o professor de história como seu futuro cônjuge deixando de te procurar. Tudo caminhava como ela planejou, o professor estava apaixonado e a pediu em casamento. Quando ela foi me visitar e descobriu que o “mestrando” que ela abandonou era meu patrão e tinha desenvolvido um software milionário. Seus planos mudaram, fez o barraco no escritório para se aproximar de você. Funcionou. Ela deu um pé na bunda do professor e, em pouco tempo, era sua esposa.
- Burro, eu sou muito burro! Fui engambelado por uma putinha e, por sorte, não perdi meu patrimônio.
- Pois é... Parece que aquela vadia tem a buceta de ouro...
- Mas eu não estou entendendo uma coisa:por que ela precisava de dinheiro? Eu dava tudo que ela queria e ela já não estava mais com o Mauro.
- É aí que você se engana. Antes de seu casamento completar dois anos, eles já tinham retomado o relacionamento. O dinheiro desviado era fundamental para eles concretizarem seus novos planos. Desculpe-me por ser direta, mas não há outro jeito: no início, Ruth acreditou que o casamento prosperaria, ela gostava de você e do estilo de vida que levavam, mas, ao reencontrar Mauro, passou a ver a relação como um meio para, finalmente, poderem ficar juntos.
- Continuo sem entender. A igreja ia bem, cresceu em número de fiéis e em faturamento, eles não precisavam de mim.
- Não é bem assim. Mauro casou com uma viúva que herdará um grande patrimônio de seu falecido marido. Como ela era de família humilde, a família do seu primeiro marido impôs o casamento com separação de bens. Quando morreu, deixou um testamento impondo a administração do patrimônio ao irmão e, caso sua viúva viesse a contrair novas núpcias, teria o recebimento dos dividendos condicionado a um casamento com separação de bens. Foi o que aconteceu. No entanto, querendo abrir “filiais” da igreja, Mauro convenceu a esposa e o irmão do falecido a fazerem um grande empréstimo, com juros de poupança. O empréstimo venceu e Mauro não pagou o montante, só pagando os juros. O administrador do patrimônio não gostou, mas foi convencido pela cunhada a deixar quieto. Para Ruth e Mauro ficarem juntos, ele teria que pagar o que devia antes de pedir o divórcio. O problema é que ele não tinha esse dinheiro, gastava muito com suas campanhas.
- Campanhas? Esse filho da puta virou político?
- Hahaha. Você esperava o que de um ladrão, hipócrita e manipulador? Entrar para a política propondo defender os valores cristãos, a família tradicional e a pátria foi o caminho natural de muitos como ele.
- Eu sei, mas ele conseguiu se eleger?
Várias vezes, foi vereador e, posteriormente, elegeu-se e reelegeu-se deputado estadual. Sempre com a ajuda de Ruth, que depositava doações periódicas para uma ONG que fazia caixa 2 para Mauro, o “Lar do Missionário Aposentado”, que só existe no papel.
- Espera, estou confuso. O dinheiro não era para pagar a dívida com a mulher de Mauro?
- Rodolfo, acho que por hoje chega, você está lento. Pensa bem: ele precisava pagar o empréstimo, cobrir seus gastos pessoais e as campanhas políticas. A igreja ia bem e a política começava a render frutos, mas não bastava. Ele tinha ambições de voos políticos mais altos; para isso, precisava abrir filiais da igreja. O dinheiro não dava para tudo. Nesse cenário, o dinheiro que Ruth trazia era fundamental, garantindo o pagamento dos custos da campanha.
- Não faz sentido, Débora. Sua irmã é uma mulher inteligente e manipuladora. É improvável que ela não tenha percebido que estava sendo usada.
- Lembra que eu te falei que era fundamental entender o que motivou Ruth a fazer tudo que fez? Pois bem, vejo dois motivos. O primeiro é simples, mas você não vai gostar de ouvir: Ruth é movida pelo sexo e, por mais que tenha tido experiências intensas com muitos parceiros — especialmente você e o hondurenho —, o único macho que a completou foi Mauro.
- Então, tudo se resume à luta de uma mulher pelo homem que ama?
- De maneira nenhuma! Ruth é uma sociopata, ela não sabe o que é o amor. A questão é carnal, mas vai além; ela é obcecada pela adrenalina desse estilo de vida e não consegue imaginar a vida sem o sexo bandido que ele lhe proporciona.
- Estou me sentindo um lixo. Pensar que eu amei essa mulher... Qual o segundo motivo?
- Não se sinta mal, ela usou todas as pessoas no seu entorno. O segundo motivo foi a necessidade de manter o alto padrão de vida que ela passou a ter com você. Por mais que Mauro conseguisse com suas igrejas e esquemas políticos, perto dos seus ganhos era dinheiro de pinga. Ela cobiçava seu patrimônio, mas não fazia ideia do real valor do produto que você criou. Se ela tivesse noção, teria se envolvido na administração e, talvez, o estrago teria sido muito maior. Ela pensou pequeno...
- Graças a Deus! Pedi várias vezes que ela trabalhasse comigo, ela nunca quis.
- Pois é... Mas um dia a ficha caiu e ela começou a pensar em como armar um golpe. Mas já era tarde demais, a empresa já tinha aberto o capital, a fiscalização interna e externa não lhe dava acesso. Você deu sorte, a vontade deles era tirar a maior parte do seu patrimônio.
- Débora, por hoje chega. Você tem razão, não estou mais conseguindo processar tanta informação.
- Tudo bem, meu amigo. Desculpe-me por te fazer reviver toda essa merda. Volto amanhã à tarde, quero terminar isso o mais rápido possível. Pode ser?
- Tudo bem, até amanhã eu já vou ter me refeito, eu acho...
Levei Débora até o elevador. Enquanto esperávamos ele chegar, nos despedimos com um abraço de irmãos. Depois que embarcou, chorei como criança.
Lágrimas que não foram provocadas pelo fim do relacionamento, essas já tinham sido derramadas e secadas a muito tempo. Meu choro era fruto de uma grande frustração e muita raiva, afinal, por mais inesperado e doloroso que tenha sido o divórcio eu me consolava com a ilusão que, por um período, vivemos um grande amor.
Débora, ao me contar as tramoias de Ruth, jogou minhas melhores lembranças no lixo. Passei a questionar cada gesto de carinho, cada momento de intimidade que só os casais que se amam conhecem.
Chorei por ter vivido uma mentira.
Eu desejava me vingar!
Continua.
PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DA “CASA DOS CONTOS ERÓTICOS" SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.