Eu, Margarete, aos 70 anos, nunca imaginei que meu corpo pudesse arder com tamanha intensidade. Depois daquela manhã na cozinha, onde o toque de Gustavo despertou em mim desejos que eu pensava estarem mortos, minha alma parecia dançar em chamas. Cada olhar dele, cada roçar de sua pele, era como um convite para um território proibido, e eu, contra toda razão, queria explorá-lo.
— Bom descanso, Gustavo. Vou pra cidade comprar alguns mantimentos. Nos vemos à noite, meu amor… — Minha voz saiu tremula, quase um sussurro, enquanto fechava o portão da chácara. Gustavo acenou da varanda, seu sorriso iluminando o entardecer, e eu senti um calor subir pelo meu peito, fazendo minhas pernas fraquejarem. Peguei a bolsa de palha, que batia contra meu quadril como um coração descontrolado, e caminhei até o ponto de ônibus, a mente girando com pensamentos que uma avó não deveria ter.
O ônibus, velho e rangente, parecia carregar o peso dos meus segredos. Sentei no fundo, longe dos olhares curiosos do motorista, e fixei os olhos nas plantações de feijão tostadas pelo sol. “Setenta anos, Margarete, e você está agindo como uma garota apaixonada”, repreendi-me, apertando a bolsa contra o peito. Mas a verdade era que eu não podia ignorar o que sentia. Meu corpo, que por tanto tempo esteve adormecido, agora pulsava, vivo, faminto.
A Brisa Noturna, uma lojinha escondida entre um mercadinho e uma funerária, era um segredo mal guardado de Mafra. A campainha tilintou quando entrei, e uma moça de cabelo rosa e piercing no lábio apareceu detrás do balcão.
— Posso ajudar, dona? — perguntou, com um sorriso que parecia saber mais do que dizia.
— Quero algo… especial — falei, minha voz hesitante, desviando o olhar das araras cheias de rendas transparentes.
— Especial para uma noite especial? — Ela piscou, destrancando uma gaveta com uma chave pequena. — Tenho exatamente o que precisa.
Ela me entregou um fio dental preto, tão delicado que parecia tecido por fadas. Minha mão tremia ao segurá-lo.
— Isso é… mágico? — perguntei, sentindo o rosto queimar.
— Mágico o suficiente para fazer qualquer homem perder o juízo — ela respondeu, com um brilho malicioso nos olhos.
Paguei com notas amassadas, escondendo a peça minúscula num pacote de linhas e tecidos. “Que ironia”, pensei, enquanto saía da loja, o coração batendo tão alto que parecia ecoar na rua.
No ônibus de volta, sentada ao lado de uma senhora que segurava uma galinha no colo, minha mente vagava. Imaginei Gustavo descobrindo o fio dental, seus olhos arregalados, talvez rindo, talvez… famintos. Lembrei do jeito que ele me olhou na feira na semana passada, como se eu fosse a única mulher no mundo, como se ele quisesse devorar cada pedaço de mim. Meu corpo reagiu, uma umidade traiçoeira entre minhas pernas. Fechei os olhos, tentando me concentrar no balanço do ônibus, mas tudo o que sentia era ele.
Em casa, preparei a noite com cuidado. A mesa ganhou uma toalha de linho e velas que já haviam derretido em outras ocasiões. Tomei um banho com água de lavanda, o perfume envolvendo minha pele como uma promessa. Vesti uma camisa branca, que deixava entrever o contorno dos meus seios, e uma saia que Gustavo certa vez elogiou. O fio dental preto grudava na minha pele como uma carícia ousada. Olhei-me no espelho, rindo de nervoso. “Margarete, você tá parecendo uma galinha no laço”, murmurei, mas o desejo que queimava em mim era mais forte que qualquer vergonha.
Gustavo chegou ao pôr do sol, a camisa branca arregaçada até os cotovelos, os braços bronzeados segurando um punhado de margaridas colhidas no caminho.
— Você tá mais linda que o céu sem nuvem — disse ele, entregando as flores com um aperto de mão que demorou demais, seus dedos quentes contra os meus.
— E você tá mais cheiroso que pão quente — retruquei, guiando-o até a mesa com um sorriso que tentava esconder o nervosismo.
Servi vinho tinto e risoto de frango, mas ele mal tocou na comida. Seus olhos, cor de café torrado, percorriam meu rosto, meu pescoço, o decote da camisa. Senti meu corpo responder, um calor subindo pelo meu ventre.
— Tá nervosa, Margarete? — perguntou, seu dedo traçando a borda do meu copo de vinho, um gesto tão simples, mas que fez meu coração disparar.
— Tô com calor — menti, abanando a saia, sentindo o tecido roçar contra o fio dental.
— Calor tem cura — ele sussurrou, e senti seu pé encostar no meu por baixo da mesa, um toque leve que enviou arrepios pela minha espinha.
Quando a lua subiu, ele se levantou e veio até mim, seus dedos entrelaçando os meus com uma firmeza que me fez tremer.
— Cansou de comer? — perguntei, tentando manter a voz firme.
— Cansar é pra quem não tem fome — ele respondeu, puxando-me para ele.
Subimos a escada de madeira, cada degrau rangendo como se protestasse contra o que estava por vir. Na porta do meu quarto, ele parou, a respiração acelerada, os olhos buscando os meus.
— Tem certeza, Margarete? — perguntou, a voz rouca, cheia de um desejo que espelhava o meu.
— Tenho setenta anos, Gustavo. Se não for agora, quando vai ser? — respondi, meu coração batendo tão alto que eu temia que ele ouvisse.
Seu beijo foi lento no início, explorador, mas logo se transformou em algo feroz, urgente. Minha saia caiu no chão, e ele riu ao ver o fio dental preto, seus olhos brilhando com uma mistura de surpresa e desejo.
— Isso é uma armadilha, Margarete? — perguntou, sua voz grave enviando um choque pelo meu corpo.
— É pra você não fugir — sussurrei, arrancando a camisa dele, sentindo a pele quente sob meus dedos.
Na cama, suas mãos calejadas percorreram meu corpo como se eu fosse terra virgem, pronta para ser cultivada. Ele mordiscou meu ombro, e eu gemi, arranhando suas costas.
— Você é fogo, mulher — ele murmurou, sua voz vibrando contra minha pele.
— E você é gasolina — retruquei, puxando-o para mim.
Deitei-me de quatro, o coração disparado, e senti Gustavo se posicionar atrás de mim. Ele roçou seu membro contra mim, lento, provocador, e meu corpo respondeu com uma umidade que me fez corar. Quando ele entrou, foi devagar, como se temesse me quebrar, mas eu o puxei com força.
— Não sou de porcelana, Gustavo — sussurrei, ofegante.
— É de diamante — ele respondeu, acelerando o ritmo, cada movimento enviando ondas de prazer pelo meu corpo.
— Isso é tão bom, garoto… eu te amo, menino! — gemi, perdida na sensação.
O quarto se encheu do cheiro de sexo, do som dos nossos gemidos, do ranger da cama. Minha vagina pulsava a cada estocada, e eu já havia gozado duas vezes, meu corpo tremendo de êxtase. Gustavo mantinha o ritmo, incansável, e eu sentia a umidade quente escorrer entre nós, um testemunho do nosso desejo.
— Dona Margarete, que buceta quente e cremosa você tem… isso é bom demais, gostosa — ele gemeu, sua voz rouca me levando ao limite novamente.
Perdi a noção do tempo. O prazer era avassalador, cada estocada uma promessa, cada gemido uma confissão. Quando o galo cantou ao amanhecer, estávamos deitados, suados, rindo, o fio dental preto pendurado na cômoda como um troféu de nossa entrega.
Enquanto Gustavo preparava o café, eu olhava para o fio dental e sorria. “Quem disse que a velhice é sinônimo de silêncio?” Meu coração ainda dançava, e meu corpo, apesar dos joelhos que reclamariam no dia seguinte, sentia-se mais vivo do que nunca. Gustavo e eu havíamos cruzado uma linha, mas, naquele momento, tudo o que eu sabia era que não queria voltar atrás.