O salão da formatura vibrava, um mar de vestidos longos, ternos alugados e o zumbido elétrico de futuros incertos misturado ao baixo pesado da música. Eu me agarrava a um copo de uísque aguado, o terceiro ou quarto da noite, sentindo o calor subir pelo pescoço não apenas pelo álcool, mas pela figura que acabara de cruzar meu campo de visão. Ele. O loiro da academia.
Aquele que transformava o ato banal de levantar pesos em uma performance quase coreografada de força e graça. Aquele cujas costas largas e definidas, eu acompanhava disfarçadamente pelo espelho enquanto fingia me concentrar na inclinação da esteira. Meses de observação silenciosa, de desejo contido, de fantasias construídas na monotonia dos treinos, imaginando o toque daqueles músculos, o peso daquele corpo. Uma fixação que me corroía por dentro, uma admiração que beirava a obsessão.
Mas esta noite, ele era outro. E, paradoxalmente, mais ele mesmo do que nunca. O uniforme surrado da academia dera lugar a um terno azul-marinho que parecia esculpido em seus ombros largos, realçando a musculatura poderosa por baixo. O cabelo loiro, antes um topete desgrenhado, estava cortado rente, estilo militar, acentuando as linhas duras do maxilar e a pele clara do rosto. Ainda havia traços de garoto ali, mas o corpo… ah, o corpo era de um homem forjado em disciplina e esforço. O exército o devolvera diferente. Mais denso, mais contido, com um olhar claro e penetrante que parecia varrer o ambiente com uma intensidade calculada, quase predatória.
Eu já tinha perdido a conta das vezes que meus olhos foram magneticamente atraídos para o volume discreto, porém inegável, sob o tecido fino da calça social. Cada gole de uísque era uma tentativa frustrada de anestesiar a eletricidade que percorria meu corpo só de pensar nele, de imaginá-lo fora do contexto asséptico da academia, de sentir o cheiro da sua pele, de ter qualquer tipo de interação que fosse.
Então, ele se moveu. Levantou-se da mesa onde estava com um grupo ruidoso de amigos – colegas de farda, a julgar pelos cortes de cabelo e a postura rígida – e começou a caminhar em direção aos banheiros. Meu corpo reagiu por instinto, um reflexo pavloviano treinado por meses de desejo reprimido. As pernas me levaram, seguindo-o a uma distância segura, os olhos fixos na maneira como ele discretamente desabotoava o punho da camisa preta com uma mão enquanto empurrava a porta do banheiro com a outra. O paletó já tinha sido descartado em algum canto, e a camisa, impecável, esticava sobre os músculos dorsais a cada passo. O bíceps tensionava o tecido, uma promessa silenciosa da força contida ali.
O banheiro masculino estava quase vazio, o cheiro de desinfetante lutando contra o odor adocicado de álcool e perfume barato. O som abafado da música da festa parecia distante, substituído pelo gotejar insistente de uma torneira e o zumbido da iluminação fluorescente. Ele escolheu o mictório central, ignorando os das pontas. Uma declaração silenciosa de posse do espaço, talvez? Ou apenas indiferença. Meu coração martelava contra as costelas, um ritmo frenético de medo e oportunidade. Respirei fundo e me posicionei ao lado, tentando projetar uma casualidade que eu estava longe de sentir. Meus dedos desajeitados fingiram lutar com o botão e o zíper da minha calça enquanto minha visão periférica capturava cada movimento dele.
Os dedos largos e alvos soltando a fivela do cinto de couro. O som seco do zíper descendo. A mão desaparecendo por um instante dentro da calça antes de emergir segurando… aquilo.
Deus. Era mais grosso, mais pesado do que eu imaginara nas minhas fantasias mais febris. A cabeça avermelhada, úmida, as veias saltando sob a pele esticada. O som do jato forte e constante atingindo a porcelana branca pareceu ecoar no silêncio tenso, quase obsceno. Prendi a respiração, os dedos ainda congelados na minha calça, incapaz de desviar o olhar daquela visão crua, primitiva. Ele o segurava com uma naturalidade desconcertante, o pulso firme, o olhar fixo à frente, no espelho que cobria a parede.
E foi no espelho que nossos olhares se cruzaram. Um instante congelado. Ele sabia. Não havia como não saber, não com a intensidade com que eu o devorava com os olhos há meses. A surpresa em seu rosto foi mínima, quase imperceptível, rapidamente substituída por algo mais frio, calculista, mas também... curioso?
Ele virou o rosto lentamente, sem pressa. Os olhos claros, antes talvez apenas observadores, agora me fixavam com uma intensidade cortante, uma mistura indecifrável de desprezo e… interesse? Uma faísca perigosa que acendeu algo dentro de mim, uma mistura de pânico e excitação.
"Perdeu alguma coisa aqui?" A voz veio baixa, rouca, com um timbre que carregava a aspereza do treinamento militar, mas também uma nota de escárnio controlado. Ele ainda segurava o membro semi-flácido, mas impressionante, as últimas gotas pingando teimosamente na porcelana. Aquele tronco rosado e veiudo que assombrara meus sonhos.
Engoli em seco, a boca subitamente árida. "Não... eu só..." As palavras morreram.
"Só o quê?" Ele sacudiu as últimas gotas com um movimento brusco e começou a se recompor, mas sem pressa, mantendo o olhar fixo no meu, avaliador. Deu um passo lateral, bloqueando sutilmente minha saída, o peitoral largo parecendo ainda maior àquela distância. "Você me olhando na academia. Todo santo dia. Acha que eu não percebo? Acha que sou idiota?" A calça ainda estava aberta, a cueca branca, um modelo simples, de algodão, marcando o contorno pesado por baixo. Sua voz baixou, tornando-se mais íntima, mais ameaçadora, mas com um fundo de... satisfação? "Está procurando alguma coisa específica? Ou só gosta de arrumar confusão?"
O tom era uma navalha. Eu tremia, não apenas de medo, mas de uma antecipação terrível e excitante. Era isso. A interação que eu tanto fantasiava, mesmo que viesse embrulhada em ameaça. A atenção dele, finalmente, focada em mim.
Ele não esperou resposta. Inclinou a cabeça na direção da última cabine, no fundo do banheiro, a porta ligeiramente entreaberta. "Vem aqui. Vamos conversar um pouco." A voz era uma ordem disfarçada de convite, baixa, quase um segredo naquele ambiente frio.
Meu corpo obedeceu antes que a razão pudesse intervir. O medo era real, mas a possibilidade de... algo... era mais forte. Segui-o até a cabine. Ele me empurrou para dentro sem cerimônia, a mão agarrando meu cabelo na nuca com uma força surpreendente, forçando minha cabeça para baixo. O espaço era claustrofóbico, o cheiro dele me envolvendo – suor fresco, almíscar masculino, o hálito com o traço amargo do uísque. O mundo exterior desapareceu, restando apenas nós dois naquele cubículo apertado.
"De joelhos." A ordem foi seca, inquestionável.
Meu olhar caiu sobre a frente da sua cueca. Uma pequena mancha úmida, escura, onde as últimas gotas de urina tinham escapado. A realidade da situação – a humilhação iminente, o perigo real, a excitação crua que me fazia sentir vivo pela primeira vez em meses – me atingiu como uma onda. Ele puxou meu cabelo com mais força, não o suficiente para machucar seriamente, mas o bastante para afirmar controle absoluto, e pressionou meu rosto contra o tecido úmido.
"Sente o cheiro. É isso que você fica procurando, não é?" A voz dele era um sussurro áspero perto do meu ouvido. O aroma era intoxicante: salgado, metálico, inconfundivelmente dele. Ele puxou minha cabeça para trás bruscamente e, antes que eu pudesse processar, cuspiu na minha boca. O líquido quente e espesso escorreu pela minha língua. A humilhação queimou, mas uma parte de mim... registrou aquilo como uma forma distorcida de reconhecimento. "Engole."
Obedeci, o gosto amargo misturando-se ao meu próprio medo e a uma estranha sensação de conexão forçada. Ele observou meu reflexo de engolir com um meio sorriso satisfeito, quase cruel, mas seus olhos pareciam analisar minha reação com uma intensidade que ia além do simples prazer sádico.
"Agora olha." A mão dele voltou para dentro da cueca, puxando o pênis para fora novamente. Estava mais cheio agora, inchado pela tensão do momento, a cabeça latejando levemente. Ele o segurou na minha frente, quase como uma oferenda profana. "Isso aqui…" ele fez uma pausa, o olhar percorrendo meu rosto ajoelhado, demorando-se em meus olhos arregalados, "…você só encosta se eu mandar. E hoje, você não fez por merecer." Com a mesma rapidez, guardou-o de volta, ajustou a cueca e a calça, fechando o zíper com um som definitivo. Deu dois tapinhas leves no meu rosto, um gesto quase paternal, se não fosse pelo contexto degradante. "Vê se fica na sua."
Ele saiu da cabine, deixando-me ali, de joelhos no chão frio e pegajoso, o gosto do cuspe na boca, o cheiro dele impregnado nas minhas narinas, o corpo tremendo com uma mistura de humilhação profunda e desejo frustrado. Demorei alguns minutos para me recompor, para levantar, ajeitar minhas próprias roupas e sair do banheiro, sentindo-me violado e, de alguma forma perversa, notado.
De volta ao salão, a festa continuava alheia ao drama que se desenrolara a poucos metros dali. Localizei-o rapidamente. Ele estava de volta ao seu grupo, rindo de alguma piada, um copo na mão, como se nada tivesse acontecido. Mas algo havia mudado. A dinâmica invisível entre nós havia se solidificado em algo palpável, perigoso. De vez em quando, nossos olhares se cruzavam por sobre as cabeças dançantes. O dele era indecifrável – por vezes frio e avaliador, por outras, quase divertido, com um brilho de desafio e... algo mais que eu não conseguia nomear.
Observei-o puxar a namorada para a pista de dança improvisada. Uma morena alta, escultural. Ele a girava, a mão possessiva na base das costas dela, o quadril largo movendo-se com uma confiança que beirava a arrogância. O mesmo quadril que eu vira tantas vezes na academia. Ele a puxou contra si, colando seus corpos. Vi a mão dela deslizar pelo peito dele por dentro do colarinho aberto da camisa, um gesto íntimo. Ele roçou o volume da sua virilha contra a coxa dela, um movimento lento, deliberado, quase uma performance.
E então, ele me viu. Viu que eu estava olhando, paralisado, a bebida esquecida na mão. Um sorriso lento, quase imperceptível, curvou seus lábios. Ele se inclinou e sussurrou algo no ouvido da namorada. Ela riu, deu-lhe um beijo rápido antes de se afastar para pegar uma bebida.
Ele veio na minha direção. Não diretamente, mas em uma trajetória que o faria passar ao meu lado. Fingiu ajustar o paletó imaginário, a mão descendo casualmente até a virilha. Eu vi, claramente, a mão dele por cima do tecido da calça, ajeitando o volume, empurrando aquela massa para o lado, deixando dolorosamente óbvio que o encontro no banheiro e a dança com a namorada o haviam deixado, no mínimo, semi-ereto.
Quando passou por mim, o ombro roçando o meu, ele se inclinou, o hálito quente de uísque no meu ouvido. "Quer provar como fico depois que eu termino com ela?" O sussurro foi uma brasa, queimando direto no meu cérebro. "Esquina do meu prédio. Duas horas. Sem atraso. Se tiver coragem."
Antes que eu pudesse sequer piscar, ele já estava se afastando, voltando para a namorada, envolvendo-a pela cintura e puxando-a para um beijo longo, cinematográfico, a língua invadindo a boca dela enquanto os olhos dele encontravam os meus por cima do ombro dela. Um último desafio, uma promessa de prazer e dor, e uma demonstração clara de onde ele supostamente pertencia.
Fiquei ali, petrificado, o coração batendo descompassado no peito, um tambor de guerra anunciando a batalha interna. Ir? Não ir? Era uma armadilha óbvia? Uma promessa velada de algo que eu desejava desesperadamente, mesmo sabendo que viria com humilhação? A imagem dele me esperando na esquina, a possibilidade do que poderia acontecer – a violência, a submissão, o prazer proibido – girava na minha mente. Eu sabia que era perigoso, sabia que ele podia me machucar, mas a ideia de ter mais... de ter ele, de qualquer forma que fosse... era uma droga potente demais. A dúvida era torturante: ele ia me dar o que eu mais desejava ou ia me quebrar em pedaços para garantir que eu nunca mais ousasse olhar para ele daquele jeito? Ou talvez... nem ele soubesse o que queria?