GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [76] ~ A ESCOLHA

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 2394 palavras
Data: 12/10/2025 21:47:39
Assuntos: conto, Gay, Historias, Romance

Terminei de ler o diário e fiquei completamente sem chão, como se o mundo tivesse parado de girar por alguns instantes. Realmente, Carlos me amava. E eu o amava também - disso eu não tinha dúvidas. Mas sabe o que mais me fez doer ali naquele momento? Foi perceber que, em meio a toda aquela declaração avassaladora, em meio a todas as palavras lindas que Carlos tinha escrito, em meio à imersão profunda que eu tive em seus sentimentos mais íntimos, eu sabia que mesmo depois de tudo isso ainda não seria o momento de a gente ficar juntos.

Não seria a hora. Não seria aquele tempo.

E isso poderia ter sido o grande erro ou o grande acerto de toda minha vida - nunca vou saber ao certo. Porque talvez Carlos nunca me perdoasse por essa escolha. Mas eu precisava ser sincero com ele e, principalmente, com meus próprios sentimentos.

Em praticamente 24 horas, eu tinha sido humilhado pelo Luke de uma forma que jamais imaginei ser possível. Eu tinha acabado de receber marcas que iriam me acompanhar pelo resto da vida - não apenas as físicas no meu rosto, mas principalmente as emocionais na minha alma. Minha cabeça ainda processava todo o surto do Luke, toda aquela situação traumática de terror e violência.

Óbvio que tudo o que passei ali com Carlos foi mágico, foi bonito, foi revelador. Ver a versão dele das coisas, entender seus sentimentos através daquelas páginas cheias de amor e vulnerabilidade... foi uma das experiências mais intensas da minha vida. Mas a verdade nua e crua era que eu estava com meu coração completamente dilacerado, feito em pedaços como um vidro estilhaçado.

Eu não tinha condições de simplesmente esquecer tudo, passar uma borracha sobre o trauma e viver uma história de amor com Carlos. Eu não estaria pronto. Eu estava traumatizado, ferido, quebrado por dentro. E eu tinha a plena certeza de que Carlos iria sofrer por causa disso, porque eu iria querer descontar minha raiva nele. Machucar Carlos era tudo o que eu não queria naquele momento.

Me lembrei de uma passagem de "O Pequeno Príncipe" que li uma vez: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". E eu já tinha cativado Carlos, assim como ele me havia cativado. Seria irresponsável da minha parte arrastá-lo para dentro do meu caos emocional só porque eu não queria ficar sozinho.

Sei que minutos atrás eu fiquei na dúvida se essa seria o melhor ou pior acerto da minha vida, mas depois de refletir profundamente, eu pensei: seria um bom acerto. Não porque eu não amasse Carlos, eu o amava profundamente, mas porque como uma pessoa que acabara de ser humilhada, que acabara de conhecer o pior lado da pessoa que achava que amava, estaria pronta para viver uma linda história de amor com Carlos?

A resposta era não.

Infelizmente eu não podia fazer isso com Carlos, e ele precisaria entender. Por mais que ele tivesse dito que não sabia se a gente ia ficar juntos ou não, ou que estaria preparado para qualquer coisa, a verdade é que a gente nunca está realmente preparado para a dor da rejeição. Eu sabia que no fundo Carlos esperava que eu fosse até ele depois de ler o diário, falasse o quanto eu o amava e então a gente teria o nosso final feliz ali mesmo, naquela casa onde havia sido palco dos melhores sexos de nossas vidas.

Mas a verdade era que ainda não era a hora nem o momento. E eu sabia que isso seria uma conversa longa, difícil e dolorosa para nós dois.

Saí do quarto com os olhos marejados, segurando o diário contra meu peito como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Eu sabia que seria uma conversa difícil, talvez uma das mais difíceis da minha vida. Eu amava Carlos - não tinha dúvidas disso. E ele tinha se mostrado ser bem melhor do que eu imaginava. Se antes eu era apaixonado por ele, agora eu era mais ainda depois de ler cada palavra sincera daquelas páginas.

Quando saí do quarto, Carlos estava deitado no sofá da sala, fingindo mexer no celular, mas era óbvio que estava apenas esperando por mim. Assim que me viu, ele se levantou imediatamente e veio até mim. Era visível a tensão que ele sentia ali, o medo e a esperança brigando em seus olhos. Se eu pudesse adivinhar o que se passava na sua cabeça, se pudesse ter a chance de ler o que ele iria escrever em seu diário sobre esse momento, eu seria a pessoa mais feliz do mundo.

— E então? Terminou? — perguntou ele se aproximando, a voz tremendo ligeiramente.

— Carlos, eu te amo muito, muito, muito de verdade — comecei, e as palavras mal saíram da minha boca quando comecei a chorar copiosamente.

— Eu também te amo, Lucas — ele me abraçou forte, me puxou contra seu peito e começou a chorar junto comigo.

Ficamos assim por alguns minutos, dois idiotas apaixonados chorando abraçados na sala, sabendo que algo estava prestes a se quebrar entre nós.

— Carlos, espero que você entenda, mas hoje eu não posso te dar o que você quer — disse entre soluços, me afastando um pouco para olhar em seus olhos — eu não tô pronto. Eu tô com o coração em pedaços e a última coisa que eu quero nesse mundo é ter que te machucar. Eu tô ainda completamente destruído por tudo o que o Luke fez.

Respirei fundo antes de continuar:

— Passar esses momentos com você me fez esquecer de tudo, me fez não pensar em nada ruim, e foi maravilhoso. Mas eu estou com raiva, estou chateado, estou traumatizado. E eu sei que isso de alguma forma vai acabar refletindo no nosso relacionamento. Eu sei que vou descontar em você coisas que não têm nada a ver com você. E eu não quero machucar você. Eu te amo demais pra te fazer sofrer novamente. Por favor, me perdoa por ainda não ser o cara certo pra você.

— Tudo bem — ele falou com uma voz firme que não combinava com as lágrimas escorrendo pelo rosto — você vai voltar pro Luke, né? Você ama ele, sempre amou.

— Carlos, a última coisa que eu faço na minha vida é voltar pro Luke! — disse com veemência — ele morreu pra mim. Eu não quero saber dele, nunca mais. Mas não é fácil... eu tô traumatizado. Eu preciso de um tempo, por favor me dá um tempo. Preciso pensar em tudo, é muita informação pra processar. Eu acabo de te conhecer no íntimo, de saber tudo que passou na sua cabeça, seus sentimentos mais profundos. Eu tô uma bagunça por dentro, e eu sei que vou te machucar, e eu não quero isso. Eu te amo demais pra isso.

Carlos ficou em silêncio por um longo momento, processando minhas palavras. Então, sem dizer nada, ele se virou e foi para o quarto, fechando a porta atrás de si. Não bateu, não trancou com raiva - apenas fechou suavemente, como quem fecha um capítulo doloroso de um livro.

Fiquei ali na sala chorando, pensando em tudo, mas com a plena certeza de que eu tinha feito a coisa certa. Talvez ele não fosse entender ali naquele momento, mas um dia ele iria me entender. E quem sabe, só assim a gente finalmente teria o nosso final feliz.

Voltamos para Natal e a viagem foi envolta em um silêncio pesado e doloroso. Carlos se manteve calado, falou poucas palavras, e eu também tentei não puxar assunto. Cada um perdido em seus próprios pensamentos, processando a dor à sua maneira.

Quando chegamos em casa, ele pediu pra subir, queria ver o Thanos. Eu disse que tudo bem, embora sentisse um aperto imenso no peito. Era como se ali fosse a nossa despedida, nosso adeus para sempre. Mas eu sabia, no fundo da alma, que não seria. A gente tinha muita coisa pra viver ainda, e o tempo - esse grande curador de feridas - iria cuidar de tudo.

Assim que chegamos, o apartamento estava vazio. Carlos brincou com Thanos por alguns minutos, o cachorro pulando animado ao seu redor, alheio à dor que pairava no ar. Depois, chegou o momento da despedida.

Ele se aproximou de mim e me puxou para um abraço que se transformou em um beijo. Um beijo de despedida. Um beijo de "até logo". Um beijo que nunca vou saber descrever completamente, mas sem dúvida foi um dos nossos melhores beijos. Tinha gosto de sal das lágrimas, de amor não correspondido no timing certo, de promessas não feitas mas sentidas.

Carlos era o cara certo pra mim, ele era quem eu amava. Mas eu sabia que estava sendo maduro o suficiente para não cometer mais uma burrice. Eu não iria machucar o homem que me amava só porque eu estava ferido e precisava de alguém.

Sei que muitos podem me julgar por essa decisão, caro leitor. Mas isso pra mim era sinônimo de maturidade. Eu estava com o coração dilacerado, e não estaria pronto para viver o romance que Carlos merecia. Tive que voltar à minha vida, à minha rotina, e tentar me recompor.

Luke simplesmente sumiu da minha vida. Eu não fui atrás, não abri as mensagens que ele mandou nos dias seguintes, simplesmente apaguei a conversa. Nada justificava o que ele havia feito. Nada no mundo justificava aquela violência, aquele surto, aquelas marcas que ainda estavam roxas no meu rosto.

Naquela mesma semana, saí para conversar com Yan. Desabafei, contei tudo que Luke fez, contei sobre o diário do Carlos e minha decisão. Ele me apoiou, disse que eu tinha feito a coisa certa. Mencionou que tinha algumas informações sobre Luke, mas pedi pra ele não me contar. Eu não queria saber de nada da vida dele. Só queria ele longe, bem longe de mim.

E Carlos... bom, esse tempo durou o suficiente para a gente se afastar completamente. Ele continuou seu romance com Raul, e eu optei por não me meter ainda. Carlos precisava de algum tipo de suporte emocional, querendo ou não, e ele também amava Raul de certa forma - embora eu tivesse a plena certeza de que se eu estalasse os dedos, ele estaria aos meus pés.

Mas eu não iria estalar os dedos. Ainda não.

O ano terminou e aquele 2017 foi marcante de várias formas. Sem dúvidas, o surto do Luke e o diário do Carlos foram os eventos que mais marcaram minha vida. Além disso, Camille estava grávida - do meu pai, pelo menos era o que ela falava.

Quando soube da gravidez, lembrei imediatamente daquela vez que transamos. Confrontei ela um dia pra saber se era meu o filho, e ela jurou que era do meu pai. Mas fiquei super com a pulga atrás da orelha. Aquela criança poderia muito bem ser minha, mas eu não tinha coragem de insistir no assunto. Era uma bomba que eu preferia deixar enterrada - pelo menos por enquanto.

2018 começou e eu fiz uma pequena viagem em janeiro. Fui com Matias e passamos 20 dias no Rio de Janeiro, onde aproveitamos muito - muita praia, balada, e pegação rolou solta.

Eu finalmente estava me sentindo bem, ou pelo menos era isso que eu dizia pra mim mesmo. Não que eu não tivesse ficado com ninguém durante aqueles meses depois do surto - pelo contrário, eu estava ficando com muitas pessoas. O que eu havia previsto aconteceu: eu descontava minha raiva e minha dor nas pessoas.

Eu era usuário mais que ativo no Grindr, e sempre saía com algum carinha ou outro. Era como se eu estivesse procurando uma anestesia, um entorpecente emocional que me fizesse esquecer. Para mim, era importante transar com qualquer cara e esquecer Carlos, ou Luke, ou qualquer outra coisa que me machucasse.

Muitas vezes eu nem queria saber o nome do cara, nem criar qualquer tipo de afeto ou conexão. Era sexo mecânico, vazio, sem sentimento. Eu chegava, transava e ia embora. Às vezes nem na minha casa - em motéis baratos, em carros, em banheiros de bares. Qualquer lugar servia para aquele momento de esquecimento temporário.

Aquela foi a vida que levei por meses. No fundo, achei que era o certo, que estava me curando através do sexo casual e sem compromisso. Pela primeira vez me senti uma pessoa verdadeiramente solteira, sem me sentir preso a ninguém. E aquilo me fez bem de certa forma - ou pelo menos era o que eu tentava me convencer.

Mas a verdade, que eu só perceberia muito tempo depois, é que eu não estava me curando. Estava apenas colocando band-aid em feridas que precisavam de pontos. Estava fugindo dos meus sentimentos em vez de processá-los. Cada corpo anônimo que eu tocava era uma tentativa desesperada de não sentir a falta do corpo de Carlos, de não lembrar da violência do corpo de Luke.

O sexo sem nome, sem rosto, sem alma era minha forma de me proteger. Se eu não me conectasse com ninguém, ninguém poderia me machucar de novo. Era uma lógica simples e completamente autodestrutiva.

A viagem com Matias de fato foi muito boa - foram 20 dias intensos onde fiz coisas que jamais imaginaria fazer. Beijei, transei, experimentei. Fui livre de uma forma que nunca tinha sido. Ou pelo menos fingi ser livre enquanto carregava correntes invisíveis de trauma e amor não resolvido.

Quando retornamos, ainda viajei para visitar minha mãe e passei o resto das férias na fazenda onde ela morava com seu novo marido. Aqueles dias de calmaria no campo, longe de tudo e de todos, foram bons para minha alma. Mas mesmo ali, longe da cidade, longe dos aplicativos e da tentação, eu pensava em Carlos. Me perguntava como ele estava, se estava feliz com Raul, se ainda pensava em mim.

Eu sabia a resposta. Claro que ele pensava em mim. Assim como eu pensava nele todos os dias.

E então as aulas voltaram, trazendo com elas o convívio inevitável com Raul novamente.

O primeiro dia de aula foi estranho. Eu cheguei na faculdade com um frio na barriga, sabendo que veria Raul, sabendo que ele era o namorado do homem que eu amava. Quando nossos olhares se cruzaram no corredor, foi como se o tempo parasse por um segundo.

Ele sabia. Eu sabia. Nós dois sabíamos que havia algo não dito pairando no ar entre nós. A pergunta era: quanto tempo até tudo explodir?

Mas essa é uma história para ser contada em outro momento...

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Comentários

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Que capítulo foi esse???!!? LuCar acabou mesmo? Tô sentindo que dessa vez tá tudo muito definitivo.

E se o jeito do Lucas colar o coração partido dele é com porra de outros, quem somos nós para julgar? Pelo menos ele não voltou ao Guto, ou algo pior (Ao Luke)

Mas será que não volta mesmo? Não confio.

E o que vai acontecer pra esse Raul ter tanta evidência nesses últimos parágrafos? Curioso!!!( Tomara que seja a vingança 🤩)

Enfim Lukas, amei o capítulo, de verdade. Você arrasa sempre

Ansioso pro próximo, não demore muito ❤️❤️

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Essa foi a melhor decisão que Lucas poderia tomar nesse momento...A parte triste é a forma como ele lida com seus sentimentos, mas se não for dá forma complicada não é o Lucas. Em relação a Camille já estava esperando essa gravidez, agora é ver se é dele mesmo. Eu eu acho que é, mas aqui torcendo pra não ser.

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