Capítulo 8: Nosso Lar, Nosso Porto
A mudança foi um ritual lento e delicioso de reconstrução. Não foi apenas Fah trazendo suas coisas para minha casa. Foi nós dois, juntos, desmontando a vida dela de solteira e integrando cada fragmento na nossa história compartilhada. Cada caixa de livros que abríamos era uma revelação. Encontrei diários antigos, romances de capas gastas e até alguns contos eróticos que ela mesma havia escondido, um eco divertido dos meus próprios fetiches.
"Esse aqui é bom," ela disse, segurando um livro com uma capa discreta, um rubor mal escondido em seu rosto. "A protagonista tem um caso com o vizinho enquanto o marido viaja a trabalho."
Eu a puxei para o meu colo, no meio das caixas ainda fechadas da sala. "E isso te excitava?" perguntei, sussurrando em seu ouvido.
"Antes de você, sim. Mas era só fantasia. Agora..." Ela se virou e me beijou, um beijo lento e profundo. "Agora eu tenho você para tornar todas as fantasias reais."
Ver seus vestidos coloridos pendurados no meu armário, antes dominado por tons sóbrios de azul e cinza, foi a imagem mais tangible do nosso novo começo. A casa ganhou outra energia, mais leve, mais viva. O sofá, outrora um território de tensão, tornou-se nosso lugar de planejamentos, onde nossas pernas se entrelaçavam enquanto discutíamos o futuro.
A logística financeira foi um alívio mútuo. A decisão de ela entregar o apartamento alugado não foi apenas romântica, foi inteligente. O dinheiro economizado virou uma verba para nossos sonhos. E o primeiro grande sonho foi batizado numa dessas noites no sofá, com uma taça de vinho na mão.
"Precisamos comemorar essa nova fase," eu disse, acariciando o cabelo dela. "Sair da rotina, criar memórias só nossas, longe de tudo e de todos."
Seus olhos brilharam. "Uma viagem! Um destino que tenha a nossa cara. Praia, sol o ano todo... um lugar onde a gente possa ser apenas nós."
Foi quando Pipa entrou na conversa. Alguém havia comentado nas suas redes sociais, e as imagens das falésias douradas contra o mar azul-turquesa foram um feitiço instantâneo.
"Pipa," ela disse o nome como se estivesse provando uma fruta exótica. "Tem praias selvagens, piscinas naturais... e dizem que o pôr do sol é mágico."
A decisão foi tomada na hora. Seria nossa meta para o próximo feriado prolongado. A simples ideia injetou um novo propósito em nossos dias. A expectativa se tornou um personagem extra em nossa rotina. Começamos a criar uma playlist especial para a viagem, com músicas que falavam de mar e liberdade. Fah, em seu novo home office montado no que era meu escritório, pesquisava restaurantes à beira-mar e trilhas ecológicas durante seus intervalos.
Às vezes, no meio da arrumação, ela parava e ficava olhando para a parede, um sorriso nos lábios.
"O que foi?" eu perguntei, interrompendo minha tarefa de montar uma estante nova.
"Estou só imaginando... a gente naquela praia, com a água na cintura, o sol aquecendo nossa pele..." Ela vinha até mim e me abraçava, sussurrando: "Vai ser perfeito."
Aquele período de espera foi tão importante quanto a viagem em si. Era o prelúdio, a construção da ansiedade gostosa que antecede uma grande felicidade. Nossa casa já não era mais apenas um endereço; era o porto de onde zarparíamos para nossa primeira grande aventura como um casal, de verdade, sob o mesmo teto. E cada dia que passava era um passo mais perto de ver aquele sorriso iluminado pelo sol de Pipa.