FORA DO ESQUE [01] ~ SEXO NO CINE REX

Da série FORA DO ESTOQUE
Um conto erótico de Rodrigo
Categoria: Gay
Contém 3275 palavras
Data: 28/10/2025 11:34:20

– Me fode garotão, me comer com força.

– Ta perto de gozar? – Perguntou o moleque enquanto metia seu pau de mais de 20cm em mim,

— Você é muito gostoso – Falei gemendo de prazer, e então ele deu um tapa na minha bunda.

– Você gosta de pica de novinho nesse rabão?

– Adoro, sou viciado, você é um tesão, não tirei os olhos de você desde que entrei no cine.

– Sei reconhecer um puto faminto por pica de longe.

– Caralho vou gozar — Falei gemendo enquanto sentia o moleque me penetrando, e eu tocava uma punheta desesperadamente.

– Goza logo que tenho que ir embora.

E então gozei gritando de prazer, enquanto um moleque com seus 20 e poucos anos me fodia ali naquela cabine privativa de um cinema para adultos que eu frequentava no centro da cidade, a cabine cheirava a desinfetante de pinho sol e desespero.

Meu nome é Rodrigo Linhares. Tenho trinta e oito anos. E esta é a história de como um homem com quase 40 anos e tem uma certa estabilidade; carteira de trabalho em dia, apartamento próprio em Capim Macio, carro e trabalho na gerência de uma rede respeitável de supermercados, consegue se transformar em alguém que paga quarenta reais para tocar em corpos que não o desejam.

Três anos de divórcio. Aquele número carrega um peso que nenhuma matemática consegue descrever. O casamento não foi ruim no sentido que as pessoas entendem. Não havia agressão, não havia infidelidade confrontada, não havia aquele tipo de drama que justifica tudo nos relatos de bar. O casamento era apenas... morno. Uma temperatura constante de adequação. Eu sabia que era gay desde a adolescência, e mesmo assim casei com uma mulher aos vinte e dois. Tive casos com homens ao longo dos anos, rápidos, furtivos, aqueles que você limpa depois como se estivesse limpando uma mancha de café. Mas nada que ameaçasse a estrutura.

Quando saí do casamento, achei que tinha ganhado a loteria. Salário bom. Emprego estável. Liberdade. Finalmente poderia ser quem era. Finalmente poderia procurar homens sem culpa, sem aquele sussurro interno que diz que você está traindo alguém.

Excepto que a realidade não funciona assim, a realidade funciona com corpos. Com padrões. Com essa equação silenciosa que a comunidade gay nunca verbaliza mas que todos conhecem desde o primeiro aplicativo: você precisa parecer de uma forma específica para ser desejado. Não apenas bonito. Precisa ser o tipo específico de bonito. Sarado. Jovem. Sem gordura. Sem cicatrizes de verdade.

Eu tinha engordado durante o casamento. Sabe aquele tipo de ganho de peso que vem da indiferença? Que vem de comer porque a comida não nega você, não te rejeita? Vinte quilos, talvez trinta. Começou com pequenos desvios, um salgado no trabalho, um refrigerante porque estava quente, e depois virou rotina. Virou a forma como eu lidei com a mornidão. Virou como eu preenchia o vazio que o casamento não preenchia.

Quando finalmente fiquei solteiro, achei que poderia sair para as baladas em Recife ou João Pessoa, ficar com alguém, viver aquela vida que me foi negada. E saí mesmo. Visitei bares, danceterias, aqueles lugares onde corpos jovens e firmes se movem como se pertencessem ao mundo. Ninguém me olhou, não é exageração. Ninguém realmente me olhou. Eu era invisível com a consistência de um fantasma. E pior: eu não era invisível de forma honrada. Eu era invisível de forma específica, aquele tipo de homem que ninguém quer reconhecer porque reconhecer significaria admitir que existem pessoas que não encaixam na coreografia. Aquilo me comeu vivo. Literalmente, em vez de malhar, em vez de fazer dieta, em vez de lutar pela aceitação do meu corpo, eu comi mais. Hambúrguer à noite. Doces. Chocolate. Refrigerante sem fim. Porque a comida é a única coisa que não te rejeita. A comida nunca te diz que você não é o tipo. A comida nunca vira e olha para outra pessoa enquanto você está falando. A comida não tem padrões. A comida apenas preenche.

E enquanto eu comia, eu engordava mais. E enquanto eu engordava mais, eu tinha menos chance de ser desejado. Então comia mais. Era um ciclo tão perfeito, tão lógico, que quase parecia inevitável. Como se estivesse predestinado.

Cento e vinte quilos em um corpo de um metro oitenta e um. Não era obeso—aquela era a piada que eu fazia para mim mesmo. Não era obeso, apenas fora do padrão. Apenas inadequado. Apenas demais e pouco ao mesmo tempo.

Foi quando descobri o Cinema Rex, o Cinema Rex não era lugar para homens que querem ser desejados. Era lugar para homens que querem deixar de contar. Era lugar para gordos, para velhos, para aqueles com cicatrizes que não são sexy, para homens que em uma balada normal seriam invisíveis, mas aqui, aqui no Cinema Rex, havia uma moeda de troca.

Havia corpos que você poderia tocar se pagasse, havia rapazes que precisavam de dinheiro e tinham corpos que a genética tinha sido generosa em oferecer. Rapazes como Lucas Gabriel (Nunca trocamos nomes, lá na frente vocês vão saber porque eu sei o nome dele), que chegou naquela sala enquanto eu assistia um filme pornô que passava na TV de tubo, com aquele olhar que sugeria que já tinha feito aquilo centenas de vezes. Com aquele corpo escultural que eu nunca teria. Com aquele desinteresse que era tão honesto que quase era libertador.

Porque no Cinema Rex, você não precisava fingir que havia romance. Você não precisava imaginar que aquele corpo o desejava. Tudo era transação. Tudo era claro. E aquela clareza era a coisa mais próxima da verdade que eu conseguia encontrar.

Lucas se ofereceu para mim, falou o seu valor R$ 40 reais, e iria me fazer gozar, esse era o combinado, ele estava com o seu para fora, 20cm ou mais, era reto, grosso na medida, ele tinha uma barba que deixava com ar de cafajeste, eu sabia que se não fosse para a cabine reservada com ele, logo um outro velho, ou um outro cara iria pagar pelos seus serviço, e então eu fui, fomos para a cabine, tiramos a roupa, e de forma mecânica comecei a chupar o pau de Lucas, engoli tudo, cada centímetro, cada pedaço, chupava as bolas, passava a lingua na sua cabeça, chupava como se fosse um picolé, e eu tocava no seu corpo, e ao mesmo tempo tocava uma punheta no meu proprio pau de 17cm grosso. E então naquela cama suja, que milhares de homens passaram por ali, eu fquei de quatro, o moloque colocou uma camisinha em seu pau e me penetrou com força, de forma mecanica, de um jeito que ele iria me dar prazer, mas não iria sentir prazer, pq ele estava ali por um motivo, dinheiro em troca de pau, atender os desesperos de pessoas como eu que buscavam um sexo para “relaxar”.

Meu corpo conhece o ritual. Os dedos encontram a cicatriz que ninguém vê. Os joelhos se dobram de um jeito que a voz não precisa gritar. E então, depois de alguns minutos que pareciam feitos de borracha e eternidade comprimida, aquilo terminou. Ele se afastou. Eu me afastei. Eu paguei e entreguei uma nota de 50 reais, disse que não precisava de troco, que ele tinha sido bom, ele pegou, colocou o dinheiro na capinha do celular, vestiu somente a bermuda e saiu talvez em buscar de mais clientes disposto a pagar por migalhas de sexo..

Aquilo foi em agosto de 2022, numa quinta-feira à noite, e enquanto eu voltava para casa no meu carro me sentia sujo, por estar em lugar sujo, por ter feito sexo com um completo desconhecido, por me submeter a locais insalubres, porque era o único canto que eu iria conseguir um sexo rápido e fácil, mesmo que tinha sido pagando. E então comecei a pensar em outras coisas. Sobre o garoto. Sobre o porquê. Sobre como alguém tão novo já tinha aprendido a dissociar o corpo da alma com tamanha perfeição. E porque, mais importante que tudo isso, o meu corpo tinha respondido como se aquilo fosse algo estranho.

***

Segunda-feira. Supermercado Louds, o lugar cheira diferente quando você está sóbrio. Cheirava a desinfetante, sim, aquele cheiro sintético de produto de limpeza que promete morte aos micro-organismos e vida aos sonhos comerciais. Mas também há camadas embaixo. Pão fresco da padaria. Ar-condicionado que trabalha demais para manter a temperatura da fritura. Carne descongelando nos freezers. E embaixo de tudo, como um baixo contínuo em uma música que você apenas consegue sentir nas costelas: o cheiro de gente. De gente que trabalha, que compra, que existe.

— Chefe! Chefe!—uma voz aguda cortou o zumbido dos fluorescentes.

Billy chegava patinando. Não andava. Patinava. Havia feito isso desde o seu primeiro dia, quatro meses atrás, quando o RH havia cometido o crime de contratá-lo. Ou talvez não fosse crime. Talvez fosse o ato mais correto que alguém já tivesse feito naquele lugar. Billy era gay assumido, não era uma possibilidade, era uma realidade que ocupava espaço, que tinha som, que se movia pelo supermercado como se possuísse o lugar.

Ele usava os patins “Barbie” rosa chiclete com detalhes em glitter. Em um supermercado onde todos fingiam normalidade com a consistência de pessoas treinadas em manuais corporativos, Billy era uma afronta. Uma afronta alegre, afastada, que você poderia amar ou odiar, mas não ignorar.

— Oi, Billy— eu disse, e meu rosto fez aquela coisa que faz quando você precisa parecer gerencial. Ele chegou mais perto, e aquele movimento de patinador lhe dava uma leveza que eu não possuía. Nunca tive leveza. Isso é para os vivos.

— Os caixas estão sem troco — eu continuei.— Preciso que você leve dinheiro novo hoje. E Billy...

— Sim senhor, irei agora mesmo — ele respondeu, e disse em seguida. — Você deveria colocar uma Anitta e uma Joelma na playlist. Algo com ritmo, animação, porque a música de supermercado é uma afronta à criatividade humana.

Ele pegou o malote de dinheiro das minhas mãos em movimento fluido, aquele mesmo movimento que usava para tudo, trabalho, conversa, existência. Em outro universo, eu teria rido. Deveria ter rido. Aquele era o tipo de pessoa que tornava as coisas mais leves. Eu era o tipo que as tornava mais pesadas.

— Valeu, Billy —eu disse, e ele já estava patinando pela sessão de laticinios, cantarolando algo que eu não conseguia identificar, aquele tom irreverente que sugeria que o mundo era um lugar para se dançar através dele.

Fiquei olhando para ele enquanto se movia entre as prateleiras. Eu tinha inveja dele. Inveja de uma forma que não era agressiva, apenas profunda. Inveja de quem consegue ocupar espaço sem pedir permissão. Inveja de alguém que aos vinte e dois anos já havia resolvido uma equação que eu aos trinta e oito ainda não conseguia decodificar: como não morrer de verdade enquanto está vivo.

***

Na minha sala, eu tinha acesso ao sistema de câmeras de segurança do supermercado. Era supostamente para observar movimento, funcionários, clientes, perda de estoque, agressões, aquele tipo de coisa que faz as companhias de seguro enviarem e-mails. Na prática, aquele sistema era meu portal. Meu lugar de observação. Aquele era um privilégio silencioso de gerente: você poderia observar. Você tinha direito.

Segunda-feira à tarde. O RH tinha mandado uma leva de novos funcionários para as contrações de agosto. Cinco pessoas ao total, e eu precisava fazer o discurso que conhecia de cor: bem-vindo à família Louds, nossa missão é servir com excelência, seguir protocolos, usar o uniforme corretamente, pontualidade é respeito. A verdade é que nenhum deles estava escutando. Estavam assustados. Queriam apenas saber onde era o banheiro e quanto era o salário, ele estava entre eles, Lucas Gabriel. 19 anos. Aquele mesmo olhar marrento que eu tinha tocado no escuro do Cinema Rex. Aquele mesmo tom de pele jambo. Aquele mesmo corpo que estava ali, agora, em luz fluorescente, usando uniforme azul escuro que não lhe pertencia.

Nossos olhos se cruzaram quando ele entrou na sala. Não foi um momento cinematográfico. Foi rápido. Tão rápido que eu não tenho certeza se ele me reconheceu ou se apenas sentiu o peso de alguém observando. Eu não desviei o olhar porque desviar teria sido confirmar culpa. Então continuei falando sobre políticas de uniforme enquanto internamente aquele circuito do meu cérebro que teoricamente estava funcionando começava a queimar.

Ele reconhecia ou não? Aquela era a questão que ia me matar nas próximas semanas.

Continuei com a palestra. Mostrei onde eram os banheiros, os vestiários, onde assinavam o ponto. Expliquei sobre o sistema de controle de frequência, o vale-refeição, o uniforme que precisava estar sempre limpo e bem engomado. Disse que qualquer dano ao patrimônio da empresa seria descontado do salário. Que roubo era motivo para demissão imediata. Que se tivessem dúvidas, procurassem o RH ou a supervisora de cada setor. Falei tudo aquilo no tom que os gerentes usam: amigável mas distante, como um professor que não quer que seus alunos pensem que pode ser seu amigo.

Lucas permaneceu em silêncio durante toda a apresentação. Os outros faziam perguntas idiotas "qual é o horário do intervalo?" mas ele apenas olhava. Observava as coisas. Absorvia. E algumas vezes, quando eu falava sobre regras, eu tinha a impressão de que ele estava sorrindo internamente, como se aquelas palavras sobre disciplina e respeito o tocassem como uma piada particular.

Quando terminei, distribuí os crachás a todos. Quando coloquei o dele nas mãos dele, nossos dedos quase se tocaram. Quase. Ele pegou o crachá e saiu com os outros, e eu fiquei lá, em pé, naquela sala de treinamento que cheirava a café ruim e desinfetante, tentando fazer meu coração parar de fazer aquele barulho que faz quando você sabe que cometeu um erro que ainda nem começou.

Terça-feira de manhã. Meu primeiro ato foi ir até a sala de vigilância do escritório, aquele espaço que ninguém mais usava além de mim. Liguei os monitores. 50 telas mostrando diferentes ângulos do supermercado. E então, Lucas Gabriel no turno da manhã, organizando as prateleiras de congelados.

Ele usava o uniforme corretamente. O crachá pendurado no peito. Cabelo perfeitamente no lugar. Mas havia ainda aquela indolência no andar, aquela qualidade de quem não havia aprendido a se preocupar com velocidade. Puxava as caixas de produto congelado—[, pizzas, picaretas de sorvete, alimentos pré-prontos, e colocava nas prateleiras com o ritmo de alguém que conhecia aquele trabalho já. Como se não fosse seu primeiro dia. Como se já tivesse feito isso em outros supermercados, em outras cidades, em outra vida.

Eu não reconheci nele completamente o garoto do cinema. Ou reconheci e não reconheci simultaneamente, aquele tipo de dissonância que o cérebro cria quando está protegendo você de informações que você não está pronto para processar. Naquele cinema, eu era um corpo sem rosto. Um cliente anônimo. Naquela prateleira de refrigerador, ele era um funcionário novo que eu poderia conversar com formalidade corporativa se necessário. Dois homens que não se conhecem.

Mas eu sabia. Aquele olhar marrento mesmo através das câmeras embaçadas. Aquele tom de pele. Aquela forma de se mover como se não tivesse sido convidado para existir em nenhum lugar. Tudo aquilo era uma assinatura que meu corpo reconhecia antes do meu cérebro conseguir processar.

Eu deveria ter desligado aqueles monitores naquele momento. Teria sido o ato correto. Teria sido aquilo que uma pessoa honesta faria. Mas honestidade é um luxo que apenas os vivos conseguem permitir-se, e eu estava apenas passando.

Durante as próximas três horas, a câmera no meu escritório nunca desviou de Lucas Gabriel. Fiz aquilo na suavidade de alguém que pensa que ninguém está vendo. Fiz aquilo como quem coleciona informações, momentos, fragmentos de um corpo que já havia tocado o meu e agora estava tocando pizza congelada e alface americano.

Eu tinha um nome para aquilo, mas o nome era feio demais para dizer em voz alta. Era obsessão. Era fetichização. Era a verificação paranóica de alguém que está começando a suspeitar que a linha entre desejo e perigo é muito mais fina do que as pessoas admitem.

***

— Chefe, você tá com aquele rosto estranho —Billy entrou no escritório sem bater, como sempre fazia.

Eu estava olhando para a câmera que mostrava Lucas dobrando camisetas na seção de roupas de cama. Desliguei rápido.

— Qual rosto?—eu disse, aquele tom que os gerentes usam quando tentam parecer ocupado.

— Aquele rosto de gay que viu alguém bonito —Billy se sentou na cadeira na minha frente, patins e tudo, balançando as pernas.— Você fica com aquele olhar diferente. Tipo, você some. Desaparece daqui.

— Estou bem, Billy.

— Tá sim, claro—ele fez aquele som que faz quando acha algo muito óbvio.—É o novo? O Lucas? Que chegou segunda?

Meu corpo inteiro ficou tenso. Aquela era a velocidade com que Billy enxergava as coisas.

— Não é nada—eu tentei, mas a negação saiu fraca demais.

— Rodrigo, querido, você tem vinte quilos a mais que deveria ter e o rapaz tem tipo... dezenove? Vinte? E você acha que ele vai olhar pra você assim?—Billy apontou para mim com a mão aberta, aquele gesto afeminado que ele usava para tudo.—Você é o chefe. Ele é novo. Isso é tipo uma equação que não funciona, entende?

— Ele tem 19 — eu disse, sem pensar.

— Ah, então você já perguntou a idade! Melhor ainda—Billy se inclinou para frente, aquele sorriso malicioso que sugeria que ele sabia de coisas que eu não tinha nem ideia que ele sabia.— Chefe, você tá fixado. E isso é arriscado porque você é o gerente e ele é funcionário novo. As pessoas aqui adoram um fuxico. Adoram.

Eu não respondi nada. Billy ficou observando meu rosto, aquele olhar de quem vê tudo e acha divertido demais para guardar segredo.

— Você precisa parar de fantasiar com gente que deveria estar em universidade, não aqui organizando prateleira— Billy se levantou, ajustou um dos patins.—Tipo, existe gente na sua idade que quer gente na sua idade, sabe? Grindr tem um monte de opção.

— Não é assim, Billy.

— Não, é sim. É exatamente assim—ele foi em direção à porta, depois parou.—Só não faz nada burro, chefe. Você é legal demais pra virar aquele gerente que assedia junior de supermercado. Isso era ruim até pra você.

Ele saiu patinando, cantarolando algo que não consegui identificar, deixando aquele silêncio que ele sempre deixava, aquele silêncio que significava que ele tinha dito exatamente o que precisava dizer e não havia mais nada a adicionar.

***

Eu o vi novamente em uma quinta-feira. Naquela semana, tinha vindo ao trabalho, deixado Billy fazer seu trabalho, deixado Lucas fazer o dele, e fingido que aquela câmera não estava vendo nada. Que meu coração não estava fazendo aquele barulho que faz quando você identifica a pessoa que vai mudar tudo.

Dessa vez, Lucas me viu. Ou achou que me viu. Ou fingiu que me viu. Nossos olhos se tocaram na seção de congelados, durante aquele momento que as câmeras não capturam, aquele momento entre as luzes fluorescentes e o zumbido infinito das máquinas de frio. Seu olhar tinha a mesma qualidade do cinema, reconhecimento sem confirmação, desejo sem promessa.

Ele sorriu. Um sorriso pequeno. Um sorriso que poderia significar tudo ou nada. E depois continuou trabalhando, como se aquele sorriso não tivesse virado meu mundo de cabeça para baixo.

Billy tinha razão. Eu precisava de algo mais real. Mas aquele era o problema: quanto mais viva a coisa que você deseja, mais terrível a verdade de que você não merecia estar vivo o suficiente para possuí-la.

Naquele sorriso dele, porém, pela primeira vez em anos, começava a parecer que talvez eu estivesse errado, e então eu pensei se eu for no cine rex mais tarde será que o Lucas estaria lá.

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