Depois daquela visita ao escritório da Valentina, onde vi o quadro mais lindo que já tinha visto, segui minha vida normalmente. Não comentei nada com a Donna e comecei a enxergar a frieza da Valentina de outra forma. Agora entendia por que ela agia daquela maneira comigo e também compreendia o motivo pelo qual a Alexia sempre evitava um contato maior. Nunca toquei no assunto com ela para tentar descobrir algo e também não procurei saber nada com a Donna. Algumas coisas é melhor deixar como estão.
O tempo passou e comecei a gostar ainda mais da Donna. Nossa sintonia, tanto na cama quanto fora dela, era ótima. Pela primeira vez, pensei que finalmente poderia amar alguém. No entanto, no último mês, percebi que ela parecia um pouco menos animada com nosso namoro. Cheguei a perguntar se eu tinha feito algo de errado, já que ela parecia mais fria. Ela respondeu que eu não tinha feito nada de errado e que provavelmente estava apenas cansada mentalmente.
Isso fazia sentido, pois nos dois últimos meses houve duas exposições de esculturas consecutivas de artistas renomados. O movimento na área em que trabalhávamos aumentou consideravelmente. Até eu estava trabalhando mais, mas a responsabilidade da Donna era muito maior, e com certeza isso cansa mentalmente. Ela se desculpou e disse que iria se esforçar mais para manter a dinâmica anterior. Eu a tranquilizei, dizendo que não havia necessidade disso, que só perguntei porque notei as mudanças, e que se era cansaço, era totalmente compreensível, estava tudo bem.
Falei para ela que nunca tinha namorado e que estava aprendendo a ter um relacionamento de verdade com ela, mas também entendia que talvez a relação não fosse do agrado dela. Se isso acontecesse, ela poderia me falar, até mesmo se quisesse terminar ou desfazer nosso acordo. Não teria problema algum. Eu poderia voltar para casa ou procurar outro lugar para morar. Ela ficou um pouco irritada, disse que isso nunca passou pela cabeça dela e que estava adorando ter eu ali no apartamento e ao lado dela. Expliquei que só queria deixar as coisas claras, para que ela não achasse que tinha que ficar comigo ou me deixar viver ali por obrigação. Era só isso, que eu estava amando viver ali e nosso namoro.
Depois dessa conversa, as coisas voltaram ao normal por alguns dias, mas não durou muito. No fundo, eu entendia que ela estava cansada.
Meus estudos continuavam na mesma. As aulas eram chatas, exceto a prática, que era onde eu usava meus pincéis. Já estávamos próximos das férias de meio de ano e eu estava no último mês de provas. Queria passar um tempo com minha mãe; as férias seriam a oportunidade perfeita, mas tinha meu trabalho. O pior é que eu havia renovado meu contrato há menos de 15 dias. Seria bem difícil conseguir, nem que fosse uma semana, para passar com minha mãe.
Sentia muita falta da minha mãe, mesmo vendo-a uma vez por mês. Ela fazia falta. Sentia falta da Milene também; eu tinha me apegado a ela na época em que moramos juntas. Por falar em Milene, seu livro foi muito bem vendido e ainda estava vendendo bastante. Fui ao lançamento e a Donna foi comigo. Tinha muita gente, a maioria mulheres. Donna também adorou o livro e até falou com a Valentina sobre vendermos alguns na galeria. Valentina concordou e ainda comprou cinco exemplares para ela; provavelmente daria os outros para suas amigas e para a namorada.
Esse namoro também era algo que achava estranho. A Geovanna ia à galeria algumas vezes e eu nunca vi as duas em um momento mais íntimo. Tudo bem que era um namoro escondido, mas mesmo assim, elas não davam bandeira nenhuma. Ou se disfarçavam muito bem, ou havia algo de errado.
Conversei com a Donna sobre minha vontade de passar uns dias com minha mãe e ela disse que tentaria conseguir uns dias para mim com a Valentina. Eu disse que não precisava fazer isso, que tinha acabado de renovar meu contrato e não queria arrumar problemas para mim e nem para ela. Poderia deixar isso para lá; no fim do ano, eu poderia ficar um mês com minha mãe, já que teria férias dos estudos e do trabalho. Ela me tranquilizou, dizendo que não iria colocar meu trabalho em risco.
Fiz minhas últimas provas e sabia que teria ótimas notas, pois foram bem fáceis. Também recebi muitos elogios do meu professor de pintura prática. Ele disse que eu tinha muito talento e que com certeza faria muito sucesso no futuro. Fiquei muito feliz em ouvir aquilo; acho que nunca tinha recebido um elogio daquele de alguém que realmente entende do assunto. Ninguém tinha visto minhas pinturas e, na França, eu ainda era muito inexperiente. Minhas pinturas evoluíram muito nesses anos. Agradeci e disse que torcia para que ele estivesse certo.
Fiz todas as minhas provas e não voltei mais à faculdade; pegaria os resultados online. Trabalhei os últimos três dias da semana e avisei a Donna que não iria trabalhar no sábado. Decidi viajar na sexta à noite para a casa da minha mãe. Donna foi super compreensiva e me liberou mais cedo na sexta para eu viajar. Fiquei muito feliz, pois teria uma noite a mais para dormir na minha cama.
Consegui sair de São Paulo um pouco antes das cinco da tarde e cheguei à casa da minha mãe um pouco antes das nove da noite. Era ótimo estar em casa, sentir o abraço da minha mãe e ver o sorriso contagiante da Milene novamente. Ainda tive sorte de chegar quando elas estavam jantando e pude aproveitar a comida quentinha da minha mãe.
Passei o sábado todo em casa, nem fui à praia, queria aproveitar para colocar a conversa em dia. Milene me contou que estava escrevendo um novo livro e minha mãe disse que a Milena tinha pedido para eu passar no escritório da empresa para conversar comigo. Perguntei o que era, e minha mãe respondeu que não era nada sério; ela só queria saber como eu estava, basicamente conversar. Falei que tentaria ir na segunda de manhã, mas que precisaria falar com a Donna para ver se ela me liberava.
À noite, liguei para a Donna para conversar um pouco com ela, já que estava com saudades. Mas ela foi mais rápida e me ligou antes, dando uma ótima notícia. Disse que, apesar dos meus protestos, falou com a Valentina e conseguiu adiantar 20 dias das minhas férias, então eu poderia ficar esses dias com minha mãe. No entanto, no final do ano, eu teria apenas 10 dias. Eu disse que não tinha problema e perguntei se a Valentina não tinha ficado chateada. Ela respondeu que não, que foi tudo tranquilo. Agradeci e a convidei para vir em um final de semana para ficar comigo. Ela disse que iria fazer o possível e depois me avisava.
Era realmente uma ótima notícia: passae vinte dias com minha mãe seria muito bom. Eu poderia recarregar minhas energias e aproveitar os melhores carinhos do mundo. Teria a oportunidade de pintar no meu ateliê e ver a Milena com calma. Com certeza aproveitaria esses vinte dias da melhor forma possível.
E foi assim que fiz. Já na primeira semana, fui ver a Milena. Ela só queria conversar e perguntar se eu estava precisando de algo. Acho que ela queria me mostrar que estava fazendo seu trabalho direitinho. Foi bom revê-la e conversar com ela por um tempo.
Dei uma bela faxina no meu ateliê e acabei nem pintando nada. Queria passar mais tempo junto com minha mãe e conversar bastante com ela. Em uma dessas conversas, ela perguntou se eu já tinha contado a verdade para a Donna. Eu disse que não, mas que já estava na hora. Já tinha mais de seis meses que estávamos morando juntas e não havia mais motivos para esconder que eu era de família rica e tinha muito dinheiro. Tenho certeza de que ela entenderia e que isso não mudaria nada na nossa relação. Eu faria isso assim que voltasse.
Tudo estava indo bem até chegar sexta à noite. Liguei para a Donna e ela não atendeu. Achei estranho, mas ela poderia estar ocupada. Mais tarde, ela mandou uma mensagem, que eu só fui ver na manhã do dia seguinte. Ela explicou que não atendeu porque estava em uma reunião de emergência na galeria, que acabou tarde e que chegou em casa cansada, por isso não retornou. Respondi que tudo bem e disse que à noite a gente conversava.
Fui levantar para tomar café e vi que a Milene estava conversando com minha mãe. Ela precisava ir a São Paulo para resolver alguns problemas, e as duas estavam combinando em que dia seria melhor para minha mãe levar a Milene. Apesar de minha mãe não ter obrigação de entregar suas encomendas todos os dias, ela levava o trabalho a sério e disse que só poderia ir na quarta da outra semana. Mas comentou que a Milene poderia ir com o carro dela. A Milene disse que não gostava de viajar sozinha, então preferia esperar minha mãe.
Foi quando perguntei à Milene se eu não servia para ir com ela; se servisse, poderíamos ir naquele momento ou na segunda de manhã.
A Milene olhou para o relógio e disse que eu servia sim. Se eu pudesse, poderia ser naquele instante, pois daria para chegarmos antes das dez e, até às quinze horas, no máximo, ela teria resolvido tudo. Eu disse para ela se arrumar que eu faria o mesmo. Rapidinho, estávamos nos despedindo de minha mãe e partindo para São Paulo.
Chegamos depois das dez, levei a Milene até uma agência dos correios e a esperei por quase uma hora. Depois seguimos até a editora que publicou o livro dela. Ela desceu e disse que iria demorar bastante; se eu quisesse ir almoçar, poderia ir sem ela. Eu disse que iria ao apartamento da Donna, fazer um lanche e pegar algumas roupas do dia a dia que estavam fazendo falta. Provavelmente, eu levaria uma hora e meia. Depois eu voltaria para buscá-la e passaríamos na galeria, caso a Donna não tivesse parado mais cedo naquele sábado. Ela disse para eu ficar tranquila e que, se saísse antes, me esperaria.
Saí e fui direto para o apartamento. Pensei em ligar para a Donna, mas se ela estivesse no trabalho, a chance de eu atrapalhar era grande. Resolvi não ligar; se ela não estivesse no apartamento, eu mandaria uma mensagem dizendo que estava na cidade e que passaria na galeria para vê-la.
Quando cheguei no prédio, fui direto para o estacionamento. Ao estacionar, vi o carro da Donna na sua vaga. Estacionei ao lado; na vaga onde eu usava para estacionar o meu carro. Se o carro estava ali, ela provavelmente estava no apartamento. Subi as escadas, passei pela portaria e fui direto ao elevador. Quando cheguei à porta, tentei abrir, mas estava trancada. Peguei minha chave, abri e entrei.
Assim que olhei na sala, percebi que havia algo errado. Havia uma garrafa de vinho na mesinha de centro, um copo vazio e outro com um resto de vinho. Antes mesmo de pensar em besteira, ouvi um gemido estranho. Parecia alguém gemendo com a mão na boca. Ali, tive a certeza de que algo estava errado; eu já imaginava o que era. Poderia ter voltado dali mesmo; eu sabia o que estava acontecendo, mas queria ver com meus próprios olhos para não deixar margens para dúvidas.
Segui até o quarto onde dormíamos e a porta estava parcialmente aberta. Quando olhei, vi uma cena que nunca mais vou esquecer. A Donna estava de quatro na cama com uma mordaça segurando uma bola vermelha na boca. Uma coleira preta no pescoço e, na ponta da corda de couro trançada que estava ligada a coleira, estava a Valentina. Ela segurava a corda e puxava enquanto fodia minha namorada, usando um pênis de borracha preto, bem grande, por sinal. Ele era sustentado na cintura por uma cinta vermelha que eu ainda não conhecia. Provavelmente, aquela cinta e os outros apetrechos eram apenas para as visitas.
Fui me virar rápido para sair e acabei batendo meu ombro no batente da porta, a dor me fez soltar um pequeno grito. Porém, provavelmente, elas não ouviram, pois os gemidos da Donna, apesar de abafados pela bola na boca, eram altos. Sai do apartamento sem olhar para trás; sinceramente, não sabia nem o que sentir naquele momento. Fui embora direto para o estacionamento, liguei o carro e saí dali para nunca mais voltar, nem sequer para pegar minhas roupas. Por mim, a Donna poderia jogar tudo fora; não me faria falta alguma.
Voltei até a porta da editora e fiquei esperando a Milene sair. Enquanto isso, pensava em mil coisas e nada parecia fazer sentido. Mas teria bastante tempo para pensar com calma e tentar entender por que a Donna tinha feito aquilo. Nada faria eu voltar com ela, mas a curiosidade de saber o porquê me consumia por dentro.
Milene demorou a aparecer, não sei exatamente quanto tempo, mas foi mais de uma hora. Assim que entrou no carro, percebeu que eu não estava normal e perguntou o que havia acontecido. Falei toda a verdade e ela ficou de boca aberta. Depois perguntou se eu estava bem e se ofereceu para dirigir. Eu disse que não sabia exatamente como eu estava, mas que bem, com certeza, não era. Então aceitei sua oferta e fui para o banco do passageiro. Assim que me sentei, meu celular tocou; era a Donna. Recusei a ligação, bloqueei o número dela e, só para garantir, desliguei o celular.
A volta para casa passou rápido; eu fiquei revivendo aquela cena e tentando entender o motivo o tempo todo. Nem percebi o tempo passar. Milene mal falou comigo; acho que percebeu que era melhor deixar eu com meus pensamentos.
Quando chegamos em casa, fui direto para o meu quarto e pedi para a Milene contar para minha mãe o que tinha acontecido; eu não queria repetir a história. Disse a ela também para avisar que eu queria ficar sozinha, mas que não se preocupassem, pois eu ficaria bem e no dia seguinte falaria com elas.
Mal consegui dormir naquela noite e, para piorar, acabei chorando por causa da Donna. Não de tristeza, mas de raiva por ela ter me traído. Claro que doía, mas a raiva era maior. Talvez por não amá-la, não doeu tanto, mas eu gostava muito dela e confiei nela. Mas nada é tão ruim que não possa piorar.
Acordei de mau humor, por ter sido traída, por ter dormido pouco e pela TPM que resolveu dar as caras. Eu era um pequeno barril de explosivos descendo para o café, quando a campainha tocou. Olhei para a cozinha e ninguém apareceu. Tocou de novo e, para não xingar aquele barulho dos infernos, fui atender. O risco de ser a Donna não era pequeno; ela não fazia ideia de onde eu morava.
Quando abri o portão pequeno e vi quem era, quase não acreditei. Não era possível que justo aquela pessoa estava ali parada no portão da minha casa.
Continua…
Criação: Forrest_Gump
Revisão: Whisper
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