Sentada na minha cama, após salvar minhas plantas da morte e separar algumas roupas para lavar, comecei a refletir sobre a proposta da Sabrina. Minha decisão foi rápida; não havia muito o que pensar, já que era algo que beneficiaria a nós duas. Eu iria morar com ela, uma mudança que eventualmente aconteceria, então por que não agora?
Com a decisão tomada, comecei a planejar como faria isso. Não conseguiria levar todas as minhas coisas, já que o apartamento da Sabrina tinha tudo o que precisaríamos. Decidi levar apenas minhas roupas, plantas e objetos pessoais. Aproveitei para arrumar algumas coisas enquanto esperava as roupas ficarem prontas para o varal.
Quando terminei de lavar, embalar algumas coisas e dar uma pequena faxina no meu apartamento, já eram mais de 22 horas. Resolvi tomar um banho, comer algo e descansar, pois precisava trabalhar no dia seguinte.
Dormi assim que caí na cama, cansada e já era tarde. No dia seguinte, levantei animada e quase mandei uma mensagem para Sabrina sobre minha decisão, mas achei melhor fazer uma pequena surpresa à tarde. Então, enviei apenas um bom dia e fui trabalhar. O dia parecia se arrastar, e eu mal podia esperar para ir para meu futuro lar. Durante o almoço, recebi uma mensagem da Fernanda e contei para as meninas sobre minha decisão. Elas me apoiaram e ficaram felizes por mim.
Assim que saí do trabalho, fui direto para meu apartamento pegar minhas coisas, mas demorei um pouco porque ainda havia algumas coisas para arrumar. Sabrina, percebendo minha demora, me mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Respondi para acalmá-la e terminei de arrumar tudo antes de ir para o apartamento dela.
Foi bom ver o sorriso no rosto dela quando abri a porta do seu apartamento com parte da minha mudança. Ela ficou muito feliz quando contei tudo, mas mencionou algo que me preocupou; a mãe dela havia mandado uma mensagem, e isso parecia ter afetado ela. Isso me deixou curiosa e apreensiva.
Depois de guardar minhas coisas, tomei um banho rápido e, ao sair para a sala, vi que o restante das minhas coisas já estava lá. Sentei ao lado de Sabrina, que me entregou o celular para eu ler a mensagem da mãe dela. O texto era longo, e fui lendo com calma, processando tudo. Quando terminei, tinha uma certeza; tudo ali era verdade, era o que fazia sentido para mim.
Devolvi o celular a Sabrina e compartilhei minha opinião sobre o texto, deixando claro que a decisão final era dela, baseada no que sentia. O assunto não rendeu muito, pois Sabrina disse que, mesmo que tudo fosse verdade, ela não conseguiria perdoar a mãe. Eu a entendia; não era algo fácil de perdoar. Contudo, a mensagem poderia ser um bom começo se a mãe realmente quisesse o perdão da filha.
Depois daquela conversa, começamos a arrumar minhas coisas. Sabrina ajudou e disse onde eu poderia colocar cada objeto, roupa ou planta que havia levado. Antes de terminar, comemos uma pizza que ela havia pedido e, após comer, finalizamos a arrumação. Depois, ajudei Sabrina a tomar um banho e acabei tomando outro também. Então, nos deitamos para dormir. Eu estava cansada, e Sabrina notou isso; não tentou nada naquela noite, mas me encheu de beijos e carinho até eu adormecer aninhada em seus braços.
Nossa vida seguiu maravilhosamente bem. A rotina não mudou muito após eu me mudar para seu apartamento, exceto que agora eu ia ao meu antigo apartamento aos domingos para limpar e pegar correspondências. Sabrina sugeriu que eu alugasse o apartamento, mas recusei; não queria vender meus móveis, não tinha onde colocá-los e não queria deixar ninguém usá-los. Preferi deixar meu canto ali, vazio, não que esperasse o pior, mas seria bom ter um lugar para voltar se algo entre nós desse errado.
Nossa medida protetiva saiu, o que nos trouxe mais segurança. Mesmo achando que Hugo estava longe, foi bom conseguir algo a mais para nos proteger. Também recebemos a visita do pai de Hugo no apartamento da Sabrina. Ele foi com meu sogro pedir desculpas pelo que o filho fez, dizendo que estava envergonhado. A princípio, achamos que era apenas para aliviar a barra do filho, mas ele pareceu ser sincero quando disse o quanto estava decepcionado com Hugo. Ele nos contou algo que até então não sabíamos; Hugo não se formou; foi expulso da universidade por agredir um colega. Ele respondeu a um processo no Canadá e só não foi preso porque a mãe gastou uma pequena fortuna com advogados. Ele também nunca trabalhou com o pai e era sustentado pela mãe, que fazia tudo por ele, o que gerava brigas entre o casal. Após o que ocorreu, o pai deu um ultimato à esposa; ou parava de proteger o filho ou se separavam. Ela decidiu não ajudá-lo mais.
O pai de Hugo disse que não sabia onde ele estava e estava preocupado, pois, apesar de não concordar com as atitudes do filho, não deixou de amá-lo. Ao terminar de falar, era evidente a tristeza em seu olhar; senti pena dele pelo que estava passando. Depois que ele se foi, Sabrina disse que nós nos enganamos; ele não veio tentar amenizar o que Hugo fez, ele era apenas um pai arrasado e envergonhado pelo que o filho se tornou. Concordei com ela; ele se sentiu na obrigação de se desculpar, talvez para aliviar sua própria consciência, provavelmente se culpando pelos erros do filho.
A vida seguiu, e Sabrina finalmente foi ao hospital retirar o gesso. Aproveitei para levar os resultados dos meus exames para o médico. Graças a Deus, não havia nada de errado comigo. Saímos de lá animadas, principalmente Sabrina, que não precisaria mais usar o gesso. O médico passou alguns exercícios simples para recuperar totalmente os movimentos da mão. Ela já conseguia mexer o pulso sem dor, embora alguns movimentos da mão ainda estivessem lentos, mas isso voltaria ao normal rapidamente. O corte na testa estava totalmente cicatrizado, quase sem marca, tinha apenas uma pequena cicatriz que poderia ser facilmente coberta com maquiagem. O lindo rosto do meu amor não foi danificado, graças a Deus.
Quando chegamos ao nosso apartamento, Sabrina me chamou para conversar. Ela parecia tensa, e isso me deixou um pouco assustada. Sentamos no sofá, e ela tentou começar a falar, mas desistiu, o que aumentou minha ansiedade. Senti medo de que ela quisesse terminar comigo, era uma ideia maluca pelo o que estávamos vivendo, mas meu passado me deixou insegura. Ela respirou fundo e, nas primeiras frases, comecei a me acalmar.
Sabrina— Amor, quero falar algo. Na verdade, é uma proposta para te ajudar, mas não quero que isso cause uma briga entre nós. Só quero que escute com calma e depois possamos discutir, ok?
Fernanda— Meu Deus, achei que você ia terminar comigo! Quase me mata do susto.
Sabrina— Amor, isso nem passa pela minha cabeça. Eu te amo e estou muito feliz com você; não pense assim.
Fernanda— Desculpe, tenho um trauma com isso, eu sei que preciso trabalhar melhor isso na minha cabeça, mas ainda sou meio insegura. Mas esquece isso. Sobre o que você queria falar?
Sabrina— Acho melhor esquecermos isso mesmo, porque eu até entendo o seu trauma, mas machuca saber que ainda não te passei segurança o suficiente.
Fernanda— Desculpe, por favor. Como disse, eu preciso trabalhar isso melhor. Não me sinto insegura com você; na verdade, você me dá segurança até demais. Não duvido do seu amor, mas infelizmente não consigo controlar meus medos. Não queria sentir isso, mas aconteceu e isso também me machuca. Estou seriamente pensando em procurar um psicólogo para tentar me livrar disso de vez.
Sabrina— Tudo bem, fui um pouco dura com você. Me desculpe também. A propósito, a ideia de ver um psicólogo não é ruim; dou total apoio.
Fernanda— Vou fazer isso. Mas o assunto tomou um rumo que não deveria. Vamos falar sobre o que você começou e eu interrompi por causa dos meus medos bobos.
Sabrina— Não são medos bobos, amor. Te entendo, de verdade. Prometo que falaremos sobre isso depois, eu te ajudo a resolver. Porém agora o que quero discutir é nossa rotina de agora em diante, especialmente sobre a sua, que vai ficar complicada, já que agora posso dirigir e você ficará sem carro para ir trabalhar.
Fernanda— Amor, só vou voltar a fazer o que já fazia antes. Isso não é um problema para mim.
Sabrina— Mas você terá que acordar mais cedo, enfrentar ônibus lotados, chegará mais tarde, não terá a mobilidade que teve esses dias.
Fernanda— Sim, isso é verdade, mas não há o que fazer por enquanto. Quero comprar um carro há algum tempo, mas antes precisava resolver outras prioridades. Hoje tenho um bom salário e poderia financiar um, mas isso geraria uma dívida longa e não tenho dinheiro suficiente para comprar um a vista, ou pelo menos para dar uma entrada e parcelar o restante.
Sabrina— Então, por que não compra um carro usado?
Fernanda— Comprar um barato é arriscado; posso acabar com um carro problemático, e não quero isso. Não tenho dinheiro para um semi-novo, mas estou juntando aos poucos.
Sabrina— Você gostou do meu carro?
Fernanda— Claro, amor, ele é perfeito, mas é muito além do que posso sonhar no momento.
Sabrina— Posso te vender por um bom preço e você me paga aos poucos, de uma forma que não fique difícil.
Fernanda— Espera, você quer me vender seu carro?
Sabrina— Na verdade, queria te dar, mas sei que você não aceitaria, então pensei em vender. Assim, você não se sentiria desconfortável.
Fernanda— Mas e você? Vai ficar sem carro?
Sabrina— Não, já olhei outro para comprar. Quero um carro maior há algum tempo, mas estava esperando juntar uma boa quantia. Tenho dinheiro agora para comprar à vista e ainda sobra. A boate está dando um bom lucro nos finais de semana, então acho que chegou a hora. Como não preciso de dois carros, posso te dar ou vender o que tenho agora.
Fernanda— Você alguma vez achou que eu estava com você por interesse ou por algo além do amor que sentimos?
Sabrina— Não, nunca pensei que você estivesse comigo por algo que não fosse amor.
Fernanda— Então aceito seu carro de presente, mas com algumas condições; agora comprar, eu não posso comprar agora.
Sabrina— Desculpe não entendi direito, você aceita ele de presente? E porque não pode comprar? Você pode pagar como quiser.
Fernanda— Aceito, mas nos meus termos. Sei que você acredita no meu amor, então, se quiser me dar, aceito. Não posso comprar porque, se o fizer, não conseguirei mantê-lo. Seu carro é ótimo, mas gasta muito, o imposto deve ser caro e, se gastar minhas economias, não conseguirei cobrir nossas despesas no apartamento, combustível, prestações, seguro e impostos anualmente.
Sabrina— Faz sentido. Não achei que você aceitaria de graça; sinceramente, fiquei surpresa.
Fernanda— Não será de graça; vou cuidar dele com meu dinheiro e continuar juntando mais dinheiro aos poucos. Quando tiver dinheiro suficiente para comprar um novo, vendo o seu e te dou o dinheiro, ou talvez o compre com o que economizei. Sei que será um valor abaixo do que ele vale hoje, mas sou cuidadosa e você não perderá muito. Se algo acontecer e nos separarmos, eu o devolvo. Não acho que isso acontecerá, mas é uma possibilidade. Se estiver bom para você, topo.
Sabrina— Por mim, ele já é seu. Aceito suas condições.
Fernanda— Combinado, então. Amor, muito obrigada por tentar me ajudar. Nunca vou esquecer disso.
Sabrina— Pensei nisso há algum tempo; você é honesta e trabalhadora, merece ajuda. Mas achei que seria mais complicado.
Fernanda— Não sou complicada, amor, mas entendo seu dilema.
Fiquei muito feliz após aquela conversa. Não era apenas por ter um Corolla para dirigir, mas por saber que ela valorizava meu esforço e enxergava minhas dificuldades. Valorizei muito mais sua vontade de me ajudar do que o carro em si. Ela era perfeita; não podia perder essa mulher, ela era tudo para mim, era minha felicidade!
Continua..
Criação— Forrest_gump
Revisão— Whisper