O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 29

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1697 palavras
Data: 08/09/2025 12:13:50
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ Mente e Maré ✧

(Tiago)

A passagem da montanha era uma garganta de vento e pedra cinzenta, um túnel a céu aberto que parecia esculpido para emboscadas. Rajadas gélidas, nascidas nos picos nevados, açoitavam meu rosto e se infiltravam pelas frestas da minha roupa, mas o frio era uma distração distante. Toda a minha concentração estava canalizada para a ponta dos meus dedos, que pairavam sobre o chão poeirento. Eu tecia uma teia de magia invisível, filamentos de poder que se enraizavam na terra, envolvendo pedras soltas e se enroscando em raízes retorcidas como nervos sencientes.

Mais acima, aninhado na escuridão de uma reentrância rochosa, Lucas era uma silhueta de paciência e aço, a isca perfeita. A visão nos concedera o quando e o onde; restava a nós executar. Senti a chegada de Victor antes que ele se tornasse visível. Não foi um som, mas uma mancha na energia pura do lugar — uma aura pesada de ganância, sangue seco e aço sujo. Ele avançava com a confiança insolente de um predador no topo de sua cadeia, alheio ao fato de que, hoje, ele era a presa.

(Lucas)

Do meu poleiro, eu o vi dobrar a curva do caminho, uma figura recortada contra a luz pálida. Era ele, tal como na visão premonitória: a cicatriz repuxando o canto da boca num esgar perpétuo, e a lâmina longa em sua bainha, que pulsava com um brilho esverdeado e doentio, mesmo sob o couro. Meu coração não apenas martelava; ele batia um ritmo de guerra contra minhas costelas, um tambor anunciando a violência iminente. Apertei o punho da minha espada, o couro gasto um consolo familiar contra a pele suada da minha palma.

No instante em que a bota de Victor pisou no epicentro da armadilha de Tiago, executei um movimento deliberado, deslocando uma pequena pedra com o pé. O som agudo do cascalho rolando pela encosta foi amplificado pelo silêncio. Seus olhos de falcão, frios e calculistas, cravaram-se em mim instantaneamente. Um sorriso cruel, desprovido de qualquer alegria, rasgou seu rosto.

“Finalmente”, ele rosnou, a voz um cascalho arrastado. “O Guardião de quinta categoria e o leitão do Escolhido. A recompensa por suas cabeças vai me render um castelo.”

(Tiago)

No segundo em que o foco de Victor se cravou em Lucas, fechei meu punho com força. “Agora”, murmurei para a terra, e como uma serva leal, ela obedeceu. As gavinhas de magia que eu semeava explodiram em vida. Raízes grossas como braços irromperam do solo, chicoteando o ar antes de se enrolarem nas pernas de Victor com a força esmagadora de anacondas. Ele urrou, um som misto de surpresa e fúria, caindo de joelhos com um baque surdo. Mas sua força era animalesca.

Com um rugido gutural que ecoou pela passagem, sua lâmina venenosa desceu num arco sibilante, partindo as raízes mais grossas com uma facilidade assustadora. Um braço estava livre. A armadilha o atrasara, o desequilibrara, mas não o conteria por muito tempo. Era o suficiente. Como uma avalanche humana, Lucas já descia a encosta, sua espada um traço de mercúrio sob o sol anêmico. O verdadeiro confronto estava para começar.

(Lucas)

O primeiro choque do nosso aço foi um grito metálico que ricocheteou pelas paredes de pedra. Victor era absurdamente rápido, sua lâmina esverdeada uma serpente dançante em arcos mortais que eu aparava por um triz, sentindo o veneno zumbir no ar perto do meu rosto. Cada bloqueio enviava um choque doloroso pelos meus braços, um teste à minha resistência. Ele não lutava com honra; era uma criatura de sobrevivência.

Com um movimento rápido do pé, ele chutou um leque de terra e cascalho em meus olhos, e enquanto eu piscava para limpar a visão, o pomo de sua espada se chocou contra minha bochecha. O gosto de sangue encheu minha boca. Senti a ponta de sua adaga arranhar meu antebraço, e uma dor ardente e pulsante se espalhou a partir do corte superficial, um fogo químico correndo sob a pele. Ignorei a queimadura, concentrando-me na dança letal. Vi a abertura quando ele se esticou demais num golpe descendente. Girei sobre o calcanhar, prendendo sua lâmina com a minha em uma cruz de aço, nossos rostos a centímetros de distância. Seu hálito fedia a carne rançosa.

“Sua caçada termina aqui, verme”, sibilei, usando todo o meu peso para empurrá-lo para trás, direto para a segunda fase do nosso plano.

(Tiago)

Enquanto Lucas o ocupava com uma exibição magistral de esgrima, eu me tornava o condutor da tempestade. Minhas mãos se moviam em padrões arcanos, puxando a essência da água de onde ela se escondia. Arranquei a umidade do ar rarefeito, suguei-a das folhas resilientes de pequenos arbustos, e por fim, puxei-a do meu próprio sangue, sentindo uma vertigem fria me percorrer. Entre minhas palmas, uma esfera de água giratória e gelada se formou, condensando-se, encolhendo, até se tornar uma lança de gelo sólida e translúcida, que tremia com poder contido e estalava com o frio do abismo.

“Lucas, agora!”, gritei, minha voz rouca pelo esforço.

Com um grunhido, Lucas o empurrou uma última vez, abrindo a clareira de que eu precisava. Com um berro que rasgou minha garganta, eu atirei. A “Lança de Gelo Abissal” cortou o ar com um assobio agudo e faminto. O impacto não foi um estrondo, mas um som oco e úmido, como um machado em madeira molhada. Victor parou, olhando para baixo em descrença para a estaca de gelo que perfurava sua armadura de couro e suas costelas. Seus olhos se reviraram para o branco, um último suspiro escapou de seus lábios, e ele desabou na poeira, sem vida.

(Lucas)

O silêncio que se seguiu foi mais pesado que qualquer som, preenchido apenas pelo assobio do vento. Inspecionei meu braço; o veneno já deixava a área dormente, a pele escurecendo ao redor do corte. Tiago correu até mim, suas mãos pairando sobre o ferimento. Uma luz azul-esverdeada e fria, como o luar sobre um lago congelado, fluiu de suas palmas, e senti o fogo da toxina recuar, substituído por um frio calmante enquanto a pele se fechava. Foi então que o pequeno espelho de obsidiana em minha mochila começou a brilhar com uma luz interna. Ao pegá-lo, a imagem translúcida e severa do Rei Theron se materializou na superfície polida.

“Trabalho bem executado, meus campeões”, sua voz ecoou do espelho, régia, mas desprovida de qualquer calor humano. “Mas o caminho à frente exigirá mais do que possam imaginar. Seu próximo presente, as “Botas Relâmpago”, que lhes concederão velocidade divina, os aguarda. Encontrem-nas em pedestais opostos do ‘Labirinto da Perdição’.”

A imagem se desvaneceu, nos deixando sozinhos com um cadáver e um novo fardo.

(Tiago)

Bufei, revirando os olhos com tanta força que senti uma pontada na cabeça.

“Presente?”, repeti, a palavra pingando sarcasmo enquanto eu reorganizava minha bolsa de componentes. “Um ‘presente’ pelo qual precisamos arriscar o pescoço num lugar com o nome convidativo de ‘Labirinto da Perdição’. A generosidade do nosso Rei é verdadeiramente comovente.”

Ajoelhei-me ao lado de Victor, puxando a bolsa de moedas de seu cinto.

“Pelo menos este desgraçado pagou pela nossa próxima hospedagem, Lucas.”

O Guardião esboçou um meio sorriso, o primeiro sinal de alívio que eu via em seu rosto há dias.

“A jornada é parte da profecia, Tiago. Você sabe disso.”

Eu resmunguei algo sobre como queria ser o Soberano, mas me levantei e comecei a andar. Não tínhamos tempo a perder com reclamações ou piadinhas.

(Lucas)

Tiago estava diferente. Mais ácido. Curti isso.

Após deixarmos o abraço frio das montanhas para trás, emergimos nos Campos Floridos, uma tapeçaria ondulante de grama verdejante salpicada de flores silvestres — papoulas escarlates, centáureas azuis e margaridas douradas que se estendiam até o horizonte. A beleza do lugar era uma faca de dois gumes: um espetáculo de vida que servia como um lembrete doloroso de tudo que estava em jogo.

Sabendo que o Labirinto testaria a mente com mais ferocidade do que o corpo, usei aquela paz para forjar minha armadura interior. Sentei-me de pernas cruzadas entre as flores, o perfume doce enchendo o ar. Fechando os olhos, mergulhei nas profundezas da minha consciência, confrontando os ecos de Malakor: os sussurros sedutores de poder ilimitado, as memórias de fracassos passados que ele distorcia e usava como arma. Bloco por bloco de pura determinação, eu ergui muralhas mentais, reforçando minha vontade contra as ilusões que certamente nos aguardavam.

(Tiago)

Enquanto Lucas travava suas batalhas internas, encontrei um oásis na vastidão dos campos: um lago cristalino, cuja superfície espelhava perfeitamente o céu azul. Tendo o fragmento astral em mãos, a água tornou-se meu domínio, meu santuário e meu arsenal. Entrei no lago, a água até a cintura, sentindo a energia elemental do lugar me acolher. A luta contra Victor me ensinou uma lição sobre imprevisibilidade. Precisava de mais versatilidade.

Com a água girando ao meu redor, comecei a moldar o poder bruto em formas complexas. Horas se passaram em um borrão de concentração. Ao final, a exaustão era um preço pequeno a pagar. Eu havia dominado três novos feitiços: a “Égide Marinha”, um escudo turbilhonante de água pressurizada que podia desviar tanto uma flecha quanto um feitiço de fogo; o “Tridente de Netuno”, um disparo de três projéteis de água solidificada, rápidos e precisos como virotes de besta; e o “Vórtice Aprisionador”, uma miniatura de redemoinho que, ao ser lançado, podia imobilizar um inimigo em um abraço aquático implacável.

(Lucas)

Retomamos a caminhada por mais quatro horas, sob um sol que descia preguiçosamente, incendiando as nuvens com tons de laranja, rosa e violeta. Nossos corpos pesavam de cansaço, mas nossas mentes estavam afiadas, preparadas.

A visão de uma pequena estalagem aninhada em um bosque de carvalhos foi um bálsamo para nossos olhos. Uma placa de madeira, gasta pelo tempo, balançava suavemente ao vento, anunciando “O Repouso do Viajante”. Uma coluna de fumaça subia preguiçosamente de sua chaminé, uma promessa de fogo, comida quente e talvez uma caneca de cerveja. Era hora de reabastecer as provisões, conceder um descanso merecido aos nossos músculos e, mais importante, traçar uma estratégia. A noite seria de planejamento e de uma calma deliberada, o silêncio que se impõe antes da chegada de uma tempestade inescapável.

Continua…

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