Capítulo XVII - O refúgio da varanda!
Rafa narrando...
Os dias seguintes correram mais suaves, como se o tempo tivesse resolvido dar uma trégua depois de tanta tempestade. Eu acordava cedo para tomar as medicações, sentindo ainda o peso do corpo em recuperação, mas a cada manhã encontrava em Caio a força que eu precisava para seguir. Ele não desgrudava de mim — e quando precisava sair, fazia questão de deixar bilhetes espalhados pela casa, pequenos recados de carinho que me faziam sorrir mesmo na dor.
Foram dias de aconchego, conversas demoradas na varanda olhando o mar, caminhadas leves na areia ao entardecer. Às vezes eu sentia uma sombra no olhar de Caio, como se ele escondesse um medo que não queria me entregar. E eu sabia: era o receio de que meu pai tivesse, de fato, alguma ligação com aquele assalto maldito. Eu também pensava nisso, mas não dizia. Talvez para me proteger, talvez para proteger a ele.
Foi nesse clima de reconstrução que a novidade apareceu. Um conhecido da região, dono de uma pequena agência de publicidade, nos viu juntos na praia. Ele se aproximou, puxou papo, perguntou meu nome, minha história. Alguns dias depois, me ligou oferecendo um teste para campanhas publicitárias. Eu ri na hora, achei que era brincadeira. Mas Caio, com aquele jeito teimoso dele, insistiu:
— Vai lá, Rafa. Você tem presença, tem porte. Se eles querem te colocar em frente às câmeras, deixa. Quem sabe não é uma nova fase?
E assim foi. Fiz as fotos-teste, gravei um vídeo rápido, e em menos de uma semana o contrato estava assinado. Eu, Rafael Montenegro, estava empregado como modelo publicitário. Nunca imaginei aquilo para mim, mas a sensação de estar construindo algo por conta própria, sem depender das sombras da família, era libertadora. Caio comemorou como se fosse uma conquista dele também — e de certa forma, era.
As primeiras campanhas eram para roupas casuais, esportivas, e eu não escondia a timidez diante dos flashes. Mas a equipe elogiava, Caio me apoiava, e pouco a pouco fui me sentindo confortável. Ele ria e dizia:
— Tá vendo? Agora vou ter que dividir meu namorado com o Brasil inteiro.
Eu fingia um ar sério e respondia:
— Não se preocupa, amor. Eu posso estar nas fotos, mas meu coração só aparece em uma: a que tem você.
Ele se derretia, e era nesses momentos que eu percebia o quanto tudo aquilo era real.
Mas nem tudo podia ser só calmaria. Numa tarde de sábado, o destino resolveu virar o tabuleiro mais uma vez. Estávamos em casa, Caio preparando café, eu organizando alguns papéis da agência. O som da campainha ecoou pela sala, e quando abri a porta, dei de cara com minha mãe.
Ela estava elegante como sempre — vestido discreto, mas caro; maquiagem leve, mas impecável. Ainda assim, seus olhos denunciavam preocupação. Ela entrou sem esperar convite, abraçou-me forte, e só então cumprimentou Caio com um sorriso respeitoso.
— Rafael… — disse ela, a voz trêmula — precisamos conversar.
Nos sentamos. Eu sabia que não seria uma visita comum. Minha mãe não aparecia de surpresa, nunca. Caio trouxe café, colocou as xícaras na mesa, e ficou ao meu lado, firme, como sempre fazia quando pressentia tempestade.
Ela respirou fundo e falou, olhando nos meus olhos:
— A polícia está investigando o que aconteceu naquela noite. O assalto, o tiro… tudo. Mas não é só isso. — Ela hesitou, como se pesasse cada palavra. — Descobriram fraudes ligadas às empresas Santos Montenegro. Documentos falsificados, desvio de verbas, contratos manipulados. Há uma rede de irregularidades que vem sendo escondida há anos.
Eu senti o chão fugir por baixo dos pés. Meu corpo, já tão fragilizado, pareceu despencar em silêncio.
— O que você está dizendo, mãe? — minha voz saiu quase rouca. — Você tá me dizendo que meu pai…
Ela fechou os olhos, como se fosse difícil até admitir:
— Que ele pode estar envolvido em mais coisas do que imaginávamos. Rafael, o nome dele aparece nos relatórios preliminares da investigação. Não é só sobre o assalto. É sobre todo o império que ele construiu.
Caio segurou minha mão debaixo da mesa, apertando firme, como quem tenta me segurar do abismo. Eu olhei para ele, e em seguida encarei minha mãe.
— E por que você veio até aqui me dizer isso? — perguntei, mais duro do que gostaria.
Ela baixou a cabeça, emocionada:
— Porque você precisa saber. Porque talvez… talvez sua vida esteja em perigo outra vez.
O silêncio que se seguiu foi pesado, quase insuportável. Eu só ouvia meu coração batendo rápido, o sangue latejando nos ouvidos. Lembrei das costas marcadas pelas noites com Caio, do sabor do café dele pela manhã, da sensação de paz que tínhamos construído em tão pouco tempo. E de repente, tudo parecia ameaçado por aquele mesmo homem que deveria ter me protegido.
Caio quebrou o silêncio:
— Dona Eloísa, a senhora acredita que ele foi capaz de mandar alguém atacar o próprio filho?
Ela não respondeu de imediato. Apenas deixou uma lágrima escorrer pelo rosto e sussurrou:
— Eu não quero acreditar… mas, sim, eu acredito que ele seria capaz.
Olhei para Caio, e vi nos olhos dele a mesma mistura de medo e determinação que sentia em mim. Aquilo não era só sobre mim, era sobre nós dois.
A conversa seguiu longa, cheia de detalhes que eu jamais queria ouvir. Nomes de sócios, empresas de fachada, movimentações financeiras que pareciam tiradas de um filme. Minha mãe dizia que os advogados estavam agindo, que a justiça iria apurar, mas eu sabia que até lá, o perigo poderia bater à nossa porta de novo.
Quando ela se despediu, deixou em minhas mãos uma pasta com cópias dos documentos investigados.
— Guarde isso. Se algo acontecer comigo, você saberá a verdade. — Foi o que disse antes de ir embora.
A porta se fechou, e Caio me puxou para um abraço apertado. Ficamos assim por longos minutos, em silêncio, até que ele falou, com a voz baixa, mas firme:
— Rafa… a gente vai enfrentar isso juntos. Mas agora é sério: precisamos estar preparados.
Eu encostei a testa na dele e respondi, sentindo um nó na garganta:
— Eu só não quero perder você, Caio. Todo o resto… eu encaro.
Ele sorriu de leve, mesmo com os olhos marejados.
— Então segura firme, porque eu não vou a lugar nenhum.
E naquele instante, no meio do medo e da incerteza, eu tive a certeza de que, por mais que o mundo desmoronasse, Caio seria meu porto seguro.
Caio narrando...
A manhã seguinte começou com meu coração já acelerado antes mesmo de abrir os olhos. Rafael estava concentrado no celular, respondendo ligações sem parar, com aquele ar tenso que eu conhecia tão bem. Cada toque parecia mais urgente que o outro, cada mensagem que ele digitava rapidamente me deixava inquieto. Quando o vi atender a primeira ligação, percebi que era algo sobre São Paulo, e ele respondeu com firmeza, explicando que não poderia ir, que eram assuntos pessoais.
Eu tentei me manter calmo, mas não consegui evitar um aperto no peito. Sempre que ele tinha que lidar com tantas responsabilidades, eu me sentia pequeno, invisível, mesmo sabendo que não tinha motivo.
A campainha tocou e eu me levantei para atender. Era Júlio, um colega de trabalho do Rafael que ele havia me apresentado recentemente. Ele trouxe uma caixa com documentos que Rafael levaria para São Paulo. Senti uma pontada estranha, uma mistura de curiosidade e ciúme que não consegui controlar.
— Caio, esse é Julio, do trabalho. Julio, esse é meu namorado, Caio — disse Rafael, com aquele sorriso dele, tentando me tranquilizar.
— Prazer, Caio. Rafael sempre fala de você — disse Julio, sorrindo de forma educada, estendendo a mão.
Senti meu corpo reagir sem que eu percebesse. Cruzei os braços, tentando esconder meu incômodo. A conversa começou cordial, mas eu percebi a empolgação dele falando de um evento que aconteceria em alguns dias e pedindo o número de Rafael para mantê-lo informado. Meu estômago afundou.
— E você vai me ligar para todo esse evento também, ou só para ele? — soltei, sem pensar.
O olhar de Rafael se encontrou com o meu, tentando controlar a situação.
— Caio, você sabe que sempre te aviso de tudo. Não é isso que importa agora.
— Ah, claro… sempre digo que te deixo passar, mas parece que não é bem assim, né? — a raiva cresceu dentro de mim antes que eu pudesse me conter. — Você nem percebe como é fácil me deixar inseguro!
Rafael respirou fundo, tentando me acalmar:
— Caio, por favor, não transforme isso em discussão. Júlio está aqui para entregar o material, só isso.
Mas minha frustração falou mais alto. Não consegui me segurar, e antes que percebesse, já estava pegando a jaqueta:
— Preciso sair… respirar um pouco antes que eu faça ou diga algo que vá me arrepender.
Bati a porta atrás de mim com força, sentindo meu coração pesado, misto de raiva e culpa. Caminhei sem rumo, tentando aliviar o estresse, jogando a mente em qualquer coisa que não fosse meu ciúme. O ar da rua me ajudou a acalmar, mas cada passo carregava o peso do que eu havia dito.
Quando voltei para casa, a sensação de vazio ainda estava presente, mas algo me chamou atenção. Sobre o caderno azul de Rafael, uma rosa vermelha repousava delicadamente. Ao lado, um pedaço de papel dobrado. Lentamente, peguei o papel e comecei a ler:
"Se o ciúme às vezes cega e o medo te faz duvidar,
lembre-se que em cada gesto meu, meu coração está a pulsar.
Mesmo quando você sente insegurança e dor,
meu amor por você é sempre maior.
Não deixes que as sombras do medo te afastem de mim,
pois cada passo que dou, é sempre para estar junto a ti."
Minhas mãos tremeram. As lágrimas vieram sem pedir licença, escorrendo pelo meu rosto. Senti uma mistura de vergonha e alívio, percebendo mais uma vez que tinha sido injusto. O ciúme havia me cegado, e agora eu via claramente que Rafael nunca havia me dado motivo para duvidar. Apertei a rosa contra meu peito e respirei fundo, tentando absorver cada palavra que ele havia escrito para mim.
Quando olhei para o quarto, encontrei Rafael deitado, abraçado ao travesseiro que era meu. Meu coração se apertou. Por alguns segundos, fiquei apenas olhando, admirando-o, sentindo uma onda de gratidão e amor invadir meu peito. Lembrei-me de tudo que ele fez por mim, de como se colocou à minha frente naquele dia do assalto, protegendo-me sem pensar duas vezes. As lágrimas caíram silenciosas, mas o peso dentro de mim começou a aliviar.
Sentei-me na cama ao lado dele, hesitando por um momento, até que ele abriu os olhos e me encontrou com um sorriso cansado, mas cheio de ternura.
— Caio… — disse ele suavemente, e minha respiração falhou.
— Eu… eu fui injusto — consegui responder, com a voz embargada.
Rafael estendeu a mão, segurando a minha com firmeza.
— Eu sei, amor. Mas o importante é que você voltou.
O calor do toque dele me atravessou, e eu me inclinei para abraçá-lo, sentindo a textura do cabelo dele contra meu rosto, o cheiro dele preenchendo minhas narinas, e o coração batendo acelerado dentro do peito. Ele retribuiu o abraço com intensidade, segurando-me com cuidado, mas firme, como se me dissesse sem palavras que tudo estava bem.
Ele me conduziu até a varanda do apartamento, onde o ar fresco da tarde nos envolvia. Fiquei parado por um momento, sentindo a brisa misturar-se ao calor da nossa proximidade. Rafael me olhou nos olhos, e naquele instante, tudo o que sentíamos se concentrou naquilo: no toque, na respiração, na conexão silenciosa que compartilhávamos.
Nos aproximamos devagar, cada gesto carregado de intenção e cuidado. Nossos corpos se encostaram, sentindo o contorno do outro, as mãos explorando suavemente, sem pressa, apenas aproveitando a proximidade. Nossos lábios se encontraram num beijo lento, profundo, carregado de emoção e desejo contido. Cada toque, cada roçar de pele, era uma forma de comunicar o que as palavras não conseguiam expressar.
Rafael apoiou a testa na minha, e senti sua respiração misturar-se à minha. Ele me segurou pela cintura, aproximando-se ainda mais, enquanto eu passei os braços ao redor do pescoço dele, sentindo o calor de seu corpo. Os minutos pareciam eternos, e cada toque, cada suspiro, reforçava o amor que compartilhávamos.
Fiquei perdido naquela sensação de pertencimento, de segurança e desejo contido, sentindo cada gesto, cada sussurro, como se o mundo inteiro tivesse desaparecido ao redor. Nossos corpos se moviam juntos, mas sem pressa, apenas permitindo que o afeto e a intensidade nos consumissem, cada abraço, cada beijo, cada toque se tornando um lembrete silencioso de que estávamos ali, inteiros, apesar de tudo.
A tarde avançava quando a varanda se tornou nosso refúgio. O céu estava pintado em tons de laranja, rosa e lilás, como se o próprio horizonte tivesse se aberto para acolher a intensidade que nos consumia. O vento soprava suave, trazendo o cheiro salgado do mar, e tudo parecia conspirar para que aquele momento fosse apenas nosso.
Rafael segurava minha mão com firmeza, e eu podia sentir o calor dele se misturando ao meu. Era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, e só restasse aquele espaço estreito, iluminado pelo pôr do sol, onde nossos corações batiam descompassados.
— Eu sei que exagerei — falei, com a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de arrependimento. — Quando vi você entregando o número pro Julio, me senti… ameaçado.
Ele suspirou, aproximando-se mais.
— Caio, eu entendo. Mas, amor… eu só quero que confie em mim. Não importa quem entre na minha vida, ninguém ocupa o espaço que você tem.
Engoli em seco, sentindo o peso das palavras dele me atravessar.
— É que, às vezes, eu tenho medo de perder você.
Rafael ergueu a mão livre e acariciou meu rosto com o polegar, tão suavemente que me fez fechar os olhos.
— Você não vai me perder. — Ele fez uma pausa, olhando bem dentro dos meus olhos. — Se eu pudesse, te colocaria dentro do meu peito, só pra você perceber o quanto é dono de tudo que eu sinto.
Senti minhas pernas tremerem com a intensidade daquelas palavras.
— Rafael… — murmurei, e antes que pudesse completar a frase, ele aproximou os lábios dos meus.
O beijo começou lento, como quem testa as águas de um rio antes de mergulhar. Senti a maciez da boca dele contra a minha, o sabor misturado de ternura e desejo, a respiração quente escapando entre nós. Instintivamente, passei os braços ao redor de seu pescoço, puxando-o mais para perto.
— Eu senti tanto a sua falta, mesmo você estando aqui… — confessei entre um beijo e outro.
— Eu também. Você não faz ideia de como me dói te ver duvidar do que eu sinto — respondeu ele, pressionando a testa contra a minha. — Mas nada muda o fato de que eu sou seu.
O vento soprou mais forte naquele instante, como se a própria natureza quisesse testemunhar nossa entrega. Meu coração batia acelerado, cada batida ecoando no peito como um tambor descompassado.
— Me desculpa, amor — falei, quase sem ar. — Às vezes eu sinto que não sou suficiente.
Rafael ergueu meu queixo, obrigando-me a olhar nos olhos dele.
— Você é tudo. Não existe “suficiente” quando se trata de você. É você quem me dá força pra enfrentar cada dia. É você quem me faz acreditar que vale a pena.
As lágrimas vieram de novo, teimosas.
— Eu tenho tanto medo de perder esse “nós”…
— Então não tenha — interrompeu ele, firme, quase desesperado.
— Porque esse “nós” é o que me sustenta.
As palavras dele me atingiram como ondas. E antes que pudesse responder, ele me envolveu num abraço apertado, colando nossos corpos. Senti o coração dele bater contra o meu, rápido, intenso, como se quisesse se fundir ao meu.
— Fica aqui… — pedi, apertando-o ainda mais.
— Não solta.
— Nunca vou soltar — ele respondeu, e o timbre da voz dele era tão verdadeiro que me fez acreditar.
Ficamos assim, abraçados por longos segundos, até que nossas bocas voltaram a se encontrar. O beijo, agora mais urgente, trazia não apenas desejo, mas também a necessidade de reafirmar o que sentíamos.
Minhas mãos deslizaram pelas costas dele, sentindo cada músculo se mover sob a camiseta. Ele, por sua vez, passou as mãos pela minha cintura, segurando-me como se eu fosse a única âncora que o mantinha ali.
— Eu amo você — falei, interrompendo o beijo apenas para respirar.
— Eu também, Caio. Amo de um jeito que nem eu mesmo consigo mensurar.
O vento bagunçava o cabelo dele, e a luz do entardecer desenhava contornos dourados no rosto de Rafael. Nunca o achei tão bonito quanto naquele instante. Ele parecia parte do cenário, como se tivesse nascido para estar ali comigo.
— Lembra quando você se jogou na frente daquele cara no assalto? — perguntei, a voz embargada.
— Eu nunca vou esquecer que você arriscou tudo por mim.
Ele respirou fundo.
— Eu não pensei, Caio. Meu corpo se moveu antes que minha mente processasse. Porque eu não consigo imaginar minha vida sem você.
Engoli em seco, as lágrimas voltando com força novamente.
— Eu não mereço tanto…
— Merece, sim. Você merece tudo, Caio. — Ele se aproximou ainda mais, beijando a ponta do meu nariz. — E se eu tiver que provar isso mil vezes, vou provar.
Deixei escapar um riso nervoso, entre soluços e suspiros.
— Você me desmonta, Rafael.
— E você me reconstrói, Caio.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas respirando juntos, como se nossas almas conversassem sem palavras. O barulho distante das ondas do mar chegava até nós, misturando-se ao som da nossa respiração acelerada.
— Sabe o que mais me assusta? — perguntei, olhando para o horizonte.
— O quê? — ele quis saber, apertando minha mão.
— Que eu nunca sinta isso de novo, se um dia você não estiver mais aqui.
Ele não respondeu de imediato. Apenas me puxou para mais perto, colando os lábios ao meu ouvido. — Eu vou estar sempre aqui. Mesmo quando você não me enxergar, vou estar em cada detalhe da sua vida. Eu sou teu, Caio. Inteiro.
Meu corpo estremeceu com a força daquelas palavras.
— Promete?
— Prometo — respondeu sem hesitar.
Nos beijamos de novo, desta vez com uma intensidade maior. Nossas bocas se encaixavam como peças de um quebra-cabeça que nunca mais poderiam ser separadas. As mãos dele subiam e desciam pelas minhas costas, enquanto eu explorava cada centímetro de seu rosto, como se quisesse gravar tudo em minha memória.
A brisa fria da varanda contrastava com o calor que emanava de nossos corpos. A cada beijo, a cada abraço, a cada toque, eu sentia que o mundo lá fora deixava de existir. Restávamos apenas nós dois, dois corpos, duas almas, tentando se tornar uma só.
— Eu preciso de você — confessei, quase num sussurro.
— E eu já sou seu — respondeu ele, firme, colando novamente a boca à minha.
O beijo se prolongou, profundo, molhado, cheio de entrega. O vento, o pôr do sol, a nossa respiração ofegante, tudo parecia ter sido escrito para culminar naquele instante.
Eu não sabia quanto tempo ficamos ali, mas não importava. O que importava era que estávamos juntos, colados, inteiros, deixando que o amor se expressasse não só em palavras, mas em toques, gestos e olhares.
A varanda, antes apenas um espaço aberto do apartamento, se transformara em um altar. Ali, sob o céu que escurecia lentamente, eu soube que nada seria capaz de apagar o que sentíamos.