O internato - Capítulo 47 Final

Um conto erótico de Bernardo, Daniel, Theo, Gabriel
Categoria: Gay
Contém 7935 palavras
Data: 20/08/2025 15:04:41

Chegamos ao último capítulo desta história. É com um misto de alegria e saudade que nos despedimos de cada momento vivido junto aos nossos personagens. Quero agradecer imensamente a você, leitor, por ter nos acompanhado até aqui, pelas horas dedicadas, pelas emoções compartilhadas e por ter se permitido mergulhar nesse universo que criamos juntos.

Cada capítulo, cada situação, cada sorriso e lágrima dos nossos personagens foi pensado com carinho, e saber que você esteve presente em toda essa jornada torna tudo ainda mais especial. Espero que tenha se emocionado, se divertido e se identificado de alguma forma com essa história.

Agora, resta apenas uma última página, um último capítulo, mas as memórias e sentimentos construídos ao longo dessa leitura ficarão conosco para sempre. Obrigado por estar aqui até o fim. Vamos juntos viver o desfecho desta história.

Capitulo 47 - Os últimos dois anos!

...

Gabriel:

Quando o carro da mãe de Daniel desapareceu de nossa vista, Bernardo caiu de joelhos no chão, completamente desolado. Ele não chorava, mas eu sabia que, por dentro, estava em frangalhos. Aproximei-me do meu irmão e apoiei a mão em seu ombro direito.

– Acho melhor você tomar um banho e tentar dormir um pouco – falei com calma. – Foi uma noite longa.

Bernardo não disse nada. Apenas se levantou e me acompanhou até o dormitório, junto com Nick, que estava ao meu lado, e Marcelo, que tentava consolar Théo, chorando baixinho. Levei meu irmão até o quarto e o encaminhei ao banho.

– Você também deveria descansar – acrescentei. – Meus pais vêm nos buscar amanhã, às onze da manhã.

Eu tinha quase esquecido: viajaria em um cruzeiro de duas semanas com a família de Nick. No começo, recusei o convite por achar exagero da minha parte aceitar algo assim, mas, depois do jantar com os pais dele, acabei convencido.

– O que eles vão achar de mim? – perguntei a Nick, sentado no sofá da enorme sala de estar, à espera dos pais dele.

– Fica tranquilo, amor – disse Nick, acariciando minha perna. – Vai dar tudo certo.

Ele pegou o controle e ligou a TV na Fox. Ficamos assistindo Os Simpsons. Era divertido ver o Nick resmungando da dublagem, acostumado que estava ao áudio original; ainda assim, ria, e era lindo vê-lo se divertir.

Não tinham se passado nem vinte minutos quando os pais de Nick entraram em casa, um ao lado do outro.

– Boa noite – disse Samanta Collins, com um leve sotaque. Samanta era baixa, de cabelos loiros cacheados e pele clara como cera. Magra, poucas curvas, olhos acinzentados. Usava blazer e saia pretos, sapatos de salto e, por baixo, uma camisa azul-bebê.

– Boa noite – repetiu Matthew Collins. Ao contrário da esposa, Matthew era alto e robusto, aparentando frequentar academia. Pele clara, cabelo castanho penteado de lado. Trajava calça social cinza e camisa branca. O blazer cinza estava na mão, provavelmente por causa do calor. Assim que entrou, afrouxou a gravata e pousou os olhos castanhos em mim. – Desculpem o atraso, o trânsito estava caótico – disse, com um sotaque bem mais marcado que o de Samanta.

– Boa noite – respondemos em uníssono, Nick e eu. – Pai, mãe, este é o Gabriel – apresentou ele, tentando soar confiante; ainda assim, percebi sua tensão.

– Prazer, senhor e senhora Collins – cumprimentei, levantando-me para apertar a mão de ambos, que corresponderam cordialmente. Estranhei não cumprimentar Samanta com o tradicional beijo no rosto, mas Nick já havia me explicado que, no país deles, isso é íntimo demais; o aperto de mão é o usual.

– O prazer é nosso – disse Samanta, gentil. – Ouvimos falar muito de você, rapaz.

– Espero que coisas boas – respondi, ainda nervoso.

– Muito boas, sim – confirmou Matthew.

Ficamos um tempo na sala conversando sobre a escola – inclusive a prova final de matemática da qual eu e Nick fomos dispensados por nota. Fiquei aliviado por não tocarem em Gustavo e no sequestro no apartamento. Certamente estavam curiosos, mas Nick deve ter pedido que evitassem o assunto. Logo, Jurema, a funcionária, anunciou o jantar.

– Seu pai é o juiz Miguel de Andrade, não é? – perguntou Matthew, sorrindo.

– É, sim – respondi, retribuindo o sorriso. – O senhor o conhece?

– Não pessoalmente, mas, há uns dois anos, ele esteve bastante na mídia – disse, sereno. – Julgava um deputado federal acusado de assassinar a esposa e os dois filhos.

– Matt, acho que isso não é assunto para a mesa – advertiu Samanta.

– Desculpa, amor – pediu ele, com delicadeza. – Só quis dizer que o pai dele é um excelente juiz; esse caso me veio à cabeça.

– Ele realmente é brilhante no que faz – concordei, lembrando de tudo o que fez por mim. – Não apenas no trabalho, mas na vida. Não é qualquer um que decide adotar um garoto de dez3sseis anos.

– São raros os casos – assentiu Samanta. – E você gosta da nova casa?

Uma enxurrada de lembranças me atingiu. A morte do meu pai e a falência. Minha mãe se matando de trabalhar, enquanto Gustavo definhava psicologicamente. Lembrei de quando Jair conquistou minha confiança apenas para satisfazer seu desejo doentio. Do dia em que a loucura tomou Gustavo e ele me violentou pela primeira vez, mergulhando-me numa rotina de abusos. Lembrei da vontade de dar fim à minha vida – e de ter sido impedido apenas para continuar sendo machucado. Depois, a morte repentina da minha mãe, destruindo o pouco que restava da nossa família, que eu considerava ser apenas ela, Pedrinho e eu. A recusa do meu corpo a Jair e a consequente ameaça que ele cumpriu contra Pedro. O fundo do poço. A tentativa de matar meu agressor – e o fim que veio pelas mãos do meu irmão, já desequilibrado, que depois tentou nos matar. Mirian baleada. O porteiro do prédio morto. Théo ameaçado. Bernardo espancado. E, então, o único alívio que, Deus me perdoe, eu agradeci: quando ele colocou a arma na própria boca e apertou o gatilho. A liberdade, enfim. A chance de seguir em frente. E, finalmente, a adoção – que só aumentou a minha gratidão.

– Sim – respondi com sinceridade. – Eles acolheram a mim e ao meu irmão de braços abertos. Só tenho a agradecer.

– Que bom – disse Matthew. – E eles sabem de vocês dois?

– Sabem, sim – confirmei. – Não me escondo de ninguém.

Houve um momento de silêncio desconfortável, enquanto os pais de Nick pareciam escolher as palavras.

– O Nick também não se esconde de nós desde os treze anos – disse Samanta, fitando o filho. – E vou ser sincera com você, Gabriel: eu nunca fui a favor dessa… ambiguidade sexual dele e ainda não gosto muito. Confesso que estava receosa em conhecê-lo, mas agora vejo que meu medo era infundado. Você parece ser uma boa pessoa. Sabemos que passou por muita coisa – acompanhamos pela TV na época – e, mesmo assim, continua um bom garoto. Não concordo com esse lado dele, mas, como o próprio Nick disse: ou eu respeito ou vou afastá-lo de mim. E eu não quero perder meu filho. Então eu respeito.

– É só o que eu quero, mãe – disse Nick, emocionado, apertando minha mão debaixo da mesa. – Eu amo vocês.

– Nós também te amamos – falou Matthew. – Amamos muito você!

A conversa ficou mais leve quando começaram a falar do cruzeiro, planejado para 20 de dezembro, a tempo de Noah (irmão mais novo de Nick) voltar do internato na Suíça.

– Pode ficar tranquilo com as passagens, Gabriel – animou-se Matthew, enquanto serviam a sobremesa. – Seu irmão nos autorizou a falar com sua mãe por telefone, e está tudo acertado para você ir conosco. Vai ser um cruzeiro de duas semanas pelo litoral brasileiro.

– Quanto a isso, senhor Collins…

– Me chame de Matt – pediu ele, sorrindo.

– Quanto a isso, Matt… – respirei fundo, juntando coragem. – Não posso aceitar.

– E por quê? – devolveu Samanta. – E me chame de Samanta, por favor. Vamos quebrar a formalidade.

Nick sorriu; eu soube que tudo corria bem.

– Eu não me sentiria confortável – admiti. – Parece que estou me aproveitando de vocês.

– Deixe de bobagem, Gabriel! – disse Samanta. – Estamos fazendo isso porque queremos ver nosso filho feliz. E ele está mais feliz desde que começou a se relacionar com você.

– E também é uma forma de recompensar o Nick por todas as barbaridades que dissemos – completou Matt. – Levar você conosco é uma maneira de nos redimirmos pelo comportamento que tivemos.

– Mas, ainda assim, não sei se devo aceitar.

– Para com isso, Gabriel – insistiu Nick. – Eles não vão aceitar um “não” como resposta.

Olhei para os rostos firmes de Samanta e Matt e percebi que ele tinha razão. Aquilo significava muito para os dois.

– Tudo bem, então – concordei.

Todos à mesa sorriram, e seguimos o bate-papo do jeito mais leve possível. Impressionava ver como lutavam contra os próprios preconceitos para manter o filho por perto. Pensei em como minha mãe reagiria se tivesse descoberto sobre mim antes de morrer. Lembrei-me, então, de algo que ela me disse quando eu tinha qu4torze anos, trancado no quarto, chorando. Naquela noite, eu tinha sido brutalmente abusado por Gustavo; ele torcera meu braço com tanta força que achei que fosse quebrá-lo. Eu nem pensava em orientação sexual – os abusos haviam me roubado qualquer fantasia. Não me masturbava; sentia nojo. Minha mãe entrou no quarto e sentou-se na beirada da cama.

– Você não tomou café hoje – disse, enquanto eu, de bruços, encarava a parede. – Não levantou para nada. Tem algo que queira contar para a mamãe?

Tinha. Só Deus sabe o quanto eu queria falar dos abusos. Do silêncio que mantinha por medo de Jair tocar no Pedrinho, de Gustavo perder de vez o controle, de algo horrível acontecer com todos nós. Só Deus sabe o peso que carreguei por anos em silêncio e como aquilo minava a minha vontade de viver. Balancei a cabeça em negação. Ela afagou meus cabelos, com carinho.

– Sabe, Gabriel, eu tenho muito orgulho de você – falou, amorosa. – Sei que existe um turbilhão de sentimentos aí dentro. Muita coisa para lidar, muitas dúvidas sobre quem você é. (Se fosse tão simples assim, pensei.) Mas não importa o quão diferente você seja, ou se não tem domínio sobre aspectos importantes da sua vida, como por quem você se apaixona. Quero que saiba: nada disso muda o essencial. Você é meu filho, e eu te amo de qualquer forma. Independentemente de qualquer coisa. Está bem?

Não respondi; apenas assenti. Ela me beijou a cabeça e me deixou sozinho. Naquele momento, minha mente estava tão tomada por pensamentos ruins que não percebi o que ela acabara de dizer; agora, ao recordar, finalmente entendi. Ela soube antes de mim. E já tinha me aceitado.

Mais tarde, no carro, o motorista nos levava para minha casa quando Nick apertou minha mão.

– Em que você está pensando?

– Na minha mãe… e em como ela era incrível – respondi, com saudade.

– Eu adoraria ter conhecido ela – disse Nick, entrelaçando os dedos aos meus no banco de trás.

– E tenho certeza de que ela adoraria ter conhecido você – falei, dando um selinho nele, sem me importar com o motorista. – Eu te amo.

– Eu também te amo, Gabriel – respondeu Nick, e me beijou com mais intensidade.

...

– Vou me deitar – disse Bernardo, saindo do banheiro com uma bermuda de tactel azul e uma camiseta branca. – Só quero apagar agora.

Ele se jogou na cama, puxou o edredom por cima do corpo e permaneceu em silêncio.

– Quer que eu fique com você? – perguntou Nick.

Assenti. Meu namorado tirou o terno, ficando apenas de cueca, e fiz o mesmo. Nos deitamos na cama de Théo, já que sabíamos que ele e Marcelo dormiriam juntos naquela noite para se apoiarem. Nos cobrimos com o edredom, pois o ar-condicionado central deixava o quarto bem gelado. Acabamos dormindo de conchinha.

Na manhã seguinte, como combinado, o pai de Nick chegou às onze. Peguei minhas duas malas cheias de roupas que meus pais haviam comprado para mim e coloquei no porta-malas vazio do carro. As bagagens de Nick e do restante da família foram no carro de Samanta, que viajaria separadamente. Antes de sair, meus pais me entregaram um cartão de crédito para gastar durante a viagem, mas prometi a mim mesmo usar o mínimo possível. Não queria abusar.

Fui me despedir de Bernardo, que ainda não tinha levantado da cama.

– Boa viagem – murmurou ele. – Aproveite bastante, você merece.

– Obrigado, Be – falei, dando-lhe um beijo na bochecha. – Sinto muito te deixar assim.

– Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem – respondeu, tentando sorrir, mas o gesto soou forçado.

– Promete? – insisti, sabendo que mesmo não acreditando totalmente nisso, ele era forte o suficiente para se reerguer.

Ele assentiu e, com isso, parti.

O cruzeiro era simplesmente incrível. Enorme, luxuoso, muito além do que eu havia imaginado. Os pais de Nick ficaram em uma cabine ao lado da nossa. Não cheguei a ver a deles, mas a minha, dividida com Nick, era espaçosa, com banheiro e duas camas de solteiro — uma clara tentativa de nos manter separados.

– Como se isso fosse nos impedir de dormir juntos – Nick disse, colocando sua mala ao lado da cama.

Naquela noite, houve um show no convés principal e curtimos juntos, nos beijando e rindo como se não houvesse amanhã. Todas as manhãs e todas as noites fazíamos amor, sempre juntando as camas antes de dormir e separando-as durante o dia. Era um verdadeiro paraíso ao lado do meu amor.

– Não acredito que isso está acontecendo – disse Nick, deitado em uma espreguiçadeira à beira da piscina, já de madrugada.

– Nem eu – respondi, olhando para as quatro pessoas que ainda estavam dentro da piscina às quatro da manhã. – Parece um sonho.

– Se for um sonho, não quero acordar – murmurou ele, virando-se para mim. – Você é tão lindo… poderia ficar horas só te admirando.

Nick levantou-se da espreguiçadeira e veio até a minha, deitando-se sobre mim.

– O que você está fazendo? – perguntei.

A resposta veio em forma de um beijo ardente, profundo, que me deixou sem ar. Nick deslizou a mão pelo meu peito nu, arfando de desejo.

– Eu te amo – sussurrou.

– Também te amo – respondi, sentindo meu corpo reagir ao toque. – E você já me deixou duro.

Ele sorriu maliciosamente e desceu a mão até meu pau, apertando-o.

– Vamos para um lugar mais reservado? – sugeriu, com um olhar cheio de malícia.

Meu coração disparou, e eu apenas sorri em resposta. Nick mordeu meu lábio inferior, puxando-o com intensidade, o que me deixou ainda mais excitado. Levantamos e seguimos até o vestiário ao lado da piscina. Lá havia cabines individuais amplas. Entramos em uma e nos agarramos com fome. Nick me virou de costas, pressionando-me contra a parede de madeira. De sunga, senti o pau dele rijo roçando contra minha bunda, e ele rebolava para aumentar o atrito. Seus beijos em meu pescoço arrancaram gemidos meus. Ele sabia que eu adorava isso e não parava, pelo contrário, só aumentava a intensidade.

Suas mãos deslizaram até minha sunga, puxando-a para baixo. Fiquei completamente nu diante dele. Nick me virou de frente e meu pau encostou em sua coxa, aumentando ainda mais meu tesão. Nossos beijos eram quentes, carregados de desejo. Ele agarrou minha bunda, apertando-a e dando tapas provocantes. Toquei seu pau por cima da sunga e ele gemeu baixo.

– Me chupa, – Nick ordenou, com a voz carregada de tesão.

Me ajoelhei no chão frio, abocanhei seu pau ainda coberto pela sunga e apertei sua bunda. Rapidamente, puxei a peça para baixo, quase rasgando de tanta pressa. Seu membro saltou duro diante de mim, com a cabeça larga e latejante. Levei-o à boca e comecei a chupar devagar, engolindo tudo. Nick gemia alto, descontrolado.

Ele me puxou pelos cabelos, forçando-me a levantar. Me beijou com ferocidade, me deixando em brasa. Em seguida, me virou de costas novamente, inclinando-me para frente. Deu um tapa forte na minha bunda e encostou o pau no meu buraquinho, esfregando-o ali enquanto eu rebolava, implorando por mais.

– Me come logo, – gemi, perdido de prazer.

Era tudo o que ele queria ouvir. Nick me penetrou de uma vez, sem preparação. Doeu, mas era aquela dor deliciosa que só me fazia desejar mais. Ele começou devagar, mas logo se deixou levar pelo tesão, aumentando a velocidade e a força das estocadas. Me dava tapas seguidos e me xingava de vadia, putinha, piranha. Eu adorava.

Depois, tirou o pau de dentro de mim e sentou-se no vaso fechado, exibindo a piroca latejante e ereta. O sorriso dele bastava para eu entender o que queria. Montei em cima, de frente, e comecei a cavalgar com força, meu pau esfregando em seu abdômen definido. Nick passou a me masturbar ao mesmo tempo, aumentando ainda mais meu prazer.

Gemíamos juntos, intensos, até que gozei em sua barriga ao mesmo tempo em que ele explodiu dentro de mim.

Ofegante, encarei Nick com um sorriso satisfeito, o suor escorrendo pela testa. Ele sorriu de volta e nos beijamos apaixonadamente.

...

Théo

– Onde você está me levando? – perguntei a Samuel naquela noite.

– É surpresa – respondeu ele, me guiando até o carro, já que eu não enxergava nada por causa da venda que estava usando.

Samuel havia me ligado naquela tarde dizendo que tinha preparado algo especial para comemorarmos nossos dois anos de namoro. Era incrível pensar em como o tempo passou rápido. Dois anos. Tanta coisa aconteceu desde que Daniel foi morar no exterior, mas o mais importante era que Samuel estava no quarto período de Medicina e, por isso, quase não conseguíamos passar tempo juntos. Não só por causa da faculdade, que consumia grande parte da rotina dele, mas também porque eu estava cursando o terceiro ano no Colégio Imperial, me dedicando muito para alcançar meu objetivo: entrar em Odontologia no ano seguinte. Acabávamos tendo apenas um dia por semana para nos vermos, mas isso nunca abalou nosso relacionamento, que continuava tão firme e forte como no início.

– Anda, me conta logo, Samuel! – implorei ansioso.

– Eu sei como você é, mas vai ter que esperar – ele disse, divertido.

Depois de uns trinta minutos, ele estacionou o carro. Falou algo com alguém do lado de fora e, em seguida, retomou o caminho até parar novamente.

– Vai me revelar o que é agora? – questionei, já quase sem paciência.

– Vou sim – disse ele, abrindo a porta do carro e, alguns segundos depois, abrindo a minha também – Lembra quando eu disse que andava exausto por causa da faculdade e mal conseguia dormir?

– Claro que lembro – respondi, recordando de uma videochamada em que ele acabou pegando no sono enquanto conversávamos. Ele estava mesmo sobrecarregado – Mas o que isso tem a ver com a surpresa?

– É que não era só com a faculdade que eu estava ocupado nos últimos dois meses – disse, retirando a venda dos meus olhos – Pode olhar agora.

Assim que a visão voltou, dei de cara com uma casa de dois andares maravilhosa, estilo americano, cercada por um gramado impecavelmente verde. Grandes janelas de vidro davam imponência ao lugar, cobertas por cortinas que impediam a visão do interior.

– Você comprou uma casa? – perguntei, empolgado, lembrando de como ele reclamava da convivência com os pais – É linda, amor!

Samuel abriu um sorriso satisfeito.

– Vamos entrar? – disse, tirando uma chave do bolso.

Assenti e o segui. A porta principal dava para um corredor, onde uma escada elegante levava ao segundo andar. O espaço estava decorado com quadros abstratos de aparência sofisticada.

– Mas como você pretende manter uma casa dessas? – questionei ao atravessar um portal à esquerda, que dava para a sala e a cozinha em estilo aberto, muito aconchegantes.

– Conversei com meu pai e chegamos à conclusão de que era hora de eu morar sozinho. Ele vai me ajudar até eu terminar a faculdade – explicou, sem esconder que não se sentia totalmente confortável com a situação – Não é o cenário ideal, mas é o melhor para todo mundo.

Assenti em silêncio. Continuamos explorando o térreo: havia um banheiro, uma pequena biblioteca com poltronas reclináveis perfeitas para leitura e uma porta que levava à garagem. No fim do corredor, uma porta de vidro dava acesso ao quintal, amplo e encantador, com uma piscina oval com cascata, área coberta com mesa de madeira e uma churrasqueira. Era tudo incrível.

No andar de cima, Samuel me mostrou três quartos de casal, cada um com armário e TV de 32 polegadas. Mas o único fechado era o dele.

– Esse é o meu – disse, abrindo a porta.

Fiquei sem palavras. A cama de casal estava decorada com pétalas de rosas formando um coração e, no centro, lia-se em vermelho: Eu te amo. O quarto inteiro exalava perfume doce das velas aromáticas espalhadas. Na cabeceira, havia um balde de gelo com champanhe e duas taças.

– O Leonardo veio acender as velas e preparar tudo antes da gente chegar – explicou, surgindo atrás de mim, enquanto eu admirava cada detalhe – Eu queria que fosse perfeito.

– Está perfeito – respondi, emocionado, virando-me para ele.

Então veio outra surpresa. Samuel pegou minha mão e se ajoelhou diante de mim, segurando uma caixinha azul aveludada. Quando abriu, vi duas alianças de ouro brilhando. Meu coração disparou.

– Théo Vilella, você me daria a honra de se casar comigo? – perguntou com a voz embargada de emoção.

Eu sabia que não poderíamos oficializar no papel, mas isso não importava. Poderíamos ter nossa festa, nosso compromisso, nossa união verdadeira.

– Sim! – respondi chorando, sem pensar duas vezes.

O sorriso dele se abriu ainda mais. Ele pegou a aliança menor e colocou em meu dedo anelar. A sensação daquele aro no meu dedo me fez sentir a pessoa mais feliz do mundo. Repeti o gesto, colocando a outra aliança em sua mão e beijando-a em seguida.

Samuel me puxou para um beijo intenso e cheio de amor. Depois, foi até a mesa de cabeceira, estourou a champanhe com uma gargalhada contagiante e serviu as duas taças.

– Ao nosso amor – brindou.

Bebemos e logo voltamos a nos beijar, completamente envolvidos pelo clima. A euforia da nossa união se transformou em desejo. Samuel tirou a camisa, revelando o corpo definido que sempre me deixava sem fôlego. Tirei a minha também e me joguei em seus braços. Caímos sobre a cama coberta de pétalas, nos beijando como se o mundo fosse acabar ali. Suas mãos percorreram meu corpo, apertaram minha bunda, e eu gemi, entregue.

Ele arrancou minha bermuda e minha cueca, que chegou a rasgar pela pressa. Seus lábios deslizaram do meu pescoço até meus mamilos, sugando-os com intensidade, me arrancando gemidos cada vez mais altos. Em seguida, me virou de costas e espalhou minhas pernas, abrindo minha bunda com as mãos até expor meu cuzinho, que ele logo começou a lamber com voracidade.

Não demorou até que se livrasse da própria roupa e me penetrasse com força, me fazendo arfar de prazer misturado à dor gostosa. Seus tapas na minha bunda, suas investidas firmes e os palavrões sussurrados em meu ouvido me deixavam completamente entregue.

– Me fode, porra! – implorei – Mostra que é meu homem!

Ele não pensou duas vezes. Me comeu como nunca antes, tão intenso que gozei sem sequer encostar no meu pau. Pouco depois, ele gozou dentro de mim, preenchendo-me com seu calor.

Exaustos, nos deitamos de conchinha. Segurei sua mão esquerda, apenas para admirar nossas alianças brilhando lado a lado.

– Eu te amo, Samuel – sussurrei.

– Eu também te amo. E, a partir de hoje, pertencemos um ao outro para sempre – respondeu.

– Até depois disso – completei, sorrindo.

Ficamos ali em silencio aproveitando aquele momento e nossa nova casa até que dormimos juntos naquela cama como faramos agora para o resto de nossas vidas. E eu adorava essa ideia.

...

Daniel:

A saudade foi, sem dúvida, a parte mais difícil. Depois que parti, Bernardo e eu mantínhamos contato por FaceTime, WhatsApp e Facebook, mas nada se comparava à sensação de estar junto dele. Eu contava sobre meus primeiros dias nos Estados Unidos e sobre como tentava me acostumar a falar inglês o tempo todo. Era bom compartilhar isso com ele, mas a vontade de beijar sua boca e a certeza de que não poderia me matavam.

Os primeiros meses foram os mais desafiadores: eu não conhecia ninguém e passava a maior parte do tempo treinando, em vez de ficar no meu apartamento no centro de treinos. As horas vagas eram torturantes, pois minha mente sempre voltava a Bernardo, e por mais que o amasse, isso doía demais. Fiz amizade com alguns garotos e garotas do time de natação, o que ajudou a distrair um pouco minha cabeça. A maioria era como eu: vinda do Brasil, deixando família e amigos para seguir um sonho.

Todos os vinte atletas eram muito competentes, e precisei me esforçar bastante para acompanhar o ritmo deles. Treinei sem parar até alcançar o mesmo nível, participando da minha primeira competição estadual, representando os times de Washington. Foi uma prova acirrada nos cem metros rasos, e infelizmente não subi ao pódio: terminei em quarto lugar. Ouvi uma bronca do treinador, dizendo que eu precisava ser melhor se quisesse competir no nacional seis meses depois. Contrariando o que poderia parecer, isso me motivou ainda mais. Treinei com afinco, e o esforço ajudou a lidar um pouco com a saudade insana que sentia.

Por conta disso, acabei não visitando Bernardo no meio do ano como havia prometido. Apesar de ele dizer que estava tudo bem, eu sabia que ele tinha ficado chateado; vivia me lembrando o quanto sentia minha falta e contava os dias para me ver novamente. Eu também não estava bem: nos momentos em que não estava concentrado nos treinos, chorava sozinho no apartamento.

O treinador percebeu meu esforço e me deu a chance de competir no nacional. Desta vez, subi ao pódio, conquistando o terceiro lugar. Como era o nacional, não houve bronca, apenas elogios e um consolo por não ter alcançado o primeiro lugar.

Naquela noite, o time saiu para comemorar em uma casa noturna. Bebemos e dançamos como loucos, e juro que tentei me divertir, mas a saudade bateu forte, igual à primeira semana. Acabei chorando e tive que ser levado para casa por Simone, uma colega do time. Naquela noite, apaguei.

No final do ano, voltei ao Brasil, e no aeroporto estavam minha mãe, Théo e Bernardo. Ao vê-lo, larguei minhas coisas e corri para o amor da minha vida. Matamos a saudade com beijos e toques, e confesso que chorei de emoção, assim como ele.

– Estava com tanta saudade – disse ele, quando estávamos deitados na cama da casa de praia em Búzios, onde passaríamos o Natal e a virada do ano.

– Eu também estava – respondi, beijando seus lábios que tanto ansiava encontrar – Contava os dias para te ver.

Bernardo me beijou intensamente, e eu o acompanhei. Enterrava minhas mãos em seus cabelos, que estavam mais longos do que eu lembrava. Ele se colocou sobre mim, permitindo que eu passasse as mãos por suas costas nuas, pois estava sem camisa. Seu corpo havia mudado bastante no último ano: cresceu e deixou de ser magro, ficando mais forte. Ele me contou que começou a praticar muay thai na escola, que montou um time de luta. A princípio, achei estranho aquele garoto delicado se dedicar às lutas, mas logo entendi: era sua forma de extravasar a dor, assim como eu fazia com treinos intensos.

– Eu quero você – murmurou Bernardo, mordendo minha orelha.

Um arrepio percorreu meu corpo e meu pau reagiu imediatamente. Assumi o controle, rolei na cama e o coloquei por baixo de mim. Ele sorriu de forma travessa, mostrando que, apesar das mudanças, meu Bernardo delicado ainda estava ali. Abri sua bermuda e cueca, e para minha surpresa, percebi que outra coisa também havia crescido. Segurei seu pau, maior e mais grosso do que lembrava, e coloquei-o na boca, com um pouco mais de dificuldade do que de costume.

Bernardo gemia de tesão enquanto eu o chupava, e aquilo era maravilhoso. Ele se sentou na cama, puxou-me para a boca e nos beijamos novamente. Rasgou minha camiseta de forma selvagem, alimentando ainda mais meu desejo. Tirou minha bermuda, mas não a rasgou. Sentou-se sobre meu pau e começou a cavalgar.

– Me xinga! – ordenava, dando tapas na minha cara.

– Rebola sua puta! – respondi – Rebola nessa piroca, filho da puta! – falei quando ele intensificou o movimento.

Bernardo gemia, e eu estava completamente entregue, imerso naquele prazer e na demonstração de amor que compartilhávamos. Ele desmontou de cima de mim e se deitou de barriga para cima. Levantei suas pernas e as apoiei nos meus ombros. Comi meu namorado intensamente por cerca de cinco minutos, até que ele gozou sem se tocar, e isso me levou a gozar em seu cu logo em seguida.

Deitei-me ao lado dele, ofegante e encharcado de suor.

– Eu senti muita falta disso – disse sorrindo.

– Eu também – respondeu com o mesmo sorriso bobo – Eu te amo muito, Daniel.

– Também te amo muito, Bernardo – respondi, beijando-o..

...

Bernardo:

A formatura finalmente havia chegado, mas diferente de uma semana atrás, eu já não estava tão animado. O motivo era simples: Daniel não viria. Estava tudo certo para ele passar o final de ano no Brasil comigo, antes de irmos embora logo em seguida, mas uma competição estadual apareceu de última hora e ele foi convocado para nadar. Assim, só poderia vir depois do dia dez de janeiro.

Fiquei arrasado, embora entendesse. Aprendi a aceitar que ele não poderia estar presente em todos os momentos importantes, como no meu aniversário de dezoito anos ou agora, na minha formatura do ensino médio.

– Está pronto? – minha mãe perguntou, entrando no quarto e me tirando dos pensamentos.

– Estou – respondi, secando discretamente as lágrimas que tinham escorrido.

– Eu sei que está triste porque seu namorado não vai estar aqui – disse ela, sentando-se ao meu lado. Vestia um longo vestido prateado que realçava sua elegância – Mas hoje é sua formatura. Quero que tente aproveitar.

– Eu vou tentar – murmurei, fungando – Prometo que não vou chorar mais.

– Assim que gosto de ouvir, meu amor – ela sorriu com carinho – Agora vamos, o Gabriel já está esperando no carro.

Meu irmão mais velho nos levou, já que meu pai viria direto do trabalho. Estava envolvido em um julgamento importante e, mesmo chegando atrasado, não deixaria de aparecer.

Chegamos com antecedência e logo reencontrei meus amigos. Fábio, que seguiria Educação Física; Alice, que entraria em Veterinária – os dois já não eram um casal desde o meio do segundo ano, quando perceberam que o relacionamento tinha estacionado. Patrick, que faria Ciência da Computação, estava ao lado de Giovana, sua namorada, grávida de dois meses, que cursaria Farmácia. Lorenzo optou por Letras, e Théo, inspirado pelo sucesso do jornal da escola que reativou, escolheu Jornalismo. Nick iria para Farmácia também – ele e Gabriel ainda mantinham o relacionamento firme. Entre os mais velhos que já haviam passado pela mesma etapa, estavam Leonardo, no quarto período de Direito; Samuel, que estudava Medicina; Roberta, em Psicologia; e Gabriel, que seguira os passos do meu pai no curso de Direito, decidido a se tornar juiz como ele. Abraçamo-nos, rimos, relembramos os velhos tempos. Estavam todos lá, menos Daniel… que era justamente quem eu mais queria que estivesse.

A cerimônia começou com um discurso do diretor Olavo, seguido de Théo, presidente do corpo estudantil. Ele falou brilhantemente sobre a importância da educação e do papel que aquele colégio teve em nossas vidas. Foi então que o vi. Sentado entre sua família, olhando diretamente para mim com um sorriso cheio de orgulho. Daniel tinha vindo! Ele realmente estava ali. Meu coração, que parecia em pedaços, voltou a pulsar com força. Não consegui conter a lágrima que rolou pelo meu rosto, e ele retribuiu com o sorriso mais lindo do mundo. Um sorriso capaz de transformar qualquer dia ruim no melhor da minha vida.

A partir dali, nada mais me importava. Nem o vídeo de homenagem aos professores, nem o clipe do trote exibido no telão – aquele mesmo em que nós, quando calouros, fomos amarrados e levados ao ginásio pelos veteranos do terceiro ano, que se fantasiaram de assassinos e nos assustaram antes de nos cobrir com balões de tinta fluorescente. Também não dei atenção ao belo discurso de Théo ou ao momento em que recebi meu diploma das mãos do diretor.

Quando o encerramento chegou, jogamos os chapéus para o alto. Sem pensar duas vezes, saí correndo em direção ao amor da minha vida. Daniel estava de pé, aplaudindo nossa turma, e abriu os braços para me receber. Eu o abracei com toda a força que havia guardado durante aquele ano.

– Você veio! – disse chorando – Não acredito que veio!

– Nem eu – ele disse chorando também – Perdi ontem e fui desclassificado. Consegui uma passagem de última hora e vim. Não poderia perder isso! Não falei nada, pois queria fazer surpresa...

O interrompi com um beijo apaixonado que foi aplaudido por nossa turma no palco e logo a plateia também aplaudiu.

– Eu te amo, Daniel! – disse chorando de emoção.

– Eu também e por isso vim te buscar – falou ajoelhando e tirando uma caixa azul aveludada – Casa comigo?

– Sim! – disse chorando e o abraçando.

Daniel sorriu e colocou a aliança de ouro em meu dedo anelar esquerdo. Peguei a caixa de sua mão e fiz o mesmo. Nós nos beijamos e fomos curtir a festa com nossos amigos.

..

Um ano depois:

Gabriel:

Já faziam dois anos que eu tinha me formado no colégio. Um ano antes de Bernardo, Théo e Nick.

Ainda me lembro do dia da minha despedida, quando atravessei aquele portão de ferro pela última vez. Era estranho pensar que aquele lugar que tinha me mostrado o pior e o melhor da vida, ao mesmo tempo, deixaria de ser parte da minha rotina. Passei muito tempo sentindo que as paredes daquele internato me sufocavam, me lembrando das marcas que carregava desde a infância. Mas hoje, olhando para trás, percebo que foi ali que eu encontrei meus verdadeiros amigos. E mais do que isso, encontrei uma família.

Após a formatura do Nick, tomamos juntos uma decisão que parecia óbvia: fomos morar juntos em um apartamento pequeno, mas cheio de vida. Ele seguiu seu caminho na farmácia, e eu já estava mergulhado no segundo ano de Direito. Foram escolhas diferentes, mas que se completavam. Ele, com sua paciência e sensibilidade; eu, com essa necessidade de lutar contra injustiças, talvez para compensar tudo o que vivi. Não era só uma carreira, era como se fosse um chamado.

Às vezes penso em como as coisas se ajeitaram para cada um de nós. Os pais do Bernardo ficaram com a guarda do Pedrinho, e nunca faltou nada para ele. Não só carinho e cuidado, mas também um lar estável — algo que eu nunca tive e sempre admirei. Bernardo visita o irmão sempre que pode, e é bonito ver o brilho nos olhos dele ao falar do menino. Há um vínculo que ninguém nunca vai quebrar.

Eu, de vez em quando, sinto falta da minha mãe. É um vazio estranho. Sei que ela fez muitas escolhas difíceis, sei que mesmo sem saber me deixou exposto demais às violências do meu padrasto e ao abuso do meu irmão. Mas ainda assim… é mãe. A saudade não pede licença, apenas existe. E mesmo quando tento sufocá-la, ela volta em dias de silêncio, quando encaro o teto do meu quarto à noite.

Foram meus amigos que me salvaram de tudo isso. Bernardo, com aquele coração imenso; Théo, com sua leveza que sempre trouxe ar fresco aos meus dias; Nick, que se tornou mais do que um amigo — virou parte da minha vida, parte de mim. Eles foram os pilares que me ajudaram a suportar os traumas que carrego. E eu sei que não teria chegado até aqui sem eles.

A morte de Gustavo foi, para mim, um alívio que não consigo descrever sem parecer cruel. Mas é a verdade. Era como se, de repente, o peso de anos fosse arrancado dos meus ombros. Não significa que as lembranças desapareceram — porque não desapareceram — mas significa que a ameaça constante finalmente cessou. Aquele fantasma já não me persegue.

E Lorenzo… ele encontrou um jeito de seguir em frente também. A perda do irmão gêmeo deixou uma ferida que, por muito tempo, parecia incurável. Mas então veio Roberta. Ela foi entrando aos poucos, com uma doçura inesperada, e preencheu esse vazio com um amor paciente. É lindo ver como ela se tornou uma espécie de cura silenciosa para ele. A vida tem dessas ironias: às vezes coloca alguém no nosso caminho exatamente quando pensamos que não existe mais saída.

Hoje, quando olho para trás, percebo que não sou mais aquele garoto que vivia com medo. Não sou apenas vítima do passado. Sou alguém que sobreviveu. Que lutou. Que aprendeu a amar. E sei que ainda tenho muito pela frente — provas na faculdade, sonhos, talvez medos novos. Mas pela primeira vez na vida, eu acredito que o futuro pode ser bom.

Fecho os olhos e respiro fundo. Um ano, dois, três… não importa o tempo que passe. Aquele internato, aqueles corredores frios, aquelas noites de desespero… também guardam minhas memórias mais preciosas. Porque foi ali que a minha vida começou de verdade.

E agora, ao lado do Nick, sinto que enfim posso dizer: eu sou feliz.

...

Théo:

Se alguém tivesse me dito, lá atrás, que eu estaria escrevendo essas linhas sentado na varanda da minha própria casa — nossa casa — eu teria rido na cara da pessoa. Mas é exatamente aqui que estou, um ano depois, casado com o Samuel.

Terminei o primeiro ano de Jornalismo e ele o terceiro de Medicina. A rotina às vezes pesa, é verdade. Ele passa noites em claro nos plantões da faculdade, enquanto eu viro madrugada editando reportagens que quase ninguém vai ler. Ainda assim, sempre encontramos um jeito de nos esbarrarem no meio do caos: um café deixado na mesa, uma mensagem no celular às três da manhã, ou simplesmente o abraço silencioso quando um de nós chega exausto.

Eu penso muito no menino de treze anos que apanhou por ser quem era. O rosto ardia, mas o que doía mesmo era acreditar que eu nunca seria amado de verdade. Aos quatorze, conheci o Samuel e ele me mostrou outra realidade. Não foi fácil, nos perdemos pelo caminho, cometemos erros, mas no fim voltamos um para o outro. Acho que o destino sempre deu um jeito de costurar nossos fios soltos.

Hoje, quando acordo e vejo Samuel ao meu lado, bagunçado entre os lençóis, sinto uma paz que nunca imaginei possível. Não é perfeição, não é conto de fadas, mas é o bastante para me fazer sorrir sozinho.

Às vezes penso no futuro. Ele como médico, eu talvez narrando histórias que importem. Talvez uma família, talvez só nós dois. Não tenho todas as respostas, mas, pela primeira vez na vida, isso não me assusta.

Porque, no fim das contas, eu já encontrei meu lar. E o nome dele é Samuel.

...

Daniel:

Um ano se passou desde a formatura do Bernardo. Mal conseguimos respirar depois da virada do ano e já estávamos embarcando para os Estados Unidos, eu com minha mochila cheia de expectativas e Bernardo segurando minha mão como se todo aquele nervosismo pudesse ser contido. A adaptação não foi fácil. Eu competia pelo time de natação de Washington, treinava todos os dias, e cada vitória ou derrota carregava uma pontada de saudade do Brasil. Mas Bernardo estava ao meu lado, me lembrando que, apesar da distância, não estávamos sozinhos.

A rotina foi se estabelecendo. Ele estudava e eu treinava, e mesmo nos dias mais difíceis encontrávamos pequenos momentos para sorrir juntos. Cada treino exaustivo, cada manhã gelada na piscina, se tornava mais suportável porque podia olhar para ele depois, ver seu sorriso e sentir que tudo valia a pena.

No meio do ano, recebi uma proposta para voltar ao Brasil e competir em um time nacional. No começo, hesitei — significava mudar tudo de novo, recomeçar. Mas olhei para Bernardo, para o brilho nos seus olhos, e soube que era o certo. Poderíamos ficar perto de nossas famílias e amigos, reconstruir nossa rotina sem sentir tanta distância do que amamos. Aceitei sem pensar duas vezes.

Agora, estamos estabelecidos em Porto Alegre, em nosso próprio apartamento. É aconchegante, tem janelas grandes que deixam o sol entrar de manhã, e cada canto parece carregado de nós dois. Morar juntos foi um passo que parecia impossível anos atrás, mas que hoje é o mais natural do mundo. Cada refeição, cada noite de sono, cada risada compartilhada reforça que esse é o lugar onde queremos estar.

Casei com Bernardo. Dizer isso em voz alta ainda me dá um frio na barriga, mas ao mesmo tempo uma paz imensa. Ele é meu lar, meu parceiro, meu amor. E, mesmo depois de todos os desafios, sei que escolhemos o caminho certo.

Samuel, meu melhor amigo desde sempre, continua sendo parte fundamental da minha vida. Ele está casado com meu irmão, e ver os dois felizes me traz uma alegria silenciosa. É reconfortante saber que, apesar de todas as tempestades do passado, ainda há pessoas que permanecem ao nosso lado, que nos amam e nos compreendem.

A vida aqui não é perfeita. Tem dias cansativos, tem treinos que parecem intermináveis, e ainda há desafios que nos lembram de como crescemos. Mas quando olho para Bernardo e vejo nosso apartamento cheio de memórias pequenas — uma caneca esquecida, um livro aberto, a risada dele ecoando pelo corredor — eu sei que tudo valeu a pena.

Um ano depois, posso dizer que estou exatamente onde devo estar. Com o amor da minha vida ao meu lado, com amigos que se tornaram família, e com a certeza de que, apesar do mundo lá fora, dentro de mim tudo está no lugar certo.

...

Bernardo:

Um ano se passou desde a minha formatura, e a memória daquele dia ainda estava viva em mim. As emoções misturadas, a sensação de conquista e, ao mesmo tempo, a saudade de Daniel, que não podia estar presente por conta de suas competições, ainda me acompanhavam. Mas mal pude descansar sobre esses sentimentos, pois logo depois da virada do ano embarquei com ele para os Estados Unidos. Eu me lembro de cada detalhe da viagem, do nervosismo misturado com excitação, do coração acelerado por estar ao lado do meu amor em um lugar completamente novo.

Chegamos e rapidamente nos adaptamos à rotina. Daniel treinava incansavelmente para o time de natação de Washington, enquanto eu tentava acompanhar seus horários, estudar um pouco e, principalmente, estar presente para ele em cada vitória e em cada momento de frustração. Havia dias longos e exaustivos, noites em que a saudade da família e dos amigos do Brasil apertava, mas nada disso parecia importar quando estávamos juntos. Aquele sentimento, a certeza de que pertencíamos um ao outro, tornava tudo mais suportável e, de certa forma, mais intenso.

No meio do ano, veio a notícia que mudou nossos planos: Daniel recebeu uma proposta para voltar ao Brasil e competir em um time nacional. Eu me lembro de como nos olhamos naquele momento — era a oportunidade perfeita de estarmos mais próximos das nossas famílias, de ter um pouco mais de estabilidade. Aceitamos sem hesitar. Porto Alegre se tornou nossa nova casa, nosso refúgio, e, desde o primeiro dia, senti que tudo estava finalmente se encaixando.

Logo após voltarmos, nos casamos. Lembro-me claramente do dia — a sensação de colocar a aliança em meu dedo, de sentir Daniel ao meu lado, o coração acelerado e cheio de alegria. Cada detalhe parecia planejado pelo universo: o sorriso dele, a maneira como segurava minha mão, a certeza de que estávamos prontos para enfrentar tudo juntos. Morar juntos em nosso apartamento em Porto Alegre tornou-se um hábito tão natural que, às vezes, parecia que sempre estivéramos ali. Cada canto da casa trazia memórias nossas, pequenas lembranças de risadas, jantares improvisados, filmes assistidos abraçados no sofá.

Enquanto isso, Pedrinho, o irmão de Gabriel, foi adotado pelos meus pais e passou a viver com eles. Saber que ele estava seguro e amado trouxe uma paz imensa ao meu coração. Mesmo não sendo mais nosso bebê direto, senti que de alguma forma ainda fazia parte da minha família e que podia acompanhar seu crescimento de perto.

Ao olhar para trás, percebo como cada obstáculo e cada conquista nos moldaram. O caminho até aqui não foi fácil, mas cada dificuldade — desde a distância de Daniel até a pressão das expectativas — me ensinou a valorizar cada instante ao lado dele. E, se hoje posso olhar para nossa vida e sorrir, é justamente por ter passado por tudo isso.

Nossos dias agora são preenchidos por pequenas alegrias que parecem gigantes. Um café tomado juntos de manhã, uma corrida rápida pelo bairro, uma conversa longa à noite sobre nossos sonhos e planos. Daniel ainda treina, ainda compete, mas sempre encontra tempo para mim. E eu faço questão de estar ao lado dele, celebrando cada conquista, oferecendo meu apoio nas derrotas e lembrando-o constantemente de que nosso amor é maior do que qualquer obstáculo.

Sinto que crescemos muito juntos. O Daniel que conheci nos Estados Unidos era dedicado, intenso, determinado. Hoje, ele continua sendo tudo isso, mas também mais relaxado, mais confiante, mais completo. E eu, ao lado dele, aprendi a confiar mais, a me entregar mais, a ser paciente e a valorizar cada gesto, cada sorriso, cada toque.

Viver em Porto Alegre, longe das turbulências que enfrentamos, perto da nossa família e amigos, é uma sensação de paz que eu jamais imaginei alcançar tão cedo. Cada dia ao lado de Daniel é um lembrete de que o amor verdadeiro existe e que, apesar das dores do passado, conseguimos construir algo sólido, bonito e real.

E enquanto observo Daniel dormir ao meu lado em nossas noites tranquilas, sinto que nada mais importa além do nosso amor. Sei que ainda teremos desafios pela frente, mas também sei que, juntos, podemos enfrentar tudo. Porque esse é o nosso lar, nossa vida, nosso amor — e finalmente, posso dizer com certeza: estou exatamente onde devo estar.

FIM

...

Chegamos ao final desta história, e com o coração cheio de gratidão, quero agradecer a você, leitor, por ter caminhado conosco até aqui. Cada página lida, cada emoção sentida, cada lágrima ou sorriso compartilhado fez parte dessa viagem intensa pelos caminhos do amor, da amizade e da coragem.

Bernardo descobriu no olhar de Daniel que o amor verdadeiro não se mede por tempo ou circunstância, mas pelo quanto nos transforma e nos faz acreditar em nós mesmos. Daniel aprendeu a encarar seus medos e preconceitos, percebendo que assumir quem somos de fato é um ato de coragem e liberdade.

Théo nos mostrou que a verdade interior é mais poderosa do que qualquer julgamento externo. Mesmo diante da dor, da violência e da rejeição, ele permaneceu fiel a si mesmo, provando que a autenticidade é um triunfo que ninguém pode tirar. Gabriel, que carregou feridas profundas desde a infância, encontrou na amizade e no amor de Nick o suporte necessário para curar-se, mostrando que mesmo os traumas mais pesados podem ser transformados em força e esperança.

Cada um desses jovens cresceu diante de nossos olhos, enfrentando tempestades e celebrando vitórias, descobrindo que o verdadeiro poder está em se aceitar, em se permitir amar e em confiar nas pessoas que realmente importam.

Obrigado por ter caminhado conosco, por ter sentido junto cada riso, cada medo, cada paixão e cada conquista. Vocês não apenas acompanharam uma história; participaram de um pedaço da vida de cada personagem, e isso é algo que nunca se esquece.

Ao fechar este livro, leve consigo a lembrança de que o amor, a coragem e a amizade sempre encontram um caminho, mesmo nos momentos mais sombrios. E que crescer, às vezes, é aprender a se encontrar e a se entregar ao que realmente importa.

...

Esta história foi adaptada e revisada a partir de uma versão original que havia sido removida do site. Todos os acontecimentos, personagens e situações apresentados são totalmente fictícios e fruto da imaginação do autor.

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