Onde o mar nos levou - Capítulo IX

Um conto erótico de Rafael & Caio
Categoria: Gay
Contém 7436 palavras
Data: 19/08/2025 13:22:14
Última revisão: 19/08/2025 13:28:08

Capítulo IX - O amor espontâneo!

Dias depois...

Eu tinha voltado às minhas atividades durante o dia, dando as aulas, organizando as coisas da escola, e era sempre uma mistura estranha: sair de casa com o coração apertado e voltar com a sensação de que o tempo ali dentro parecia mais pesado do que do lado de fora.

No começo, estava tudo bem, um mês e meio se passou. Ele me esperava com um sorriso cansado, a casa cheirava a café ou algum tempero simples, e a gente sentava no sofá, dividindo silêncios e abraços como quem se alimenta do pouco que sobrou depois de um vendaval. Mas depois de uns dias... eu comecei a notar as mudanças. O olhar do Rafa ficou mais distante. O toque dele, mais frio. Ele se recolhia demais. Às vezes, passava horas dentro do quarto, em silêncio, com a porta encostada, mas o mundo fechado por completo.

Eu tentava puxar assunto, tentava levá-lo pra caminhar na praia, respirar aquele ar que sempre acalmou a gente. Mas ele só balançava a cabeça. Eu não queria forçar. Às vezes, respeitar é a única forma de amar, mesmo quando a gente quer gritar por dentro.

Até que teve um dia em que ele saiu sem dizer pra onde ia. Só falou que precisava resolver umas coisas. Eu não insisti. Mas fiquei inquieto o tempo inteiro. Quando ele voltou, estava agitado. Os olhos vermelhos, as mãos trêmulas. Não disse nada. Só entrou direto pro banheiro e se trancou lá. O tempo passou. Vinte minutos, meia hora, quarenta. Eu bati na porta, chamei. Nada.

Até que, de repente, a porta se abriu. E ali estava o Rafael. Sentado no chão frio, abraçado aos próprios joelhos, chorando como uma criança que perdeu o rumo. O rosto dele estava molhado, a respiração descompassada, o peito arfando de dor. Me ajoelhei ao lado dele, sem entender nada no início, mas sentindo tudo ao mesmo tempo.

Foi quando ele falou. Baixinho, quase como quem pede desculpa por existir:

— Caio... eu... eu tô me afundando. Eu usei de novo. Eu não queria, mas... eu não tô aguentando... Aquelas palavras do meu pai, o desprezo... tudo isso tá doendo demais. Eu tô me sentindo um lixo. Eu só queria que isso parasse dentro de mim...

Aquilo cortou meu peito como se fosse uma navalha afiada. Eu o abracei. Forte. Como se pudesse costurar o coração dele com o calor do meu corpo. Eu disse que ele não tava sozinho. Que a dor dele era nossa, e que o amor que existia entre a gente ia ser mais forte do que qualquer queda. Eu não ia largar a mão dele por nada. Mesmo que o caminho fosse difícil. Mesmo que houvesse tropeços.

Ali, no chão frio do banheiro, entre lágrimas, confissões e promessas sussurradas, começou uma nova fase. Uma fase de cuidado, de luta, de enfrentamento. Uma fase em que o amor teria que provar sua força todos os dias, mas que também se fortaleceria a cada escolha. E a minha escolha... era ele. Sempre foi ele.

Narrado por Caio...

Não foi fácil... Depois daquela madrugada, em que vi o Rafael no chão do banheiro, desabando como uma criança perdida, soube que estávamos entrando em uma nova fase... uma fase que exigiria muito mais do que amor. Precisaria de paciência, fé, e uma coragem que, sinceramente, eu nem sabia se tinha.

A primeira recaída veio duas semanas depois. Eu tinha saído pra resolver umas coisas, comprar uns mantimentos... Quando voltei, a casa estava estranhamente silenciosa. O som da televisão desligada, a luz do quarto apagada, a porta do banheiro trancada. De novo.

Bati, chamei. A resposta demorou.

Quando ele abriu, os olhos estavam vermelhos, não só de choro — mas daquele jeito que denuncia. O olhar dele não estava ali. Era como se ele tivesse voltado pra um lugar escuro, um lugar que eu não conseguia alcançar.

Ele não disse nada, apenas caiu nos meus braços. Chorou como da outra vez, só que dessa vez com mais vergonha. E isso me dilacerou. Eu queria poder arrancar dele aquela culpa. Queria gritar pro mundo que ele merecia recomeçar. Que ele não era menos digno por estar lutando.

As semanas seguintes foram de altos e baixos.

Tinha dias em que ele acordava disposto, fazia o café, sorria pequeno, perguntava das minhas aulas, lavava roupa, colocava música, ria comigo no almoço. Parecia estar voltando. Às vezes, deitava no meu colo no sofá e me dizia baixinho:

— Eu vou conseguir. Eu prometo.

E eu acreditava. Porque ele queria.

Mas depois vinham aqueles outros dias.

Os dias que começavam pesados. Que ele mal saía do quarto. Que os olhos estavam fundos. Que os lábios secos mal se mexiam. Que a dor dentro dele parecia maior do que qualquer coisa que eu pudesse oferecer. E eu tentava. Oh, como eu tentava...

Teve uma noite — uma das piores — em que eu acordei e ele não estava na cama. O desespero me tomou. Saí pela casa, chamei, procurei. Quando abri a porta da varanda, ele estava lá. Sentado no chão frio, só de bermuda, com os braços ao redor das pernas, tremendo.

Me aproximei devagar. Ele não disse nada, só balançou a cabeça negativamente, como se dissesse pra mim não me aproximar. Mas eu me ajoelhei ali do lado, mesmo assim. E ele caiu de novo. Caiu no meu peito. Chorando. Falando coisas soltas, entre soluços:

— Eu tentei... juro que tentei... eu sou um lixo, Caio... eu sou um fardo...

Eu segurei ele com força. E o que me doeu não foi a recaída. Foi ouvir ele se sentir assim. Ver aquele homem, tão forte, tão sensível, se quebrar desse jeito. Me partiu de um jeito que eu nem sabia ser possível.

E é nessas horas que eu fugia um pouco. Ia pro banheiro, pro quintal, pro quarto da bagunça. E chorava. Chorava quietinho, engolindo o som, engolindo o medo de perdê-lo pra uma dor que eu não conseguia alcançar por completo.

Mas eu também tinha minhas promessas. E a principal delas era: não soltar a mão dele.

Mesmo quando ele não acreditava mais. Mesmo quando tudo nele dizia “me larga”. Eu ficava. Eu segurava firme. Porque eu sabia que o Rafael ainda estava lá. Por trás do vício. Por trás da dor. O homem por quem eu me apaixonei ainda estava ali.

E eu jurei pra mim mesmo que não ia desistir dele. Que a gente ia atravessar isso junto. Por mais escuro que fosse o caminho.

Rafa narrando...

Cheguei a sair de casa naquela tarde com a mente tomada, sem rumo certo, só com a certeza de que queria anestesiar a dor. Peguei a carteira, o celular, e fui andando pelas ruas com passos pesados. O coração estava apertado, a cabeça latejando de pensamentos embaralhados. A tentação era forte, quase como um sussurro no ouvido me convencendo a ligar para o cara que eu sabia que me entregaria o que eu precisava.

Meu corpo tremia, e eu tentava convencer a mim mesmo de que precisava daquilo, só dessa vez.

Mas no meio do caminho, algo em mim travou.

Me veio a imagem dele. Do Caio me esperando em casa, preparando o jantar com aquele avental ridículo que ele adorava usar só pra me fazer rir. Me lembrei dos olhos dele, que sempre enxergavam além das minhas máscaras. Me lembrei das noites em que ele segurou minha mão quando eu não conseguia dormir, das vezes em que ele chorou escondido achando que eu não percebia — e percebia sim. Me lembrei da voz dele, dizendo com toda certeza do mundo que eu era forte. Que eu podia vencer.

Minhas pernas me levaram até a praia. Sentei na areia úmida, e encarei o mar como se ele pudesse me responder. O vento cortava o rosto, mas eu não me importava. Fechei os olhos e deixei que as lágrimas corressem livres. Pensei em tudo que estávamos construindo, em cada passo pequeno que ele dava comigo. Em cada abraço que me segurava inteiro quando eu já estava em cacos.

Fiquei ali um tempo que nem sei dizer. Só sei que quando voltei pra casa, o céu já estava se pondo. Abri a porta devagar e fui direto pro sofá. Me sentei com o corpo pesado e chorei como uma criança. Chorei porque eu quase fui. Quase me entreguei. E chorei porque escolhi não ir. Pela primeira vez, eu escolhi ficar.

Caio saiu do quarto com a testa franzida. Tava de moletom e meia, com o cabelo bagunçado. Sentou ao meu lado com calma e perguntou:

— O que aconteceu, amor?

Eu respirei fundo, ainda com o rosto molhado.

— Eu saí pra me drogar, Caio. Eu queria muito... muito. Mas no meio do caminho, eu só conseguia pensar em você. Eu... te amo tanto. Mas às vezes eu sinto que te faço mal só por existir do jeito que sou. E isso me mata por dentro.

Ele não disse nada por alguns segundos. Só me puxou pra perto, com aquele abraço onde cabe o mundo. A respiração dele colada na minha nuca, o coração batendo forte contra meu peito.

— Você me faz bem, Rafa. Mesmo nos seus piores dias, você me faz bem. Porque você tá lutando. E eu tô aqui. Sempre vou estar aqui, mesmo quando você não enxergar saída. Você me ouviu? — ele sussurrou, com a voz embargada.

Eu o olhei, e era como se tudo em mim gritasse por ele. Nos beijamos ali mesmo no sofá, com urgência e emoção. As roupas foram saindo aos poucos, entre toques que diziam mais do que palavras. Fizemos amor no tapete da sala, com as luzes apagadas e o luar entrando pela janela. Ele me olhava como quem acolhe, como quem salva.

— Obrigado por existir, Caio — eu disse, com os olhos marejados, enquanto o sentia dentro de mim. — Eu não sei se um dia vou merecer isso tudo, mas vou tentar... por nós.

Ele encostou a testa na minha e sorriu pequeno.

— A gente vai vencer isso junto, Rafa. Você não tá sozinho... nunca mais.

Nos movíamos em harmonia, os corpos quentes, os corações conectados. Não era só desejo, era algo mais profundo. Era amor. Era cura.

E naquele instante, deitado sobre ele, com os dedos entrelaçados aos meus, eu soube: por mais difícil que fosse... eu não ia desistir de mim. Nem dele. Nem de nós.

Os dias que se seguiram foram leves… ou quase. Decidi lutar contra aquele vício maldito. Caio e eu já estávamos mais ajustados com as rotinas, e mesmo com as cicatrizes ainda abertas em mim, o amor do Caio seguia como um cobertor quente nas minhas noites frias. Às vezes, eu acordava e só de ver o jeito dele dormindo virado pra mim, com aquele cabelo todo bagunçado e aquela expressão tranquila, me dava um arrepio no peito. Era como se tudo que eu precisava estivesse ali, bem ali.

Naquele sábado o dia amanheceu bonito, com aquele céu meio lavado, com cheiro de café e mar. Dona Lúcia veio nos visitar logo cedo, trazendo bolo de fubá e uma energia boa que só ela tem.

Me abraçou apertado quando chegou, como se eu fosse parte da família dela — e de certo modo, já era. Conversamos, rimos, ela me contou algumas histórias da infância do Caio que o deixaram vermelho feito pimentão.

— Ele era tão dengoso quando criança... só queria saber de colo — ela disse, rindo enquanto tomava o café que eu preparei.

Depois do almoço, chegou o tal do primo. Henrique. Moreno, alto, olhos claros, sorriso fácil demais pro meu gosto. E Caio… ah, Caio foi todo sorrisos também. Se cumprimentaram com abraço forte, piadinhas internas, apelidos que eu nunca tinha ouvido. Fiquei quieto, fingindo normalidade, mas por dentro... estava fervendo. Eles se cutucavam, riam alto, Caio tocava no braço dele o tempo todo — e mesmo que fosse carinho de família, meu sangue parecia estar sendo fervido em ácido.

Henrique elogiou a casa, elogiou a vista, e claro, elogiou Caio.

— Tu tá bem demais, hein? Cuidando do corpo, da pele… quem diria! — disse ele, rindo.

— Culpa do Rafa — Caio respondeu, olhando pra mim com aquele sorriso de canto de boca.

Mas na hora eu já estava entalado. Fingindo um sorriso. Com as unhas quase furando a almofada.

Quando eles foram embora, eu quase pulei de alegria por dentro. Mas por fora… virei sombra. Fiquei emburrado, mais calado que o normal. Me sentei no sofá, cruzei os braços e só respondia com monossílabos. Caio percebeu. Claro que percebeu.

— O que foi, amor? — ele perguntou, sentando ao meu lado.

— Nada — falei, com aquela resposta típica de quem quer dizer tudo, mas se engasga no orgulho.

Ele tentou me puxar, me beijar, mas eu escapei.

— Vou tomar um banho.

Entrei no banheiro com a cabeça fervendo. Senti o cheiro dele ainda nos azulejos, misturado ao vapor do último banho. Me despi, liguei o chuveiro quente…

Fiquei ali, parado, com a testa colada no vidro embaçado, o coração apertado de ciúmes e vergonha. A água quente escorria pelas minhas costas, como se tentasse lavar o nó que eu carregava no peito. Escrevi com o dedo no vidro do box:

"Caio, eu te amo."

Foi o jeito que encontrei de dizer o que estava engasgado — o amor, o medo, o ciúme, tudo misturado. Não demorou muito até ouvir a porta rangendo. E então senti sua presença.

Ainda com o vapor denso preenchendo o banheiro, Caio encostou a porta e ficou me observando por trás do vidro embaçado. A inscrição [ou declaração] “Caio, eu te amo” começava a escorrer lentamente, mas ele já tinha lido. Sorriu de canto, tocado e excitado ao mesmo tempo. Tirou a camisa devagar, os olhos fixos no contorno do meu corpo, a única coisa que nos separava era o box.

— Tô vendo que tem alguém aqui com a cabecinha quente... — ele provocou, a voz arrastada, carregada de malícia.

— Vai embora, Caio. Não tô bem pra briga... — retruquei, tentando manter a pose, mesmo sabendo que já estava completamente exposto.

Ele abriu o box sem cerimônia, o calor da água e do ambiente o recebendo como se fosse dele também.

— Brigar? Eu vim é resolver... — sussurrou, colando o corpo molhado no meu. — Você acha mesmo que eu não percebi, Rafa? Desde que o meu primo saiu você tá parecendo uma panela de pressão prestes a explodir. Eu só queria ver até onde ia seu teatrinho.

Virei o rosto, sentindo o peito vibrar de desejo e raiva ao mesmo tempo.

— Ele ficou te tocando demais... te chamando de "Cainho"... e você rindo, rindo como se fosse íntimo...

— E eu devia ignorar? — Caio retrucou, suas mãos escorrendo pelas minhas costas, parando no cóccix.

— O cara é meu primo, cresceu comigo. Mas quem dorme na minha cama, quem tem meu coração, quem eu amo... é você.

Fechei os olhos, sentindo as palavras dele me atravessarem como lâmina quente em manteiga.

— Você me ama mesmo, Caio? Mesmo com esse meu jeito torto? Com meus ciúmes, minhas crises, minha cabeça bagunçada?

— Eu amo até quando você tá um saco. Até quando me olha com cara de quem quer sumir e, mesmo assim, segura minha mão. Eu amo até quando você me emburra... porque no fim, você sempre volta.

— Porra, Caio... — soltei com a voz embargada. — Eu não sei como você me aguenta.

— É que além de te amar... eu sou viciado em você. Viciado nesse seu corpo, nesse seu jeito safado de me provocar mesmo sem querer. Vem cá...

Ele me virou de frente, colando nossos peitos, as bocas quase encostando. A água quente escorria pelos nossos rostos, misturando suor e desejo.

— Me beija, Caio...

— Pede direito — ele rosnou baixinho, os olhos cravados nos meus.

— Me beija, caralho... — implorei, mordendo o lábio inferior dele antes do beijo começar.

E foi como acender um fósforo numa casa cheia de gás. O beijo veio molhado, urgente, com mordidas, língua, saliva... Caio me prensou contra a parede fria do box, a diferença de temperatura arrepiando a pele. Suas mãos desciam com fome, agarrando minha bunda com força, me puxando pra ele.

— Tava com ciúmes, né, puto? — ele disse entre um beijo e outro. — Cê queria que eu tivesse te agarrado ali mesmo, na frente do meu primo?

— Eu queria você só pra mim... sempre.

— E me tem. Inteirinho. E hoje... vai ser meu.

Me virei de costas, sem dizer mais nada, e senti quando ele me encostou com cuidado na parede, os corpos molhados deslizando juntos. A respiração dele quente no meu pescoço, a pegada firme e decidida.

— Fala que é meu, Rafael... — ele ordenou, mordendo minha nuca.

— É seu... porra... sempre fui... — gemi entre dentes, me entregando completamente, sem resistência.

A movimentação começou lenta, ritmada, como se cada estocada fosse uma confissão, um pedido de desculpas, um gesto de reconciliação. Ele me preenchia por inteiro, com desejo, com força, com amor. Os gemidos abafados se misturavam ao barulho da água, os palavrões e sussurros se cruzando no ar como faíscas elétricas.

— Você é meu, caralho... ninguém te toca... só eu... — ele dizia, entre arfares e beijos nas minhas costas.

— Te amo, Caio... porra... te amo tanto que dói...

Nos movíamos em harmonia, como se aquele momento fosse a única coisa que existisse no mundo.

A cada investida, eu sentia meu corpo sendo reintegrado, como se ele estivesse me reconstruindo com amor e luxúria. Era sexo, mas era mais do que isso. Era um reencontro de almas, uma reafirmação silenciosa do quanto precisávamos um do outro.

Quando gozei, foi com um grito abafado, o corpo inteiro tremendo, os joelhos quase cedendo. Caio me segurou firme, beijando meu ombro, gemendo meu nome em um sussurro rasgado, antes de também se derramar em mim.

Depois, ficamos ali, colados sob o chuveiro ainda ligado, os corpos cansados, mas os corações em paz.

Ele me abraçou por trás, passando os braços ao redor da minha barriga, encostando o rosto no meu pescoço.

— Ciúme é só mais uma forma de dizer que você ama alguém demais... — sussurrou. — E eu gosto de saber que você me ama tanto assim.

Sorri, virando o rosto pra ele.

— Mas se o seu primo voltar aqui... eu jogo ele pela varanda.

— Idiota... — ele riu, me beijando de novo.

E naquela noite, dormimos juntos, abraçados, com o corpo quente e o coração mais quente ainda.

Rafael narrando...

Alguns dias se passaram desde aquele momento nosso no banheiro. Desde aquele “eu te amo” rabiscado no vidro embaçado e respondido com gemidos e beijos molhados. Estávamos mais próximos. Mais inteiros. Mais nós. E era como se a cada dia que passava eu quisesse encontrar novas formas de dizer a ele o quanto ele me salvava sem perceber.

Foi numa tarde de céu azul, quando o sol beijava a praia com carinho, que eu tive a ideia:

— Vamos comprar umas roupas novas? Eu quero te ver bonito, vestindo coisa cara, do meu lado — falei com um sorriso torto, de quem já sabia que ia ouvir resmungos.

Caio arqueou uma sobrancelha e riu:

— Roupas caras? Tá doido, Rafael? Eu me visto bem com o que tenho. Não precisa dessas frescuras.

— Não é frescura, é presente. Meu presente. Eu quero. E você vai aceitar, mesmo emburrado.

Ele bufou, mas no fundo eu sabia que ele gostava quando eu mimava ele. Entramos numa loja no centro, daquelas com fachada de vidro, ar-condicionado gelando até pensamento e atendentes com camisa social engomada. A loja mais cara da cidade. Eu quis o melhor.

— Boa tarde, senhores. Posso ajudá-los? — a voz veio doce, firme. Um cara de cabelo arrumado, perfume forte e um sorriso escancarado que parecia mais com uma tentativa de flerte do que de atendimento.

— Estamos só olhando — disse Caio, seco.

Mas o cara nem deu atenção pra ele. Me encarava com olhos de quem devorava.

— Se precisar de alguma coisa, Rafael... — disse, após olhar discretamente meu cartão que eu usava pra pagar. A forma como ele falou meu nome me arrepiou, mas não de um jeito bom. Me incomodou.

Percebi o olhar de Caio. Gelado. Silencioso. E isso era pior do que qualquer cena. Mesmo sendo engraçado também.

Provamos algumas roupas. Eu insisti pra ele escolher tudo o que quisesse. Ele pegou umas três peças, mais por insistência minha. Eu levei mais, claro, e percebi os olhos do atendente passeando descaradamente pelo meu corpo cada vez que eu saía do provador.

Caio se calou o tempo todo. Ficou sério, braços cruzados. Terminamos ali, pagamos tudo e fomos almoçar num restaurante perto da praia. A comida era boa, o ambiente lindo, mas o clima entre nós estava estranho. Caio olhava o celular, mexia no guardanapo, evitava contato visual.

— Que foi? — perguntei por fim.

— Nada.

— Caio...

— Você viu o jeito que aquele cara te olhava? Que nojo!

Sorri, achando graça.

— Tá com ciúmes?

Ele me encarou e disse:

— Fica se achando... Mas não gosto de ver ninguém te olhando como se te quisesse. Ainda mais na minha frente.

Estendi minha mão sobre a mesa e segurei a dele.

— Você é o único que me tem. O resto? Que olhem. Só olham.

Depois do almoço, caminhamos pela areia quente. O sol começava a cair devagar. Vi uma galera montando um jogo de futebol ali perto e resolvi me juntar. Estava precisando extravasar. Caio ficou sentado sob o guarda-sol, braços cruzados de novo. Eu sabia que ele não curtiria, mas o momento me levou.

Entre um chute e outro, risadas, gritos... esqueci da presença dele por um tempo. Quando voltei ao guarda-sol, ele já tinha se levantado e estava do lado da nossa canga. Olhar perdido no mar.

— Vai jogar mais? — perguntou. A voz dele estava dura.

— Não... agora tô aqui. Só com você.

— Engraçado. Te trouxe pra perto de mim e cê corre pra longe assim? Que porra, Rafael!

— Ei... Não foi isso. Só tava me distraindo. Cê sabe o tanto que esses dias têm sido pesados pra mim.

— Pesado? E por isso tu me deixa sozinho? O cara da loja, agora isso... Tá parecendo que cê gosta de provocar.

Aquela tensão, aquele desentendimento... virou combustível. Me aproximei dele, toquei seu rosto com firmeza.

— Eu gosto de te provocar porque eu gosto de te ter. Só você me tira do sério assim. Só você me acende desse jeito.

O beijo veio como uma explosão. Um encontro de boca, dentes, desejo. Voltamos pro apartamento sem dizer mais nada. Trancamos a porta e Caio me empurrou contra a parede.

— Tira essa camisa. Agora — ele ordenou, voz rouca, olhos queimando.

Obedeci. Ele me virou de costas, me mordeu o pescoço, lambeu minha nuca.

— Quer saber como é ser só meu? Vou te mostrar.

Nos jogamos no chão da sala, onde tudo já tinha acontecido antes, mas agora com raiva, com intensidade, com gana. As roupas foram arrancadas, a pele raspando no tapete, os gemidos se misturando com os palavrões.

— Tu é meu, Rafael. Entendeu? — ele sussurrava, me penetrando com força.

— Sou seu... só seu... caralho... — respondi, entre gemidos.

O suor escorria dos nossos corpos. Ele me segurava pelos quadris, me puxando com urgência. E eu me entregava por completo. Me virava, me curvava, me oferecia.

— Isso... geme pra mim, porra... deixa eu te ouvir — ele dizia, a voz entre dentes.

— Só você me faz gozar assim... só você, Caio...

E quando o ápice chegou, nossos corpos tremiam como se estivessem se desfazendo e se reconstruindo ao mesmo tempo. Ficamos deitados ali, abraçados no chão, ofegantes.

— Desculpa... eu só senti ciúmes porque eu te amo pra caralho — ele disse, acariciando meu rosto.

— Eu também te amo... até quando tu tá emburrado. Principalmente quando tu me fode desse jeito.

Rimos. E nos beijamos outra vez.

Ainda ofegante, Rafael rolou para o lado da cama, o peito subindo e descendo devagar, os olhos meio cerrados, um sorriso satisfeito se formando no canto da boca.

— Você vai me matar um dia, Caio… — resmungou, a voz rouca.

— Eu? Olha quem quase arrancou minha alma pelo beijo — respondeu Caio, virando-se de lado, encarando Rafael com aquele olhar que misturava desejo e carinho.

Rafael não resistiu. Jogou uma das pernas por cima do corpo de Caio, se acomodando sobre ele com um peso leve, só pra provocar. Apoiou os braços no colchão, prendendo o outro ali.

— Sabia que se a gente estivesse numa luta agora, eu já teria finalizado você? — disse, com aquele olhar safado que Caio já conhecia bem.

— Finalizado? Você mal conseguiu levantar da cama, amor… — zombou Caio, dando um tapinha na coxa de Rafael.

— Ah, é? Duvida? — Rafa arqueou a sobrancelha, os olhos brilhando.

Em segundos, ele deslizou do corpo do namorado e o puxou pela cintura com uma técnica improvisada, jogando Caio de barriga pra baixo no colchão.

— Ei! — Caio gritou, rindo — Que isso, moleque!?

Rafael montou em cima dele como num treino de jiu-jitsu e, com um movimento rápido, tentou encaixar uma chave de braço (totalmente malfeita, claro). Caio ria tanto que mal conseguia protestar.

— Rende logo, antes que eu quebre seu orgulho em dois! — brincou Rafa, tentando parecer sério, mas mordendo o lábio pra não rir também.

— Você vai pagar por isso! — Caio conseguiu se soltar com um giro e, num contra-ataque desajeitado, virou Rafael de costas e caiu sobre ele.

Os dois rolaram pela cama, entre risadas, beijos rápidos e mãos bobas que não respeitavam nem um segundo de sossego.

— Isso não é jiu-jitsu, não! — Caio disse, prendendo os pulsos de Rafael contra o colchão — Isso é safadeza!

— Eu adaptei as regras… versão Rafael de amar — respondeu ele, rindo alto.

O quarto parecia pequeno demais para tanto amor e bagunça. E no meio das risadas, das provocações e dos olhares cúmplices, Caio se inclinou e beijou a testa de Rafael.

— Você é um perigo, sabia?

— Só pra você — respondeu Rafa, puxando-o de volta para mais um beijo… agora sem técnicas, sem chaves, só com coração.

Meu corpo tremia, e eu tentava convencer a mim mesmo de que precisava daquilo, só dessa vez. Mas no meio do caminho, algo em mim travou. Me veio a imagem dele. Do Caio me esperando em casa, preparando o jantar com aquele avental ridículo que ele adorava usar só pra me fazer rir. Me lembrei dos olhos dele, que sempre enxergavam além das minhas máscaras. Me lembrei das noites em que ele segurou minha mão quando eu não conseguia dormir, das vezes em que ele chorou escondido achando que eu não percebia — e percebia sim. Me lembrei da voz dele, dizendo com toda certeza do mundo que eu era forte. Que eu podia vencer.

Minhas pernas me levaram até a praia. Sentei na areia úmida, e encarei o mar como se ele pudesse me responder. O vento cortava o rosto, mas eu não me importava. Fechei os olhos e deixei que as lágrimas corressem livres. Pensei em tudo que estávamos construindo, em cada passo pequeno que ele dava comigo. Em cada abraço que me segurava inteiro quando eu já estava em cacos.

Fiquei ali um tempo que nem sei dizer. Só sei que quando voltei pra casa, o céu já estava se pondo. Abri a porta devagar e fui direto pro sofá. Me sentei com o corpo pesado e chorei como uma criança. Chorei porque eu quase fui. Quase me entreguei. E chorei porque escolhi não ir. Pela primeira vez, eu escolhi ficar.

Caio saiu do quarto com a testa franzida. Tava de moletom e meia, com o cabelo bagunçado. Sentou ao meu lado com calma e perguntou:

— O que aconteceu, amor?

Eu respirei fundo, ainda com o rosto molhado.

— Eu saí pra me drogar, Caio. Eu queria muito... muito. Mas no meio do caminho, eu só conseguia pensar em você. Eu... te amo tanto. Mas às vezes eu sinto que te faço mal só por existir do jeito que sou. E isso me mata por dentro.

Ele não disse nada por alguns segundos. Só me puxou pra perto, com aquele abraço onde cabe o mundo. A respiração dele colada na minha nuca, o coração batendo forte contra meu peito.

— Você me faz bem, Rafa. Mesmo nos seus piores dias, você me faz bem. Porque você tá lutando. E eu tô aqui. Sempre vou estar aqui, mesmo quando você não enxergar saída. Você me ouviu? — ele sussurrou, com a voz embargada.

Eu o olhei, e era como se tudo em mim gritasse por ele. Nos beijamos ali mesmo no sofá, com urgência e emoção. As roupas foram saindo aos poucos, entre toques que diziam mais do que palavras. Fizemos amor no tapete da sala, com as luzes apagadas e o luar entrando pela janela. Ele me olhava como quem acolhe, como quem salva.

— Obrigado por existir, Caio — eu disse, com os olhos marejados, enquanto o sentia dentro de mim. — Eu não sei se um dia vou merecer isso tudo, mas vou tentar... por nós.

Ele encostou a testa na minha e sorriu pequeno.

— A gente vai vencer isso junto, Rafa. Você não tá sozinho... nunca mais.

Nos movíamos em harmonia, os corpos quentes, os corações conectados. Não era só desejo, era algo mais profundo. Era amor. Era cura.

E naquele instante, deitado sobre ele, com os dedos entrelaçados aos meus, eu soube: por mais difícil que fosse... eu não ia desistir de mim. Nem dele. Nem de nós.

Rafa narrando...

Os dias que se seguiram foram leves… ou quase. Decidi lutar contra aquele vício maldito. Caio e eu já estávamos mais ajustados com as rotinas, e mesmo com as cicatrizes ainda abertas em mim, o amor do Caio seguia como um cobertor quente nas minhas noites frias. Às vezes, eu acordava e só de ver o jeito dele dormindo virado pra mim, com aquele cabelo todo bagunçado e aquela expressão tranquila, me dava um arrepio no peito. Era como se tudo que eu precisava estivesse ali, bem ali.

Naquele sábado o dia amanheceu bonito, com aquele céu meio lavado, com cheiro de café e mar. Dona Lúcia veio nos visitar logo cedo, trazendo bolo de fubá e uma energia boa que só ela tem. Me abraçou apertado quando chegou, como se eu fosse parte da família dela — e de certo modo, já era. Conversamos, rimos, ela me contou algumas histórias da infância do Caio que o deixaram vermelho feito pimentão.

— Ele era tão dengoso quando criança... só queria saber de colo — ela disse, rindo enquanto tomava o café que eu preparei.

Depois do almoço, chegou o tal do primo. Henrique. Moreno, alto, olhos claros, sorriso fácil demais pro meu gosto. E Caio… ah, Caio foi todo sorrisos também. Se cumprimentaram com abraço forte, piadinhas internas, apelidos que eu nunca tinha ouvido. Fiquei quieto, fingindo normalidade, mas por dentro... estava fervendo. Eles se cutucavam, riam alto, Caio tocava no braço dele o tempo todo — e mesmo que fosse carinho de família, meu sangue parecia estar sendo fervido em ácido.

Henrique elogiou a casa, elogiou a vista, e claro, elogiou Caio.

— Tu tá bem demais, hein? Cuidando do corpo, da pele… quem diria! — disse ele, rindo.

— Culpa do Rafa — Caio respondeu, olhando pra mim com aquele sorriso de canto de boca.

Mas na hora eu já estava entalado. Fingindo um sorriso. Com as unhas quase furando a almofada.

Quando eles foram embora, eu quase pulei de alegria por dentro. Mas por fora… virei sombra. Fiquei emburrado, mais calado que o normal. Me sentei no sofá, cruzei os braços e só respondia com monossílabos. Caio percebeu. Claro que percebeu.

— O que foi, amor? — ele perguntou, sentando ao meu lado.

— Nada — falei, com aquela resposta típica de quem quer dizer tudo, mas se engasga no orgulho.

Ele tentou me puxar, me beijar, mas eu escapei.

— Vou tomar um banho.

Entrei no banheiro com a cabeça fervendo. Senti o cheiro dele ainda nos azulejos, misturado ao vapor do último banho. Me despi, liguei o chuveiro quente…

Fiquei ali, parado, com a testa colada no vidro embaçado, o coração apertado de ciúmes e vergonha. A água quente escorria pelas minhas costas, como se tentasse lavar o nó que eu carregava no peito. Escrevi com o dedo no vidro do box:

"Caio, eu te amo."

Foi o jeito que encontrei de dizer o que estava engasgado — o amor, o medo, o ciúme, tudo misturado. Não demorou muito até ouvir a porta rangendo. E então senti sua presença.

Ainda com o vapor denso preenchendo o banheiro, Caio encostou a porta e ficou me observando por trás do vidro embaçado. A inscrição [ou declaração] “Caio, eu te amo” começava a escorrer lentamente, mas ele já tinha lido. Sorriu de canto, tocado e excitado ao mesmo tempo. Tirou a camisa devagar, os olhos fixos no contorno do meu corpo, a única coisa que nos separava era o box.

— Tô vendo que tem alguém aqui com a cabecinha quente... — ele provocou, a voz arrastada, carregada de malícia.

— Vai embora, Caio. Não tô bem pra briga... — retruquei, tentando manter a pose, mesmo sabendo que já estava completamente exposto.

Ele abriu o box sem cerimônia, o calor da água e do ambiente o recebendo como se fosse dele também.

— Brigar? Eu vim é resolver... — sussurrou, colando o corpo molhado no meu. — Você acha mesmo que eu não percebi, Rafa? Desde que o meu primo saiu você tá parecendo uma panela de pressão prestes a explodir. Eu só queria ver até onde ia seu teatrinho.

Virei o rosto, sentindo o peito vibrar de desejo e raiva ao mesmo tempo.

— Ele ficou te tocando demais... te chamando de "Cainho"... e você rindo, rindo como se fosse íntimo...

— E eu devia ignorar? — Caio retrucou, suas mãos escorrendo pelas minhas costas, parando no cóccix.

— O cara é meu primo, cresceu comigo. Mas quem dorme na minha cama, quem tem meu coração, quem eu amo... é você.

Fechei os olhos, sentindo as palavras dele me atravessarem como lâmina quente em manteiga.

— Você me ama mesmo, Caio? Mesmo com esse meu jeito torto? Com meus ciúmes, minhas crises, minha cabeça bagunçada?

— Eu amo até quando você tá um saco. Até quando me olha com cara de quem quer sumir e, mesmo assim, segura minha mão. Eu amo até quando você me emburra... porque no fim, você sempre volta.

— Porra, Caio... — soltei com a voz embargada. — Eu não sei como você me aguenta.

— É que além de te amar... eu sou viciado em você. Viciado nesse seu corpo, nesse seu jeito safado de me provocar mesmo sem querer. Vem cá...

Ele me virou de frente, colando nossos peitos, as bocas quase encostando. A água quente escorria pelos nossos rostos, misturando suor e desejo.

— Me beija, Caio...

— Pede direito — ele rosnou baixinho, os olhos cravados nos meus.

— Me beija, caralho... — implorei, mordendo o lábio inferior dele antes do beijo começar.

E foi como acender um fósforo numa casa cheia de gás. O beijo veio molhado, urgente, com mordidas, língua, saliva... Caio me prensou contra a parede fria do box, a diferença de temperatura arrepiando a pele. Suas mãos desciam com fome, agarrando minha bunda com força, me puxando pra ele.

— Tava com ciúmes, né, puto? — ele disse entre um beijo e outro.

— Cê queria que eu tivesse te agarrado ali mesmo, na frente do meu primo?

— Eu queria você só pra mim... sempre.

— E me tem. Inteirinho. E hoje... vai ser meu.

Me virei de costas, sem dizer mais nada, e senti quando ele me encostou com cuidado na parede, os corpos molhados deslizando juntos. A respiração dele quente no meu pescoço, a pegada firme e decidida.

— Fala que é meu, Rafael... — ele ordenou, mordendo minha nuca.

— É seu... porra... sempre fui... — gemi entre dentes, me entregando completamente, sem resistência.

A movimentação começou lenta, ritmada, como se cada estocada fosse uma confissão, um pedido de desculpas, um gesto de reconciliação. Ele me preenchia por inteiro, com desejo, com força, com amor. Os gemidos abafados se misturavam ao barulho da água, os palavrões e sussurros se cruzando no ar como faíscas elétricas.

— Você é meu, caralho... ninguém te toca... só eu... — ele dizia, entre arfares e beijos nas minhas costas.

— Te amo, Caio... porra... te amo tanto que dói...

Nos movíamos em harmonia, como se aquele momento fosse a única coisa que existisse no mundo.

A cada investida, eu sentia meu corpo sendo reintegrado, como se ele estivesse me reconstruindo com amor e luxúria. Era sexo, mas era mais do que isso. Era um reencontro de almas, uma reafirmação silenciosa do quanto precisávamos um do outro.

Quando gozei, foi com um grito abafado, o corpo inteiro tremendo, os joelhos quase cedendo. Caio me segurou firme, beijando meu ombro, gemendo meu nome em um sussurro rasgado, antes de também se derramar em mim.

Depois, ficamos ali, colados sob o chuveiro ainda ligado, os corpos cansados, mas os corações em paz.

Ele me abraçou por trás, passando os braços ao redor da minha barriga, encostando o rosto no meu pescoço.

— Ciúme é só mais uma forma de dizer que você ama alguém demais... — sussurrou. — E eu gosto de saber que você me ama tanto assim.

Sorri, virando o rosto pra ele.

— Mas se o seu primo voltar aqui... eu jogo ele pela varanda.

— Idiota... — ele riu, me beijando de novo.

E naquela noite, dormimos juntos, abraçados, com o corpo quente e o coração mais quente ainda.

Rafael narrando...

Alguns dias se passaram desde aquele momento nosso no banheiro. Desde aquele “eu te amo” rabiscado no vidro embaçado e respondido com gemidos e beijos molhados. Estávamos mais próximos. Mais inteiros. Mais nós. E era como se a cada dia que passava eu quisesse encontrar novas formas de dizer a ele o quanto ele me salvava sem perceber.

Foi numa tarde de céu azul, quando o sol beijava a praia com carinho, que eu tive a ideia:

— Vamos comprar umas roupas novas? Eu quero te ver bonito, vestindo coisa cara, do meu lado — falei com um sorriso torto, de quem já sabia que ia ouvir resmungos.

Caio arqueou uma sobrancelha e riu:

— Roupas caras? Tá doido, Rafael? Eu me visto bem com o que tenho. Não precisa dessas frescuras.

— Não é frescura, é presente. Meu presente. Eu quero. E você vai aceitar, mesmo emburrado.

Ele bufou, mas no fundo eu sabia que ele gostava quando eu mimava ele. Entramos numa loja no centro, daquelas com fachada de vidro, ar-condicionado gelando até pensamento e atendentes com camisa social engomada. A loja mais cara da cidade. Eu quis o melhor.

— Boa tarde, senhores. Posso ajudá-los? — a voz veio doce, firme. Um cara de cabelo arrumado, perfume forte e um sorriso escancarado que parecia mais com uma tentativa de flerte do que de atendimento.

— Estamos só olhando — disse Caio, seco.

Mas o cara nem deu atenção pra ele. Me encarava com olhos de quem devorava.

— Se precisar de alguma coisa, Rafael... — disse, após olhar discretamente meu cartão que eu usava pra pagar. A forma como ele falou meu nome me arrepiou, mas não de um jeito bom. Me incomodou.

Percebi o olhar de Caio. Gelado. Silencioso. E isso era pior do que qualquer cena. Mesmo sendo engraçado também.

Provamos algumas roupas. Eu insisti pra ele escolher tudo o que quisesse. Ele pegou umas três peças, mais por insistência minha. Eu levei mais, claro, e percebi os olhos do atendente passeando descaradamente pelo meu corpo cada vez que eu saía do provador.

Caio se calou o tempo todo. Ficou sério, braços cruzados. Terminamos ali, pagamos tudo e fomos almoçar num restaurante perto da praia. A comida era boa, o ambiente lindo, mas o clima entre nós estava estranho. Caio olhava o celular, mexia no guardanapo, evitava contato visual.

— Que foi? — perguntei por fim.

— Nada.

— Caio...

— Você viu o jeito que aquele cara te olhava? Que nojo!

Sorri, achando graça.

— Tá com ciúmes?

Ele me encarou e disse:

— Fica se achando... Mas não gosto de ver ninguém te olhando como se te quisesse. Ainda mais na minha frente.

Estendi minha mão sobre a mesa e segurei a dele.

— Você é o único que me tem. O resto? Que olhem. Só olham.

Depois do almoço, caminhamos pela areia quente. O sol começava a cair devagar. Vi uma galera montando um jogo de futebol ali perto e resolvi me juntar. Estava precisando extravasar. Caio ficou sentado sob o guarda-sol, braços cruzados de novo. Eu sabia que ele não curtiria, mas o momento me levou.

Entre um chute e outro, risadas, gritos... esqueci da presença dele por um tempo. Quando voltei ao guarda-sol, ele já tinha se levantado e estava do lado da nossa canga. Olhar perdido no mar.

— Vai jogar mais? — perguntou. A voz dele estava dura.

— Não... agora tô aqui. Só com você.

— Engraçado. Te trouxe pra perto de mim e cê corre pra longe assim? Que porra, Rafael!

— Ei... Não foi isso. Só tava me distraindo. Cê sabe o tanto que esses dias têm sido pesados pra mim.

— Pesado? E por isso tu me deixa sozinho? O cara da loja, agora isso... Tá parecendo que cê gosta de provocar.

Aquela tensão, aquele desentendimento... virou combustível. Me aproximei dele, toquei seu rosto com firmeza.

— Eu gosto de te provocar porque eu gosto de te ter. Só você me tira do sério assim. Só você me acende desse jeito.

O beijo veio como uma explosão. Um encontro de boca, dentes, desejo. Voltamos pro apartamento sem dizer mais nada. Trancamos a porta e Caio me empurrou contra a parede.

— Tira essa camisa. Agora — ele ordenou, voz rouca, olhos queimando.

Obedeci. Ele me virou de costas, me mordeu o pescoço, lambeu minha nuca.

— Quer saber como é ser só meu? Vou te mostrar.

Nos jogamos no chão da sala, onde tudo já tinha acontecido antes, mas agora com raiva, com intensidade, com gana. As roupas foram arrancadas, a pele raspando no tapete, os gemidos se misturando com os palavrões.

— Tu é meu, Rafael. Entendeu? — ele sussurrava, me penetrando com força.

— Sou seu... só seu... caralho... — respondi, entre gemidos.

O suor escorria dos nossos corpos. Ele me segurava pelos quadris, me puxando com urgência. E eu me entregava por completo. Me virava, me curvava, me oferecia.

— Isso... geme pra mim, porra... deixa eu te ouvir — ele dizia, a voz entre dentes.

— Só você me faz gozar assim... só você, Caio...

E quando o ápice chegou, nossos corpos tremiam como se estivessem se desfazendo e se reconstruindo ao mesmo tempo. Ficamos deitados ali, abraçados no chão, ofegantes.

— Desculpa... eu só senti ciúmes porque eu te amo pra caralho — ele disse, acariciando meu rosto.

— Eu também te amo... até quando tu tá emburrado. Principalmente quando tu me fode desse jeito.

Rimos. E nos beijamos outra vez.

Ainda ofegante, Rafael rolou para o lado da cama, o peito subindo e descendo devagar, os olhos meio cerrados, um sorriso satisfeito se formando no canto da boca.

— Você vai me matar um dia, Caio… — resmungou, a voz rouca.

— Eu? Olha quem quase arrancou minha alma pelo beijo — respondeu Caio, virando-se de lado, encarando Rafael com aquele olhar que misturava desejo e carinho.

Rafael não resistiu. Jogou uma das pernas por cima do corpo de Caio, se acomodando sobre ele com um peso leve, só pra provocar. Apoiou os braços no colchão, prendendo o outro ali.

— Sabia que se a gente estivesse numa luta agora, eu já teria finalizado você? — disse, com aquele olhar safado que Caio já conhecia bem.

— Finalizado? Você mal conseguiu levantar da cama, amor… — zombou Caio, dando um tapinha na coxa de Rafael.

— Ah, é? Duvida? — Rafa arqueou a sobrancelha, os olhos brilhando.

Em segundos, ele deslizou do corpo do namorado e o puxou pela cintura com uma técnica improvisada, jogando Caio de barriga pra baixo no colchão.

— Ei! — Caio gritou, rindo — Que isso, moleque!?

Rafael montou em cima dele como num treino de jiu-jitsu e, com um movimento rápido, tentou encaixar uma chave de braço (totalmente malfeita, claro). Caio ria tanto que mal conseguia protestar.

— Rende logo, antes que eu quebre seu orgulho em dois! — brincou Rafa, tentando parecer sério, mas mordendo o lábio pra não rir também.

— Você vai pagar por isso! — Caio conseguiu se soltar com um giro e, num contra-ataque desajeitado, virou Rafael de costas e caiu sobre ele.

Os dois rolaram pela cama, entre risadas, beijos rápidos e mãos bobas que não respeitavam nem um segundo de sossego.

— Isso não é jiu-jitsu, não! — Caio disse, prendendo os pulsos de Rafael contra o colchão — Isso é safadeza!

— Eu adaptei as regras… versão Rafael de amar — respondeu ele, rindo alto.

O quarto parecia pequeno demais para tanto amor e bagunça. E no meio das risadas, das provocações e dos olhares cúmplices, Caio se inclinou e beijou a testa de Rafael.

— Você é um perigo, sabia?

— Só pra você — respondeu Rafa, puxando-o de volta para mais um beijo… agora sem técnicas, sem chaves, só com coração.

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 10Seguidores: 4Seguindo: 2Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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