Temporada 1 de 3
Capítulo 2: Bem-vindo à família
Naquele dia, John me ofereceu uma alternativa. Bem, na verdade, nem considero uma alternativa... hahaha. Ou eu entrava na academia da SWAT, ou eu ficava preso. Na hora, não me pareceu que eu tinha muita escolha.
Aceitar foi fácil. Mas, mesmo aceitando, eu não tinha a menor ideia do que viria pela frente...
John: Já conversei com um amigo na academia. Você vai começar daqui a uma semana.
Oliver: Ok... Obrigado.
John: Não me agradeça. Na verdade, esse já era meu plano caso você não conseguisse um lar adotivo até completar a idade limite. Mas você meteu o pé antes disso... hahaha. E, pra ser sincero, eu não queria chegar a isso, garoto. A SWAT é minha segunda casa, meus companheiros são minha segunda família, mas eu não ia querer um filho meu nessa vida. Sei que você não é meu filho, mas...
Oliver: Por que não? Até onde eu sei, muitos têm orgulho de ter gerações de membros da SWAT na família.
John: Sim, é verdade. Talvez eu seja meio sentimental, garoto... hahaha. Mas eu prefiro um filho advogado, médico, ator, veterinário, pedreiro, catador de lixo, ator pornô...
Oliver: Ok, ok, ok... hahaha. Tudo menos um membro da SWAT.
John: Exatamente! Não é porque eu acho essas profissões melhores, mas sim porque sei como a Harley ficaria...
Oliver: Quem é Harley?
John: Minha esposa. Você vai conhecê-la.
Nesse momento, eu saquei que John não ia só me largar na academia, num alojamento ou coisa assim.
Oliver: Pra onde estamos indo?
John: Pra minha casa. Você vai ficar comigo até eu acertar toda a papelada. Você ainda tem que tirar documentos e várias outras coisas, garoto. Até estar tudo certo, você vai ficar lá.
Uma parte de mim ficou feliz por ter alguém que eu, de certa forma, conhecia por perto. Mas a outra parte ficou apreensiva. Como eu seria recebido pelos outros membros da casa?
Oliver: John... você não tem filhos, né?
John: Na verdade, eu tenho sim... Mas é complicado.
Oliver: Como assim?
John: Nasceu homem, mas bateu a cabeça no caminho e decidiu que queria virar mulher. Já fiz de tudo, garoto, e nada...
O rosto de John ficou sério. Pelo visto, ele não aceitava bem o fato do filho ser... diferente.
Oliver: Não esquenta, John. O seu filho ser gay não é o fim do mundo hoje em dia. A galera acha isso bem mais natural do que antigamente.
John: Não ligo para o que os outros pensam, garoto, mas sim para o que eu penso. Ele ser gay já é... já é ruim. Mas ele ainda decidiu se vestir que nem mulher! Meus amigos ficam me zoando, é uma merda. E a mãe? A mãe fica apoiando essa porra! Tomar no cu, eu não posso tomar uma cerveja em paz com meus amigos sem virar a piada da noite.
Oliver: Hahaha.
John: Aí, até você tá rindo... hahaha. Mas olha pelo lado bom, talvez você ficando esse tempo lá em casa faça ele tomar juízo. Joga um FIFA com ele, um GTA, um COD, talvez. Jogo de macho, sabe? Vai que ele, tendo uma figura assim por perto, não muda de ideia, né?
John falou todo esperançoso, mas, sinceramente, eu não queria bancar o irmão mais velho de ninguém. A decisão do filho dele era problema dele e da família. Mas eu não ia dizer não para o cara que estava me dando um teto e um recomeço.
Oliver: Pode deixar, John. Na verdade, eu nunca joguei esses jogos... hahaha. Mas quem sabe eu não peço pra ele me ensinar.
Chegando lá, deu pra ver que a vida de um agente da SWAT não era nada mal. A casa era enorme, muito bonita. Ao estacionar, John se virou para mim.
John: Espera aí. Eu meio que não avisei que teríamos visita.
Eu fiquei sentado na sala por uns trinta minutos, até que John desceu as escadas ao lado de uma mulher. Puta que pariu. Ela era alta, loira, com um corpo que parecia esculpido. O rosto era lisinho, pele branca, olhos claros e um sorriso que podia tanto te acolher quanto te devorar. O jeito dela andar... tudo parecia um desfile.
Harley: Você é o Oliver?
Oliver: Sim, senhora. Eu prometo que vou me comportar, não vou trazer problemas. Só vou ficar até resolver meus documentos e...
Harley: É o seguinte, garoto. Aqui em casa tem regras. Primeira: sem trazer mulheres, ok?
Oliver: Ah, ok. Sim, senhora. Entendido, sem mulheres.
Harley: Sem drogas ou álcool.
Oliver: Ok, sem drogas... Nem um álcool num dia de jogo?
John, que estava encostado na parede, deu uma gargalhada alta.
John: Esse garoto é dos meus! Hahaha!
Harley: Hahaha, ok. Álcool, só em dia de jogo, e apenas quando eu ou o John estivermos com você, ok?
Oliver: Combinado... hahaha.
Harley: Oliver, eu não sou contra você aqui. Muito pelo contrário. Vi o quanto meu marido ficou mal por não conseguir te ajudar antes. Sei que isso não é exatamente o que ele te prometeu, mas também sei que ele está tirando um grande peso da alma. E eu estou aqui pra ajudar. Me veja como uma amiga, Oliver. Você ainda tem jeito, moleque. Só precisa de foco e disciplina.
Ela parecia bem amistosa, com um sorriso acolhedor. John anunciou que iria se deitar, pois sairia cedo no dia seguinte. Harley me perguntou se eu estava com fome. Na verdade, eu estava faminto, mas disse que sim, com um pouco de vergonha.
Harley: Oliver, aqui está seu prato. Espero que goste, fiz com carinho. Olha, você vai ficar no quarto da minha filha e... bem, eu preciso conversar com ela primeiro sobre isso. E depois, quero falar uma coisa super importante com você, ok?
Oliver: Sim, senhora. Mas não precisa se preocupar, qualquer coisa eu durmo no sofá. Comparado a onde eu dormia, isso aqui seria uma cama de luxo... hahaha.
Ela tocou meu rosto com uma delicadeza que me pegou de surpresa, e sorriu. Mas era um sorriso de pena. Ela saiu, e eu fiquei ali, jantando.
Que começo... Eu não sabia se ela estava sendo sincera ou só agradando o marido. Mas, mesmo assim, eu esperava bem mais resistência. Afinal, o marido dela acabou de colocar um ex-trombadinha dentro de casa.
Eu terminei de comer e fiquei ali, pensando na vida... até que ela voltou. E com ela, vinha um... uma... mas que porra era aquela?
O filho do John... ou filha... tinha cabelos pretos e lisos que iam quase até a cintura, emoldurando um rosto delicado e feminino, muito parecido com o da mãe. Usava um shortinho jeans curto que revelava uma bunda média, bem dura e empinada, e os peitinhos eram bem salientes debaixo de uma blusa colada. Se o John não tivesse me avisado, eu nunca na vida diria que aquilo era um homem. Tinha silicone e tudo, caralho. E o John achava mesmo que FIFA, GTA ou COD ia dar jeito nisso? Aquele cara viajava...
Harley: Oliver, essa é a Catrina. Minha filha.
Catrina: O-oi...
Ela falou baixinho, quase se escondendo atrás da mãe.
Oliver: Fala aí, man... Catrina. Tudo bem?
Ela acenou que sim com a cabeça, sempre baixa, sem nunca me olhar nos olhos. Harley deu um beijo na testa dela e a mandou de volta para o quarto.
Harley: Eu não sei se o John já conversou com você, mas a Catrina não é uma mulher de nascimento. Minha filha nasceu homem.
Minha filha nasceu homem... Que frase difícil de processar.
Harley: O nome de nascimento é Bastian. O John quis dar esse nome em homenagem ao falecido pai dele.
Pobre John. Isso deve deixar ele ainda mais puto...
Harley: Mas não podemos controlar tudo. John não aceita a Catrina do jeito que ela é. Tudo que foi feito para ajudar na transição dela, fui eu que fiz. Na verdade, essa situação já foi motivo da nossa quase separação. Ele só a "aceitou" por não querer me perder, mas ele mal fala com a Catrina dentro de casa, e quando fala, é para discutir...
Que situação... e eu achando que a vida aqui era tranquila.
Harley: Você deve estar se perguntando por que eu estou te contando tudo isso, não é?
De fato, eu estava. Aquilo era bem pessoal.
Harley: O que eu quero de você é respeito. Mesmo que o John, com certeza, fosse apoiar qualquer tipo de discriminação da sua parte, eu te peço que não faça. Por favor. Eu sei o quanto ela sofre com isso... não só na escola ou na vida amorosa, mas com o próprio pai. John sempre falou de você como "o filho que ele queria ter". Talvez ele dissesse isso só para ferir a Catrina, mas o fato é que você está aqui agora, e isso vai mexer com ela. Oliver, você terá todo o meu apoio, uma amiga, alguém pra te aconselhar e ajudar a dar um novo rumo pra sua vida. A única coisa que eu te peço em troca é: seja legal com a Catrina, ok?
Caralho, que barra... O olhar dela estava cheio de dor, com lágrimas prestes a cair. Eu pensei em tudo que podia acontecer, mas não previ isso. Por um lado, se eu tratasse o Bastian como Catrina, o John ficaria puto comigo. Por outro, se eu tratasse a Catrina como Bastian, eu iria ferir o coração dessa mulher que estava me oferecendo uma amizade sincera. Porra, o que eu faço? Nas ruas era mais fácil...
Oliver: Eu... eu... Eu vou tratar... ela com respeito, senhora. Eu prometo. Mas também não posso me indispor com o John. Prometo tratar a Catrina com respeito, sem piadinhas ou maltrato, mas vou me manter afastado dessa questão familiar, pois não quero desagradar nenhum dos lados.
Ela colocou uma mão sobre a minha e passou a outra no meu rosto.
Harley: Respeito... É só isso que eu te peço, Oliver. Agora vai dormir, menino. A Catrina já deve ter colocado um colchão pra você lá no quarto dela.
Ela me deu um beijo no rosto e se retirou. Sem maldade, ela era muito carinhosa... Porra, eu tô fudido. O John quer uma coisa, a Harley quer outra... A que se foda. Eu penso nisso quando chegar a hora.
Eu limpei o prato e fui para o quarto. Tinha um colchão no chão, com uma coberta e um travesseiro. Tudo limpinho, cheiroso. Quando eu me deitei, não pude deixar de suspirar. Era muito bom. Quente, seguro, confortável. Eu nem lembrava mais como era essa sensação.
Catrina: Bo-boa noite, Oliver...
Catrina falou bem baixinho, deitada e virada para o canto em sua cama.
Oliver: Ah, boa noite aí, Catrina. Pode ficar tranquila que eu tenho sono pesado, hahaha. E eu não ronco, não. Teve um dia que eu fiquei acordado a noite toda só pra saber se eu roncava ou não.
Ela deu uma risadinha leve, mas não continuou o assunto. Eu apaguei, decidido a aproveitar ao máximo aquela noite de sono.
No dia seguinte, fui o primeiro a acordar... Tá, ok, não fui o primeiro. Acordei com o barulho do John saindo para trabalhar. Desci correndo e o encontrei pegando as chaves do carro.
Oliver: Eu não vou junto, não?
John: Desculpa, garoto, mas hoje não vou poder te dar atenção. Tenho um caso importante pra resolver e não sei que horas volto. Cuida da casa, Oliver. E tenha juízo.
John saiu. Deu pra ver que ele estava focado, sem sorrisos ou brincadeiras. Devia ser uma missão importante.
Eu aproveitei que já estava de pé e resolvi fazer uma surpresa para a Harley. Usei toda a minha experiência de cozinha — que aprendi com a Dona Zyra, a única mulher legal do orfanato — para preparar um café da manhã caprichado. Preparei um café fresco, forte, do jeito que imaginei que eu gostaria. Fritei ovos com bacon, deixando a gema mole e o bacon crocante. Fiz umas torradas na manteiga e arrumei tudo numa bandeja com um copo de suco de laranja. Queria retribuir o carinho com que ela me recebeu.
Vamos ver como será esse dia... com a senhora Harley e com... Catrina.
Continua no próximo capítulo...