Apostei que Faria Aquela Médica Certinha Virar Minha Putinha - Parte 03

Um conto erótico de Lucério
Categoria: Heterossexual
Contém 8630 palavras
Data: 18/08/2025 15:57:43

Boa tarde a todos. Meu nome é Lucério. Cinquenta e dois anos. Posso ser magricela, calvo nas laterais, uma curvinha desgraçada nas costas que me dá um ar de velho antes da hora. Mas nunca se engane: minha mente é afiada como uma navalha. Trabalho como analista de riscos em uma empresa de consultoria financeira. Passo meus dias dissecando contratos, avaliando transações suspeitas e descobrindo onde o dinheiro realmente está. Eu adoro meu emprego.

Desde jovem, aprendi que o mundo pertence a quem sabe mais. Cresci em uma família que mal tinha dinheiro para pagar o aluguel, e entendi cedo que ser esperto era mais valioso do que ser forte. Estudei, subi na vida, mas nunca esqueci a regra de ouro: tudo tem um preço, e tudo pode ser comprado. Meu salário é alto, minha posição me garante respeito, mas o que realmente me alimenta é a sensação de ter a peça que falta no quebra-cabeça da vida de cada um ao meu redor, seja no trabalho, seja onde moro.

Fiz um novo painel mental, organizando os eventos dos últimos dias.

Era um jogo simples. Eu contra ela. O vilão contra a mocinha. Eu queria provar que toda virtude é fachada, que até a mais reluzente das santas tem um preço, uma fraqueza, uma brecha por onde o veneno escorre. A Jéssica, por sua vez, queria arrancar de mim, do fundo de algum ponto escondido, em meio à podridão da minha alma, algo parecido com um coração. Ela jurava que todos têm um lado bom e se tornariam pessoas decentes desde que tivessem alguém que acreditasse nele.

Dois teimosos, duelando sem descanso. Eu com minhas cartas marcadas, ela com aquela insistência de que tudo podia ser salvo. No fundo, nenhum dos dois queria sair da mesa. Nós gostávamos da companhia e da rivalidade um do outro. Um não queria admitir que o desafio que o outro trazia veio com um quê de novidade que tornou a rotina mais divertida. O jogo estava se tornando viciante pra ambos. E como todo jogo que vale a pena, o prêmio final seria inevitável: sexo. Não havia outra saída.

Tive minha pequena vitória. Um jantar ao qual ela deveria ir, pois dera sua palavra. Nosso jogo era assim. Vitórias simples, mas ainda assim vitórias. Convencer aquela mulher a se arrumar como uma princesa, se sentar à mesa comigo, conversar sobre nossas vidas e nossos segredos mais íntimos foi como arrancar um sorriso de uma estátua. Ela insistiu em chamar aquilo de “jantar de amigos”. Isso, claro, era como ela insistia que éramos. Amigos. Como se ela tentasse desarmar o veneno das palavras, usando a semântica como uma muralha. Eu chamei de jantar. Ponto. Eu sabia o peso das coisas e o sabor da conquista, por menor que fosse.

Mas, como todo vilão que se preza, subestimei a heroína. Ela chegou pro nosso round do nosso jogo preparada. Eu estava preparado pra coloca-la nas cordas, expondo meu conhecimento sobre seu maior segredo. Mas ela resistiu à minha sedução, desviou de cada armadilha que montei com palavras, olhares e insinuações. E, para completar, me salvou de um engasgo miserável. Ironia pura. O predador, salvo pela presa.

Mas um bom jogador respeita as regras do jogo. Ela havia vencido aquela rodada e a mim restava pagar a prenda do perdedor. Esperta, a Jéssica pediu a moeda mais cara que poderia arrancar de mim. Um mês. Um mês inteiro sendo um ser humano decente.

E eu paguei. Sem reclamar, sem discutir. Palavra dada é corda no pescoço. Durante semanas, abri mão de minhas pequenas maquinações no condomínio. Deixei de lado as chantagens veladas, os fios invisíveis que puxam votos e vontades. Era como trancar uma arma carregada numa gaveta e jogar a chave fora. Não foi fácil. Mas eu cumpri.

Todos os dias, na mesma hora, saía para andar pelo bairro. Uma hora exata, como o ponteiro de um relógio. Um espião em território hostil, observando rostos, cumprimentando pessoas que eu considerava indignas até de respirar o mesmo ar. Mas eu cumpria a liturgia. Um sorriso aqui, um aceno ali.

Procurava, sempre procurava, a oportunidade de um gesto bom. Carregar sacolas para uma senhora, ajudar um moleque a pegar a bola que caiu no telhado, dar informação a um perdido. Pequenas penitências. Cada uma delas anotada no caderno invisível do acordo. Cumpria isso como uma missão. Um mês de humanidade forçada.

Jéssica não pediu para que eu gostasse. Não pediu que eu acreditasse. Pediu apenas que eu fizesse. E eu fiz. Com precisão militar, foco de profissional. Porque assim era nosso jogo. Ela acreditava que, na melhor das hipóteses, eu perceberia que gosto de ser uma boa pessoa e fazer boas ações. Na pior das hipóteses, ela estaria livre de meus avanços e minhas maquinações por um mês inteiro. Um mês que ela poderia se preparar. Mas, pra cada passo fora de casa, cada sorriso fingido, cada boa ação executada com frieza, eu apenas me preparava pra quando o mês passasse.

Pois, a Jéssica estaria sozinha contra mim. Ela mesma me contou. O maridinho dela não é idiota. Ele sacou que eu não mudaria com um mês de boas ações pragmáticas e sendo artificialmente gentil. Ele sabia que eu estava maquinando e esperando. E, diferente da Jéssica, ele não teimoso. O Rogério queria dar um “chega pra lá” em mim. Mas a Jéssica impediu. Fincou o pé e bateu no peito com orgulho de que eu, Lucério, era o SEU “rival”, o SEU “inimigo”, que cabia apenas a ELA me “derrotar” ou decidir que eu não valia a pena. Pra manter sua amizade (ela acha que seremos bons amigos quando eu me tornar uma boa pessoa) comigo sem intervenções do marido, ela sacrificou sua amizade unilateral com o tal Enéias.

O mais engraçado de tudo? Ela me contou tudo isso. Estou me adiantando um pouco.

Mas é porque já tenho tudo pensado pras próximas rodadas que valerem. Porque eu sei, e ela sabe, que o nosso jogo é contínuo até que um dos dois aceite a derrota em definitivo. Ela aceitando ser minha ou eu aceitando ser amigo dela.

Este mês, ela venceu. Mas ambos sabíamos que a minha próxima vitória, em breve ou não, seria inevitável. E quando este mês acabasse, eu estaria livre das amarras. E já tinha até planejado o meu próximo prêmio: na minha próxima vitória, ela teria que exibir os pequenos seios para mim.

Porque algo tão relativamente simples? Por que não pedir logo um boquete ou me deixar chupa-la? Porque eu passei a apreciar o percurso tanto quanto o destino. Fazer a Jéssica realizar um strip-tease, revelando seu corpo pra mim um pedaço por derrota, era mais excitante. E manteria nela a esperança da vitória ao final.

E, claro, um pedido tão “pequeno”, comparado ao que eu poderia exigir pareceria mais justo. Caso a Jéssica se negasse, ela estaria sendo suficientemente desonrosa a ponto de quebrar as regras do nosso jogo. As regras que ela aceitou enquanto estava vencendo. As regras que ela aceitou quando empinou sua bundinha pra mim. As regras que ela aceitou quando me deu dois selinhos. Exigi-las na vitória e quebra-las na derrota provariam que ela não tinha moral nenhuma por trás da fachada de “boazinha”.

E os dois sabiam que isso seria a derrota completa dela.

A primeira visita já foi uma grande demarcação de território. Quando a campainha tocou, eu já sabia que era ela. O relógio marcava o horário exato que tínhamos combinado. Abri a porta e lá estava ela. Usava um vestido justo na cor vinho, com um pequeno decote que não pedia licença. Perfume doce, mas com um fundo amadeirado.

— Primeira visita, conforme o acordo — disse ela, entrando sem esperar convite, como se o apartamento fosse território neutro. — Uma hora, a cada três dias. Apenas como amigos.

Assenti. Eu tinha palavra, e ela também.

— Mas tenho duas novas condições — continuou ela, já virando para me encarar. — Você não pode encostar em mim. Nem tentar. E não pode mentir.

— Fechado. Mas em troca, você só fala a verdade.

Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada. Eu sabia o que estava fazendo. A diferença entre “não mentir” e “falar toda a verdade"” é um abismo onde muita gente já caiu. E da forma como nos foi solicitado, apenas eu poderia omitir um detalhe ou dois se quisesse.

Sentamos no sofá. Ela foi direto ao ponto.

— Por que eu? Por que não qualquer outra mulher solteira do condomínio?

Respirei fundo. A regra era falar a verdade.

— Porque você não é só bonita. É inteligente. Fria quando quer, calorosa quando decide. Você sabe exatamente o que vale, e não precisa que ninguém confirme isso. E, acima de tudo, porque você é um desafio.

Ela segurou meu olhar por alguns segundos. Havia ali um duelo silencioso nos nossos olhares. Inclinei um pouco a cabeça, como quem avaliava a próxima jogada.

— Você disse, tempos atrás, que se estivesse solteira, aceitaria namorar comigo. Isso é verdade? — perguntei, baixo, mas firme, quase deixando minha voz roçar nela.

— Eu disse que aceitaria jantar com você, se me convidasse como um ser humano normal. Sem compromisso. Inclusive, já tivemos um jantar assim.

— Não respondeu a minha pergunta. Se estivesse solteira, e a gente estivesse nesse mesmo joguinho, você aceitaria ser a minha namorada?

Aproximei-me lentamente, olho no olho, sentindo o calor dela aumentar à medida que diminuía a distância. Ela não recuou.

— Aceitaria, sim — disse, e havia uma hesitação deliciosa na voz. — Mas por tempo determinado. Como prenda de jogo. Sem sexo.

Sorri de canto, deixando o silêncio trabalhar a meu favor.

— Eventualmente, teria sexo.

— Se eu fizesse sexo com você, perderia o jogo.

Mantive o rosto perto do dela, tão perto que podia sentir o cheiro doce e amadeirado que ela carregava.

— O jogo nunca foi sobre fazer sexo com você uma vez. Ele é sobre fazer sexo com você pra sempre.

Ela respirou mais fundo, e foi como se o ar que entrava nos pulmões dela atravessasse os meus. Eu avancei mais um passo invisível, sustentando o olhar.

— Você faria sexo comigo? — perguntei.

— Sim... — murmurou, quase entregando tudo, antes de virar o rosto no último instante, escapando de um beijo que já ardia no ar.

Eu sorri, lento, como quem sabe que a partida ainda não acabou. Minha vez de perguntar.

— Por que eu? Por que não o Enéias ou os outros homens, outros médicos? Por que você aceitaria fazer sexo comigo em um mundo que o Rogério não existisse, mas não os outros?

Percebi a tensão no jeito que os lábios dela se fecharam antes de abrir a boca. Sabia que, pelas regras, não podia omitir. Eu tinha encurralado ela nas cordas, e ela sabia disso.

— Porque, mesmo sendo um canalha, você é um canalha que cumpre palavra... — ela hesitou, mordendo de leve o canto do lábio, antes de concluir — E também porque eu sei que você não quer só me comer. Eu sei que você quer me conquistar. Casar comigo. E isso me deixa curiosa em saber por quê.

Me levantei, não por acaso, mas porque sabia que tinha vencido aquela jogada. Qualquer passo além e o feitiço se quebraria. Era hora de baixar a temperatura alguns graus para ela respirar e voltar a se sentir no controle. Ou melhor, achar que estava.

— Não tenho mais perguntas hoje. Quer chá? — falei com casualidade.

Ela me observou, e percebi nos olhos que entendia as entrelinhas: eu estava recuando, não desistindo.

— Verde, se tiver.

— Tenho. Estou 100% à sua disposição. Falaremos do que você quiser.

Ela riu, mas não era uma risada solta. Era a risada de quem ainda estava me medindo, talvez tentando identificar o que vinha a seguir.

— Isso é quase assustador vindo de você.

Enquanto a chaleira esquentava, notei que ela estava mais calma, mas não relaxada. As costas ainda retas no sofá, o olhar acompanhando meus movimentos. Não parecia na defensiva, e sim analisando, como se tentasse decifrar a próxima jogada.

Mas eu fui transparente. O resto do dia seria dela. Pra ela falar sobre o que quisesse. Assim, como o próximo. E o próximo. E o próximo...

Dar a ela a falsa sensação de segurança era uma jogada. Agora, é bom eu mencionara outra parte do plano que preparei durante este mês para a Jéssica. A nossa querida e bondosa cometeu um tremendo erro estratégico ao me pedir pra uma “pessoa decente” por um mês. Eu não sou tão mesquinho a ponto de só cumprir as palavras exatas de um pedido. Eu segui o espírito do que ela me pediu. No entanto, isso custaria caro.

Eu estava sendo uma pessoa decente. No entanto, uma pessoa decente não monta dossiês contra vizinhos, não coleciona os pecados escondidos dos outros em gavetas trancadas, não espalha informantes por todo o condomínio em busca de fraquezas alheias. Uma pessoa decente não trata segredos como armas ou moedas de troca. Uma pessoa decente não via (ou fingia não ver) que cada morador daquela colmeia carregava um punhal invisível apontado contra o outro. Eu entendia. Eu sempre entendi. A frágil, artificial, conveniente paz do nosso condomínio existia por minha causa. Não das pessoas decentes.

Aquele condomínio era um castelo de cartas. Bastava um sopro errado para tudo desmoronar: amizades, reputações, casamentos. Opiniões polarizadoras seriam capazes de causar uma verdadeira cisão. Tudo era sustentado pela fraqueza de um síndico que preferia não escolher lados, e pela minha presença nas sombras.

Eu mantinha a paz e os segredos. Eu evitava que a facção da devassidão capitaneada pela Odete ou que o grupo do ultrapuritanismo liderado pela Marieta tomassem de conta do prédio. Mantinha os lados em um ambiente de tolerância motivado pelo fato de um lado saber apenas boatos e rumores da existência do outro. Marieta era vista como apenas uma religiosa chata e a Odete como uma mulher que dormia com qualquer um. Mas ambas seriam capazes de arregimentar dezenas de apartamentos pros seus lados com cobranças de favores ou pequenas doutrinações religiosas.

Eu não impedia isso de acontecer por bondade. Nunca por bondade. Eu mantinha o status quo pacífico porque me servia muito mais que as três opções. E, como um bom vilão, eu fazia o que tinha que ser feito pra manter a normalidade e o status quo. Matava fofocas ainda no berço, abafava escândalos antes que pegassem fogo, desviava os olhos dos curiosos no momento certo, obrigava moradores a recusarem os chamados da Marieta, arregimentava sucessivas eleições de um síndico covarde. Eu era a parede invisível que segurava a avalanche. E ninguém jamais agradeceu por isso.

Bem, pra ser justo, o síndico Alberto me agradecia toda vez que eu tomava uma decisão por ele ou o acalmava avisando que impediria alguma pauta polêmica de entrar em votação. Mas a falta de fibra dele me enervava a ponto de, às vezes, me controlar pra não estapear e mandar que ele tivesse mais colhão.

A Jéssica, claro, não sabia da minha função. Ela sabia que eu era influente com o síndico. Mas, em sua pureza obstinada, achava que eu era o homem malvado que impelia o síndico a fazer coisas malvadas. Pensava que me domaria ao me obrigar a agir como um cidadão modelo. Com essa visão, ela não perceberia que ao me retirar do tabuleiro, abriu espaço para que os outros movessem suas peças. Eu não inventava pecados, apenas os mantinha trancados. Eu não criava monstros, apenas os enjaulava. Sem minhas grades, eles começariam a vagar soltos.

Claro que eu nunca trabalhei sozinho nisso. Eu tinha toda uma rede de informantes e auxiliares, composta daqueles que todos viam mas nunca enxergavam: porteiros, zeladores, diaristas, babás, seguranças. Peças pequenas num tabuleiro maior, mas zelosas e onipresentes. Eu era o elo que os ligava.

As fofocas mais pesadas do condomínio morriam nas bocas deles. Nudes vazados de alguma moradora (na maioria das vezes, algo novo da Odete) eram barrados nos celulares de alguns deles pra nunca serem reencaminhados (ou sequer eram citados pros moradores). Claro que nem todo porteiro ou zelador era receptor de nudes vazados de condôminas. Admito que respeitava a ética do seu Geraldo de sempre apagar sem baixar quando algum caía no grupo dos porteiros/zeladores. Pois ele só aceitava nudes enviados de livre e espontânea vontade pela própria mulher e nunca os reencaminhava.

Em troca, eu abafava os deslizes de todos os funcionários. Eles tinham noção de serem o elo mais fraco da corrente. Todos tinham o que perder, muitos poderiam ser demitidos apenas pelo boato, pela suspeita de que cometeram algo errado. Ninguém queria que a fama de comedor, de ter dado pro patrão casado, de ter cometido algum pequeno deslize ético na casa que cuidavam, de ter contado pra todos os zeladores e diaristas o que ouviu em segredo na casa alheia, se espalhasse. Todos precisavam de silêncio. E silêncio era o que eu fornecia.

Mas bastou eu me afastar para cumprir a penitência exigida pela Jéssica pras engrenagens começarem a ranger. Sem minhas mãos nos bastidores, recados indiretos deixaram de circular. O alerta velado não chegava mais. E quando não há aviso, as cobras saem do ninho. Marieta e sua facção puritana começaram a erguer a cabeça e passaram a arregimentar moradores que não ouviam meu nome há duas semanas. Que me viam fazendo boas ações e ouviam a Jéssica contar orgulhosa de que eu ia me tornar uma pessoa legal. Era a brecha que a Marieta esperava. Seu veneno logo se espalhou em conversas de corredores.

E não parava aí. Sem meu crivo, segredos que antes morriam na copa dos funcionários ouvidos apenas por quem estava presentes passaram a ganhar espaço e serem repassados em grupos de WhatsApp das diaristas. Já havia cochichos sobre o seu Roberto ter sido visto repetidas vezes em conversas suspeitas com a Sarah. Havia quem dissesse que ouviu algo nas escadas e sobre um sábado em que ele visitou o apartamento de Érico e Sarah, enquanto a Marieta estava fora.

Padrões antes não percebidos, porque as pessoas certas tinham o discurso certo como justificativa, parecem a ser notados: duas vezes por semana, Leandro e Maurício sempre no mesmo carro, indo e voltando juntos. A quantidade de vezes que o Leandro dormia fora de casa. A evidente falta de química com a esposa, Eliana. Na copa dos funcionários, teorias se formavam porque todas as diaristas foram informadas que eu não estava mais prezando pelo silêncio.

Aos poucos, a Jéssica perceberia que ela e o Rogério podiam andar sobre nuvens de virtude, mas mesmo o seu círculo de amigos, não. Sem a presença de alguém nas sombras disposto a sujar as mãos, a reputação de todas as amigas dela (e provavelmente seus casamentos) começariam a ruir. E como ela lidaria com isso?

No fundo, eu até me divertia com esse caos e planejava deixar que ele continuasse rolando após o mês de penitência acabar. Até que ela viesse até mim e implorasse pra que eu fizesse algo. Até lá, cada faísca de caos que surgisse, seria uma lembrança viva do erro dela. O erro da mocinha que acreditou que podia vencer o vilão obrigando-o a ser bom.

Teve um dia em que coisas estranhas aconteceram. Era fim da tarde quando desci para a portaria, pegar um pacote do Mercado Livre. Quando atravessei a porta de vidro, vi o seu Geraldo encostado no balcão, com aquele jeito bonachão de quem sempre tem uma boa história pra contar, e, à frente dele, Andréia.

Ela era o tipo de mulherão que não precisa abrir a boca pra chamar atenção. Cabelos loiros perfeitamente arrumados, pele impecável, aquele corpo (talvez um pouco gordinha) escandaloso com curvas generosas e a bunda que parecia ter sido desenhada por algum escultor inspirado pela luxúria.

Os dois estavam de algum programa de televisão, coisa rotineira. Mas o que não era dito era mais importante. Tinha química ali. Meu instinto dizia.

Ao notar minha presença, a Andréia acenou. O sorriso se manteve, mas o tom ficou formal:

— Seu Geraldo, depois a gente continua aquela história, tá?

— Tá certo, dona Andréia.

Eu fiquei calado, encostado na parede, só observando. Eles não precisavam fingir nada pra mim. Eu sabia. E, nesta altura, eles deveriam saber ou desconfiar que eu sabia. A Andréia tinha um caso com o porteiro seu Geraldo e um ocasional com o zelador Zé Maria. E, francamente, eu não estava nem aí. Nem pra ela, nem pro marido dela. Se algum dia eu precisasse apertar um desses para conseguir algo, tinha segredos menores, e portanto mais valiosos, para usar. Segredos que realmente rendem favores. Não essas bombas atômicas. Tão importantes que, se eu usasse, fariam o resto perder valor.

Eu carregava comigo, há anos, o conhecimento de diversos casos extraconjugais de meio mundo naquele prédio. Principalmente do seu Geraldo, que já visitou muitas condôminas. No entanto, não são informações que eu considere de interesse pessoal.

Primeiro, porque não me importava com nenhuma das condôminas com quem eles se deitam. Se fosse a Jéssica, por exemplo, seria outra história. Segundo, porque muitas delas são viúvas ou divorciadas, e mesmo no caso das casadas, nutria antipatia pela maioria por conta dos maridos cornos. Se algum dia acontecesse a rara situação de o porteiro ou o zelador se envolverem com a esposa de um dos poucos homens do prédio por quem tenho respeito, não seria difícil passar o recado para que se afastassem com silêncio e fineza, evitando escândalos desnecessários.

Terceiro, o velho porteiro Geraldo me ensinou, anos atrás, a livrar o ombro de uma dor que me acompanhava havia meses. Me mostrou técnicas de massagem que, honestamente, valeriam uma dívida eterna para qualquer um. E eu odeio me sentir em dívida com quem quer que seja. Então, há anos, venho destruindo qualquer evidência ou prova que caia nas minhas mãos sobre as aventuras dele, sem que ele jamais tenha feito ideia disso.

A Andréia passou por mim, perfume doce e pesado, e eu a segui com os olhos até a porta de vidro. Só então me aproximei do balcão.

— Boa tarde, seu Geraldo — disse eu, na minha voz treinada para parecer calorosa.

— Boa tarde, seu Lucério. Tá aí sua encomenda. Pesadinha, hein? — Ele empurrou a caixa pela superfície do balcão.

— Nada que eu não possa carregar. — Peguei o pacote. — Como tá a vida?

— Ah, a vida é boa quando a gente não fica inventando problema. — Ele sorriu, sincero como sempre.

— Concordo plenamente — respondi, devolvendo um sorriso que era calculado pra parecer natural e honesto. Odiava soar falso.

— E o senhor? — perguntou ele.

— Seguindo. Um dia de cada vez.

Ele sorriu. Ele sempre sorria, não importava se o dia estivesse ótimo ou horrível. Era de uma simplicidade admirável, admito.

— Bom, vou subir. Até mais.

— Até mais, seu Lucério.

Saí da portaria com o pacote sob o braço e a mente registrando cada detalhe. Quando o elevador se abriu, já tinha uma pessoa, vinda estacionamento: Tatiana.

Nós nos cumprimentamos com um aceno curto, mecânico. Mas minha mente, essa nunca fica parada. Puxei mentalmente a ficha dela como se abrisse um dossiê secreto.

Tatiana, 32 anos, divorciada. Jornalista de faro aguçado. Sempre gostei dos artigos dela no jornal local. Tinha coragem, e coragem é um artigo de luxo nesse mundo. Seus textos tinham gume. Cortavam onde doía.

Meus olhos a mediram em silêncio, embora eu fosse disciplinado o bastante para não deixar que percebessem. Estatura mediana, corpo magro mas com músculos discretos. Pele clara com leve bronzeado, como quem se expõe ao sol com inteligência. O rosto oval, o maxilar delicado, os lábios medianos que pareciam esconder mais ironia do que sorrisos. O cabelo castanho liso, a franja roçando as sobrancelhas, o comprimento passando dos ombros feito moldura calculada.

O terno de trabalho ainda a cobria, mas não escondia nada de quem soubesse observar. A blusa branca, justa o suficiente para deixar adivinhar o contorno dos seios pequenos-médios, firmes. A saia lápis cinza subia até a cintura fina, descendo pelo quadril estreito e abraçando as nádegas firmes, altas, o tipo de curva que não se perde com o tempo. Meias discretas, salto médio.

O elevador subia mudo, e no silêncio cabia o mundo. Até que ela quebrou o jogo:

— Sabe o que pensei hoje? — disse, olhando pro nada, mas me fisgando junto. — O seu Alberto é a pessoa mais tímida que já conheci. Como é que um homem tão tímido foi eleito e reeleito síndico tantas vezes? Um grande mistério, não acha?

Eu não deixei a bola cair.

— Talvez justamente por isso. Por não tomar lados. Por ser visto como querido e neutro. Um homem que não incomoda é fácil de manter onde está.

Ela riu baixo, uma gargalhada curta que parecia debochar de mim, mas não com maldade.

— Besteira. As pessoas amam tomar lado. Quanto mais polarizadas, mais escolhem campeões. Um neutro como ele não deveria receber nem 10 votos.

Cruzei os braços, como quem analisa uma testemunha.

— Você subestima o seu Alberto, Tatiana. A neutralidade pode ser uma armadura. Muitos preferem um fantasma no poder a um inimigo declarado.

Ela virou o rosto para mim, os olhos castanhos faiscando com aquela mistura de desafio e encanto.

— Talvez. Mas fantasmas também se dissipam. Talvez fosse bom o seu Alberto se aposentar, pra que todos percebessem quem realmente sustentou ele todos esses anos. Quem realmente manda aqui.

Nesse instante, o elevador parou. O andar dela. As portas se abriram como cortinas revelando o próximo ato. Tatiana saiu sem pressa, e eu registrei cada detalhe. O movimento das pernas, a saia ajustada balançando sutilmente, a bundinha firme descrevendo um rebolado discreto, quase inocente. Mas não havia inocência. Havia controle.

A porta se fechou, e fiquei sozinho outra vez. Sozinho com os meus pensamentos, que eram menos castos do que eu gostaria de admitir. Tatiana era mais do que uma condômina: era um enigma. Um enigma de carne e osso, com respostas que não estavam nos jornais que eu lia, mas na forma como ela cruzava o corredor sem olhar para trás. E eu, admirado, só podia pensar que todo mistério vale a pena ser decifrado.

Mas logo esqueci dela porque no dia seguinte, reencontrei a Jéssica.

Naquela tarde, fazia vinte e um dias que ela vinha batendo ponto na minha porta como um relógio suíço. A Jéssica não se atrasava ou se adiantava. Chegava sempre no horário combinado de acordo com a escala dela no hospital e ia embora uma hora exata depois. Tinha um alarme pra isso. Era o nosso acordo.

Desta vez, a Jéssica estava de jeans justos, uma regata branca que deixava expostos ombros e braços, e o cabelo solto, caindo em ondas até o meio das costas. Sem maquiagem pesada, só o suficiente pra destacar seu belo olhar.

Ela se jogou no sofá como quem já se sentia em casa. E era exatamente isso que eu queria. Pouco a pouco. Dia a dia. Visita a vista. Ela foi esquecendo que estava no covil do inimigo. Ela foi, cada centímetro por vez, baixando a guarda. Tirou o celular da bolsa, deixou na mesinha como uma ampulheta e começou a falar sobre o hospital.

— Hoje um paciente me chamou de “moça da agulha” e disse que preferia morrer do que tomar injeção. — Ela riu.

Eu fiquei só ouvindo, pernas cruzadas, um cigarro apagado na mão (mais pelo estilo que pelo vício). Meu jogo era outro: escutar, observar, registrar. Cumpria à risca a minha parte do acordo. Sempre gentil, solícito, educado, sempre dizendo a verdade. Isso a desarmava mais do que qualquer mentira bem contada.

— E você? O que fez hoje? — perguntou.

— Nada muito relevante. A vizinha do 302 precisou que eu levasse seu cachorro pra passear. — Sorri. — Continue.

Ela continuou. Histórias de plantão, médicos atrasados, equipamentos falhando, uma senhora que tentou sair do quarto sem soro. Cada palavra dela era um fio da teia que eu tecia. Um espião não ataca de frente. Como uma aranha, ele constrói o cerco devagar, sem que a presa perceba a armadilha.

Na primeira semana, ela sentava na ponta do sofá, coluna reta, pés no chão. Agora, ficava encostada, às vezes cruzando as pernas e deixando o joelho quase tocar o meu. E a tal regra sobre não tocar? Bom, ela já não se mexia quando minha mão repousava sobre a dela para marcar um ponto da conversa. Pequenas concessões. Passos na areia que ela achava que o vento ia apagar.

— E aí o médico... — ela disse, no meio de uma história, sem sequer notar minha mão sobre a dela.

Eu não comentava, apenas ouvia tudo com interesse. Lembrava de cada palavra dela. Não que eu quisesse ser um “amiguinho” pra sempre. Tudo era um rearranjo do plano. A longo prazo, ela ia entender.

O alarme tocou anunciando o final da visita. A mesma melodia simples. A gente se levantou ao mesmo tempo. Ela sorriu.

— Até a próxima, Lucério.

— Até a próxima, Jéssica.

E aí veio o abraço. Leve. Ainda assim, outra violação da regra que ela nunca apontava. Fechei os braços ao redor dela como quem sabe que era um risco a cada vez. Qualquer passo em falso, se ela percebesse o que estava fazendo, tudo acabaria.

Ela foi embora. E eu fiquei olhando para a porta fechada, pensando: três semanas e ela já não lembrava as condições que ela mesmo tinha imposto. Isso era só o começo.

Domingo. O sol do meio-dia não me pegava de surpresa. Eu já tinha feito a ronda no prédio, verificado umas infiltrações, olhado as trincas da fachada. Tudo anotado pra ser repassado na próxima reunião.

Depois da vistoria, tratei do próximo item da lista: vitamina D. Dez, quinze minutos de exposição. Sentei-me numa cadeira de ferro batido perto da piscina, tablet em mãos. Ainda preferia o jornal impresso. O cheiro de papel, tinta nos dedos, nenhuma tela me empurrando propaganda ou paywall. Mas vivemos tempos de decadência.

Foi quando elas chegaram.

Jéssica e Eliana. Elas vinham rindo de alguma besteira, carregando bolsas de praia e óculos escuros.

A Jéssica vestia um biquíni azul-marinho, pequeno, justo, discreto no design mas traiçoeiro na forma como grudava no corpo. Era impossível não reparar no recorte das costelas até o quadril, nas coxas bem torneadas que pareciam feitas para desafiar qualquer voto de castidade, e principalmente nos seios pequenos mas firmes que se insinuavam sob o tecido.

A Eliana usava um biquini um verde-oliva, cortado em tiras laterais, feito pra provocar sem precisar de movimento algum, valorizando a cintura fina e o quadril cheio, completando com as pernas longas que pareciam pedir olhares. Duas cores diferentes, dois estilos, dois corpos capazes de humilhar qualquer homem casado, solteiro ou semimorto.

Estenderam as toalhas no chão, lado a lado. Se deitaram de bruços. Aquelas duas bundas ficaram viradas pro alto, oferecidas ao sol. Nunca fui poeta, mas ali qualquer um arriscaria metáfora barata sobre luas gêmeas ou curvas perigosas. E mesmo com toda a beleza da Eliana, foi a Jéssica que mais me pegou no estômago: o contraste da pele amendoada com o azul do tecido, a bunda pequena mas firme, a delicadeza do corpo dela que me deixava sempre em alerta.

Resolvi abrir o jogo. Aproximei-me, encostei o tablet no colo, e soltei:

— Você leva esse negócio de bronzeado a sério, não é, Jéssica?

Ela ergueu os óculos escuros só o suficiente para me mirar. O olhar dela sempre parecia medir cada palavra minha como se fossem peças de xadrez.

— E você leva sério essa sua pose de que não gosta de sol, Lucério? — respondeu, devolvendo a pedra.

Sorri por dentro.

— Estou aqui pela vitamina D. Questão de saúde. Alguns minutos e pronto. — Fiz questão de falar como se fosse relatório.

— E o tablet? Conseguiu driblar o paywall do Estadão hoje? — cutucou Jéssica.

— Eu pago a assinatura. Se a informação tem valor, que se pague por ela. — Dei de ombros. — A pirataria é para os impulsivos. E eu sou metódico.

— Você é mesmo uma figura — ela disse, deitando-se de lado, com o cotovelo apoiado e o busto em evidência.

Me aproximei devagar, ficando de pé ao lado das duas. Então, outra voz entrou em cena.

— Ô, pessoal! — O timbre era jovem, quase elétrico. Antônio.

Como um dossiê, puxei mentalmente a ficha dele. Vinte e poucos anos, corpo de atleta sem disciplina, rosto de quem que sempre se safou com charme. Estudante de engenharia, creio. O que lembrava era que ele tinha algo entre as pernas que corria mais fofoca no prédio do que qualquer reunião de condomínio. Um pênis lendário. Pelo volume, não era apenas fofoca.

Ele se aproximou, jogou a toalha no chão perto das duas.

— Tá bonito o dia, né? — disse, como se fosse a frase mais original do mundo.

A Eliana riu, ajeitando os cabelos.

— Tá mesmo. Ideal pra uma piscina.

A Jéssica levantou a cabeça, olhou pra ele com aquela simpatia profissional de médica que não dá mais do que deve.

Fiquei só observando. O bem-dotado não tirava os olhos da Eliana. Nem disfarçava. Ela, por sua vez, retribuía tanto quanto a Jéssica me retribuía. Próximo de zero. No máximo, uma mexida de cabelo que não precisava ser feita.

Me peguei excitado com a possibilidade que desfilava só na minha imaginação: A Eliana de quatro na cama com o Antônio metendo nela, como animal. O corpo brutal dele com o corpo escultural de Eliana. O maior pênis do prédio com a mulher mais gostosa. Parecia uma cena digna de se assistir.

— Você vai entrar na água, Antônio? — perguntou Eliana.

— Talvez depois. Quero ver se pego um sol primeiro. — Ele se esticou na toalha, mas o corpo dele inteiro parecia querer se mover na direção dela.

O calor já estava no ponto em que a pele pedia umedecer-se em óleo, e não em água. O sol castigava sem piedade, e as duas deitadas no chão eram presas fáceis. Fiz meu movimento.

— Querem que eu passe o protetor nas costas? — soltei, com a voz controlada, como quem oferece uma xícara de café.

O Antônio não perdeu tempo.

— Eu posso ajudar também. — Ele já se adiantava, olhando para Eliana com tesão.

Jéssica ergueu a cabeça, primeiro para mim. O olhar foi certeiro, afiado, lembrando de um combinado sem dizer nada. Eu entendi. Não podia tocar nela.

— Acho que consigo sozinha, Lucério.

O Antônio não desistiu.

— Eu cuido de você, Eliana. — A voz dele pingava confiança barata.

Foi então que lancei minha cartada, seco, como quem propõe troca de reféns:

— Podemos inverter. Eu passo na Eliana, e você, Antônio, na Jéssica.

Houve silêncio. As duas se entreolharam. Hesitação. Cada uma carregando seu código interno de cautela. Mas no fim, aceitaram.

— Tudo bem, mas só nas costas — disse Jéssica firme.

— Certo — respondeu Eliana, mais leve, mas ainda com um tom de dúvida.

Peguei o frasco, despejei o líquido frio nas costas dela. O choque fez sua pele se arrepiar. Aproveitei. Movi as mãos devagar, cobrindo ombros, descendo pelas laterais, escorregando pelos músculos das costas até a cintura.

— Você costuma pegar sol sempre? — perguntei, voz baixa, investigativa.

— Tento. Mas com o trabalho, sobra pouco tempo — respondeu ela, mexendo o rosto contra a toalha.

— Trabalho de engenheira, não é? — insisti, minhas mãos já circulando na curva da lombar.

— Isso. Cálculo, obra, poeira. O glamour fica só pro salário. — Um riso abafado saiu dela.

Enquanto isso, ao lado, Antônio fazia sua própria manobra.

— Relaxa, Jéssica. Deixa que eu cuido. — Ele espalhava o óleo como quem explorava território novo.

— Só as costas, Antônio — respondeu Jéssica seca, dando a régua.

— Claro. — O tom dele soou falso, mas ele não parou.

Minhas mãos voltaram aos ombros de Eliana, apertando como massagem. Ela suspirou baixo. Não de prazer ainda, mas de rendição momentânea. Eu continuei, narrando meu trajeto.

— Ombros tensos. Imagino que fique horas inclinada sobre papéis e cálculos.

— É. Às vezes termino o dia com dor nas costas — admitiu.

O Antônio não desistia do jogo ao lado.

— Você não me disse que era médica, Jéssica — comentou, como se comentasse que ela é uma mulher.

— Talvez porque a gente mal se conhece, se é que posso dizer que te conheço. — Ela rebateu sem levantar a cabeça.

Aos poucos, o rapaz deixou que seus dedos descessem pelas costas dela, devagar, contornando a linha da escápula. A Jéssica mordeu discretamente o lábio, sem coragem de interromper. Quando ele se inclinou mais, os polegares deslizando até a parte superior da lombar, quase no limite da cintura, ela deixou escapar um suspiro.

— Mas já dá pra dizer que sou bom nisso, não dá? — Ele forçou.

Jéssica suspirou novamente.

— Admito: você é melhor do que eu esperava. — A frase foi neutra, sem sorriso.

Ele tentou cravar o flerte.

— Então imagina se eu me esforçar de verdade.

Ela não mordeu a isca. Silêncio.

A Eliana virou ligeiramente o rosto para mim.

— Não sabia que você era bom de massagem também, Lucério.

— Sou bom em identificar pontos fracos — respondi, mantendo o tom clínico.

Continuei descendo com as mãos, apertando agora a região logo acima da bunda. O biquíni verde-oliva fazia fronteira entre o permitido e o proibido. Ela estremeceu, mas não reclamou. Apenas respirou mais fundo.

Ao lado, ouvi a Jéssica dizer com frieza:

— Não exagera, Antônio.

— Só quero deixar você à vontade — ele devolveu.

Cada palavra dele batia numa muralha. Mas percebia-se uma fenda. Pequena, mas real. O corpo dela, mesmo rígido, começava a ceder à massagem.

E assim ficamos: eu investigando cada centímetro das costas da Eliana, e o Antônio ao meu lado testando a paciência e os limites da Jéssica. As duas, talvez a contragosto, cedendo um pouco mais.

Assim, a resistência delas começou a rachar. Primeiro foi no suspiro da Eliana, depois no silêncio prolongado da Jéssica. O corpo falava, mesmo quando a boca fechava. Eu sabia ler sinais. E percebi que Antônio também sabia. Nossos olhos se cruzaram num instante de cumplicidade. Ele entendeu meu pensamento sem uma palavra. Ao mesmo tempo, nossas mãos desceram da lombar para a cintura. Da cintura para as nádegas de ambas.

A tensão mudou de forma. Já não era só cuidado ou gentileza de vizinho. Era outra coisa. Mais densa. Mais suja.

A Eliana não protestou. Mexeu o rosto contra a toalha e soltou um som quase imperceptível. Eu espalhei o óleo devagar, escorregando até a borda do biquíni verde. Ao lado, a Jéssica respirou fundo, mas não afastou o corpo quando Antônio fez o mesmo movimento.

— Aqui você carrega peso também — comentei, quase em tom clínico, enquanto minhas mãos circundavam a cintura da Eliana.

— Deve ser isso... — murmurou ela, entregue meio contra a vontade.

Antônio não se conteve.

— Você treina muito, Jéssica? Dá pra sentir nos músculos.

— Treino o suficiente — respondeu ela, seca. — Não precisa reparar tanto.

Ele riu, sem vergonha.

— Difícil não reparar.

Foi nesse instante que a linguagem corporal delas aceitou a descida. Eu e Antônio avançamos juntos, mãos deslizando sobre as nádegas delas.

Meus dedos espalhavam o protetor sobre a bunda da Eliana, firme, empinada, feita pra torturar qualquer olhar. Ao lado, o rapaz explorava a bundinha da Jéssica. E ela, que sempre dava respostas afiadas, não levantou a muralha dessa vez.

— Você devia considerar virar massagista, Lucério — comentou Eliana, a voz abafada, mas carregada de rendição.

— Sou muito ocupado — respondi, mas minhas mãos diziam outra coisa enquanto apertavam sua carne.

Antônio atacou com sorriso.

— Você tá muito tensa, Jéssica. Devia relaxar mais.

— Tensa por causa de gente como você. — ela devolveu, mas o tom não tinha mais tanta força.

Ele aproveitou a brecha.

— Então deixa eu resolver parte disso.

E vi o que ninguém esperava: Jéssica empinou a bunda só um pouco, mínima inclinação. Era o máximo de vitória que ela concederia pra ele, mas era o suficiente. A Eliana, ao lado, apenas suspirou mais fundo, aceitando minhas mãos como se já fossem parte dela.

Eu e Antônio trocamos olhares. Houve o cumprimento silencioso. Os dois perceberam que a sua desejada não tinha fortalecido defesas específicas contra o outro e os dois venceram aquela rodada ao trocarem de alvo. Se não fossem casadas em pleno condomínio, aquilo com certeza teria terminado numa suruba a quatro.

Não me importaria em ver a Jéssica dando pro Antônio se eu fosse o próximo. E estivesse com a Eliana nos braços.

Passei o óleo por toda a superfície, massageando cada curva da Eliana, sentindo o calor da pele sob a palma. Ao lado, ele fazia o mesmo com Jéssica. As conversas continuaram, cada um mantendo a fachada:

— Você trabalha muito, Eliana. Precisa de mais dias como este. — soltei, em tom grave.

— Talvez precise mesmo — admitiu Eliana, voz mais suave do que antes.

— Eu vou contar isso pra Letícia, viu Antônio? — ouvi Jéssica dizer.

— Pode contar. Conta com detalhes — respondeu, sem medo.

No fim, sincronizados, terminamos juntos. As duas se viraram ao mesmo tempo, agora de frente, encarando-nos com olhos que diziam mais do que as palavras.

Eliana sorriu, discreta.

— Obrigada, Lucério. Você tem mãos firmes.

— De nada. — respondi, mantendo o olhar sério, como se fosse apenas questão de protocolo.

Jéssica se ajeitou, encarando Antônio.

— Obrigada. É a primeira e última vez que você faz isso.

— Última vez até a próxima — retrucou, atrevido.

Elas se acomodaram de volta às toalhas, e nós recuamos. Antônio se levantou primeiro, juntou as coisas e caminhou em direção aos elevadores. Observei o passo leve dele, o ar de quem sentia vitória. E fiquei ali, guardando a cena na memória como quem arquiva segredo valioso em gaveta trancada.

Dois dias passaram desde esse domingo.

A Jéssica estava em meu apartamento, pra visita. Ela estava sentada na mesa mexendo distraída numa xícara de chá. Conversávamos sobre banalidades, o tipo de papo que ela parecia acreditar que me afastava das sombras. Eu sabia ouvir.

Levantei-me devagar, como quem não tem pressa. Dei a volta na mesa e parei atrás dela. Ela ergueu os olhos, surpresa, quando minhas mãos pousaram sobre seus ombros.

— Lucério... não precisa... — disse, com a voz baixa, quase um sussurro de recusa protocolar.

— Shhh... — murmurei, apertando devagar. — Às vezes o corpo fala mais alto que a cabeça.

Ela tentou resistir, mas a resistência dela era frágil, como papel molhado. Logo fechou os olhos, a respiração começou a pesar e um suspiro escapou de sua boca, carregado demais para ser apenas cansaço. Um som que quase beirava o gemido.

— Onde você aprendeu a fazer isso...? — perguntou, olhos fechados, rendida à pressão dos meus dedos.

— Um bom amigo. Eu tinha uma grande dor no ombro e ele me aplicou essa massagem pra acabar com a dor e depois me ensinou o truque — continuei sem parar, movendo os polegares em círculos lentos, calculados.

Ela tentou retomar o fio da conversa de antes, mas eu a fiz esquecer a conversa anterior e ir pro que me interessava.

— Lembrei que você me contou que o Rogério andou vendo a Lorena e a Lisandra nuas várias vezes. — Deixei a frase cair como fumaça no ar. — Que elas foram odaliscas de um pseudo-harém dele. Até recebeu nudes da Lisandra. Como você se sentiu com isso?

Ela respirou fundo, quase um suspiro de negação.

— Foi ideia minha... — respondeu, sem firmeza. — Eu sugeri. Ele foi inocente. Não tocou nelas.

— Mas ainda assim... — continuei a massagem, firme, constante, como se o ritmo dos dedos obrigasse a mente dela a acompanhar — Não achou que foi injusto da parte dele? Ele pode as amiguinhas dele peladas. Ele pode mandar nelas, fazê-las se masturbar, se beijarem. E você? É só mais uma odalisca no harém dele? Você não acha que também merecia ver seus amigos atraentes pelados? Não merecia receber nudes também?

Ela tentou outra vez manter o escudo.

— Foi ideia minha, Lucério. Ele não teve culpa...

— Mas os nudes da Lisandra... Ele apagou? — cortei, com suavidade na voz e força nos dedos.

Houve silêncio. Silêncio pesado, o tipo que denuncia mais do que qualquer palavra. Por fim, ouvi sua voz vacilar.

— Eu... não sei.

Continuei a massagear. Ombros tensos, mas já derretendo sob minhas mãos.

— E não sente ciúmes? — perguntei, como quem joga uma rede no mar calmo. — Não queria direitos iguais?

— Eu... não... — tentou escapar.

— Jéssica. — repeti, apertando levemente, cada palavra medida como uma faca afiada. — Não sente ciúmes?

O corpo dela traiu a resposta antes da boca. O suspiro pesado, a contração sutil nos músculos, e então, finalmente, a confissão.

— Sim — disse baixo, quase arrastado. — Eu tenho raiva disso. Tenho ciúmes.

— Sim! Ele devia ter expulsado as duas do quarto, devia ter apagado as fotos da Lisandra sem ver.

Ela não respondeu. Meus dedos não pararam, nunca pararam. Era a constância que quebrava as barreiras.

— O Rogério pode tudo — comentei, a voz baixa, quase um monólogo — E você tem que aceitar. Tem que engolir a Lorena, a Lisandra, peladinhas. Sabendo que eles saem juntos, fazem coisas juntos, sem você estar presente. Enquanto isso, você é obrigada a acabar com a amizade com o Enéias. Sem falar que ele também queria que você terminasse sua amizade comigo.

O silêncio dela foi mais eloquente que qualquer resposta. Eu podia sentir a mente dela fervendo sob meus dedos, mesmo sem abrir os olhos. Eu não soltei os ombros dela nem por um segundo. A cada pressão medida, a cada círculo lento com o polegar, eu sentia as defesas da Jéssica se dissolvendo como açúcar na água quente.

Os suspiros que escapavam de sua boca eram quase gemidos, carregados de prazer, de rendição. Era como se minhas mãos estivessem abrindo portas que a mente dela jamais teria deixado.

— Você tem um pescoço muito bonito... — deixei escapar, como quem comenta a lua cheia. — Parece muito saboroso.

Ela deu um risinho abafado, mas abriu os olhos só o suficiente para me lançar um olhar de soslaio.

— Agora você é um vampiro, Lucério? — perguntou, com aquele tom dela, meio irônico, meio defensivo.

Dei uma risadinha curta, seca, e continuei.

— Não. Mas podia ser o joguinho dos dois... — murmurei, deixando a frase pender no ar. — Lembra do carnaval? Eu mordendo o seu pescocinho...

Ela se endireitou um pouco, tentando manter a compostura, embora não conseguisse disfarçar o arrepio.

— Aquilo foi uma brincadeira de carnaval... — disse, a voz quase repreendendo, mas manchada de um rubor que não passou despercebido.

— Sim — continuei, implacável nos dedos, nas palavras. — Mas acho que vou pedir isso de prenda na minha próxima vitória. Quero saborear o seu lindo pescocinho por alguns minutos. Beijando. Chupando. Como se eu fosse um vampiro e você, a minha doce vítima que rendi.

— Ah, claro... — ela riu nervosa, tentando se proteger com ironia. — Como se eu fosse aceitar uma coisa dessas.

— Nunca se sabe, Jéssica. — falei baixo, quase como uma confidência, apertando mais forte os ombros dela. — Nunca se sabe quando você vai precisar de um favor meu.

Ela suspirou fundo, abriu os olhos, olhou para frente sem me encarar.

— Você sempre tem um joguinho, não é? — disse, tentando soar firme, mas soava mais cansada do que convicta.

Continuei a massagem. Não deixei o silêncio se alongar.

— Você me contou uma vez que o Rogério foi seu primeiro homem. E até agora, seu único — falei sem hesitar. — Mas me diga... você sabe se ele já tinha transado com outras mulheres antes de você?

Ela demorou, a respiração dela quase tremeu.

— Sim — admitiu, num fio de voz. — Mas isso é natural. Ele já tinha mais de 20 quando me conheceu.

— E você sabe quantas mulheres ele comeu antes de conhecer você? — perguntei, firme, constante.

Um breve silêncio e...

— Sei — respondeu, seca, mas o veneno estava ali.

— Foram muitas? — pressionei, não nos ombros, mas nas palavras.

Ela suspirou, pesada, como quem solta um peso que nunca quis carregar.

— Sim. Foram muitas.

Continuei o trabalho nos ombros, devagar, calculado. Cada dedo era um bisturi abrindo espaço na mente dela.

— E você não acha injusto? — perguntei, a voz rouca, quase um sussurro ao pé do ouvido. — Ele ter comido dezenas de mulheres e você ser apenas dele?

O silêncio dela caiu duro, denso. Eu podia sentir o corpo dela rígido sob meus dedos.

— Não acha injusto? — repeti, implacável, como um detetive arrancando a confissão.

Ela tentou se defender, mas a voz falhou.

— A vida é como é, Lucério — disse, forçando firmeza. — Eu não posso cobrar fidelidade retroativa. Tudo isso fez dele o homem que eu conheci. O homem que eu amo.

Meus dedos não pararam. As palavras também não.

— Mas você não acha injusto? — perguntei de novo, com o mesmo tom frio, repetitivo, como uma gota d’água caindo na mesma pedra.

Houve silêncio. Um longo silêncio. Até que, por fim, ela quebrou.

— Talvez... — admitiu, quase sem voz. — Talvez eu tenha um pouco de ressentimento disso.

E eu continuei a massagem. Ombros, pescoço, mente. Tudo derretendo devagar, sob meu controle.

O som dos suspiros dela era música baixa em um bar esfumaçado. Foi então que meus olhos caíram sobre a mesa. A caixa estava ali, discreta, esperando o momento certo. Resolvi que o momento era agora.

— Vê aquela caixa na mesa, Jéssica? — perguntei, sem parar a massagem, a voz grave, quase monótona. — É um presente pra você.

Ela abriu os olhos lentamente, ainda meio tomada pela sensação. Esticou a mão hesitante, puxou a caixa até si. O som do papel e da tampa sendo erguidos ecoou no silêncio. E então, ela parou. Vi o corpo dela enrijecer sob minhas mãos.

— Tá maluco?? — disse, a voz oscilando entre surpresa e indignação. Era uma coleira preta escrito “ROGÉRIO” em letras garrafais.

Sorri por dentro, mas meus dedos não perderam o ritmo.

— Sei que você precisa se soltar mais na cama com o seu marido — murmurei. — Achei que esse presente poderia ajudar.

Ela soltou um meio riso nervoso, balançando a cabeça.

— Você é completamente maluco. Eu não vou usar uma coisa dessas... — disse, mas a voz não tinha a firmeza que ela queria.

Foi então que ela virou a peça na mão. Vi o momento exato em que ela percebeu. O ar saiu dela em um suspiro carregado.

— O QUÊ??? — perguntou, olhos semicerrados, com tom de acusação.

Pois, na parte de dentro, estava escrito “LUCÉRIO”.

Me inclinei um pouco mais, sem parar o movimento das mãos, firme nos ombros dela.

— Um nome não quer dizer nada, Jéssica.

Ela riu, mas era um riso tenso, desconfiado.

— Agora que nunca mais vou usar isso mesmo!

Foi quando intensifiquei a pressão. Meus dedos cavaram mais fundo, arrancando dela um suspiro longo, quase gemido. Então, aproximei a boca do ouvido dela. Sussurrei baixo, firme, com voz de comando:

— Você DEVE transar com o Rogério usando essa coleira.

Ela estremeceu, a respiração presa na garganta.

— Você ouviu bem. — repeti, como uma ordem militar. — Você DEVE transar com o seu marido usando essa coleira e depois vir me contar como foi.

Ela abriu a boca para responder, mas antes que qualquer palavra escapasse, o alarme tocou. O som seco, metálico, cortou o ar. O fim da visita. Eu soltei os ombros dela devagar, como quem larga uma arma com cuidado. Ela respirou fundo, se ajeitou na cadeira e se levantou.

— Você está completamente maluco se acha que vou fazer isso... — disse, balançando a cabeça. Mas não devolveu a caixa. Não largou a coleira.

Eu a acompanhei até a porta. Ela se despediu contrariada.

— Não me espere esta semana. Talvez nunca mais.

Quando a porta se fechou atrás dela, um silêncio pesado caiu sobre o apartamento. Eu fiquei parado por um instante, depois deixei que um sorriso lento surgisse no meu rosto. Triunfo silencioso, como quem vence uma batalha sem disparar um tiro. Ela havia levado a coleira com ela.

Pois bem, leitor. A Jéssica pode ter cometido um grande erro ao fazer questão de tentar me “enfrentar” sem ajuda do marido. Será que a Jéssica irá transar com o Rogério usando a minha coleira? Ela se recusará? Ela encontrará uma terceira opção?

E eu conseguirei dar uma chupadinha no pescoço dela?

Coloquem nos comentários pra quem vocês torcem.

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a um tempo, teremos a continuação.

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Comentários

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Sinceramente torço para que autor parem do puritanismo do casal protagonista quem nos contos principais são certinho monogâmico ja nos outros dão casquinha de sedução e leva apimentada com tom de provocação.... o que passa a soar com uma incoerência para todos os outros o casal ou a Jéssica da unas casquinha mas são monogâmico kkkk e claro tem comitê de puritanos que não querem o pecado entre o casal tradicional da família brasileira ops nada tradicional ja que são exibicionista e na visão dos outros sempre dão casquinha/provocação.

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Eu gostaria de ver a Jéssica confessar seus desejos ao Lucério, mesmo que ela não transe com ele, poderia ser a putinha verbal, confessando suas fantasias, de transar com outros e outras sem pudores se soltando sem filtros, como se ele fosse o confidente dela.

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O Comitê dos puritanos não aceita esse tipo de edição rsrs pode ter indicativo na visão dos outros e provocação na visão do outros mas na real o casal e monogâmico certos tradicional rsrs e inocência ou incoerência .....

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Mas seria bem interessante, até porque eles estão pegando intimidade e criando uma amizade, então nada mais justo eles trocarem confidenciais e ela se soltar com ele e revelar os seus fetiches.Jabsabrmosbque ela não vai trair o marido, então seria mais exitante ela se confessar com o Lucério do que com o marido

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