O internato - Capítulo 42

Categoria: Gay
Contém 3683 palavras
Data: 11/08/2025 18:48:47

Capitulo 42 - Expulsos dos góticos

...

Bernardo:

Já fazia um mês desde que meus pais anunciaram a adoção de Gabriel e Pedrinho. Foi maravilhoso ver a felicidade deles ao receber a notícia. Certa noite, Gabriel veio me perguntar se a ideia havia sido minha ou da minha mãe, e contei que, na verdade, partiu do meu pai — e minha mãe concordou de imediato. Ela sempre quis ter outro filho, mas nunca conseguiu. Teve dificuldades para engravidar e sofreu dois abortos espontâneos antes de me ter. Agora, ela estava radiante com a presença de Pedrinho, um garoto doce, muito inteligente, embora ainda lidasse com algumas dificuldades, especialmente na hora de dormir.

Minha mãe achou melhor colocá-lo em terapia, e ele começou a se consultar com uma psicóloga uma vez por semana. Gabriel também passou a fazer sessões com um terapeuta aos finais de semana.

Fins de semana esses em que eu precisava lidar com o Nick na minha casa. Sei que ele disse que mudou e que ama o Gabriel de verdade, mas ainda mantenho um pé atrás. Apesar disso, ele nunca mais deu em cima de mim e passou a me tratar apenas como amigo. Até Daniel, que inicialmente não ficou muito empolgado com a ideia de Gabriel se tornar meu irmão (por causa de um certo ciúme), acabou ficando feliz por ele ter, finalmente, uma família.

Gabriel mudou bastante desde que passou a morar conosco. Sua autoestima melhorou visivelmente, e ele não andava mais com aquele olhar assustado nem apertava o braço esquerdo num gesto de ansiedade que sempre me dava aflição. Ainda se vestia com roupas góticas e ouvia as mesmas bandas de antes, mas vez ou outra dava para notar que tentava se expressar de forma diferente, como se estivesse aos poucos rompendo com a imagem do gótico deprimido para mostrar quem ele realmente era.

– Quem vai ser o próximo? – Everton perguntou, após Lorenzo ler seu poema extremamente pessoal, em que colocava para fora toda a dor pela morte da mãe e do irmão gêmeo, num acidente do qual apenas ele sobreviveu.

– Vocês não acham que nossas reuniões estão ficando meio chatas? – Gabriel comentou, visivelmente entediado – A gente vem pra cabana do zelador, lê poemas e ouve sempre as mesmas músicas!

– E o que sugere? Ir pra festinhas bobas e conversar futilidades com o seu namorado? – Eliza retrucou com aquela vozinha infantil – Nem tenta, Gabriel! Já roubou a Roberta da gente!

– Ninguém me “roubou” – Roberta disse, tirando o capuz e revelando seus cabelos dourados – Só porque tenho novos amigos além de vocês?

– Vocês dois estão se perdendo. E você nunca fez parte, Bernardo – Everton disse, pausando a música Kill Them All, da banda King 810, que tocava numa caixinha de som.

– Se vocês me querem fora, eu vou – disse me levantando. – Nunca me senti realmente parte disso aqui, mas fiquei por causa do Gabriel, da Roberta e do Lorenzo.

– Pode ir então – ele deu de ombros. – Irina permitia sua presença, mas eu nunca concordei. Esse grupo virou piada desde que você entrou.

– O grupo virou piada no dia em que você chegou, Everton – Roberta rebateu, se levantando também – Eu devia ter saído quando a Irina foi embora. Você se acha o fodão, mas é só um babaca arrogante.

– Não, esse é o senhor “estuprado” ali – ele debochou, olhando para Gabriel.

– Vai se foder! – Gabriel se levantou, furioso, e partiu para cima de Everton. Me coloquei entre os dois antes que a briga começasse.

– Vamos embora, Gabriel – disse com firmeza – Não vale a pena discutir com esse imbecil.

E foi assim que demos adeus aos góticos de uma vez por todas.

Depois disso, Roberta passou a se sentar conosco nas refeições e se enturmou muito bem. Nossa mesa, que já estava ficando pequena, ficou ainda mais cheia. Até o Patrick voltou a frequentar o grupo, depois que começou um namoro secreto com a Giovana. Segundo ela, tudo começou na festa junina: eles conversaram, rolaram uns beijos e, a partir dali, foram se aproximando. O problema é que ela não sabia como me contar, já que ele tinha mentido para o antigo diretor, dizendo que eu e Théo éramos namorados e que fazíamos orgias no quarto. Só que já fazia tanto tempo que eu nem lembrava mais dessa história. Nem dele, nem da Amanda – a ex do Daniel.

Foi até engraçado quando ela criou coragem para me contar. Aconteceu logo depois de abandonarmos o grupo dos góticos.

– Bê, preciso te contar uma coisa – ela disse enquanto estávamos sentados na arquibancada durante a aula de educação física. Observávamos os meninos jogando futebol, com exceção de Théo e eu, que ficamos na arquibancada. Ele trocava mensagens com o Samuel, que estava na aula de química com o Daniel.

– Aconteceu alguma coisa, Gi? – perguntei, preocupado.

Giovana corou e olhou na direção da quadra, bem onde Patrick aguardava alguém passar a bola para ele – o que raramente acontecia, já que ele era péssimo jogador.

– Isso já acontece há algum tempo, e eu não sabia como te contar – ela respirou fundo – Lembra da festa junina, quando você e o Daniel foram embora? Então... comecei a conversar com um garoto e acabamos ficando. Desde então, estamos cada vez mais próximos.

– Que bom, Gi – sorri de verdade – E quem é o sortudo?

– É o Patrick – ela admitiu, corando ainda mais.

– Patrick? – tentei me segurar, mas a ideia era tão inesperada que não consegui – Sério mesmo, Giovana?

– Para de rir! Era pra você ficar bravo! – ela me deu um soco leve no braço – Estou falando sério, Bernardo!

– Desculpa, Gi, mas é impossível não rir – disse, agora gargalhando de verdade.

Théo me lançou um olhar assustado como quem dizia: Ele surtou de vez.

– E você não vai ficar com raiva? – ela perguntou, ainda meio insegura.

– Por que eu ficaria com raiva? – perguntei.

– Talvez por causa da história com a Amanda – ela relembrou.

– Giovana, tem tanto tempo que não penso nisso... – disse, agora mais calmo – Se ele te faz feliz, não vejo motivo para não ficarem juntos. Mas que é engraçado... ah, isso é!

– Tem certeza de que está tudo bem? – ela ainda parecia não acreditar.

– Absoluta – falei, abraçando minha amiga e dando-lhe um beijo na testa – O que eu mais quero é te ver feliz.

E naquela mesma noite, no jantar, Patrick se sentou conosco pela primeira vez desde que havia sido banido do nosso grupo.

...

Gabriel:

– Ainda não acredito que vocês vão ser adotados – Roberta disse enquanto observávamos o pôr do sol, sentados na grama dos fundos da escola. Havia um muro à nossa frente, e além dele as copas das árvores se exibiam por cima das pedras. De onde estávamos, era possível ver quilômetros de floresta até o fim da serra. Às vezes, eu até esquecia que estávamos no topo de uma serra. Na maioria dos dias, me sentia como se estivesse num sítio enorme, cercado de verde por todos os lados, e não em uma escola. Eu adorava aquele lugar e aquele cheiro de mato que o vento trazia. Já não era mais o ar gélido do inverno — agora, soprava um vento morno de primavera, carregando o perfume das primeiras flores.

– Cristina se apegou muito ao meu irmão – expliquei pela milésima vez – Se fosse só por mim, eu já estaria num abrigo faz tempo.

Roberta olhou para mim com um sorriso irônico e balançou a cabeça.

– Você realmente acha que eles só estão adotando vocês por causa do Pedrinho? – ela zombou.

– Não estou dizendo que eles não gostem de mim, Roberta. Mas sejamos realistas: se não fosse por Pedro, já teriam me descartado há muito tempo.

– Esse é o Gabriel que eu conheço... sempre duvidando do próprio valor – ela me deu um leve empurrão – Eles não precisam te adotar só por causa do seu irmão, garoto! Você já está quase completando dezoito anos e, tecnicamente, nem precisaria mais ser adotado. Se fosse só pelo Pedrinho, eles podiam simplesmente continuar com ele. Mas eles querem você como filho também!

– Será mesmo, Roberta? – murmurei, enquanto o sol se escondia atrás das árvores, tingindo o céu com um laranja vibrante – O que eu tenho de tão especial pra alguém querer me adotar? Sou só um garoto quebrado.

– Você é a melhor pessoa que já conheci na vida, Gabriel – ela falou com sinceridade – Nunca me apaixonei por nenhum garoto antes... só por você.

– Pena que eu não posso corresponder – disse, com um leve tom de melancolia.

– Já superei isso – ela colocou o capuz preto de sempre – E quem sabe eu ainda encontre um garoto bonito igual ao seu namorado?

– Tira o olho que ele é meu – respondi, sorrindo.

– Duvido que ele goste de mim – ela provocou.

– O pior é que ele gosta – comentei – Nick é bissexual.

– Falando nele... – Roberta disse, olhando por cima do ombro.

Virei-me e vi meu namorado se aproximando. Ele usava uma regata azul e shorts de corrida pretos, combinando com os tênis. Corria com fones nos ouvidos pela pista de asfalto que contornava o enorme terreno da escola. A testa suada brilhava sob a luz do entardecer, e ele sorriu assim que me viu.

– Oi, amor – disse ele, ofegante, parando ao meu lado. Se inclinou e me deu um selinho. – Me encontra no meu quarto antes de dormir, tá?

– Com certeza – respondi, dando um tapa em sua bunda firme – Tá com o bumbum durinho, amor.

Ele riu e acenou para Roberta, que sorriu de volta.

– Até depois, amor – Nick se despediu e voltou a correr.

– Sabe o que o Nick é? – Roberta perguntou, observando ele se afastar. Balancei a cabeça negativamente. – Uma recompensa da vida. Você passou por tanto, fez de tudo pra proteger seu irmão e nunca desistiu. Só teve uma recaída quando tentou tirar a própria vida, mas depois disso decidiu lutar — e salvou o Pedrinho. Tudo o que está acontecendo agora é o resultado da sua força. Você merece ser feliz, Gabriel.

– Às vezes eu acho que algumas pessoas nascem pra sofrer – disse olhando para a grama escurecida, enquanto o céu ia ganhando tons azulados e as primeiras estrelas surgiam – E eu sou uma delas. Tenho medo do momento em que a vida vai me derrubar de novo e levar tudo que eu tenho. Ela já fez isso antes. De forma lenta e cruel.

– Está falando do seu pai? – Roberta se referia à carta do Izac, da qual eu havia falado.

– Eu achava que ele era o melhor homem do mundo. Sofri tanto com a morte dele. Depois apareceu o Jair, que parecia ser um bom padrasto... mas só serviu pra acabar com a minha vida. Ele e meu irmão viraram meus carrascos. Minha mãe morreu, meu irmão virou um assassino e tentou matar meu amigo – ou irmão, ou seja lá o que o Bernardo é agora. E no fim, descobri que meu pai era um pedófilo, igual ao Jair.

Olhei para o céu quase totalmente escuro e suspirei.

– Às vezes me pergunto quando vai ser a próxima pancada da vida. E isso me dá vontade de desistir. Meu irmão tá seguro. Ele vai ficar bem sem mim.

– Ninguém vai ficar bem sem você, Gabriel – Roberta disse com carinho – Pedrinho, Cristina, Miguel, Bernardo, Nick, Théo... todos te amam. E eu também. Você é meu melhor amigo, a única pessoa em quem eu realmente confio. E estou aqui com você, Gabriel – ela segurou minha mão – Sempre vou estar.

– Obrigado, Roberta – disse, encostando a cabeça no ombro dela, enquanto uma lágrima escorria silenciosa pelo meu rosto – Nunca disse isso a ninguém. Pra todo mundo eu finjo que estou bem. Mas por dentro... ainda estou despedaçado. Como eu disse, sou um garoto quebrado.

– Você não é quebrado, Gabriel – ela acariciou meu cabelo – É só um garoto perdido. E, aos poucos, está se encontrando.

Ela tinha razão. Eu era um garoto perdido — por muito tempo nem sabia quem eu era. Não tinha amigos, odiava minha vida e, por isso, acabei me juntando aos góticos. Mas nunca fui de verdade um deles. Eles sabiam disso, e por isso nunca me aceitaram completamente. Só Roberta me acolheu de verdade — tanto quando eu me vestia de preto, quanto agora, usando uma camiseta florida e jeans claro.

E, sinceramente, eu me sentia muito mais confortável assim. Aquela era a minha pele. As roupas escuras, as músicas agressivas, tudo isso era só uma tentativa de me encaixar. De pertencer a algo... mesmo que esse algo nunca fosse, de fato, eu.

Quem é o verdadeiro Gabriel? O garoto doce e inteligente que morreu aos nove anos, violentado pelo padrasto? O adolescente depressivo que tentou se matar no banheiro? O sarcástico que vivia implicando com os outros? O gótico que escrevia poemas cheios de ódio e morte? Ou será que eu era tudo isso junto? Uma mistura de personalidades tentando sobreviver em uma mente frágil?

A cada dia, eu sentia que a resposta era essa: eu era tudo isso. E muito mais. E, o mais importante: eu não precisava mais me encaixar em um molde. Esse era o verdadeiro Gabriel. Aquele que lutou para salvar o irmão mais novo. E que agora, pela primeira vez em muitos anos, queria ser feliz.

Quer saber? Que se dane se a vida vai me derrubar de novo. Que me deixe cair — porque, até lá, eu vou aproveitar cada segundo dos meus cinco minutos de felicidade.

Ficamos ali por mais um tempo, conversando sobre besteiras. Roberta percebeu que eu estava mais leve, até consegui dar boas gargalhadas com ela. Pela primeira vez, percebi que, mesmo sendo gótica, com as roupas escuras, maquiagem pesada e aquele capuz inseparável, ela também sabia aproveitar as coisas boas da vida. O pôr do sol. Uma piada boa. Uma amizade verdadeira.

Ela era mais do que um estereótipo. E talvez, assim como eu, estivesse apenas tentando entender todas as partes que compunham quem ela era.

O sinal tocou, indicando o toque de recolher, e voltamos para os dormitórios. Nos abraçamos na porta do prédio feminino, e ela me deu um beijo carinhoso na testa antes de entrar. Eu segui direto para o quarto do Nick, no quarto andar. Usei a cópia da chave que ele havia me dado e me joguei na cama, esperando ele voltar.

Não demorou muito até que ele entrasse ainda suado, sorrindo ao me ver.

– Vejo que não parou de correr nenhum segundo – comentei, em tom de brincadeira.

– Encontrei o Fábio, e ele me chamou pra uma partida na quadra – respondeu, tirando a camisa e revelando aquele corpo lindo e definido que me deixava sem fôlego – Estou meio enferrujado, mas ainda sei jogar. Fiz quatro gols.

– Nem sabia que você jogava futebol – disse, me levantando da cama e indo até ele.

– Jogava mais no ensino fundamental – respondeu, enquanto eu me aproximava e deslizava a mão pelo seu peito suado – Tô todo suado, amor.

– Não me importo – sussurrei, antes de beijá-lo com vontade, mordendo seu lábio inferior – A gente vai suar ainda mais agora.

Aquilo despertou a fera que tinha dentro de Nick, ele me puxou para si me beijando intensamente. Deslizou as mãos pelas minhas costas até chegar em minha bunda. Ele a apertou e depois deu-me um tapa que me encheu de tesão. Meu pau ficou duro dentro do short e podia sentir que o dele também, pois estava pressionado contra o meu. Nick não demorou muito para arrancar minha camisa revelando meu corpo magro e branco. Ele me virou de costas e começou a beijar minha nuca sarrando o pau em minha bunda por cima do short. Eu gemia baixinho de desejo e Nick cravou os dedos entre meus cabelos e virou minha cabeça para o lado enchendo meu pescoço de beijos e chupões. Eu rebolava adorando a sensação de seu pau sarrando a minha bunda.

Me virei para ele e beijei sua boca descendo os lábios por seu corpo suado sentindo o gosto salgado. Aquilo me deixava louco a ponto do meu pau latejar. Lambi seus mamilos o fazendo arfar. Beijei seu abdômen molhado e mordi gentilmente seu pau por cima da bermuda. Abaixei ela fazendo aquele membro duro saltar diante de mim. O beijei e lambi sua cabeça rosada. Nick gemia baixinho conforme eu o chupava cada vez mais. Coloquei ele todo em minha boca engasgando um pouco, mas isso não me impediu de continuar o boquete intenso e gostoso.

Nick me puxou para si me beijando como um animal selvagem e me inclinou sobre a cama. Apoiei minhas mãos no colchão macio enquanto ele me lubrificava com cuspe. Ele introduziu seu pau gostoso em meu ânus que ardia e piscava a cada centímetro que entrava. Eu rebolava e gemia fazendo o pau de Nick latejar dentro de mim. Ele começou as estocadas gentilmente e aumentou a intensidade gradativamente me deixando louco. Eu gemia e o xingava enquanto ele me comia com força. Nick Segurou meu cabelo e puxou minha cabeça para trás fazendo minhas costas colarem em seu peito beijando minha boca enquanto eu rebolava em seu pau adorando cada instante que ele estava dentro de mim.

Nick me virou de frente para ele ainda me beijando e nossos paus duros se esfregaram um no outro. Meu namorado voltou a bater em minha bunda e a apertar com força me fazendo gemer. Ele deitou-me na cama e ergueu minhas pernas as apoiando em seu ombro. Com cuidado ele colocou seu pau em meu cu e começou a me comer novamente, porém com muito mais intensidade. Eu segurei em meu pau e comecei a me masturbar enquanto ele me fodia com raiva me xingando de putinha enquanto eu gemia igual a uma.

Não demorou muito para que eu gozasse em minha barriga e ele gozasse em meu cu me enchendo com sua porra quente e abundante.

Nick se deitou sobre mim e me beijou. Agora não era apenas ele quem estava suado, pois eu também estava molhado dos pés à cabeça. Ficamos assim nos beijando durante muito tempo até que caímos no sono juntos.

...

Bernardo:

Beijei Daniel e o deixei ir até o vestiário colocar sua sunga preta, que realçava de forma provocante o volume entre suas pernas. Eu adorava vir aos treinos de natação, não apenas porque gostava de vê-lo nadando com tanta leveza, com aquele corpo quase nu que faria qualquer garota ou garoto babar, mas também porque era um lembrete irresistível de que aquele corpo era só meu. No entanto, não era só a parte sensual que me atraía. Havia algo mais. Ver os olhos de Dany brilharem enquanto ele nadava era especial. Era como se, a cada braçada, ele libertasse algo dentro de si que esteve reprimido por muito tempo.

Daniel realmente amava nadar — e fazia isso com perfeição. Ontem à noite, ele me confessou estar nervoso com a escalação para a competição entre escolas do Rio Grande do Sul, que aconteceria no próximo sábado. Tinha medo de não ser escolhido como titular pelo treinador, embora esse medo fosse infundado. Ele era, de longe, o melhor nadador da equipe. Eu disse isso a ele, mas meu namorado ainda parecia inseguro. O treinador estava exigente, treinando a equipe com bastante rigor, e o titular seria anunciado ao fim do treino de hoje. Isso estava o deixando tenso.

Fui até a arquibancada, sentando-me no mesmo lugar onde sempre o via, naquele ponto escondido onde Lorenzo gostava de ficar — sob a arquibancada, onde podia observar o treino sozinho, ler e se perder nos próprios pensamentos... e nas memórias dos parentes que já se foram há muito tempo.

– Como foi a última reunião? – perguntei, certo de que ele me ouviria.

– Não sei, não fui – Lorenzo respondeu com o tom monótono de sempre. – Não participei de nenhuma desde que terminei com a Eliza na semana passada. Ou melhor, desde que ela terminou comigo.

– Sinto muito por isso – falei com sinceridade. Apesar de nunca ter sido fã da Eliza, ela fazia bem a Lorenzo.

– E a Irina? Como está?

– Como vou saber? – ele respondeu, aflito. – Ela saiu da escola e não atende minhas ligações. Mas sei que está bem, porque ontem me mandou essa mensagem: Desculpa não atender, Lorenzo. Saí dessa escola porque cansei de fingir ser alguém que não sou só para irritar meus pais. Nunca fui gótica, e me desculpe por te deixar assim, mas você vai ficar bem sem mim. Podemos continuar amigos, mas agora preciso me encontrar. Com carinho, Carla.

– O nome verdadeiro dela é Carla? – perguntei, surpreso, me dando conta de que "Irina" era apenas um apelido.

– É um nome que ela mesma escolheu, porque não curtia "Carla"... ou talvez agora esteja aprendendo a gostar. Sei lá. – Sua voz estava mais melancólica do que nunca. – Ela foi embora. E a Eliza também. Estou sozinho de novo, Bernardo. Completamente sozinho.

– Você não precisa ficar sozinho, Lorenzo – falei com firmeza. – Você me ajudou quando precisei. Foi um amigo de verdade. Elas podem ter ido embora, mas eu ainda estou aqui.

– Está mesmo? – ele perguntou, surpreso. – Mesmo com esse meu jeito gótico-depressivo?

– No meu grupo de amigos tem um playboy, uma patricinha, dois nerds, um bissexual, cinco gays e uma ex-gótica. Pode parecer um combo meio estranho, mas ainda cabe mais um. E eu adoraria ter você com a gente de novo. Sei que a Roberta e o Gabriel também sentem sua falta.

– Obrigado, Bernardo. – Ele parecia realmente tocado. – Vou ficar aqui mais um pouco... mas quem sabe na hora do jantar eu não apareço na sua mesa?

– Saiba que será muito bem-vindo.

Foi quando avistei Théo e Samuel correndo em nossa direção. Théo estava vermelho de tanto correr, mas o que mais chamava atenção era seu olhar — ele estava em choque.

– Aconteceu alguma coisa – disse Lorenzo. Apesar de estar sob a arquibancada, conseguia enxergar tudo pelos vãos entre os bancos.

– Vou ver o que foi – respondi, descendo os degraus rapidamente, com cuidado para não tropeçar. Corri até eles. – O que aconteceu?

– Aconteceu – disse Samuel, sério.

– Algo que ainda não sabemos se é bom ou ruim – completou Théo, ofegante –, mas precisamos da sua ajuda pra contar ao Daniel.

– Gente, o que está acontecendo? – perguntei, começando a me desesperar.

Théo respirou fundo, tentando conter a emoção antes de dizer:

– Meu pai se matou hoje de manhã, na cadeia.

...

Continua...

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