⚠️ Aviso de conteúdo sensível:
Este capítulo contém descrições de violência e/ou situações potencialmente perturbadoras. Leitura não recomendada para pessoas sensíveis a esses temas.
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Capitulo 39 - A culpa é minha!
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Théo
Estava sentado no chão em frente ao sofá com as mãos na cabeça tentando desesperadamente decidir qual era a pior parte daqueles últimos cinco minutos. Os tiros vindos do lado de fora do prédio, os policiais caídos no chão, Izac entrando no apartamento e matando o porteiro ou ele apontando a arma para nós enquanto nos mandava sentar em frente ao sofá. Cada um desses momentos foi extremamente agoniante para mim. Podia ver o homem trajando uma camisa de botões branca com calça preta e sapatos cuidadosamente engraxados deitado no chão em uma poça de seu próprio sangue. Sangue esse que escorria e banhava pedaços de sua cabeça partida por uma bala que o atingiu a menos de dois metros de distância. Para o pobre coitado aquilo foi rápido e provavelmente indolor, mas para nós era um tormento. Sua camisa branca que provavelmente ele tomava bastante cuidado para não sujar e nem ficar amarelada, agora estava embebida de seu sangue. Aquele homem tinha por volta dos quarenta anos e com certeza tinha família e filhos que nunca mais veriam o pai. Filhos que teriam de se despedir de um caixão fechado, pois não havia mais rosto para se ver. Um homem com esperanças e sonhos que nunca realizaria. Um homem que não merecia morrer desta forma nas mãos de um louco. Um louco que sorriu quando o sangue do porteiro respingou em todo o canto inclusive em seu rosto.
Comecei a pensar em minha vida e nas coisas que deixaria para trás. Aquele homem com toda a certeza iria fazer o mesmo comigo e era apenas uma questão de tempo. Ele já tinha matado aquele homem a sangue frio o que impediria que ele fizesse o mesmo comigo? Minha vida foi um tormento desde e parecia uma brincadeira injusta acabar logo agora que tudo estava começando a melhorar. Quando minha mãe finalmente me dava carinho e atenção. Quando eu finalmente havia superado toda a inveja e ressentimento que tinha de meu irmão. Quando eu finalmente havia encontrado um verdadeiro amor que me valorizava. Em resumo. Quando eu estava finalmente sendo feliz pela primeira vez. E não era uma felicidade passageira daquelas que a gente sente ao ganhar aquele brinquedo que tanto deseja de natal. Era uma felicidade duradoura que me fazia acordar todas as manhãs e sorri mesmo em dias nublados que antes me deprimiam demais. Era um sorriso verdadeiro e não uma máscara sarcástica que usava para esconder minha tristeza. Esse Théo havia morrido para um novo poder nascer. Um Théo melhor. Um Théo que estaria morto a qualquer momento.
Pobre Fernanda. Não nos falamos com muita frequência, pois ela tem sua própria vida na faculdade e com o namorado, mas sempre que precisei dela ela me apoiou incondicionalmente. Ela estava do meu lado em muitos momentos em que meu pai fez questão de demonstrar a diferencia no tratamento entre Daniel e eu. Era quase sempre ela que o lembrava de minha existência mesmo que estivesse escrito em seu rosto que ele não gostava disso. Fernanda esteve do meu lado quando meu pai me rejeitou ao assumir que era gay. Me apoiou da várias vezes durante a faze complicada em que meu pai fazia questão de expor seu ódio por mim. Foi ela quem deu a cara a tapa e se opôs a mentira que minha mãe contou no hospital a respeito dos meus ferimentos. Foi ela quem virou as costas para ele primeiro.
Tinha também minha mãe. Não poderia dizer que ela foi a melhor mãe do mundo, mas também não tinha como dizer que ela era a pior. Claro que ela acobertou a nítida diferença que meu pai fazia entre os filhos, mas ela de certa forma enxergava aquilo e em determinados momentos ela tomava o lugar de Fernanda e lembrava ao meu pai de mim. Lembro que quando era criança, minha mãe e eu íamos ao mercado depois que meu pai recebia e ela sempre comprava algo que eu queria. Ela gostava de me fazer feliz naquele momento como se fosse uma espécie de compensação pela sua cegueira seletiva. Não era o ideal, mas naquele momento servia. Ela também não ficou do meu lado quando meu pai se voltou contra mim e mentiu sobre o que havia acontecido comigo. Ela mentiu várias vezes para acoberta-lo e isso me fez ter muita mágoa dela. Minha mãe nunca virou as costas para mim no sentido de dizer que eu não era mais seu filho, mas nunca me deu apoio ou uma palavra carinhosa depois da surra. Ela ajudou sim a fazer meus curativos e me levar no médico para acompanhar a minha recuperação, mas depois daquele dia em que o monstro me atacou, nunca mais ouvi um “eu te amo”. Claro que depois que Daniel saiu do armário, minha mãe melhorou muito comigo. Não que hoje ela vá para a parada gay desfilar como mãe de dois homossexuais, mas hoje em dia ela consegue entender e respeitar. Me dá carinho e trata meu namorado muito bem assim como Bernardo. Hoje eu consigo ouvir dela um “eu te amo”.
Marcelo... Nem sei o que dizer dele. No início ele era apenas o melhor amigo do meu irmão. Um cara babaca e que só falava besteira sem nenhum conteúdo. O típico adolescente popular e bonito que ganha tudo o que quer com sua aparência. Não me atraía em nada. Todas as vezes que ele falava comigo eu respondia sem nenhum interesse e a conversa morria em menos de dois minutos. Mas então houve a surra e Daniel ficou destruído junto de mim. Marcelo provou que era seu amigo de verdade e ficou do seu lado o tempo inteiro o consolando. A aproximação foi inevitável e eu percebi que Marcelo não era um garoto popular e fútil. Havia algo além daquele rostinho bonito. Algo de mais profundo. Não demorou muito para que eu me apaixonasse por ele. Uma paixão forte que não consegui esconder.
Um dia estávamos em casa e minha mãe mandou Daniel ir comprar alguma coisa. Marcelo estava lá em casa e fez questão de ficar do meu lado. Ele pegou minha mão e sorriu para mim com aqueles dentes perfeitos e brancos. Foi quando o beijei e ele retribuiu. Meu primeiro beijo. O mais importante e aquele que todos dizes ser horrível, mas que para mim foi mágico. Depois daquilo nós namoramos e eu perdi a virgindade com ele também. Marcelo sempre era ativo, mas me divertia bastante com o fato dele também curtir que eu enfiasse o dedo no cu dele. Ele urrava de prazer. Houve também o momento da separação quando eu lhe disse que não queria mais viver em segredo e ele me disse que não estava pronto para sair do armário. A desculpa era clássica: “Meus pais vão me matar!”, ele sempre dizia. E de certa forma eu entendia muito bem isso, pois o meu tentou me matar. Mas não queria ser o segredo de ninguém. Terminamos, mas a amizade nunca se perdeu. Claro que não era mais como antes e nos víamos bem menos, mas sabia que poderia contar com ele para qualquer coisa. E ele supriu minhas expectativas quanto a isso. Me apoiou durante todos os momentos ruins que enfrentei desde então e finalmente se sentiu pronto para assumir algo comigo. E adivinha só? O medo dele não se concretizou. Os pais dele ficaram sim um pouco tristes quando descobriram que o filho era gay, mas o aceitaram mesmo assim. Ele me faz feliz assim como eu o faço feliz. Ele vai ficar arrasado com a minha iminente morte.
E por último temos Daniel. Meu irmão mais velho e o xodó da família Vilella. O garoto que todos os outros querem ser e as garotas querem ter. O orgulho do meu pai e o filho de ouro da minha mãe. Eu o conhecia como o melhor irmão do mundo. Odiava meu irmão durante a infância, pois ele era melhor que eu em tudo inclusive em conseguir o amor do nosso pai. Vivi a sua sombra durante anos e ainda hoje vivo um pouco pois foi graças a ele que minha mãe começou a me aceitar. Mas apesar disso, foi Daniel quem realmente cuidou de mim quando eu estava todo quebrado. Era ele quem afagava minha cabeça loira e cantava para eu dormir. Era ele quem me dava banho para que minha mãe fizesse os curativos. Isso foi nos primeiros dias após a surra quando eu mal conseguia ficar de pé. Era Daniel que apesar de destruído me fazia rir com piadas. Era ele que sempre se levantava e ficava entre mim e meu pai quando ele chegava do trabalho e eu estava na sala. Foi meu irmão quem me deu apoio primeiramente. E morreria por mim se assim fosse preciso. Era com ele que eu podia contar naquele momento para tudo que viesse. Ele era minha força, meu escudo e minha espada. Era minha razão de continuar firme e forte. Apesar da inveja que sempre senti por Dany, ele passou a ser meu pai, mãe e irmão desde aquele dia. Era o único que ouvia como foi meu dia. O único que estava disposto a perguntar se eu precisava de algo. O único que realmente se importava. Claro que eu seria injusto em não dizer que Fernanda também se importava, mas minha irmão não morava mais conosco e nem sempre estava presente. Mas era em meu irmão que encontrei a motivação para não acabar com minha vida miserável. Foi nele que conheci o significado de amor fraternal. E era ele quem mais iria sofrer, pois além de mim ele também perderia Bernardo.
Ele não está aqui – disse Bernardo, rompendo o longo silêncio.
– Eu sei – respondeu Gustavo com um sorriso insano no rosto. O revólver em sua mão cintilava sob a luz do pôr do sol que atravessava a sala pela porta da sacada, deixada aberta por Bernardo. Ele mal teve tempo de fechá-la.
– Ele foi até a delegacia reconhecer o corpo de um mendigo.
– Como você sabe disso? – meu melhor amigo perguntou, desconfiado.
Gustavo coçou a cabeça com o punho da arma, bagunçando ainda mais os cabelos quase loiros. Ele sorria, mas seu olhar perdido mostrava que ele já estava muito além da razão.
– Quem você acha que matou aquele cara? – ele soltou uma risada descontrolada enquanto contornava o corpo do porteiro caído no chão – Fez bem menos bagunça que esse aqui – cutucou o cadáver com o pé, sem a menor cerimônia. – Precisava de uma distração para afastar a polícia. Isso mesmo, garoto, estou vigiando meu irmãozinho desde o hospital. A sua polícia é patética, preocupada demais com os jornalistas. Então matei um mendigo parecido comigo. Desfigurei o rosto dele com socos para dificultar a identificação. Dei uma facada e larguei o corpo perto do meu prédio. Ninguém viu. Depois voltei pra cá e fiquei esperando esse pobre coitado trocar de turno – olhou para o segurança no chão com falsa pena antes de rir novamente – O idiota achou que eu ia deixá-lo vivo!
Olhei para o corpo do homem, a cabeça quase desfigurada, e um misto de pena e horror tomou conta de mim.
– Então vai esperar ele voltar? – Mirian perguntou com a voz trêmula, quase em prantos.
– Eu não vim por ele, senhora – respondeu Gustavo, andando até ela com a arma balançando perigosamente, como se fosse um brinquedo prestes a disparar. – O Gabriel já não é mais o mesmo. Me evita, me trata como lixo. Não transa comigo como antes, sabe?
– Você é um doente! – cuspiu Bernardo com raiva.
Lancei a ele um olhar desesperado, como se dissesse: “Cala a boca, porra! O cara tá armado! Já matou um monte!”.
– Doente... por ele – Gustavo murmurou, como se aquilo fosse uma declaração de amor. – Mas ele não me ama mais. E a culpa é sua! – agora a arma estava apontada para Bernardo. – Desde que ele começou a se engraçar com você, me trata como lixo. Eu vou matar todo mundo nessa sala. Mas você vai ser o primeiro, e vai assistir aos outros morrendo também – ele enfiou a mão no bolso da calça e puxou um soco inglês dourado – Vai ouvir os gritos deles enquanto apanha. E depois, vai ver todos morrerem – segurou o rosto de Bernardo com brutalidade, forçando seus lábios num biquinho. – Só então eu vou explodir essa sua carinha de viado.
Merda! O psicopata acha que Gabriel e Bernardo estão juntos!
E o Nick escapou por pouco...
Foi tudo o que consegui pensar antes de Gustavo desferir o primeiro golpe com o soco inglês no rosto de Bernardo.
O impacto fez meu amigo desabar, desorientado, com um corte profundo na face. O sangue escorreu quase imediatamente.
Tanto eu quanto Mirian fizemos exatamente o que ele queria: gritamos em desespero. Ver Bernardo cair com os olhos revirando foi horrível. Angustiante.
– Bernardo! – gritei e corri para cima de Gustavo, sem pensar. Mas ele já esperava e me imobilizou com uma gravata.
Senti o cano gelado do revólver encostado à minha têmpora. O estalo metálico da trava sendo puxada ecoou como uma sentença de morte.
– Parece que você vai ser o primeiro – sussurrou no meu ouvido.
Fechei os olhos e esperei o pior. Lágrimas brotaram e eu murmurei algo incompreensível, talvez uma prece desesperada a um Deus em que nem acreditava direito.
– Gustavo Nascimento! Solte a arma e se renda! Você está cercado! Libere os reféns imediatamente! – uma voz autoritária ressoou de um megafone.
Gustavo me arrastou até a sacada sem tirar a arma da minha cabeça. Abri os olhos. O homem com o megafone estava na rua, mas tanto ele quanto eu sabíamos que já haviam atiradores de elite posicionados nos prédios ao redor. Afinal, um dos reféns era filho de Miguel de Andrade, um dos juízes mais influentes do país.
– Você não tem escapatória! Renda-se! – insistiu a voz do megafone.
– Você está perdido, Gustavo – disse Bernardo, ofegante.
Gustavo me arrastou de volta para dentro e me empurrou com força no chão. Por pouco não bati o rosto, mas consegui amortecer com a mão.
– Eles querem os reféns? – gargalhou, insano. – Então eu vou jogar um de vocês pela janela!
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Gabriel:
A pior sensação do mundo era a tensão que eu sentia naquele momento, enquanto entrávamos no carro de Miguel, acompanhados pelos dois policiais que sempre ficavam de prontidão na entrada do prédio. Meu coração batia acelerado, como se estivesse prestes a pular pela boca. Minhas mãos suavam e tremiam por causa do estresse.
“Tomara que seja ele”, era o único pensamento que ecoava repetidamente na minha cabeça.
Queria aquele desgraçado morto mais do que nunca. Só assim eu poderia seguir em frente. Viver sabendo que Pedrinho teria um futuro. Que ele não correria o risco de levar um tiro ao dobrar a esquina. Que meu irmãozinho cresceria seguro, mesmo que isso significasse viver em um abrigo até completar a maioridade.
Pedrinho segurou minha mão e encostou a cabeça no meu ombro.
Meu irmãozinho amado. Tão inocente, tão doce... e tão parecido com… Jair. Engoli seco ao perceber aquilo pela primeira vez. Pedro tinha o mesmo tom de pele moreno, os mesmos olhos castanhos, os cabelos cacheados, castanhos também. Até o sorriso infantil lembrava o sorriso cruel daquele homem que, mesmo morto, ainda assombrava a minha vida.
Consegui imaginá-lo crescendo, se parecendo cada vez mais com o pai. Um pedófilo. Um monstro que destruiu nossa infância e arrancou nossa inocência. Será que um dia ele olharia no espelho e se veria como Jair? Será que se odiaria por isso? Eu não sabia.
– Está preparado para isso? – Miguel perguntou, me encarando pelo espelho retrovisor. – Pode ser um choque.
– Estou, sim – respondi entre dentes. Mais do que tudo, eu queria ver aquele corpo sem vida e sentir a mesma satisfação doentia que senti ao ver Jair com a garganta cortada. – Mas não sei se Pedrinho deveria ver.
Meu irmão apertou mais forte minha mão, claramente assustado com tudo aquilo.
– Infelizmente, ele também precisa reconhecer o corpo, Gabriel – Miguel respondeu, em tom compreensivo. – Para não deixar dúvidas.
Assenti, acariciando os cabelos cacheados de Pedro, ainda perturbado com o quanto se pareciam. Sei que era errado fazer comparações assim, mas agora que tinha percebido, era difícil parar de enxergar.
Olhei pela janela, me perguntando se aquele seria o último dia da minha vida em que eu sentiria medo.
Mas a resposta chegou rápido demais.
– “O suspeito está aqui…” – a voz do rádio do policial ao lado de Pedro começou a dizer, mas foi interrompida por dois disparos.
– Na escuta! – o policial respondeu com urgência – Tem alguém na escuta?
Silêncio. Nenhuma resposta.
Nos entreolhamos imediatamente. Todos sabíamos o que aquilo significava.
O corpo encontrado não era de Gustavo.
Meu irmão enlouquecido havia ido até o apartamento do Bernardo. Matou os policiais da entrada. Invadiu.
Provavelmente mataria todos.
Por minha culpa.
– Temos que voltar! – Miguel ordenou ao motorista.
– Não é seguro, Juiz Andrade – disse o policial no volante.
– Peça reforços para o apartamento dos Andrade! O suspeito está lá e provavelmente neutralizou dois dos nossos homens! – disse o outro policial, enquanto Pedro se agarrava a mim com força.
– “Reforços a caminho” – informou uma voz feminina no rádio.
– Eu não estou pedindo, policial. Estou ordenando – Miguel respondeu, com o tom firme de um juiz acostumado a ser obedecido.
O policial não discutiu. Virou no primeiro retorno e acelerou de volta ao prédio.
Estávamos relativamente perto e, em menos de dez minutos, já havia várias viaturas cercando o edifício, impedindo qualquer aproximação.
O carro parou o mais próximo possível e descemos, misturando-nos à multidão de curiosos que já se aglomerava, olhando para cima.
– Qual é a situação? – Miguel perguntou a um policial com cerca de quarenta anos, que parecia liderar a operação.
– O suspeito rendeu o porteiro e o usou como escudo. Abateu os dois agentes da portaria e invadiu. Testemunhas afirmam ter ouvido mais um tiro vindo do apartamento. Já estamos evacuando os demais moradores em segurança.
– E quero que faça tudo ao seu alcance para salvar meu filho, Tenente – disse Miguel, tenso. – Caso contrário, o senhor vai se arrepender de ter me conhecido.
– Farei o possível, Juiz – respondeu o Tenente. – Mas seu filho está numa situação delicada lá dentro. Ainda assim, farei o meu melhor para trazê-lo de volta com vida.
– É bom mesmo, Tenente Miranda – Miguel disse, com um olhar gélido.
Miranda assentiu e pegou o megafone que outro policial havia retirado da viatura.
– Gustavo Nascimento! – sua voz ecoou alta e clara – Largue a arma e se renda! Você está cercado! Solte os reféns e entregue-se!
Todos nós olhamos para a sacada do apartamento. Gustavo apareceu segurando um garoto franzino e baixinho. Sua mão esquerda pressionava o pescoço dele enquanto a outra mantinha a arma apontada para sua cabeça.
Ver aquela cena me causou um pânico absoluto. As lágrimas vieram sem que eu pudesse evitar.
– Não adianta resistir, você não tem saída! – o Tenente insistiu.
Gustavo puxou Théo de volta para dentro, após se certificar de que estava cercado. Foi nesse momento que Daniel surgiu correndo em nossa direção, desesperado.
– O que está acontecendo?! – perguntou a Miguel, em puro pânico. Era claro o motivo de sua presença. Tinha ido buscar Théo de moto. Queria ver o namorado.
– Se acalma, Daniel – disse Miguel, embora sua própria tensão fosse visível. – Está tudo sob controle. Gustavo está lá dentro com Bernardo, Théo, Mirian e o senhor Joaquim.
Joaquim. O porteiro.
– Aquele maluco tá lá dentro?! – Daniel se descontrolou. Lágrimas começaram a cair, não de tristeza, mas de puro ódio. – Isso é culpa sua! – ele me empurrou e me deu um soco no rosto. Eu teria caído se Pedro não estivesse agarrado à minha cintura. – Você não devia ter trazido aquele psicopata pra cá!
Ele estava prestes a me agredir novamente, mas Miguel o segurou com firmeza.
– Se controle, Daniel! Gabriel não tem culpa!
– Tenho sim – falei, sentindo o gosto metálico do sangue na boca – Fui eu quem o trouxe. Ele quer a mim.
Gritos surgiram da multidão.
Voltamos nossos olhos para cima.
Na janela do apartamento, alguém se pendurava do parapeito, prestes a cair.
Aconteceu rápido demais para identificarmos quem era.
Gustavo jogou alguém da janela.
– Bernardo! – gritou Miguel, num desespero cortante, enquanto o corpo atingia o chão com um baque surdo
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Continua...