O celular tocou às 8h17 da manhã. Era cedo demais para uma ligação casual. Quando vi o nome dela, meu coração bateu mais forte. Atendi com a voz rouca:
— “Bom dia, minha puta sumida...”
— “Sumida? Eu te mandei mensagem ontem à meia-noite. Achei que era o suficiente.” — ela disse, rindo, com aquele tom de quem acordou satisfeita.
— “Foi. Me destruiu.”
— “Exagere não. Você é sensível demais…”
Silêncio rápido. Eu esperei. Ela sabia o que eu queria. E quando começou, foi com leveza, como quem conta uma lembrança de verão.
- E como foi?
— “O bar era uma delícia. Sabe aquele boteco na Lapa, com azulejo azul e cheiro de história? Era assim. Todo mundo apertado, samba no fundo, copos suando… eu me senti com vinte e poucos anos de novo.”
— “E ele?” — perguntei, baixo.
— “Ele tava bem… à vontade. Aquela coisa meio artista desleixado, sabe? Camisa de linho amassada, barba por fazer. Ele tem grana, mas parece que faz questão de parecer pobre. Por ideologia, segundo ele.”
— “Ah, o charme da decadência estudada.”
— “Exato. E você sabe como isso me pega.” — ela riu de leve.
Eu também ri, mas meu peito apertava.
— “Vocês ficaram no bar?” — perguntei, tentando soar casual.
— “Vocês ficaram no bar?” — perguntei, tentando soar casual, mas a voz saiu meio torta.
Do outro lado, um silêncio de dois segundos. Depois, a resposta, jogada com um sorrisinho que dava pra ouvir:
— “Ué... fiquei em vários lugares.”
Fiquei quieto. Ela sentiu e continuou, rindo:
— “Tava calor, a Lapa tava cheia... a gente foi se ajeitando onde dava. Nada muito cinematográfico, viu?”
— “Becca...” — falei, firme.
— “Que foi? Você perguntou se a gente ficou no bar. Eu tô respondendo. Ficar no bar, ficar no canto, ficar... enroscado... é tudo uma questão de ponto de vista.”
Ela estava se divertindo com o meu nervosismo. E fazia questão de não dizer sim, nem não. Só me deixava ali, no meio do fogo.
— “Você é impossível.” — falei, sem conseguir conter o sorriso.
— “E você é curioso demais pro seu próprio bem.”
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. Eu também. A respiração dela vinha calma do outro lado da linha. Quase dava pra ouvir o lençol se mexendo, o som do ar-condicionado do hotel, o tilintar de um copo.
E então ela riu. Aquele riso que vem do fundo da garganta, cheio de sarcasmo doce.
— “Ai, meu Deus… tá bom.”
Eu segurei a respiração.
— “Você quer mesmo? Quer a confirmação do que você já sabe?” — disse, com a voz risonha.
— “Becca…” — murmurei, tentando me manter firme.
Ela riu mais uma vez. E então soltou:
— “Pronto. Você tomou chifre, meu corninho fofo.”
Meu coração disparou. O pau endureceu de novo. Eu fechei os olhos.
Era estranho admitir, mas eu precisava daquela confirmação. Mesmo já sabendo. Mesmo tendo sentido cada nuance na voz dela, no “23”, no silêncio depois do “fiz o possível”. Eu sabia. Claro que eu sabia. Mas há algo de divino — e deliciosamente cruel — no instante em que ela diz com todas as letras, com aquele tom irônico, quase carinhoso: “você tomou chifre, meu corninho fofo”. O jogo que ela faz... é arte. Se ela tivesse dito de cara, teria sido cru. Se tivesse omitido por completo, talvez eu duvidasse, ou ficasse só na fantasia. Mas o jeito como ela conduz, como dissimula, ri, provoca, e então solta — como quem presenteia e pune ao mesmo tempo — isso é o que torna tudo insuportavelmente excitante. Ela não me dá a informação. Ela me oferece o espetáculo da revelação. E eu? Eu me deixo torturar... porque o prazer não está apenas em saber. Está em ouvir da boca dela. No tempo dela. Do jeito dela.
Do outro lado, ela continuou:
— “Mas fica tranquilo… foi um chifre de respeito. Com poesia, filosofia e uma pegada que você ia aplaudir. Nos beijamos. Ali, num canto, de pé mesmo. Foi engraçado. Eu me senti uma adolescente escondida dos pais… mas com corpo de mulher formada.”
— “Beijo bom?”
— “Ahn… maduro. Sabe beijo com peso? Com memória, com sede acumulada?”
— “Imagino.” — sussurrei.
Ela continuou, agora mais divertida, como quem conta uma travessura.
— “A gente tava conversando numa boa, boa aí ele me encostou na parede e disse que sentia saudade de mulheres perigosas.”
— “E você disse o quê?”
— “Só olhei para ele e.... já era.... virei puta, você virou corno, ele virou amante... incrível como tem atos curtos que transformam tanto, não é mesmo?
Ela riu, leve. Eu respirei.
— “Sabe o que foi mais louco?” — ela disse, com a voz leve, quase rindo. — “Foi durante o beijo. No meio mesmo. Aquela coisa meio adolescente, de bar cheio, gente passando, beijo meio torto, meio desajeitado... e eu encostada nele.”
Fez uma pausa, como se revivesse a cena. E então veio o golpe:
— “Aí eu senti. Crescendo. Duro. Muito. Maldita calça de alfaiataria… marcou tudo. Aquela porra não esconde nada.”
Ela deu uma risadinha baixa, como quem se diverte com a própria ousadia.
— “Juro, parecia que o pau dele tava sendo embalado pra presente e empurrado contra minha barriga. E eu ali, beijando, tentando manter o foco, mas… sentindo tudo. Cada centímetro. Não tinha nem como fingir que não era comigo. Era. Era por minha causa.”
Outro riso.
— “Fiquei tonta. Rindo por dentro. Eu me senti tão... desejada. E, nossa, tão curiosa. Fiquei com uma vontade besta de abrir o zíper ali mesmo, só pra tirar a prova.”
Ela suspirou, ainda rindo.
— “Mas eu me comportei… até onde deu.”
— “E aí?”
— “Aí eu coloquei a mão por cima da calça dele, só pra confirmar a impressão...”
— “E…?”
— “E eu ri de nervoso.”
Silêncio.
— “Riu?” — perguntei, num sussurro.
— “Aham. Baixei os olhos, olhei pra ele e não disse nada, só olhei com uma cara de ‘Isso existe mesmo”. E ele… só sorriu. Como quem já sabe.”
Fiquei mudo por alguns segundos. O pau latejava dentro da cueca.
Eu engoli em seco.
Rebecca tinha voltado mais mulher do que nunca.
Fiquei em silêncio por alguns segundos depois que ela falou da calça de alfaiataria. Tentando processar tudo. O beijo, o volume, o arrepio dela. Mas uma coisa ficou martelando na minha cabeça — e escapou da minha boca antes que eu conseguisse segurar:
— “Tá… mas… como é que você sabe que eram 23?” — perguntei, tentando parecer casual, falhando miseravelmente.
Do outro lado, só ouvi o riso.
Aquele riso.
— “Ah, amor…” — ela disse, fingindo surpresa. — “Você acha que ele me falou?”
Fiquei quieto. Meu coração disparando.
Ela continuou, mais baixa, com aquele tom quase infantil de quem sabe que está fazendo travessura:
— “Eu medi.”
Silêncio. Um segundo— “Com a mão, claro.” — completou, rindo. — “Ali, no quarto. Na hora que deu. Só pra tirar a dúvida. Curiosidade científica.”
Ela riu mais alto.
— “E olha… acho que 23 é modéstia. Se tivesse uma régua ali, a gente podia estar conversando sobre exageros estatísticos agora.”
Fechei os olhos. Um calor subiu pelas minhas costas. A imagem era clara, crua, deliciosa.
Rebecca, minha mulher, nua ou quase, num quarto de hotel no Rio, segurando o pau de outro homem com as duas mãos — e medindo. Por curiosidade científica. Como se estivesse estudando uma relíquia rara.
— “Você ficou chocada?” — perguntei, engolindo seco.
— “Eu fiquei impressionada.” — respondeu. — “Mas mais do que isso… fiquei animada.”
E ficou quieta.
Deixando a frase trabalhar em mim.
Como ela sempre faz.
— “Quer saber?” — ela disse, depois de um gole de café que parecia ter gosto de vitória. — “Quando eu vi, ali no quarto, eu parei. Sério. Dei uma risadinha sem graça, mas também meio besta. Fiquei encarando.”
Ela falava com a leveza de quem conta uma piada suja num café elegante.
— “Aquilo… amor, aquilo não é pau. Pau é o que se diz no dia a dia, no automático. Aquilo ali merece outro nome. Aquilo é caralho. E com C maiúsculo. Soa mais certo. Mais honesto com o que tava pendendo na minha frente.”
Ela riu, e eu também — nervoso, excitado, vencido.
— “Fiquei ali, manuseando com as duas mãos, tipo quem tenta entender um objeto de outro planeta. Medindo, pesando, testando a firmeza, sabe? E ele lá, rindo. Rindo como quem já tá acostumado com a reação.”
— “Ele falou alguma coisa?” — perguntei, com a garganta seca.
— “Falou sim.” — respondeu, sem nem hesitar. — “‘Costuma impressionar mesmo’. Foi isso que ele disse. Olhou pra mim com uma cara tão segura, tão tranquila… como se dissesse: ‘relaxa, vai dar tudo certo’. E eu ali, sem saber se ria, se rezava ou se pedia reforço.”
Ela fez uma pausa, como quem saboreia o próprio atrevimento, e então disse, mais baixa:
— “Foi bonito. Sério. Eu sei que soa estranho ouvir isso... mas tem algo bonito em ver um homem consciente do poder que carrega entre as pernas. Ele não se exibia. Ele só sabia. E isso… me deixou entregue.”
Eu não respondi. Não conseguia. Só respirava.
Ela do outro lado, tranquila.
E eu, despedaçado e duro, agradecendo por ser o homem que ela escolheu para ouvir isso tudo.
Eu não aguentei mais. A voz dela, as imagens que ela plantava na minha cabeça, o tom de deboche doce… tudo me deixou num estado entre o delírio e a devoção. Minha voz saiu quase num sussurro, sem força:
— “Becca… você… aguentou?”
Ela ficou em silêncio por um segundo. E aí riu. Baixo, malandra. Aquela risadinha de quem se diverte com o tamanho da própria façanha.
— “Aguentei, ué…” — disse, com falsa modéstia, como quem fala de ter subido uma escada difícil.
— “Com aquele calibre?” — insisti, quase implorando pela imagem.
Ela fez um barulhinho com a boca, tipo quem mede mentalmente alguma coisa.
— “Não foi fácil, tá? Teve que ir devagar, com carinho, com pausa pra respirar…” — e então, o golpe final, com a voz cheia de orgulho abafado: — “Mas pode ficar tranquilo, amor. Eu não envergonhei nossa família... eu aguentei o tranco”.
E continuou, sem falsa modéstia.
— “Não sem… alguns escândalos, claro.” — acrescentou. — “Acho que a mulher do quarto ao lado bateu três vezes na parede. Eu berrava. Sabe aquele gemido que vira grito? Aquele que parece dor, mas é outra coisa?”
Meu pau pulsava. Meu peito também.
— “Foi selvagem. Fui segurando nos lençóis, na cabeceira, em tudo que dava. Uma hora, ele olhou pra mim e disse: ‘Relaxa, vai entrar tudo’. E entrou. Entrou até o fundo da minha alma. Eu não sabia se chorava ou se sorria. Acho que fiz os dois.”
Ela riu de novo, e disse com doçura:
— “Pode ter orgulho de mim, viu? Sua esposa... sua mulherzinha comportada da universidade… hoje é uma campeã olímpica.”
— “Ah, e teve uma hora…” — ela disse, já com a voz entre a gargalhada e o deboche — “quando eu tava meio sem ar, agarrada na cabeceira da cama, tentando dar conta daquele monstro… ele segurou meus quadris com força, olhou pra mim com aquela cara de homem que sabe exatamente o que tá fazendo e disse, assim ó, bem na minha orelha: ‘Você é cavala. E cavala aguenta.’”
Ela deu uma risada solta, quase infantil.
— “Você acredita? E eu… toda aberta, suada, berrando no travesseiro, só consegui rir. Porque ele tava certo. Eu sou. E, modéstia à parte, eu aguentei.”
Ela fez uma pausa dramática, e completou, com orgulho impuro:
— “Aguentei como boa cavala. Até o fim.”
— “Ah, e teve uma hora…” — ela disse, já com a voz entre a gargalhada e o deboche — “quando eu tava meio sem ar, agarrada na cabeceira da cama, tentando dar conta daquele monstro… ele segurou meus quadris com força, olhou pra mim com aquela cara de homem que sabe exatamente o que tá fazendo e disse, assim ó, bem na minha orelha: ‘Você é cavala. E cavala aguenta.’”
Ela deu uma risada solta, quase infantil.
— “Você acredita? E eu… toda aberta, suada, berrando no travesseiro, só consegui rir. Porque ele tava certo. Eu sou. E, modéstia à parte, eu aguentei.”
Ela fez uma pausa dramática, e completou, com orgulho impuro:
— “Aguentei como boa cavala. Até o fim.”
— “Eu tentei, viu?” — ela disse, com aquele tom de falsa inocência que sempre me desmonta. — “De verdade. Tentei manter a pose, o decoro… pensei: ‘vou só dar, ser chique, não vou me ajoelhar assim de primeira’. Mas teve uma hora que não deu. Ele tava de pé, nu, olhando pra mim com aquela expressão calma, profunda, meio artista torturado… e eu ali, sentada na beira da cama, com aquilo na minha frente. Pesando. Chamando. Aí foi instinto. Caí de boca.”
Ela riu, sem culpa.
— “Amor… o peso na língua. O volume. Aquilo preencheu a minha boca toda. A bochecha até estufou. Eu me senti pequena. Sabe quando o mundo diminui e só sobra aquilo? Pois é. Fiquei ali, quase reverente, só sentindo a textura, a densidade… como se estivesse descobrindo um novo idioma.”
Fez uma pausa, e então soltou, divertida:
— “Ainda bem que ele tem esse jeitão intenso, meio romântico, meio poeta de alma cansada. Porque se ele fosse igual ao Vinícius, naquela pegada bruta, dominadora… com aquele caralho? Amor, eu tava pregada na cama até agora. Sem conseguir andar. Sem conseguir falar.”
E riu de novo, como quem acabou de contar uma anedota trivial.
Fiquei ali, respirando pesado, tentando absorver tudo que ela tinha acabado de dizer. O boquete, o peso na boca, o olhar do Caio... Tudo martelava na minha cabeça. Mas tinha uma pergunta que eu não conseguia mais segurar. A voz saiu mais baixa, mais rouca:
— “Você… gozou?”
Ela não hesitou.
— “Gozei.” — disse, com naturalidade. — “Umas três ou quatro vezes, eu acho.”
Fez uma pausa, só pra deixar que a imagem fermentasse dentro de mim, e então completou com um riso de canto de boca:
— “Depois que o corpo se acostumou, foi...ele também gozou... ele gozou bem forte, duas vezes.... tremendo... parece ter curtido bem.... mas não houve a entrega que eu tenho com o Vinicius, sei lá...
Ser corno de outro homem é, antes de tudo, reconhecer que ela não é só minha — e que talvez nunca tenha sido. É assistir de longe, com o coração apertado e o pau duro, enquanto outro ocupa o espaço que um dia foi só meu… e fazer disso um altar, não um lamento. Caio precisou viajar. A experiência foi intensa, curta, e ela voltaria para casa em poucos dias. Mas não voltaria igual. Rebecca voltaria erguida. Olhar de vitória, corpo marcado, alma expandida. Voltaria como uma cavala de raça, daquelas que cruzam a linha final com suor nas coxas e brilho no olhar. Orgulhosa de si mesma. Orgulhosa de ter aguentado — de ter dado conta de vinte e três centímetros de desafio e ter saído inteira. E eu? Eu estaria aqui, de braços abertos, pronto para recebê-la. Porque, no fim, eu não sou o vencedor. Mas sou o testemunho da vitória dela. E isso, pra mim, é mais do que suficiente.