Sherlock Corno - O Caso dos Pastores (3)

Um conto erótico de Mais Um Autor
Categoria: Heterossexual
Contém 875 palavras
Data: 31/08/2025 22:14:51

Depois de uma semana, tudo que eu consegui foi perder sete dias. Ela seguia a mesma rotina todo santo dia, como se fosse alguma espécie de robô

A única coisa fora do padrão foi sábado, onde ela e o namorado saíram jantar. Escolheram um restaurante italiano metido a chique, daqueles que cobram duzentos reais num prato minúsculo e acham que luz baixa é sinônimo de sofisticação.

Eu já conhecia o lugar — não era a primeira vez que espiava um casal ali. Peguei uma mesa discreta num canto estratégico, perto o suficiente para ouvir a conversa, longe o bastante para não levantar suspeitas dos seguranças que sempre cercavam o rapaz como se ele fosse herdeiro da máfia.

Ouvi e assisti o que eles faziam, e cheguei até a ter pena do moleque. O cara passou o jantar inteiro tentando alguma coisa. Carinho no joelho, elogio meloso, passou a mão no cabelo dela, usando a clássica tática do— Que tal dormir lá em casa hoje, amor? — ele soltou, com um sorriso ensaiado e tentando soar casual

— Ah, amor… você sabe que não dá. — respondeu, com aquele entusiasmo irritantemente fofo — Falta tão pouquinho pro casamento! Depois a gente vai dormir juntinho todo dia... até você enjoar de mim!

— A gente só dorme abraçadinho, não vai acontecer nada.

— O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro, pois Deus julgará os imorais e os adúlteros. — ela recitou. Pela entonação que usou, tive a convicção que ela não entendia exatamente as palavras que saíam da boca dela, mas ainda assim, estava firme na sua decisão.

Ele deu de ombros e aceitou a derrota. Pagou a conta, levou a moça até em casa e, depois de toda aquela melação forçada, os dois ainda terminaram com uma oração de mãos dadas no portão. Ela deu um selinho, desejou uma boa noite e entrou, deixando-o ali com cara de idiota apaixonado.

Era como assistir um romance medieval. Tudo que faltava era o cavalo branco e uma carta escrita à pena. Não conseguia acreditar que meu bônus agora dependia daquela fanática maluca que tratava beijo na boca como pecado capital.

Já passava da meia-noite quando mandei mensagem pro meu sócio: “Me encontra no Bar.” Nem precisei dar mais explicações. Ele sabia que se eu estava chamando naquela hora, não era pra bater papo sobre futebol.

A verdade é que eu queria algo mais forte do que beber. Algo que me fizesse esquecer aquela semana inútil. Mas meu fornecedor já tinha deixado bem claro que, se eu aparecesse lá de novo sem pagar o que devia, ia acordar duro e frio num terreno baldio. Preferi viver. No bar, pelo menos o sócio pagava a conta, e eu tinha alguém pra despejar o lixo mental que estava acumulando.

Ele chegou com a cara de sempre: cansado, mal-humorado e de olho nas garçonetes como se tivesse algum futuro ali. Pediu uma dose dupla de uísque e um pastel de carne. Enquanto a gordura escorria pelo papel, eu contei tudo. Falei da rotina da menina, do culto, da academia, do restaurante italiano onde o namorado tentou, sem sucesso, marcar um gol antes do casamento. Falei da virgindade obstinada, da recusa ao toque, do sermão decorado. E quando terminei, larguei o copo na mesa com força.

— Eu tô num beco sem saída, mano. É como se ela fosse feita de pedra.

Ele deu uma risada curta e sacudiu o gelo no copo.

— Toda menina dessa idade é apaixonada por alguma coisa — disse, mastigando sem pressa. — A nerd é apaixonada pelo professor. A gótica, por algum lobisomem com cara de sofrimento. E essa tua fanática aí...

Ele levantou o dedo e apontou pro teto.

— Essa aí tá apaixonada por Jesus, irmão.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, encarando o fundo do meu copo. Jesus. O pior rival de todos os tempos. Veio para Terra só para mostrar quão fudido todos nós somos.

Deixei o carro na rua mesmo, e saí do bar cambaleando, andando devagar pelas calçadas vazias. Olhei pro horizonte como se esperasse encontrar uma resposta nele. O mundo inteiro estava quieto, exceto pela minha cabeça, que zunia como se tivesse um enxame preso.

Cheguei em casa por volta das três da manhã, e por mais que meu corpo implorasse por descanso, o sono não veio. Rolei na cama, parecia que os lençois estavam cobertos de cacos de vidro. O caso não saía da minha cabeça. Aquela garota, aquela rotina perfeita, aquele namoro platônico absurdo… Algo não batia.

Abri o WhatsApp dela e comecei a clicar nas conversas, uma por uma. Aleatoriamente. Grupo da igreja, grupo das amigas do estudo bíblico, conversa com a mãe, com o namorado, com a prima que se mudou pro interior. Meu instinto gritava que a resposta estava ali — mas em algum canto que eu ainda não tinha olhado.

Foi então que cheguei na conversa com o pastor. Vazia. Nenhuma troca. Nenhuma saudação, nem bom dia, nem bênção, nem versículo. Nada. Um silêncio absoluto. Um buraco digital.

A menina ia pra igreja todos os dias há anos, era praticamente uma mobília do templo.

E nunca, em todos aqueles anos, havia mandado sequer um “amém” pelo WhatsApp pro pastor?

Ali tinha algo muito errado.

<Continua>

Quem quiser completo tem no wattpad!

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