A Revolução

Um conto erótico de Diogo the writer
Categoria: Gay
Contém 1194 palavras
Data: 26/08/2025 11:45:55

O trabalho de história era sobre a Revolução Industrial, as locomotivas a vapor e o suor das fábricas, mas o único vapor era o que subia de nossos corpos naquela tarde estagnada. O único suor era o que escorria em rios salgados pela nossa pele adolescente, grudando as folhas do caderno na mesa baixa onde nossas pernas quase se tocavam. Quase. Sempre quase, desde o primeiro ano do ensino médio, quando ele chegou transferido de escola e sentou ao meu lado naquela sala cheia de carteiras riscadas e nomes antigos.

Ele fechou o livro com um baque seco, o som ecoou no quarto silencioso onde só o zumbido do ventilador tentava mover o ar parado e pesado como algodão molhado em nossos pulmões. "Não aguento mais esse calor dos infernos", sua voz veio rouca, e ele passou as costas da mão na testa molhada. O gesto foi lento, cansado e bonito, de uma beleza masculina que doía nos meus olhos desde sempre.

Num movimento só, arrancou a camisa branca com o logotipo do time que eu sabia que ele usava aos domingos quando jogava bola no campinho perto da casa dele. Eu ficava na arquibancada de concreto fingindo ler enquanto ele corria, suava, gritava - era vivo demais. Ficou com o torso nu diante de mim sobre a cama, a minha cama de solteiro com lençóis azuis que minha avó havia dado.

O peito dele era uma paisagem inesperada, mesmo depois de tantos verões na mesma piscina pública onde eu o observava mergulhar e sair, água escorrendo nos contornos que agora estavam tão perto. Os músculos definidos sob a pele macia, mais clara onde a camisa protegia um território que eu nunca havia mapeado tão de perto. E o suor fazendo trilhas brilhantes que eu desejava seguir com os olhos primeiro, depois com as mãos, depois com a língua - se ele deixasse, se o mundo parasse nesse instante e esquecesse de girar.

"Você não está com calor?" ele perguntou, a voz mais grossa que o usual, como se tivesse dormido e acordado mais velho nessa tarde interminável. Eu só consegui acenar com a cabeça, o movimento quase imperceptível, minha garganta presa pelo desejo e pelo medo de que ele lesse tudo o que fervia dentro de mim desde aquela vez no cinema, quando suas mãos tocaram as minhas no balde de pipocas e eu soube que nada seria igual.

Meu sangue já começava um tumulto silencioso em direção ao baixo ventre, um fluxo incontrolável de calor mais intenso que o do quarto, um calor interno que me queimava por dentro e me fazia tremer levemente como se tivesse frio num forno. E fiquei olhando aquele corpo que eu conhecia há anos, desde os treze, quatorze, quinze anos, mas que naquele dia era território novo, inexplorado, perigoso e selvagem.

O umbigo, rascunho de uma vida que um dia esteve ligada a outra. A linha de pelo que sumia no shorts, um caminho escuro que me levava a lugares que eu apenas sonhava acordado. O modo como a respiração levantava seu abdômen, um sobe e desce ritmado que eu queria acompanhar com minha própria respiração até que ficássemos sincronizados como dois instrumentos numa orquestra silenciosa.

E sem querer, minhas mãos suadas, trêmulas e desobedientes puxaram minha própria camisa. O algodão úmido subiu, e eu também estava nu do torso para cima, e o ar - que não era fresco, mas era ar - tocou minha pele como um alívio e uma exposição. E ele me olhou dessa vez não de relance, não como sempre, mas com uma intensidade que não era mais de amigo. Era outro tipo de reconhecimento, como se visse algo que sempre estivera lá mas que apenas agora fazia sentido no dicionário comum de nossos corpos.

Seus olhos verdes - ou castanhos, dependendo da luz - agora escuros como poças profundas, percorreram meu peito, meus ombros, minha cintura e voltaram aos meus olhos. E eu não desviei dessa vez, não sorri, não brinquei. Fiquei sério porque aquilo era sério, era importante como nada antes.

E então o calor era um animal pesado e úmido deitado sobre nossos corpos, mas agora era também um animal vivo que respirava entre nós e nos observava com seus olhos antigos, sabendo o que viria antes de nós sabermos. Os livros de história pareciam derreter sobre o carpete. A Revolução Industrial era apenas um pano de fundo distante para a revolução privada que acontecia ali, naquele quarto de subúrbio com pôsteres na parede e roupas espalhadas no chão.

Eu observava o suor escorrer em linhas brilhantes pelo vale do peito dele, uma geografia viva que se perdia na escuridão da bermuda azul-marinho que eu conhecia tão bem. A brincadeira começou com um empurrão besta que ecoou vazio no silêncio abafado. "Para de frescura, seu viado", ele disse, mas a gargalhada não veio. Ficou presa entre nós como uma umidade que não secava e que talvez nunca secasse.

Seus olhos desceram como um raio percorrendo meu corpo até encontrar o volume que eu tentava esconder com o caderno de história - a tentativa patética de disfarçar o óbvio. "Está de pau duro?" ele perguntou, e a pergunta não era mais pergunta, era um fato consumado como o suor que pingava no chão e evaporava no ar quente entre nós.

Meu silêncio era a única resposta possível enquanto o sangue martelava em meus ouvidos, um tambor ancestral que dizia sim, estou, estou, estou - desde que você tirou a camisa, desde que você entrou na minha vida, desde sempre. Ele então se ajustou no assento, um movimento calculado e desavergonhado. "O meu também está assim", e o tecido esticado revelava uma promessa que doía de tão real, de tão próxima.

"Aquela puta da Maria não quer dar", ele cuspiu as palavras como cuspe no chão, e eu vi que raiva e tesão eram irmãos siameses dividindo o mesmo corpo, o mesmo quarto, o mesmo momento. "Estou com um calor do cacete", ele anunciou, e seus dedos encontraram o elástico como quem encontra uma solução final para um problema antigo.

O shorts deslizou como uma bandeira rendendo-se, e ele estava nu, iluminado pelo sol poente que entrava pela janela. A pele, o pelo, o sexo ereto - tudo era verdade, tudo era inevitável como o nascer e o pôr do sol. Minhas mãos tremeram ao seguir o mesmo caminho, e quando ficamos ambos nus, o ventilador soprou sobre nós. O ar gelado foi uma facada de prazer sobre a carne exposta e vulnerável.

Sua mão foi primeiro ao próprio corpo. Um gemido escapou, baixo e rouco, e minha mão seguiu o mesmo ritmo como se estivesse amarrada à dele por fios invisíveis de desejo e de medo. "Quer tocar?" ele não perguntou - afirmou. Era o fim de tudo que conhecíamos, o início de algo que não tinha nome naqueles livros escolares espalhados pelo chão.

Ele se aproximou, e o calor de seu corpo era um ímã contra o meu. Minha mão encontrou o que os olhos já haviam devorado: a pele fina, o pulso visceral, a vida em sua forma mais brutal e mais bela. Dois homens, um segredo. O resto do mundo era pó, era nada, era ontem.

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Foto de perfil genéricaDiogo the writerContos: 4Seguidores: 8Seguindo: 4Mensagem Um escritor viciado em tabus.

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