Ainda naquela tarde, Edgar surgiu na porta do quarto de Elijah já vestido com roupas escuras, botas firmes e uma mochila pequena nas costas. A expressão dele era a mesma de sempre — séria, controlada, mas os olhos guardavam uma intensidade que Elijah começava a reconhecer.
— Vou sair para montar algumas armadilhas e verificar o perímetro — disse, com a voz grave. — Estamos seguros por hora, então aproveite o ar fresco. Vá para o jardim… mas não ouse sair dos arredores. Entendeu?
Elijah ergueu o rosto devagar, um pouco hesitante, mas assentiu com um aceno curto. — S-sim… senhor.
Edgar arqueou uma sobrancelha, como se fosse corrigir a forma como o chamava, mas apenas balançou a cabeça. Antes de virar as costas, acrescentou:
— Aproveite para respirar. Você parece carregar o peso do mundo nos ombros, garoto.
Elijah não soube o que responder. Viu Edgar se afastar pelo corredor até desaparecer, o som firme das botas ecoando até sumir. Ficou em silêncio por alguns instantes, como se o ambiente tivesse ficado maior e mais vazio sem ele.
Pouco depois, saiu pela porta de vidro que dava acesso ao jardim. O ar fresco da tarde o envolveu de imediato, trazendo um contraste delicioso em relação ao ar pesado de lembranças que ocupava sua mente. O espaço era amplo, silencioso, cercado por árvores altas e gramado limpo.
Elijah caminhou devagar, os pés descalços sentindo a grama fria. Pela primeira vez em muito tempo, respirou fundo sem medo, deixando que o cheiro da terra e das flores tomasse conta de seus sentidos. Por alguns minutos, esqueceu os olhares de Jonas, os capangas, os gritos do passado. Ali, apenas o céu limpo e o som distante de pássaros.
Mas, ao se sentar debaixo de uma árvore, abraçando os joelhos contra o peito, a mente voltou inevitavelmente para Edgar. O jeito como ele falava, a forma protetora e ao mesmo tempo autoritária com que o tratava. Ele não sabia explicar por que pensar nele fazia o peito apertar e o rosto esquentar.
"Será que… é errado eu me sentir assim? Ele só está me protegendo… mas por quê sinto algo diferente?"
Enquanto isso, Edgar percorria o perímetro da propriedade em silêncio absoluto, instalando fios de alarme e armadilhas discretas. Seus movimentos eram precisos, frios… mas, no fundo, a imagem de Elijah sorrindo tímido no jardim o assaltava sem permissão, mexendo com sua concentração.
De longe, Edgar mantinha os olhos e ouvidos atentos, sempre avaliando o terreno, mas inevitavelmente seu olhar recaía vez ou outra sobre Elijah. O garoto parecia diferente ali fora, sentado na grama, respirando o ar fresco como se fosse a primeira vez que pudesse existir sem correntes invisíveis.
Quando Edgar terminou a ronda, retornou pelo jardim. O sol baixo refletia no suor que escorria por seu pescoço e braços, realçando cada músculo. As mãos e os antebraços estavam manchados de terra e grama, o que dava a ele uma aparência ainda mais bruta, quase selvagem. A cada passo, a força de seu corpo se impunha naturalmente.
Elijah, ao perceber a aproximação, recuou instintivamente, o coração disparando. Algo naquela visão — Edgar, ofegante, suado, como um lenhador rude saído de algum sonho proibido — fez seu rosto arder em vergonha. Ele abaixou os olhos, tentando se recompor, mas a sensação estranha não desaparecia.
— Está tudo em ordem agora — disse Edgar, a voz grave e arrastada pelo cansaço, limpando a terra da palma das mãos. — Pode relaxar, garoto. Aqui ninguém vai tocar em você.
Elijah engoliu em seco, ainda de olhos baixos, e só conseguiu murmurar:
— Eu… eu sei.
Edgar estreitou os olhos, observando aquela reação tímida. Aproximou-se devagar, o suficiente para Elijah sentir o calor e o cheiro de suor misturado ao verde da grama. Aquilo o fez estremecer, sem conseguir explicar se era medo, vergonha… ou algo mais.
Edgar inclinou um pouco o corpo, apoiando a mão suja na árvore ao lado dele, e sussurrou com um meio sorriso:
— Está me olhando como se eu fosse um bicho selvagem.
Elijah arregalou os olhos, a voz falhando.
— N-não! Eu… eu não…
Edgar soltou uma risada baixa, quase imperceptível, e se afastou, caminhando em direção à casa. Mas antes de entrar, lançou por cima do ombro:
— Vista uma camisa antes que eu pense que está me provocando.
O coração de Elijah pulou no peito, e ele ficou parado, vermelho, sem saber se queria fugir ou seguir aquele homem que o confundia a cada instante.
Edgar entrou no banheiro, fechando a porta atrás de si, e ligou o chuveiro. A água quente começou a escorrer sobre os ombros largos e os músculos tensionados, lavando a terra e o suor da ronda. Cada gota escorria, escaldante, relaxando o corpo, mas não a mente.
Porque, por mais que tentasse se concentrar na rotina, na vigilância, na proteção de Elijah, a imagem do garoto ao ar livre não saía de sua cabeça. O jeito como ele recuara, o rubor nas bochechas, a inocência misturada à estranha provocação que nem ele mesmo entendia.
Enquanto a água escorria, Edgar fechou os olhos, respirando fundo, mas a mente teimava em devorar cada detalhe: os cabelos levemente úmidos, a regata branca grudando no corpo de Elijah, o shorts de dormir simples que, ainda assim, delineava as pernas longas e finas do garoto.
Era irritante, desconcertante. Edgar estava acostumado a controlar tudo — terreno, pessoas, riscos — mas não conseguia controlar a reação que aquele menino despertava nele.
E quanto mais tentava se focar na disciplina e na razão, mais sentia um calor inesperado subir pelo corpo.
Ele bateu com a mão na parede, deixando o vapor subir, tentando se afastar do pensamento que o assombrava: “Esse garoto… me provoca sem saber. E eu não posso vacilar. Nem aqui, nem agora.”
Mesmo com a água escorrendo, Edgar sabia que aquele banho não lavaria a tensão que Elijah lhe causava. O jogo entre proteção e atração ainda estava apenas começando, e ele não tinha ideia de quanto seria difícil manter o controle.
Edgar ainda sentindo sua excitação e tirado de seus pensamentos com um estrondo vindo da sala, seu corpo gelou. Era Jonas?
Rapidamente enrolou a toalha em sua cintura e, com a arma em mãos, abriu lentamente a porta. Um sorriso aliado de alívio surgiu ao ver que era apenas Elijah, que havia derrubado alguns livros da estante de madeira maciça.
— Elijah… — disse Edgar, a voz baixa, misturando alívio e uma ponta de repreensão suave. — Está tudo bem? Não se machucou?
O garoto recuou um passo, ainda corado e nervoso, tentando recompor-se. Seus olhos se desviaram do corpo semi-nu de Edgar, enrolado na toalha, e logo percebeu o quão constrangedor era o momento.
— Eu… eu só… deixei cair os livros… — murmurou Elijah, a voz trêmula, sentindo um calor desconfortável subir pelo corpo.
Edgar respirou fundo, tentando afastar a própria excitação e o efeito que Elijah ainda causava. Ele avançou alguns passos, recolhendo os livros com cuidado, mantendo a postura firme e autoritária:
— Preste mais atenção, Elijah. Não quero que se machuque aqui. — O tom de voz era sério, mas havia uma leve suavidade quando seus olhos encontraram os de Elijah, que rapidamente desviou o olhar.
O silêncio que se seguiu parecia pesar na sala. Elijah, ainda de pé, observava cada movimento de Edgar com uma mistura de timidez, tensão e uma estranha sensação de curiosidade, sem saber exatamente como lidar com tudo aquilo. Edgar, por sua vez, sentia-se dividido entre manter o controle e lidar com o efeito que a inocência e vulnerabilidade do garoto provocavam nele.
A situação, apesar de contida, carregava um clima íntimo e provocador, com Elijah involuntariamente atormentando a mente de Edgar enquanto tentava apenas se recompor.