A consulta urológica terminou com o paciente (e o doutor) na maca

Um conto erótico de Diego the writer
Categoria: Homossexual
Contém 4981 palavras
Data: 23/08/2025 19:31:40

Nem Freud explicaria.

Na verdade, o velho barbudo de Viena talvez explicasse demais, entupindo a simples, crua e obscena verdade com complexas teorias sobre a mãe, o pai, e o inconsciente que mais parecia um porão bagunçado. A verdade era muito mais simples, muito mais humilhante: meu desejo por Carlos havia secado. Não como um rio na estiagem, que ainda guarda a memória da água em seu leito rachado. Mas como aquele café coado do final do dia, no escritório: frio, amargo e sem graça.

Nosso apartamento em Pinheiros era nossa bolha e nossa prisão. Um apartamento minúsculo de tijolos aparentes e decoração retrô que a gente escolheu juntos, quando tudo ainda era novidade e a gente se encarava sem precisar de desculpas. Agora, era só um cenário caro para nossa desconexão. A gente se esbarrava na cozinha, nos corredores largos, dois fantasmas com alianças iguais.

Carlos nunca foi exatamente “bonito”, mas os anos definitivamente não lhe tornaram melhor. Ele havia ficado mais gordo, careca (e daqueles que tentam disfarçar com o pouco cabelo lateral penteado pra frente, sabe?), e tinha um bigode que às vezes me irritava. Mas era um cara bom. Um coração do tamanho do mundo, um sucesso do caralho na área de TI, e me amava com uma constância que, em teoria, era tudo que eu sempre quis. Só que o toque dele, que antes me aquecia, agora me dava um frio na barriga. Um aperto de mão entre familiares. E o sexo... bem, o sexo tinha virado uma tarefa doméstica, como lavar a louça ou levar o lixo pra baixo. Só que mais constrangedor. Ele sabia disso, ele falava disso abertamente, e demonstrava uma compreensão altruísta e desconcertante.

— Cê não acha que devia ir num médico, amor? — ele falava, mastigando um pedaço de pizza congelada num domingo à noite. A gente sempre comia porcaria aos domingos. — Pode ser hormonal, né? Um amigo do trabalho fez reposição e disse que mudou tudo. Virou um touro. Sei lá. Algo.

Ele falava de testosterona como se fosse a solução mágica, a chave que destrancaria a gaiola onde nosso desejo tinha morrido. Mas eu sabia, no fundo do meu estômago, que nenhuma injeção no mundo faria eu querer transar com ele de novo. O problema não era minha testosterona. Era meu olhar. Eu não enxergava mais beleza nele. E não tem médico que receite um novo par de olhos.

A culpa era um peso constante. Eu me cuidava. Malhava três vezes por semana na academia da esquina – não era um deus grego, mas tinha um corpo magro, definidinho na barriga e nos braços, fruto de tanto suor e dieta sem graça. Meus 1,75m me obrigavam a fazer agachamento até chorar pra ter uma bunda que chamasse atenção. Passava minoxidil no rosto religiosamente, na esperança de preencher aquelas entradas que insistiam em aparecer. Meu peito era peludo, uma herança de família que eu mantinha aparado, não muito curto, não muito longo. Eu me olhava no espelho e via um cara que se esforçava. E me virava pra Carlos e via… resignação. E isso me apagava por dentro.

Foi numa dessas noites, depois de mais uma tentativa patética de sexo que terminou com os dois de costas um pro outro, fingindo sono, que me enfiei na varanda. Acendi um cigarro (meu único vício não saudável) e peguei o celular. A tela brilhava no escuro, um farol de vergonha. Digitei, apaguei, digitei de novo, como se estivesse procurando pornô pesado:

"urologista são paulo"

Muito genérico. Precisava de alguém que entendesse. Alguém que não arregalasse os olhos se eu soltasse, sem rodeios, que morava com um homem há cinco anos e que a simples ideia de chupá-lo me dava um vazio na alma. Precisei refinar. Deixar óbvio.

"urologista homem gay sp"

Aí estava. Menos clinical, mais direto. O primeiro resultado foi de uma clínica em Jardins. "Clínica Andros – Saúde Masculina". Soava sofisticado. E, no cantinho do site, uma pequena bandeirinha do arco-íris, discreta. Um sinal. Um código. Era ali.

Marquei a consulta online, preenchendo o formulário com mentiras no campo "motivo da consulta". Não tinha coragem de escrever "não aguento mais o corpo do meu marido". Eu precisava era de um terapeuta, não de um urologista, sabe? Coloquei "check-up hormonal".

Desliguei o celular. O coração batia forte, não de tesão, mas de alívio. Eu tinha um plano. Um profissional iria me examinar, me tocar, me analisar e, quem sabe, me dar um laudo, um remédio, um salvo-conduto. Algo concreto para mostrar a Carlos e dizer "olha, estou me cuidando, tá vendo?".

Nem Freud, nem Carlos, e muito menos eu, naquela altura, conseguiriam explicar o verdadeiro motivo que pulsava por trás daquela busca: a secreta, inconfessável esperança de que as mãos de um estranho encontrassem, no meu corpo ainda em forma, um resto de desejo que eu mesmo já não sentia por ninguém.

A Clínica Andros ficava num prédio antigo da Alameda Jaú, com aquele silêncio caro que só dinheiro velho compra. O ar cheirava a limpeza agressiva e uma vaga nota de algum desinfetante com cheiro de lavanda, tentando disfarçar o cheiro de hospital. A recepcionista era uma mulher impecável de cinquenta e poucos anos, que me olhou por cima dos óculos com um sorriso profissional que não chegava aos olhos.

— O senhor é o... — ela conferiu a tela — Diego?

— Isso mesmo — respondi, sentindo o rosto esquentar.

Sentei na poltrona de couro branco e folheei uma revista de decoração sem ver nada. Cada minuto era uma agonia. O que eu estava fazendo ali? Um cara de 32 anos, com a vida aparentemente resolvida, procurando um urologista porque não queria mais transar com o marido. Parecia o roteiro de uma peça de teatro ruim.

— Senhor? Pode entrar. Primeira porta à direita.

O coração disparou. Levantei-me, as pernas um pouco moles.

O consultório era amplo, iluminado por uma luz indireta que suavizava a frieza do lugar. Estantes de madeira escura com livros grossos de medicina, um modelo anatômico de um pênis em resina – irônico – e uma grande mesa de madeira onde ele estava sentado.

Dr. Roberto.

Ele não era o que eu esperava. Não era um senhor de jaleco branco e ar severo. Devia ter uns trinta e poucos anos, talvez até menos. Cabelo escuro, bem cortado, com alguns fios grisalhos nas têmporas que lhe davam um ar de seriedade precoce. Usava um jaleco aberto sobre uma camisa social azul-celeste, com as mangas cuidadosamente arregaçadas até os antebraços. Braços fortes, com veias salientes. Mãos grandes, com dedos longos e bem cuidados. Ele não era fortão, mas tinha a estrutura larga de quem carregava peso – ou pacientes – com facilidade. Seu rosto era angular, com uma mandíbula forte e um olhar intenso, de cor castanho-escuro, que me avaliou num piscar de olhos, rápido e abrangente, antes de se fixar no meu.

— Entre. Sente-se, por favor — a voz era mais grave do que eu imaginara, tranquila, dona do espaço.

Sentei-me na cadeira de frente para a mesa, sentindo-me como um aluno prestes a ser interrogado.

— Então... — ele começou, folheando um prontuário vazio. — "Consulta de rotina"?

O jeito como ele disse a frase, entre aspas, me fez corar novamente. Ele sabia. Sabia que aquilo era lorota.

— É... um check-up. E também... — engoli seco. — Tenho tido uns problemas... com libido.

Ele assentiu, sem surpresa. Colocou a caneta sobre a mesa e cruzou as mãos, dando toda a atenção.

— Conte-me. Com detalhes.

E eu contei. De forma truncada, evitando os olhos dele, falei da rotina, do cansaço, do estresse do trabalho. Menti. Menti muito. Não mencionei Carlos. Não mencionei o nojo que eu sentia do próprio nojo. Falei em termos genéricos, como se o problema fosse uma nuvem cinza e impessoal sobre minha vida sexual.

Ele ouviu em silêncio, sem interromper. Quando terminei, ele ficou quieto por um instante, os olhos fixos em mim, como se estivesse decifrando um código.

— Certo — ele disse, finalmente. — Vamos por partes. Primeiro, algumas perguntas mais específicas, tudo bem?

Eu balancei a cabeça, aliviado por ele estar tomando as rédeas.

— Ereções matinais? Com que frequência?

— Às vezes... — menti.

— Fantasias? Ainda sente atração por outras pessoas?

A pergunta me pegou desprevenido. Meus olhos se encontraram com os dele por uma fração de segundo. Eu senti? Naquele momento, olhando para ele, sua presença sólida e masculina preenchendo o espaço... talvez.

— É... complicado — foi a resposta mais patética que poderia dar.

Ele não pressionou. Anotou algo.

— Vou pedir uns exames de sangue. Testosterona total e livre, prolactina, TSH... o básico. Mas antes, preciso fazer um exame físico.

O coração deu um salto. O exame físico.

— Claro — saiu um fio de voz.

— Pode se levantar e ficar em pé ali, ao lado da maca, por favor?

Levantei, as pernas trêmulas. Ele se levantou também, e notei que ele tinha praticamente a minha altura, talvez um centímetro a mais, mas a postura confiante e os ombros largos faziam-no parecer mais imponente. De perto, pude ver os detalhes que haviam passado despercebidos: a barba cerrada e bem aparada que escurecia seu queixo e maxilar, seus olhos castanho-escuros, quase negros, sob sobrancelhas densas, e uma tez levemente morena, como se fosse fruto de ancestrais mediterrâneos, não do sol. O jaleco aberto revelava a gola de uma camisa social branca, e na abertura entre os botões, um tufo de pelos escuros e densos escapava, sugerindo um peito amplo e peludo sob o tecido impecável. Seu corpo não era de fisiculturista, mas de quem frequentava a academia com regularidade – uma presença sólida, masculina, que preenchia o espaço ao seu redor.

Ele pegou um par de luvas de látex brancas de uma caixa sobre a pia com mãos que pareciam normais, nem muito grandes nem muito pequenas, mas competentemente calmas.

— Precisa baixar o jeans e a cueca até os joelhos, por favor.

Respirei fundo. Meu maior medo, além do diagnóstico, era a minha própria traição corporal. Desapertei o jeans, puxei o zíper e empurrei a calça e a cueca para baixo, expondo minha virilha, meu pênis ainda flácido, meus testículos. Mal minha cueca passou da cabeça do meu pau, senti o sangue correr instantaneamente, uma resposta de puro nervosismo e vulnerabilidade. Comecei a endurecer, lentamente, inexoravelmente. Desviei o olhar para a parede, queimando de vergonha. Não agora, por favor não agora.

Ele se aproximou. Eu senti o cheiro dele agora, limpo, um leve aroma de sabonete antisséptico e algo mais terroso e amadeirado.

— Tudo bem? — a voz dele, próxima, era baixa, quase um sussurro profissional.

— Tudo — menti, minha voz um fio.

As mãos enluvadas, frias, tocaram meu abdômen inferior, pressionando suavemente.

— Respire fundo... e solte.

Eu obedeci, o corpo um cabo de aço tensionado. O toque era clínico, mas cada ponto de contato era um choque.

O toque desceu para a virilha, procurando por hérnias. Meu pau já estava semi-rígido, descaradamente apontando para ele. Depois, ele se ajoelhou.

Meu Deus. Ele estava de joelhos na minha frente, no nível da minha ereção agora quase completa.

As pontas dos dedos dele, ainda com as luvas, examinaram meus testículos com uma pressão firme e profissional.

— Alguma dor?

— Não — sussurrei, minha respiração presa.

Ele os apalpou, um por um, pedindo para eu tossir. Eu tossi, sentindo o absurdo da situação. Eu estava completamente duro, latejante, a poucos centímetros do rosto dele.

Então, sem cerimônia, ele envolveu meu pênis ereto com a mão direita. A luva de látex era fria contra minha pele quente, e eu dei um salto involuntário.

— Só vou verificar se não há nenhuma anomalia, nenhum nódulo — explicou, a voz ainda neutra, mas o fato de ele estar segurando minha ereção com tanta naturalidade era surreal. — E está tudo bem ter uma ereção? Fica tranquilo. Nesse consultório, a coisa mais natural do mundo é um paciente ficar excitado ao mínimo toque clínico.

Assenti, sem coragem de encará-lo. A mão dele deslizou da base até a glande com um movimento suave, mas firme, exploratório. Ele expôs completamente a cabeça, e seu polegar enluvado passou sobre a fenda, espalhando a umidade do meu pré-gozo.

— Veja aqui — ele disse, sua voz assumindo um tom didático, mas íntimo, tão próximo dali. Com a ponta do dedo indicador, ele apontou suavemente para pequenas saliências esbranquiçadas e minúsculas no freio e ao redor da coroa da glande. — São glândulas de Tyson. São normais, não são uma doença sexualmente transmissível ou algo do tipo. São apenas glândulas sebáceas. Todo homem tem, em maior ou menor grau.

Ele disse isso olhando para o que estava mostrando, e então levantou os olhos para me encarar. Seu rosto estava a centímetros do meu pau. Seus olhos escuros me prenderam, e naquele momento, não havia mais nada de profissional naquele olhar. Era pura avaliação, curiosidade intensa e crua.

Seu polegar continuou a mover-se em um pequeno círculo lento sobre a cabeça sensível, espalhando o lubrificante natural. Um arrepio violento percorreu minha espinha, e meu pau pulsou na mão dele. Eu estava completamente à mercê daquele toque, daquela explanação clínica que era a coisa mais erótica que eu já vivera.

Ele não parou. Ficou assim por mais alguns segundos, que pareceram uma eternidade, seu dedo brincando com minha glande, seus olhos fixos nos meus, lendo cada tremor, cada onda de vergonha e prazer que me percorria.

Então, muito deliberadamente, ele soltou-me. O ar frio do consultório atingiu minha pele úmida, e eu tremi.

— Pode se vestir.

Ele levantou-se, tirou as luvas com um estalo seco e jogou-as no lixo, suas costas voltadas para mim. Eu me vesti às pressas, os dedos desajeitados, o coração batendo como um tambor ensurdecedor. Minha ereção ainda doía dentro da minha cueca, um testemunho mudo e constrangedor do que acontecera.

— Os exames de sangue vão nos dar uma ideia melhor — ele disse, ainda de costas, digitando algo no computador. Sua voz soou um pouco mais rouca. — Mas fisicamente, está tudo perfeito.

Ele se virou. Seus olhos escuros encontraram os meus. Havia um brilho lá, uma satisfação contida, um conhecimento compartilhado que não precisava de palavras.

— Marque o retorno para quando tiver todos os resultados.

— Obrigado, doutor.

Saí do consultório me sentindo tonto, com o cheiro dele ainda nas narinas, a sensação fantasma do dedo dele na minha cabeça queimando. Era como se ele tivesse me marcado, me examinado e me possuído de uma forma que Carlos nunca conseguiria.

Carlos estava no sofá quando cheguei, assistindo a uma série na TV. Olhou para mim.

— E aí? Como foi?

— Normal — respondi, pendurando a jaqueta. — Ele pediu uns exames de sangue. Disse que pode ser hormonal.

— Ah, bom — ele disse, um lampejo de esperança no olhar. — Vê só? É só tratar.

Ele fez uma pausa no que estava assistindo e se aproximou de mim, puxando-me pelo cinto da calça.

— Tá cansado? — perguntou, com aquela voz melosa que usava quando queria sexo.

— Um pouco.

— Deixa eu te dar uma relaxada, então — ele insistiu, já levando minha mão até o volume que se formava na frente do seu shorts.

Eu deixei. Era mais fácil. Segui-o mecanicamente até o quarto.

Na cama, ele se deitou e puxou minha cabeça para o seu colo. Eu sabia o ritual. Abri o zíper da sua calça e o prendedor da cueca. O cheiro familiar dele me atingiu, e meu estômago embrulhou. Ele já estava semi-ereto.

— Só me faz gozar, amor — ele pediu, fechando os olhos. — Você não precisa gozar hoje não, se não tiver a fim.

Se não tiver a fim. A frase ecoou na minha cabeça, amarga. Eu me abaixei e comecei. Foi puramente mecânico. Uma sequência de movimentos aprendidos e repetidos à exaustão. Língua, mão, boca. Eu olhava para a parede, contando mentalmente, esperando o gemido final dele. Meu corpo estava ali, mas eu estava longe. Naquele consultório, com as mãos frias de látex e o olhar quente do Dr. Roberto.

Carlos gozou com um gemido abafado. Eu engoli, rapidamente, sem prazer, apenas para acabar com aquilo. Levantei-me e fui ao banheiro cuspir e enxaguar a boca.

Quando voltei, ele estava deitado de lado, olhando para mim. Parecia... triste.

— Você nem ficou duro — observou, a voz murcha.

— É o que eu te falei, Carlos. A libido. Por isso que fui ao médico.

Ele ficou quieto por um momento.

— Mas você fez eu gozar.

— Claro. Eu gosto de te satisfazer — eu disse, a mentira saindo fácil, automática, enquanto me deitava de costas para ele. — É só isso mesmo. Vamos dormir.

Apaguei a luz. Na escuridão, senti ele se virar, suas costas largas voltadas para mim. A distância entre nós na cama parecia um abismo. E eu, de olhos abertos, revivia o toque do estranho no meu corpo, sentindo um frio na alma e, paradoxalmente, um calor persistente e culpado na virilha.

Duas semanas depois, eu estava de volta na Alameda Jaú. Os exames normais pesavam na minha mão como um veredito de culpa. A recepcionista me direcionou com um sorriso gelado.

Dr. Roberto estava atrás da mesa, de jaleco desta vez, mas aberto sobre uma camisa social cinza. Seus olhos escuros me avaliaram assim que entrei, e um calafrio percorreu minha espinha.

— Os exames — ele disse, pegando os papéis. Seus dedos tocaram levemente os meus. — Como esperado. Perfeitos. O problema, claramente, não é orgânico.

Ele jogou os papéis na mesa.

— Precisamos investigar outras hipóteses. — Ele se levantou, vindo se apoiar na frente da mesa, perto demais. — Minha especialização em sexologia me permite usar técnicas mais... invasivas. Para avaliar respostas fisiológicas a estímulos específicos. — A palavra "invasivas" ecoou na sala. — É um procedimento íntimo. Requer consentimento total. Você está disposto?

Meu cérebro deu um nó. Invasivas? Que tipo de técnica? Uma parte de mim gritava que aquilo era errado, um abuso de autoridade médica. Mas outra parte, maior, mais faminta, só conseguia focar na sua barba cerrada, no peito peludo que eu adivinhava sob a camisa, na sua voz grave que prometia um toque que eu não tinha em casa. O tesão e a desconfiança travaram uma guerra silenciosa e suja dentro de mim.

— Estou — saiu um sussurro rouco, a parte faminta vencendo.

— Ótimo. — Ele não sorriu. Seus olhos permaneceram sérios, clínicos. — Precisa tirar a roupa. Toda. Para eu poder avaliar sem interferências.

Meu coração disparou. Toda? Engoli seco. Era ridículo, era humilhante... era excitante pra caralho. Para que ele precisava ver o restante do meu corpo nu? Não bastavam meus órgãos genitais? Virei as costas e, com dedos trêmulos, comecei a me despir. Senti o olhar dele queimando minhas costas, avaliando cada centímetro de pele exposta. Quando fiquei completamente nu, de frente para a maca, encostei minhas mãos no papel frio, me sentindo absurdamente vulnerável.

— Deite-se, por favor.

Deitei de costas. Ele se aproximou.

— Relaxe — ele ordenou, sua voz um comando.

Suas mãos, ainda enluvadas de látex, tocaram meus ombros. Eram frias, mas o toque foi surpreendentemente lento, quase massageando a tensão.

— Músculos tensos. Muito estresse acumulado aqui — ele comentou, seu tom ainda profissional.

As mãos desceram, deslizando pelos meus peitos. Seus dedos passaram lentamente pelos meus mamilos, que endureceram instantaneamente sob o látex.

— Resposta sensitiva aguçada — ele murmurou, mais para suas anotações mentais do que para mim.

O toque continuou, descendendo pelo meu abdômen. Ele apalpou meus músculos contraídos.

— Você malha. Tem um corpo muito bem cuidado. Definido. — A observação soou clínica, mas o elogio pairou no ar como uma fumaça espessa, envolvendo-me num calor opressivo e proibido que dificultou minha respiração.

Suas mãos chegaram à minha virilha. Eu estava completamente ereto, latejante, impossível de esconder. O ar pareceu sair da sala.

Ele parou. Olhou para meu pau, depois para meu rosto. Balbuciei “desculpas”, mas sabia que não soava convincente. Eu queria que ele visse meu pau duraço, daquele jeito.

— Não peça desculpas. É uma resposta fisiológica comum ao toque e à exposição. Não se sinta constrangido. — Sua voz era calmante, mas seus olhos... seus olhos escuros brilhavam com intensidade.

Ele então, com uma pertinência que parecia genuinamente médica, envolveu a base do meu pau com a luva. O toque foi inicialmente firme, impessoal, apalpando os tecidos.

— Nenhuma fibrose, nenhuma anomalia... — ele sussurrou.

Mas então, seu movimento começou a mudar. A mão, que estava estática, começou a deslizar. Lentamente. Da base até a cabeça. Uma vez. Duas. O ritmo era hipnótico, deliberado. Um gemido escapou dos meus lábios. Eu fechei os olhos, envergonhado.

— Só estou avaliando a vascularização... a resposta ao estímulo — ele disse, mas sua voz soou mais espessa.

O movimento continuou, cada vez mais lento, cada vez mais focado na cabeça sensível. Eu estava perdendo o controle, meus quadris subindo involuntariamente ao encontro daquela mão.

— Por favor... — eu gemi, sem saber se pedia para parar ou continuar.

— Quieto — ele ordenou, suave mas firme.

Então, ele parou. Ouvi o estalo das luvas sendo removidas. Agora era pele na pele. Sua mão quente, áspera, envolveu-me novamente. Era uma sensação totalmente diferente, íntima, real.

— Preciso de lubrificante para o exame — ele anunciou, sua voz um pouco rouca. Ele pegou um sachê de gel na bandeja. O som dele abrindo foi obsceno. O gel frio escorreu sobre a cabeça do meu caralho e ele espalhou com o polegar, num movimento circular que me fez arquear as costas e gemer mais alto.

— Por que você procurou um urologista especializado em saúde da população LGBT, especificamente? — a pergunta saiu de repente, enquanto sua mão lubrificada começava a bombear com um ritmo perfeito, torturante.

— Para... para me sentir mais confortável... — ofeguei, me debatendo entre a vergonha e o prazer.

— Confortável para quê? — a mão dele acelerou sutilmente. — Para falar do que sente? Do que deseja?

— Sim...

— E o que você deseja? — a pergunta foi uma facada, direta e cheia de intenção. Sua mão não parou.

Eu não conseguia responder. Meus pensamentos eram um turbilhão. Fluido pré-ejaculatório escorria abundantemente, misturando-se ao gel.

— Você deseja isso? — ele insistiu, sua voz agora um fio sedoso e perigoso. — Ser tocado assim? Por um homem que entende?

— Deus... sim... — a confissão saiu como um suspiro quebrado.

Foi então que ele parou de novo. Respirou fundo.

— Estou com calor — ele anunciou, como se para si mesmo.

Seus dedos, melados de gel, foram para os botões do seu próprio jaleco. Ele o abriu e jogou sobre a cadeira. Depois, suas mãos foram para os botões da camisa social cinza. Um, dois, três… cinco botões. Metade de sua camisa estava aberta. Ele puxou as abas da camisa para os lados, revelando-se.

O peito era exatamente como eu imaginei: largo, forte, e coberto por uma mata espessa e negra de pelos, que descia em uma linha densa até seu abdômen, desaparecendo dentro da calça. Era brutalmente masculino, e para isso ele não precisava se assemelhar a um brutamontes fisiculturista. Um visual de poder puro e cru.

Ele me fitou. Seus olhos não tinham mais nenhum vestígio de “clinicismo”. Eram escuros, dilatados, faiscando com pura lubricidade.

— O exame físico terminou — ele declarou, sua voz uma onda grave e gutural.

Por um instante, achei que fosse me dispensar. Que aquela tensão toda seria deixada para outro dia. Mas então ele deu um passo à frente, e sua camisa aberta revelou um corpo tenso.

— Mas a consulta não — ele completou, com um sorriso que era quase um rosnado. — Ainda não te devolvi ao mundo lá fora.

Num movimento fluido e decisivo, ele se inclinou sobre a maca e retirou sua camisa. Sua mão, larga e áspera, envolveu meu membro novamente, não mais para examinar, mas para possuir, bombeando com uma pressão que me fez gemer alto e arquejar. Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, sua outra mão agarrou a nuca do meu pescoço e puxou meu rosto para o dele.

O beijo não foi de exploração. Foi de dominação. Sua língua invadiu minha boca com a mesma urgência e expertise com que suas mãos haviam me examinado. Gosto de café e de desejo puro. Eu me entreguei, minhas próprias mãos subindo para seus ombros, sentindo os músculos duros sob a pele quente, enterrando os dedos naquela camada espessa de pelos que eu tanto tinha olhado. Era ainda mais macio do que eu imaginei.

Ele quebrou o beijo, ofegante, seus olhos queimando nos meus.

— Vira — a ordem foi sussurrada contra meus lábios, um comando impossível de desobedecer.

Com mãos firmes, ele me virou de bruços sobre a maca. O papel de exame rasgou sob meu peso. A posição era de submissão total, e isso só fez o fogo dentro de mim queimar mais forte. Eu ouvi o som do cinto dele sendo aberto, o zíper descendo. Meu coração batia como um pássaro preso no peito.

— Por favor... — eu supliquei, sem saber pelo o quê.

Ele abriu uma gaveta e pegou mais um sachê de lubrificante. O barulho do plástico sendo aberto pareceu obsceno no silêncio do consultório. Derramou o gel frio entre as minhas nádegas, e seus dedos — agora sem luvas — espalharam a substância gelada em círculos lentos ao redor da minha entrada, fazendo-me tremer violentamente.

— Quieto — ele ordenou, e então colocou a mão grande sobre minha boca. — Não quero que ninguém ouça seus gemidos.

A penetração foi um evento único e brutal. Um grito abafado escapou contra sua palma quando ele entrou, preenchendo-me de uma vez só, sem delicadeza, sem hesitação. Era dor, era invasão, era a coisa mais real que eu tinha sentido em anos. Cada enfiada era uma afirmação, um apagamento de Carlos, do apartamento, da vida que eu tinha construído e que agora parecia uma piada de mau gosto. Suas mãos seguravam meus quadris com força, seus dedos cavando na minha carne, ancas batendo contra as minhas com um som úmido e obsceno que ecoava no consultório silencioso.

Ele se curvou sobre mim, seu peito peludo roçando minhas costas, sua boca quente no meu ouvido.

— É isso que você queria, não é? — ele rosnou, seu hálito quente causando arrepios que percorreram toda a minha espinha. — Procurou um médico gay porque queria ser comido por um estranho que entendesse. Por um homem que soubesse exatamente como foder essa bunda apertada.

Eu não consegui responder. Só gemi contra sua mão, meu rosto pressionado contra o papel frio da maca, me entregando a cada investida, a cada palavra suja que ele sussurrava. Era uma confissão forçada, uma absolvição através da profanação. Ele sabia. Ele sempre soubera.

Cada estocada dele era uma afirmação brutal de posse. Eu estava aberto, vulnerável, completamente exposto - e pela primeira vez em anos, me senti vivo. A dor inicial derretia-se em ondas de prazer proibido, cada movimento dos seus quadris desencadeando um tremor que percorria todo o meu corpo.

Seu corpo suado colava-se nas minhas costas, o calor entre nós criando uma segunda pele úmida. Eu podia sentir cada músculo dele tensionando com o esforço, seu peito peludo esfregando contra minhas costas como uma lixa viva. Sua mão larga mantinha minha boca coberta, mas meus gemidos escapavam entre seus dedos, abafados e roucos.

— Faz tempo que não dava o cu, né? — ele rosnou no meu ouvido, sua voz um misto de gozação e prazer. — Sente como essa bunda estava precisando disso?

Ele mudou o ângulo ligeiramente e eu gemi mais alto quando ele acertou em cheio naquele ponto dentro de mim que fez meus dedos se enrolarem no papel rasgado da maca. As pernas tremiam incontrolavelmente enquanto ele me fodia com uma cadência que era ao mesmo tempo brutal e precisa.

O som dos nossos corpos se encontrando enchiam o consultório - o impacto úmido das suas coxas contra minhas nádegas, o rangido da maca sob nosso peso, nossa respiração ofegante em uníssono. Seu suor pingava nas minhas costas, misturando-se ao meu, enquanto ele se enterrava mais fundo a cada investida.

— Você foi feito para isso — ele sussurrou, seus dentes fechando suavemente na minha nuca. — Para levar rola de um homem de verdade.

Minhas próprias mãos agarravam as laterais da maca com força branca, meus nós dos dedos doloridos da pressão. Ele puxou meus quadris mais para cima, alterando o ângulo novamente, e eu gritei contra sua mão quando a penetração ficou ainda mais profunda. Cada centímetro dele dentro de mim era tanto uma invasão quanto uma reivindicação.

O ar cheirava a sexo, suor e o aroma distinto do lubrificante. Podia sentir o peso dos seus testículos batendo contra mim a cada investida, o atrito dos seus pelos pubianos contra a minha pele sensível. Meu próprio membro pulsava entre minhas pernas, duro e negligenciado, esfregando contra o papel frio da maca com cada movimento.

Ele acelerou o ritmo, suas investidas ficando mais urgentes, menos controladas.

— Vai gozar, não vai? — ele provocou, sua voz rouca e quebrada. — Vai jorrar leite como um novinho afobado?

Foi quando suas palavras, combinadas com o atrito perfeito dentro de mim, me levaram ao limite. O orgasmo me atingiu como um trem desgovernado, violento e incontrolável. Gemi contra sua mão enquanto jorrava entre o papel da maca, meu corpo tremendo incontrolavelmente sob o dele.

A contração intensa foi o gatilho para ele. Com um rosnado gutural, ele enterrou os dedos na minha carne e explodiu dentro de mim, seu corpo tremendo violentamente sobre o meu enquanto sua pulsação latejava dentro das minhas entranhas.

Ficamos assim por um longo momento, ofegantes, cobertos de suor, o ar pesado com o cheiro de sexo e transgressão. Ele lentamente retirou-se de mim, e eu caí de lado na maca, exausto e completamente devassado.

— Isso... — ele disse, passando a mão pelo rosto. —...não era mais o protocolo.

— Eu sei — eu respondi, minha voz rouca e estranha para meus próprios ouvidos.

— Marque para semana que vem — ele disse, não como um convite, mas como uma ordem médica. — Precisamos... monitorar se o "tratamento" surtiu efeito.

Ele virou as costas, recompondo a camisa, reassumindo aos poucos a persona do doutor. Eu me vesti com mãos trêmulas, cada movimento lembrando-me do que acontecera. A dor entre as minhas pernas era um lembrete físico e brutal.

Saí do consultório cambaleando. A culpa viria, eu sabia. Mas naquele momento, tudo que importava era a memória crua daquela posse, daquela entrega total, e a promessa perversa e irresistível contida naquela próxima consulta.

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