DISCERE - QUATRO ELEMENTOS - CAPÍTULO 7: NOVO SEMESTRE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2406 palavras
Data: 22/08/2025 04:55:23

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— E então, Valentim, está conseguindo colocar em prática tudo o que treinamos? — Perguntou Dr. Alex, com a voz serena que preenchia a tela do notebook apoiado sobre a escrivaninha do quarto de hotel.

— Sim. Na maior parte do tempo... mas confesso que durante as férias é complicado. — Respondeu Valentim, sentado diante da câmera, com os Alpes suíços ao fundo da janela. Havia uma honestidade desconfortável em sua expressão.

— Eu entendo. Porém, você levando a constância para a sua vida, vai conseguir aplicar em qualquer área dela. — Disse o psicólogo, sorrindo com tranquilidade.

— Entendi. Obrigado. A próxima sessão vai ser na escola, né?

— Isso mesmo. E, Valentim, você está de parabéns. Está evoluindo muito.

Valentim assentiu, encerrando a chamada com um suspiro leve. Mesmo a milhares de quilômetros de casa, ele não abandonara seus compromissos. Continuava praticando os exercícios indicados pelos especialistas, tentando se manter firme. Também acompanhava atentamente as notícias sobre o pai de Noah. O vídeo, afinal, havia sido comprovado como falso, mas isso não significava o fim do pesadelo. Uma nova batalha jurídica se iniciava, e Raphael, embora inocentado publicamente, continuava afastado do cargo no Senado.

Enquanto isso, Noah passava as férias longe dos holofotes e da tensão política, na antiga fazenda da família, situada entre colinas verdes e horizontes sem pressa. Era um refúgio onde o tempo parecia caminhar diferente, mais calmo.

A casa grande, de fachada rosada e janelas brancas com molduras coloniais, se erguia imponente sobre uma colina baixa. À sua frente, um jardim de flores silvestres se misturava ao aroma de terra molhada e café fresco. Ao fundo, um espelho d'água refletia o céu nublado e os morros arredondados do interior. Tudo ao redor exalava paz.

Noah gostava da rotina ali. Acordava cedo, antes mesmo do sol aparecer por completo, e cuidava dos cavalos no estábulo. Escovava o pelo de Aurora, sua égua preferida, e depois saía para cavalgar pelos campos vastos e silenciosos. Às vezes, se deixava levar pelos próprios pensamentos, observando os gaviões no alto e o balé lento das nuvens.

Durante as tardes, limpava o terreiro, ajudava os caseiros com pequenas tarefas e, sempre que o calor apertava, corria até o lago. Tirava a camisa e se jogava na água fria, como se pudesse lavar tudo o que ainda pesava por dentro. Nesses momentos, sentia-se leve. Sentia-se... quase inteiro.

Mas havia uma inquietação constante: Valentim. Queria saber como ele estava, se também pensava nele. A vontade de escrever era grande, mas o dedo tremia diante da tela do celular. Desde o fim do semestre, não haviam se falado mais. Uma abertura havia surgido entre os dois, mas Noah ainda não sabia como atravessá-la.

E, como se não bastasse, Gabriel reaparecera.

"Preciso falar contigo"

"Por favor, Noah. Ainda sinto algo por você"

"Eu sei que errei, mas quero te pedir perdão"

Noah relia as mensagens com o cenho franzido. Gabriel havia se aproximado no passado por interesses do pai, e quase o expôs publicamente por causa de um jogo político sujo. A partir disso, Noah saiu do armário à força, enfrentando julgamentos e recebendo apenas um apoio parcial da família. Agora que Raphael não era mais uma ameaça, por que Gabriel voltava?

Ele não sabia a resposta. Só sabia que, ali na fazenda, entre o cheiro do mato, o calor do sol nas costas e o silêncio profundo da natureza, havia encontrado um espaço seguro para se ouvir.

Sozinho, como sempre estivera.

Mas talvez... não precisasse mais ser assim.

***

O lago espelhava o azul impecável do céu, pontilhado por veleiros imóveis que pareciam flutuar sobre a água cristalina. Ao fundo, uma cadeia de casinhas com telhados escuros se alinhava em uma colina verdejante, coroada por uma montanha imponente e parcialmente coberta de neve. Era verão nos Alpes Suíços, e o calor suave surpreendia quem, como Valentim, esperava por um clima frio e sisudo.

A viagem tinha começado como um compromisso de negócios de Victor, mas Frida e Valentim aproveitaram a oportunidade para explorar o país. Caminhavam lado a lado pelo calçadão à beira do lago, onde o sol banhava os visitantes com seus raios generosos. Algumas crianças se aventuravam nas bordas rasas da água, enquanto casais sorriam sob guarda-sóis coloridos.

Valentim usava uma camisa leve de linho e óculos escuros. Mesmo diante de tanta beleza — o reflexo dos barcos na água, os sorrisos dos moradores, a música ao longe —, sua mente teimava em voltar ao Brasil. Cada nova paisagem, cada ruazinha charmosa, cada vitrine de loja parecia provocar a mesma pergunta silenciosa: "Será que o Noah ia gostar disso aqui?"

Frida, elegante como sempre em um vestido branco de algodão, escolheu um banco sombreado na praça para descansarem. Compraram sorvete em uma pequena sorveteria artesanal — o de framboesa para ela, pistache para ele — e assistiram a um mímico que fazia apresentações divertidas diante de uma fonte.

— Filho, e a Karla? — perguntou Frida, equilibrando o sorvete com cuidado para não manchar o vestido.

Valentim quase se engasgou. Engoliu rápido e tentou manter a naturalidade.

— Ela tá bem, mãe. Está viajando com os pais para Aruba.

Frida olhou para o filho com uma expressão que misturava ternura e suspeita.

— Valentim, vocês terminaram? Pode ser sincero comigo, filho. Eu não sou sua inimiga.

Ele hesitou apenas um segundo antes de responder.

— Sim, mãe. Nós terminamos. Mas queria que não contasse pro papai... A senhora sabe como o meu relacionamento com a Karla era importante pra ele.

Ela suspirou com doçura, passando a mão no ombro do filho.

— Amor, o seu pai se importa com o seu bem-estar. Eu sei que tem coisas que ele fala da boca pra fora. Mas claro que ele não ia usar teu relacionamento para isso.

Valentim sentiu um alívio silencioso. Frida podia ser ausente às vezes, mas havia momentos em que ele se lembrava do quanto ela o amava — e que, se preciso fosse, ela o defenderia com unhas e dentes.

Mais tarde, enquanto Frida seguia para um brunch com amigas suíças, Valentim caminhou pelas lojinhas do centro. Entre souvenirs e bugigangas, encontrou um bonequinho de madeira com cabelos esculpidos de forma desgrenhada e uma expressão mal-humorada adorável.

Na hora, pensou em Noah.

Sem refletir muito, tirou uma foto segurando o boneco ao lado do rosto e mandou para o colega. Do outro lado do oceano, no Brasil, Noah se assustou ao ver a notificação. Mas, ao abrir a imagem, não conseguiu conter o riso.

"A nossa primeira foto juntos", escreveu Valentim na legenda.

"Eu sou tão pavoroso assim?", respondeu Noah, com um emoji risonho.

"Eu achei fofo. Logo você é fofo", rebateu Valentim. "Comprei."

E, por um instante, mesmo a milhares de quilômetros de distância, era como se os dois estivessem dividindo o mesmo raio de sol à beira daquele lago suíço.

As férias tomavam rumos opostos para Valentim e Noah. Um respirava o ar fresco dos Alpes suíços, o outro sentia o cheiro forte de mato e terra molhada da fazenda da família, no interior do Brasil. Ainda assim, todas as noites pareciam iguais para os dois: o celular na mão, a tela acesa e os dedos hesitantes antes de enviar cada nova mensagem.

Tudo começara como um papo aleatória, e desde então, a conversa não parara mais. Valentim era sempre o primeiro a puxar assunto, fosse com uma piada, uma imagem engraçada ou uma pergunta aleatória do tipo: "Você prefere viajar no tempo ou ler mentes?". E mesmo com o sarcasmo habitual, Noah respondia. Porque, no fundo, estava gostando daquilo.

Noah não esperava encontrar leveza nas palavras de Valentim. Imaginava o garoto como mais um mimado, arrogante e sem graça, fruto de uma bolha rica e distante. Mas Valentim era diferente. Sonhador, espontâneo, doce de um jeito despretensioso. Falava das estrelas como quem já conversou com elas, contava seus segredos com uma naturalidade desconcertante.

"Sabia que eu quase morri afogado uma vez?", Confessou Valentim numa das madrugadas. "Tentei atravessar a lagoa do condomínio pra impressionar uma menina... acabei sendo salvo pelo caseiro. Vergonha define."

"Corajoso ou burro?", Respondeu Noah, com aquele humor seco que já fazia parte da troca entre eles.

"Um pouco dos dois", Valentim digitou. "Também já quebrei a perna direita, sou alérgico a camarão e já repeti todas as disciplinas em um semestre. Um recorde, não?"

Noah riu, de verdade. Sozinho, no quarto escuro da casa de fazenda, com o som dos grilos e o zunido dos ventiladores antigos.

Aos poucos, mesmo que não percebesse, ele também foi se abrindo. Contou que detestava língua de boi — "parece sola de sapato" — e que uma vez ficou preso no banheiro da escola por quase duas horas. "Tentei chutar a porta. Machuquei o pé e chorei. Jurei segredo eterno, mas tô confiando em você."

Era divertido. Era leve. Como se a distância permitisse que os dois se aproximassem de um jeito que a convivência não teria permitido.

Noah se pegava esperando a notificação da próxima mensagem. Desde pequeno aprendera a não confiar, a manter os sentimentos trancados. O pai, Raphael, sempre reforçara que qualquer brecha poderia virar escândalo. E veja só: bastou uma mentira para que o nome da família fosse jogado na lama.

"E como estão as coisas? Eu vi que o seu pai conseguiu provas para inocentá-lo", Escreveu Valentim certa noite.

"Bem. Nas próximas semanas ele vai pra Brasília. Talvez até volte para o Senado", Respondeu Noah. E, sem demora, devolveu: "E como está o final das férias?"

"Tranquilo. Uma mala só de presente pra você", Contou Valentim.

"Eu não pedi nada, viu. Já ficava feliz com o bonequinho."

Valentim mandou um emoji rindo, depois ficou um tempo sem responder. O tipo de silêncio que Noah já reconhecia como prelúdio de algo mais sério.

"Noah, promete uma coisa?"

"Depende, não vou baixar a guarda pra você na Gincana", Brincou ele.

"Não é isso. Eu sei que vou ganhar", Valentim devolveu com o mesmo tom provocativo.

"O que é?", Insistiu Noah.

"Não muda comigo. Tipo, quando eu voltar pro Brasil. Eu queria conversar contigo pessoalmente."

Do outro lado da tela, Noah encarou a mensagem como se fosse uma armadilha. Algo dentro dele acendia o sinal de alerta. Gabriel também era gentil, sensível, engraçado. E o traiu da forma mais baixa possível. Desde então, confiar era como caminhar descalço por cacos de vidro.

Mas com Valentim... era diferente. Era?

"Vou pensar no teu caso", Respondeu, como quem não quer demonstrar demais.

Valentim apenas digitou um ":)" e o assunto mudou.

Falaram de um jogo online, de uma série ruim que Noah estava assistindo e de como Valentim tinha pavor de aviões. Mais uma madrugada costurada por mensagens, risos e memórias improváveis.

Porque, no fundo, ambos sabiam — mesmo sem dizer — que algo estava mudando. E não era só o fim das férias.

***

Após um mês, os corredores do Instituto Discere voltaram a pulsar com vida. Risadas ecoavam pelos salões, malas com adesivos de aeroportos internacionais deslizavam apressadas, e abraços se repetiam em reencontros animados. As férias tinham deixado histórias — algumas vividas sob a neve dos Alpes, outras sob o sol de Miami, e outras ainda em quartos silenciosos, onde o tempo parecia não passar.

No entanto, entre tantos retornos, dois corações batiam com mais força. Durante o recesso, longe da pressão das salas de aula e do peso dos olhares alheios, uma amizade nascera — tênue, digital, mas cheia de palavras trocadas até de madrugada. E agora, cara a cara, restava uma dúvida: aquilo resistiria fora das telas? Especialmente quando, no mundo real, o nome de Noah ainda circulava em sussurros e olhares enviesados. Cancelado, mas não completamente esquecido.

Valentim foi um dos primeiros a chegar. Caminhava com passos curiosos, observando as mudanças sutis em cada canto do instituto. Ele nem teve tempo de se perder em devaneios: logo encontrou Karla, bronzeada, radiante, e com os cabelos mais curtos.

— Aruba me mudou, Val! — Ela anunciou, sorridente. — O Breno é incrível. Fizemos mergulho, dormimos em redes penduradas sobre o mar, comemos peixe cru que parecia manteiga! — Os olhos de Karla brilhavam. — Sério, eu tô apaixonada.

Valentim sorriu, mesmo que sua cabeça estivesse em outro lugar. E foi então que seu coração falhou uma batida.

No fim do corredor, como se em câmera lenta, ele viu Noah.

Diferente da figura sombria que cruzava os corredores no semestre anterior, agora Noah exalava uma energia leve e confiante. O uniforme personalizado, com detalhes da bandeira LGBTQIAP+, parecia novo, ou talvez apenas mais vivo. Ele usava uma camisa aberta sobre uma camiseta justa, calça ajustada e tênis brancos impecáveis. Os cachos estavam mais volumosos, o bronzeado mais evidente. E o sorriso — ah, o sorriso — carregava algo de provocação e liberdade.

Valentim congelou.

— Oi, Karla. — Noah disse primeiro, abraçando a colega e beijando-lhe o rosto.

Valentim se preparou para ser ignorado, como tantas outras vezes. Mas então veio a surpresa.

— Oi, Valentim. — Noah disse, com uma voz clara, gentil. O nome. Não era "Velhote", nem "sabe-tudo", nem nenhuma das provocações usuais.

E antes que Valentim pudesse reagir, recebeu um abraço. Um beijo no rosto.

Seu rosto corou de imediato. Karla, que nunca foi boba, lançou um olhar desconfiado para os dois. E então, como quem entende mais do que diz, anunciou:

— Eu vou passar na secretaria, preciso pegar uns documentos. — E saiu com um meio sorriso.

Valentim e Noah ficaram frente a frente.

— E aí, Val. Sentiu minha falta? — Perguntou Noah, quebrando o silêncio, os olhos fixos nos de Valentim.

— Eu...? — Valentim tentou disfarçar. — Eu trouxe presentes. — Sem pensar muito, ele empurrou uma mala enorme nas mãos de Noah, que quase tombou com o peso.

— Eita. Eu pensei que "trouxe uma mala de presentes" fosse só modo de falar! — Noah respondeu, piscando de um jeito brincalhão. Deixou a mala no chão e abriu sua mochila. — Não é caro, mas pensei em você quando vi isso.

Ele retirou um pequeno broche e, com cuidado, prendeu-o no paletó de Valentim.

— Isso é... um ogro? — perguntou Valentim, fingindo indignação.

— Acho ogros fofos. Logo... eu te acho fofo. — respondeu Noah, com um sorriso malicioso. Então se inclinou até o ouvido do colega. — Acho muito, muito fofo.

Valentim prendeu a respiração.

Noah se afastou com um brilho sapeca nos olhos.

— Preciso ir pra aula. — Pegou a mala do chão e, antes de virar o corredor, lançou um último olhar por cima do ombro.

Valentim ficou parado, sem saber se ria, se corria atrás, ou se apenas desmaiava ali mesmo. O novo semestre no Instituto Discere prometia.

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Comentários

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Agora as coisas estão ficando interessantes. 😍🥰 Finalmente o casal perfeito do colégio 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽🏳️‍🌈🏳️‍🌈✨

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