- Ih é mesmo, obrigado! – ele fala apressado, pegando a taça sobre a mesinha da sala e levando para a cozinha. Ele já lava, seca e a guarda no armário antes de deixar o apartamento.
***
OBS: antes de dizer como terminou essa noite, quero contar o que Amanda relatou, no dia seguinte, a respeito do que rolou no bar com mamãe.
O QUE ROLOU NO BAR: AMANDA
No barzinho, após me cumprimentar, a mãe de vocês pede desculpas pelo tapa da última vez. Diz que perdeu a cabeça. Noto que ela perdeu o aspecto radiante que vinha tendo nas últimas semanas, e voltou a ter a expressão carregada de quando a conheci.
Digo a ela para ficar tranquila sobre o tapa e também peço desculpas pelo que rolou. Ela sugere: vamos tomar umas primeiro antes de entrar nesse assunto, que estou precisando.
***
Já estamos na segunda garrafa, rindo e conversando bobagens, e pergunto a ela o que a motivou a marcar o barzinho após tudo que aconteceu no café.
Ela diz que refletiu muito sobre tudo que eu disse da última vez, como sobre os pensamentos pesados que você @Camila teve após o incidente. Além disso, explica que está difícil conviver com você @Pedro desde que descobriu que os nudes eram seus. E que eu sou a única pessoa com quem ela pode falar sobre isso.
Comenta que primeiro ficou com muita raiva de mim, mas com o tempo começou a entender a minha intenção. E agora consegue ter empatia pela confusão que deve estar na cabeça da @Camila, pois a sua sendo muito mais madura já está uma grande bagunça.
Após mais algumas doses de cerveja servidas em copos de vidro e muita conversa, questiono, com cuidado:
- Tenho, eu acho, intimidade com você o bastante para falar isso, então não me leve a mal. Mas vejo que você não está mais com o semblante alegre que observei em você recentemente. O que aconteceu? Você por acaso parou o “tratamento” que eu te passei?
Ela sorri, sem graça.
- Me senti muito mal após descobrir que fiz "aquilo" com as fotos do meu próprio filho. Não consigo mais me tocar. Nem mesmo posso olhar para o Pedro sem me sentir estranha. E a insônia também voltou.
- Sinto muito mesmo ter causado tudo isso – respondo, em choque ao calcular o tempo que ela está sem. “É para sentir mesmo”, ela alfineta. Depois, pergunto o que ela quis dizer com “sentir estranha”.
Ela pausa por um momento.
- Não sei... Não consigo olhar para ele da mesma forma. Não suporto seu toque…
- Não suporta, ou não quer suportar?
Ela me olha sem jeito. Após mais uma rodada de cerveja, retomo:
- Tente ser o mais objetiva possível. Como você se sente, fisicamente, quando ele te toca? Que tipo de sensação isso gera?
Ela me encara com olhos úmidos, e seus lábios tremem. Toma mais um copo.
- Na verdade, o problema é justamente esse. Tenho medo do que posso sentir… E não sei o que aconteceria se visse na minha frente o que já vi em fotos...
- Você quer dizer vê-lo pelado?
Ela não responde e eu deixo para lá, fingindo prestar atenção na música ao vivo.
- Estou aliviada de finalmente desabafar - ela diz um tempo depois, sorrindo.
- A melhor solução sempre é colocar para fora – digo, sorrindo de volta.
Alguns minutos depois, falo:
- Quero desabafar algo com você também. E peço que não me julgue.
A mãe de vocês balança a cabeça em sinal positivo.
- A situação com seus filhos também foi chocante para mim, devo admitir, mesmo sabendo em teoria que isso é algo perfeitamente normal e estudado na psicologia. E, me colocando no lugar dos seus filhos, me lembrei do meu irmão... e antes que eu percebesse, já estava olhando para ele diferente. Como mulher.
- Seu irmão? – ela grita, de queixo caído.
Confirmo com a cabeça.
- E não tem como negar. É duro admitir, mas ele é um gostoso! É moreno, puxou meu pai nisso e também na altura, e ainda é forte de academia.
- Imagino… - ela responde, ficando um pouco vermelha. - E você tem... tesão nele?
- Por que eu vou mentir para mim mesma? Tenho – respondo, sem hesitar.
– Você é louca… - ela responde sorrindo, e com as bochechas coradas.
- Mas não fiz nada quanto a ele – continuo. - Pelo menos pensei que não. Mas meu subconsciente me sacaneou. Após boas semanas foi que percebi que, sem querer, estava usando roupas mais curtas em casa, como camisolas e shortinhos.
Enquanto dizia isso, o sorriso dela foi se esvaindo.
- E essa ficha só caiu na última vez que nós duas nos encontramos, quando você me contou que estava fazendo a mesma coisa – completei.
Ela me olha em choque.
- O que você quer dizer? – diz por fim, com um semblante desconfiado.
- O ideal na terapia seria você mesma chegar às próprias conclusões. Mas como aqui sou só sua amiga, vou falar o que acho. Eu acho que você, como eu, inconscientemente começou a se vestir de maneira mais sensual em casa, sabendo que seu filho lhe desejava.
Ela suspira e balança a cabeça.
- Vou além, acho que seu subconsciente percebeu desde o início que os nudes eram do seu filho. No mínimo, você notou que era um rapaz com mesmo porte físico.
- Não! Isso é um absurdo... – ela diz, negando com a cabeça veementemente.
- Não precisa pensar nisso agora. Vai refletindo durante a semana – respondo.
- Você acha que eu vesti essas roupas para seduzir… - ela hesita em completar a frase. Percebo que já está um pouco embriagada. – Que tipo de mãe faria isso?…
Aperto seu ombro.
- Ei, eu não disse tudo isso para você ficar mais culpada. Foi só um desabafo. E para te mostrar que eu também fiz o mesmo. Além disso, não tem nada demais.
Não trocamos por um tempo, mas percebo em seu semblante que ela está refletindo, e parece perturbada e ansiosa. Ela gira a cadeira em direção à dupla que se apresenta no barzinho, de costas para mim.
- É simples descobrir a verdade – quebro o silêncio. – Volte a se masturbar com as fotos do Pedro, sem culpa.
Ela me olha assustada, com essa súbita volta ao assunto.
- Não tem como você negar que sentiu tesão nas fotos. Além disso, pare de evitá-lo. Pois se você não sentir nada com os carinhos dele, ótimo. E se sentir, simplesmente aceite a verdade. Quando eu digo para falar com naturalidade sobre sexo, masturbação, etc, não é só em relação aos seus filhos. É consigo mesma. E quanto a eles, deixe-os curtirem um pouco.
- Mas é errado – ela replica, sem muita firmeza.
- Mas se eles pararam de brigar, estão em segurança em casa, sem risco de doenças etc. por que não? Séculos atrás realmente havia o risco de gerar uma prole deformada. É por isso que as religiões pregavam contra essa prática, e com razão (embora existam vários casos de incesto na bíblia, Sara e Abraão inclusive eram irmãos).
- Porém, os métodos contraceptivos eficazes já estão aí há muito tempo, e seus filhos não são bobos. Então, hoje em dia, não há um motivo racional para ser contra esse tipo de relação, desde que seja consensual e entre adultos. É só uma hipocrisia da sociedade, e isso só gera uma enormidade de complexos e somatizações. Felizmente, porque isso faz eu ter mais pacientes.
Ela me escuta muda. Quando termino, ela se volta de novo para a banda. Seu pezinho nervoso mexe sem parar.
A banda faz um intervalo, e ela gira sua cadeira para o interior da mesa.
- Nossa, nenhum homem vai me chamar para dançar, não? – ela desabafa.
Vários já olharam para nossa mesa, e alguns inclusive diretamente para ela, mas nenhum nos abordou. Comento:
- Os homens de hoje são tudo frouxos, amiga. Você viu que eles olham e não fazem nada.
- Pois é… vou te confessar que vim cheia de fogo, doida para dar uns beijos. Mas pelo visto vou sair sem nada.
Afetada pelo álcool, digo:
- Amiga, eu não posso deixar você sair sem beijar.
Sem pestanejar, meto um beijão nela! Confesso que os primeiros momentos foram tenebrosos, porque ela ficou com a língua parada, em choque com minha atitude. Penso em recuar. Mas não demora e ela corresponde. E beija bem.
Quando me afasto, ela olha para os dois lados, para ver se tem alguém olhando, e, fala, com um sorriso de adolescente que matou aula:
- Menina, tá louca?
- Relaxa, aqui é um bar universitário, ninguém liga para isso - respondo, pois sei que ela teme pelo beijo gay.
- Mas você é…?
- Não! Quer dizer, mais ou menos hahaha. Você é a segunda mulher que eu beijo, na verdade. Mas tenho a teoria de que toda mulher é um pouco “bi festinha”: bissexual quando toma umas.
Ela morre de rir e eu a acompanho.
- Mas você gostou? - questiono.
- Não foi ruim, para falar a verdade. Você beija bem. Mas faltou aquela pegada de homem.
- Obrigada! Bem, na sua casa tem um rapaz que está doido por você…
Ela apenas me olha de lado, mas continua bem-humorada.
No resto da noite não falamos mais nada sério. Só curtimos, bebemos e conversamos bobagens. Talvez vendo que nós estávamos quase saindo, dois homens criaram coragem e nos abordaram, deixando seus números. A mãe de vocês não ficou muito interessada. Peço um Uber, que primeiro me deixa em casa, e depois a leva.
Recados: Capítulo novo na próxima segunda.
Este segundo conto da semana é fruto da colaboração na vaquinha.
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