O pôquer dos cornos tinha apenas quatro regras:
Só pessoas casadas podiam jogar.
O vencedor escolhia entre um prêmio de um milhão de reais ou passar uma hora na sala vermelha com a mulher de um dos perdedores.
A mulher escolhida não era obrigada a nada, mas se o “corno” não convencesse a sua mulher a ficar uma hora na sala sozinha com o vencedor, ele teria que pagar o valor da premiação ao ganhador.
Se os organizadores suspeitarem de conluio entre o marido e a esposa para manipular o resultado, era exigido o pagamento do prêmio como penalidade.
Uma pessoa mais sã teria se horrorizado com o espetáculo que presenciei e nunca mais colocaria os pés naquele clube. Ainda assim, eu não parava de sonhar com aquele dinheiro.
Ao entrar no Poker dos Cornos, você concorria a um prêmio de um milhão e, mesmo que perdesse, ainda havia outras duas formas de sair no zero a zero. A primeira era se a esposa de outro perdedor fosse escolhida, e supondo aleatoriedade na decisão, sua chance de ser o corno era apenas uma em sete. A segunda forma, apesar de inquantíficavel, para mim era a maior garantia, bastava sua esposa ser fiel para você sair de lá sem uma punição. Quanto a isso, não tinha dúvidas, mesmo que trancassem Amanda por uma semana na sala vermelha com qualquer um, ela não me trairia.
Assim, mesmo com a plena consciência de que tudo que acontecia naquele clube era loucura, decidi jogar.
Quando sentei na mesa, pronto para começar a competição, minha camisa já estava ensopada. Era uma sensação totalmente diferente de todas as outras partidas de poker que já joguei na vida. Quando era mais jovem e tentava seguir carreira profissional, eu lutava contra o tédio de ficar horas a fio jogando mesas que a premiação máxima não passava de cem reais. Agora parecia que, ganhando ou perdendo, minha vida mudaria para sempre. Meu coração batia freneticamente a cada decisão que eu tomava ali.
O único rosto familiar na mesa era Markus, o campeão do último pôquer dos cornos. Mas ele parecia diferente daquela vez, mais bêbado, mais falante, comentava cada jogada e puxava conversa com todos à sua volta.
Ele parecia particularmente interessado em mim. Não sei se sentiu que eu era um jogador forte, alguém que poderia representar uma ameaça real, e por isso tentava me desconcentrar. Era incômodo, e não vou mentir, alguns erros que cometi naquela noite foram por causa dessa tática suja.
Ainda assim, os outros jogadores foram sendo eliminados e eu continuei no páreo, até restarem apenas eu, Markus e mais um na mesa. Em campeonatos normais, o terceiro lugar já seria o suficiente para recuperar o dinheiro investido, mas o Poker dos Cornos era diferente, o vencedor sempre levava tudo.
Em uma mão maluca, onde os dois jogadores tinham a mesma chance de vitória, Markus eliminou o outro rapaz. Chegamos ao “heads-up”, e ele tinha uma pilha de fichas um pouco maior que a minha. Tinha que ter cuidado, qualquer erro me eliminaria do torneio.
Antes do duelo final, a organização fez uma pausa de cinco minutos. Aproveitei e corri para o banheiro, para lavar o rosto e controlar meus nervos. Estava a um adversário de mudar minha vida para sempre.
Me apoiei na pia, encarando meu próprio reflexo, e comecei a murmurar palavras de incentivo, tentando me convencer de que tinha a situação sob controle. De tão concentrado que estava no meu pequeno ritual, que nem percebi quando Markus entrou no banheiro. Só notei a presença quando ele já estava no mictório puxando papo comigo de novo:
— O pau que tá mijando aqui é o que vai entrar na sua mulher hoje. Você sabe disso, né?
Ouvir aquilo foi como se todos os nervos do meu corpo tivessem sido ativados ao mesmo tempo. Uma descarga elétrica que me levou imediatamente do meu estado de concentração para a fúria cega em questão de segundos. Queria massacrá-lo. Mas não nas cartas, e sim com os meus punhos.
Liguei a torneira, fiz uma concha com as mãos para jogar água no meu rosto, tentando ao máximo me acalmar, mas Markus já tinha conseguido me tirar da minha zona de conforto.
— Sabe, eu vi o Insta da Amandinha. Que mulher maravilhosa! Vi uma foto dela, cabelo preto curtinho, estilo Chanel, os quadris largos e os peitões saltando para fora do vestidinho florido. Me lembrou uma dona de casa das antigas, sabe? Se fosse você, eu nunca teria entrado nesse campeonato. Ficaria o dia inteiro em casa, metendo sem parar.
— Sim, ela é maravilhosa, por isso casei com ela. — respondi, tentando deixar claro que ele não iria me atingir.
Markus soltou uma risada seca, ajeitou o chapéu e caminhou para a porta, sem nem lavar as mãos. Mas, antes de sair, lançou sua última provocação:
— Com certeza. Parece ter muita classe. Vai ser uma foda bem melhor que a favelada que comi no mês passado.
Antes mesmo de conseguir processar aquela frase, ouvi o som da botas dele ecoando pelo corredor. Minha mão doía de tanto que meus punhos cerraram. Sabia exatamente o que ele queria com aquela provocação, colocar na minha cabeça quais seriam as consequências da minha derrota, enevoando meu julgamento.
Mesmo com raiva, eu estava decidido. Não podia perder para um filho da puta desses. Voltei para o meu lugar e recomeçamos o jogo.
Consegui uma mão excelente, ás e rei, sabia que muito dificilmente ele teria algo melhor. Precisava só garantir que minha presa não fugiria, assim, joguei de forma lenta tentando atrair Markus cada vez mais para minha armadilha.
Eu apenas passei, e ele apostou pesado antes do flop. O jogo estava em minha mão, precisava apenas controlar para não começar a sorrir igual ao Coringa ali mesmo. Apenas cobri o valor que ele apostou.
As cartas que viraram não podiam ser melhores para mim. Ás, rei e três, todos de naipes diferentes. Eu tinha dois pares, cartas mais altas do jogo, não tinha como perder. Markus apostou pesado de novo. Eu só cobri, pronto para empurrar aquele velho miserável do abismo.
Próxima carta virada, um quatro de copas, o único naipe que ainda não tinha aparecido na mesa, tornando impossível de ele fazer o mesmo milagre da última vez. Não melhorava a minha mão, mas tinha certeza de que também não mudava o cenário para ele. Ainda assim, ele apostou mais uma vez, parecia desesperado para me intimidar. Apenas paguei novamente, um terço de todas as fichas da mesa já estavam no pote.
Última carta, um dez. Não sei nem se Markus chegou a olhar a carta, já que assim que virou ele empurrou tudo que tinha para o centro da mesa. All-in.
Na minha cabeça, refiz todos os movimentos que tinham acontecido até ali. Ele não tinha um flush, não tinha uma sequência. Pelo jeito que ele jogou, deveria ter alguma carta forte na mão, como um ás ou um rei, e achava que seu parzinho me destruiria. Na maioria das vezes, isso seria suficiente para ganhar, mas naquela mão específica, eu tinha sido abençoado com uma das melhores mãos possíveis. Empurrei todas as fichas, convicto de que havia ganho.
— Você tem tanta certeza de que é o mais inteligente aqui. — Markus disse antes de revelar lentamente suas cartas — mas se fosse mesmo, não seria sua mulher que estaria comigo no quarto vermelho hoje.
Um par de três. Não conseguia acreditar. Só me restava agora torcer por Amanda da sala azul.
<Continua>
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