O carro deslizou pela rampa da garagem do prédio, e o silêncio entre as três parecia dizer mais que qualquer conversa. Júlia estacionou no canto de costume e soltou um suspiro longo. O porta-malas foi aberto, revelando um mar de sacolas — a maioria esmagadora com etiquetas femininas, cores delicadas e nomes de lojas refinadas. Luiza olhou, envergonhada, mas Aline riu com naturalidade.
— Só umas coisinhas pra mim e pra Jú, né? O resto é tudo seu, bonequinha… o dia foi seu.
— Exagero… — murmurou Luiza, sem encarar nenhuma das duas.
— Exagero é pouco. A gente praticamente abasteceu um guarda-roupa inteiro pra sua nova versão — disse Júlia, equilibrando duas sacolas grandes em cada braço.
O elevador levou as três até o sexto andar. Aline destrancou a porta do seu apartamento e entrou apenas para deixar algumas compras no sofá.
— Coisas nossas. E uma surpresinha extra pra sua fêmea, viu Jú?
As duas trocaram um olhar cúmplice. Júlia, exausta, encostou-se na parede do corredor, respirando fundo.
— Amor… posso tirar o binder? Tô doida pra soltar eles. Me apertaram o dia todo.
Aline assentiu de imediato:
— Claro, amorzinho. Vai lá. Aqui tá tranquilo.
Júlia tirou a camisa rapidamente, revelando o binder justo e suado. Com movimentos ágeis, puxou-o por cima da cabeça, libertando os seios marcados e ligeiramente vermelhos. Os mamilos saltaram, rígidos do contato com o ar. Luiza, alguns passos atrás, encarou a cena em silêncio, os olhos grudados.
— Que foi, princesa? — provocou Júlia com um sorrisinho. — Nunca viu dois faróis acesos no corredor? Relaxa… eles gostam de atenção. Aposto que no fundo você adoraria saber como é isso, né?
Luiza abaixou o olhar, corando até as orelhas. Júlia deu uma risadinha e vestiu a camisa de volta — sem sutiã, sem pressa. Quando terminou, virou-se para Aline e disse, já com outra energia:
— Vamos subir com ela?
— Podem ir. Tô morta. Vou tomar um banho e descansar. Mas amanhã eu quero ver ela vestindo aquele presentinho… — Aline piscou.
Luiza ficou sem entender, mas não teve coragem de perguntar. Seguiu com Júlia até o elevador, em silêncio. Quando entraram, e as portas se fecharam, Luiza desviou o olhar, mas não resistiu por muito tempo: observou discretamente os seios de Júlia sob a camisa fina, os mamilos ainda duros marcando como dois pontinhos protuberantes.
— Ei… — disse Júlia, percebendo o olhar. — Se continuar encarando assim, vou começar a cobrar. Tá achando que é filme 3D?
Luiza sorriu sem jeito. O clima ficou leve, quase íntimo.
— É que… é estranho ver assim… livres, sabe?
— Estranho pra quem nunca teve. Mas se serve de consolo… tem coisa que você sente aí que muita mulher nunca vai saber o que é. E tem outras que você vai aprender direitinho.
O elevador parou no oitavo andar. Júlia e Luiza desceram com algumas sacolas ainda nas mãos, enquanto as demais haviam ficado sobre o carrinho de compras que Luiza usava como apoio. Ao entrarem no apartamento, o silêncio acolhedor da noite envolveu as duas. A luz suave da sala mal iluminava os cômodos, e as duas seguiram direto para o quarto.
No centro da cama, as sacolas de boutique foram despejadas uma a uma, revelando volumes, etiquetas e tecidos coloridos. Era como abrir baús de tesouros femininos. Luiza abriu as portas do guarda-roupa. De um lado, algumas camisas e calças masculinas penduradas de forma metódica. No canto da gaveta, um punhado de cuecas dividia espaço com as poucas calcinhas que havia usado até então.
— Hmm… — murmurou Júlia, com olhar de quem não ia deixar aquilo passar. — Acho melhor separar essas cuecas. Sério. Nem combinam mais com você.
— É que… sei lá. Ainda são minhas roupas, né?
— Amor, se a Aline tivesse aqui, ia mandar jogar tudo fora. Mas vamos com calma. Se quiser só guardar em outro lugar… — pegou uma sacola de mercado vazia e entregou. — Bota aqui. Depois decide o que faz com elas.
Luiza obedeceu, dobrando as cuecas com um pouco de constrangimento. Guardou a sacola num canto inferior do armário, fora da vista.
— Pronto — disse, soltando o ar. — Já é um começo, né?
— Um ótimo começo — sorriu Júlia. — Agora vamos ver essas belezinhas…
Elas começaram a abrir as sacolas juntas, espalhando bodies, blusas, lingeries, vestidos e cropped tops sobre a cama. Os olhos de Luiza brilhavam como os de uma menina descobrindo quem poderia ser. Mas logo sua empolgação deu lugar a um incômodo.
— Acho que vou tomar um banho antes. Tô toda suada. Quero experimentar algumas coisas, mas assim não dá.
— Claro, vai lá. — Júlia disse, sentando na ponta da cama. — Vai ser um desfile íntimo só nosso.
Luiza ficou parada por um instante, hesitante em tirar a roupa ali na frente de Júlia. Mexia nas barras da camisa com nervosismo. Júlia percebeu e soltou, divertida:
— Ué, tá com vergonha? Entre meninas não existe isso, sabia?
Luiza riu, meio sem graça.
— É que… sei lá, eu ainda tenho um… você sabe.
Júlia se levantou com um sorriso sapeca. Sem pressa, desabotoou o cós da calça jeans escura, puxando-a até os joelhos e revelando uma calcinha bege rendada. Mas o que mais impressionou Luiza foi a virilha completamente lisa. Nenhuma saliência. Nenhuma sugestão de volume.
— Isso aqui, querida, é o que você vai aprender amanhã. Tucking bem feito. Fica até melhor com esparadrapo cirúrgico, mas hoje eu só encaixei direitinho. Quer ver?
— P-posso?
— Claro. — Júlia segurou firme a lateral da calcinha e deixou Luiza tocar levemente.
Luiza passou os dedos devagar, sentindo a suavidade do tecido esticado e da pele abaixo.
— Parece que você… nem tem.
— Essa é a ideia. Urino sentada, me olho no espelho e juro que vejo uma bucetinha. Isso confunde até médico se não olhar direito. — riu. — Mas dá trabalho, viu? E quando a calcinha é muito fina, tipo fio dental, aí tem que ser capricho máximo. Você vai aprender tudo.
— E como você consegue andar assim?
— No começo dá nervoso. Mas depois que acostuma, amor, você só pensa em parecer perfeita. E pode acreditar… quando o macho olha e vê lisinho, a cabeça dele derrete.
Luiza riu, ainda abaixando a cabeça meio tímida. Mas não tirava os olhos daquela virilha perfeita.
— Você vai adorar, Lu. Principalmente quando for usar um shortinho branco, bem justo. Fica parecendo que nasceu assim.
Luiza suspirou. Pegou um conjuntinho de pijama rosinha e virou-se:
— Vou tomar banho. Já volto.
— Vai lá, minha flor. E volta perfumada. Quero ver tudo isso em você.
Enquanto Luiza caminhava até o banheiro com a porta entreaberta, carregando as primeiras peças que queria vestir, Júlia ficou parada por um instante, ainda de calcinha, olhando para a cama repleta de novidades. Então, com um leve suspiro, puxou a calça jeans escura de volta pelas coxas até ajeitá-la no quadril, fechando o botão com naturalidade.
— Se a Aline me visse aqui de calcinha no meio do quarto da princesa dela, já ia soltar aquele olhar dela… — murmurou com um sorriso divertido.
Sentou-se de novo na ponta da cama, cruzando as pernas e começando a organizar as roupas por categoria: lingeries de um lado, blusas de outro, e vestidos dobrados com cuidado, como se estivesse montando uma nova etapa da vida de Luiza com as próprias mãos. Os dedos passavam pelos tecidos com delicadeza, enquanto o som do chuveiro preencheu o silêncio do quarto.
Júlia olhou na direção da porta entreaberta, sorriu com ternura e sussurrou só para si:
— É… ela tá mesmo virando a menininha que sempre quis ser. E nem percebeu ainda.
Luiza saiu do banheiro enxugando os cabelos com a toalha, os pés descalços tocando o piso gelado. Usava um pijaminha rosinha de tecido leve, com pequenos corações brancos na barra do shortinho e uma blusinha de alcinha que deixava à mostra seus ombros lisos e o colo ainda úmido. A pele cheirava a sabonete floral. Júlia, sentada na cama, sorriu ao vê-la.
— Ihhh… quem é essa bonequinha que saiu daí? — disse em tom brincalhão, fazendo Luiza rir e se ajeitar, envergonhada.
— Tá muito… feminino?
— Tá perfeito. Tu não percebe? Já é tua cara isso aqui.
Enquanto Luiza dava um passo tímido em direção à cama, Júlia levantou com uma peça nas mãos e apontou pra uma das gavetas do guarda-roupa.
— Vamos colocar as calcinhas aqui, ó. Essas de renda separadas dessas mais básicas. E as cuecas… — olhou de canto. — Melhor guardar em outro lugar. Ou jogar fora, né?
— Eu pensei nisso hoje… — Luiza respondeu, puxando uma sacolinha com as cuecas velhas e colocando no canto do armário. — Ainda fico meio… confusa.
— Normal. Mas ó… se a Aline estivesse aqui, ela já tinha rasgado todas e mandado tu desfilar só de calcinha fio dental pela casa — disse rindo. — Ainda bem que sobrou pra mim essa parte educativa.
Luiza gargalhou, abaixando a cabeça. Sentou-se na beira da cama e começou a separar sutiãs com cuidado.
— Júlia… tu acha mesmo que eu tô ficando mais… parecida com uma?
— Com uma mulher? — Júlia se aproximou, ajoelhando-se diante da cama. — Amor, tu já é mais mulher que muita por aí. Só falta tu acreditar nisso. O resto, o tempo vai moldando. Hormônio, roupa, perfume… mas a essência, essa tu já tem.
Luiza suspirou fundo, passando a mão na coxa descoberta.
— E esse negócio de usar hidratante… eu já uso. A esteticista me indicou.
— Ahhh, sabia! — Júlia bateu palminhas discretas. — Isso muda tudo. A pele vai ficando mais fina, mais macia. E o cheiro, amiga… começa a exalar de dentro. Homem sente isso. Eles são como animalzinhos: cheiram fêmea de longe.
— Paraaa… — disse Luiza, rindo, mas claramente curiosa.
— Sério. Quando a pele fica fina, e tu passa aqueles cremes com cheiro de baunilha, de morango… é batata. Eles encostam, aspiram e ficam com o pau duro. Nem precisa tirar a roupa.
Luiza baixou o olhar, os olhos brilhando. Pegou uma calcinha rosa claro e passou os dedos pela renda.
— Tu já ficou com cara?
— Já, claro. Alguns bons… outros nem tanto. Mas o melhor mesmo são os que te pegam no susto. Que tu acha que não gostam, e do nada tão te segurando pela cintura dizendo “assim que eu gosto, molhadinha…”
— Meu Deus… — Luiza cruzou as pernas, rindo e envergonhada. — Acho que eu ainda me assusto com essas coisas.
— Assusta nada. — Júlia tocou suavemente o joelho dela. — Tu só não viveu ainda. Mas já sente. Já se imagina. Já sonha.
— Eu sonhei uma vez que tinha seios grandes… bem grandes mesmo. E quando tirava a blusa, um cara ficava hipnotizado. Ele lambia… mordia devagar… e eu tremia inteira.
Júlia riu gostoso.
— Aline vai amar saber disso. Ela vive dizendo que teu futuro é com seios GG e homens te comendo até tu pedir pra casar.
— Acredita que ela disse que se tu não se revelasse pra Isabela, ela ia fazer tu colocar seios GG e viver de cinto de castidade?
— Hahahaha! Ela falou isso mesmo? — Júlia caiu deitada na cama. — Cara, é a cara dela!
— Ela é louca… mas eu gosto dela.
— Todo mundo gosta, Lu. Ela te enxerga como ninguém viu até hoje. E vai te moldar direitinho. Quer apostar?
Luiza apenas sorriu. Os olhos desciam para o próprio corpo, coberto por aquele pijama que deixava tudo mais real. As sacolas, o cheiro do creme no ar, as calcinhas na gaveta. Era muita coisa pra processar, mas ao mesmo tempo… tudo parecia finalmente no lugar.
Júlia se levantou da cama, pegou outra peça pra pendurar no cabide, e com um olhar carinhoso, disse:
— Tu vai longe, minha flor. E o mais bonito… é que já tá indo pelo caminho certo: sendo quem tu é. Sem pedir desculpa.
Luiza engoliu em seco. Os olhos um pouco marejados.
A arrumação do guarda-roupas seguia aos poucos, cada peça dobrada com cuidado, como se fizesse parte de um ritual novo, quase sagrado. Júlia, agachada na frente das gavetas, ajeitava algumas lingeries delicadas enquanto os seios balançavam levemente sob a camisa solta. Luiza tentava disfarçar os olhares, mas em certos momentos se perdia neles.
— É… — comentou Júlia, pegando um cabide e levantando uma blusa transparente. — Isso aqui no corpo com os peitos soltos… menina… balança tanto que parece que tô fugindo da polícia.
Luiza caiu na gargalhada.
— Jura?
— Juro! Uma vez fui dobrar pra pegar algo no chão e quase levei uma dedada acidental de um cara no ônibus. Ele achou que era uma bolsa pendurada. — Júlia fez cara de tragédia. — E o pior é que eu nem podia gritar, porque… né?
— Porque ele ia ver que você não é… — Luiza hesitou.
— ...que eu não sou o que ele achava que eu era. — completou Júlia, sorrindo com leveza. — Aline ficou sabendo e me obrigou a ir no dia seguinte com um cropped. Disse que se eu tinha peito, tinha que aprender a sofrer como mulher sofre.
— Aline é maluca…
— É por isso que eu amo ela. — riu, esticando-se um pouco para guardar um conjunto de lingeries. — E você, hein? Ficou quietinha depois do banho… pensando no quê?
Luiza mordeu o lábio inferior, segurando uma calcinha entre os dedos.
— Sei lá… acho que em tudo. No dia, nas coisas que ouvi… nos seios dela, nos seus. Fico me perguntando como seria… sabe, sentir eles crescendo.
Júlia virou o rosto devagar, observando Luiza com um sorriso mais doce.
— No começo eu só queria esconder, ficar neutra… e continuo querendo, viu? Imagina se alguém lá do trampo me vê com isso tudo pulando pra fora? — apontou pros próprios seios com expressão de desespero cômico. — Aline vive dizendo que um dia vai me obrigar a sair com um vestido bem colado só pra me castigar. Eu morro só de pensar!
Luiza riu alto.
— Acho que ela faria mesmo…
— Com certeza! E ainda ia ficar filmando escondido só pra ver minha cara de desespero. — Júlia balançou a cabeça. — Mas entre quatro paredes… aí é outra história. Tem dia que eu mesma dou um apertãozinho e penso: “Pelo menos isso aqui ninguém tira mais de mim.”
Luiza engoliu seco, o olhar fixo nos volumes sob o tecido da amiga.
— Júlia… posso te perguntar uma coisa meio íntima?
— Só se prometer que depois posso perguntar também.
— Prometo.
— Dói…? Digo, no começo?
— Os seios?
Luiza assentiu.
— Muito. Mas é uma dor boa. Parece que você tá nascendo. E depois começa a doer quando alguém te chama de “moço” na rua. Porque aí você sente que tá mudando por dentro e que aquilo não combina mais.
O silêncio foi reconfortante, não incômodo. Só o barulho suave de cabides sendo encaixados, embalando os pensamentos.
Júlia fechou a porta do guarda-roupas com um empurrão leve e olhou para Luiza.
— Pronto. Só falta você agora se encaixar no meio disso tudo. Mas ó, já aviso: depois que acostumar com calcinha rendada, nunca mais vai querer algodão simples.
— Acho que isso já aconteceu — sussurrou Luiza, e ambas sorriram.
Acompanharam-se até a porta, os passos descalços soando suaves no piso frio do corredor. Já era tarde, e o silêncio do prédio parecia respeitar aquele instante íntimo entre duas quase-mulheres.
— Amanhã cedinho eu passo aqui — prometeu Júlia, se inclinando para um abraço apertado. O volume macio dos seios pressionando o corpo de Luiza provocou um calor inesperado. Júlia notou e sussurrou com humor:
— Um dia você vai apertar os seus assim… vai ver.
— Tomara — disse Luiza baixinho, fechando a porta devagar quando a amiga sumiu pelo corredor.
Ficou alguns segundos parada, só respirando. O pijama rosa colando leve no corpo recém-banhado, os seios ainda ausentes, mas a vontade crescendo.
Era noite de sábado.
E Luiza já não era mais só Luiz.
[ CONTINUA...]
Obrigada pelos comentários. Fico agradecida por comentarem,bjss.