O internato - Capítulo 21

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 3580 palavras
Data: 01/07/2025 20:01:05
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 21 – Entre Beijos e Sombras

...

Bernardo

Naquela noite, recusei a carona de Nick e liguei para o meu pai vir me buscar. Apesar de não querer demonstrar para ele, eu estava completamente transtornado com o que havia feito. Tinha cedido e voltado a ser a mesma pessoa suja que jurei nunca mais me tornar. Reencarnei o Bernardo que transava com vários garotos da escola apenas para sentir algo parecido com o que sentia quando estava com Gregório. O mesmo Bernardo que gravou um vídeo em que era a “putinha” de dez caras ao mesmo tempo.

Lembro que, na época, o vídeo chegou a ser postado no Xvideos, depois de uma edição que deixava os rostos dos dez garotos cobertos. Só o meu era identificável. Me recordo daquele dia com clareza. Poderia dizer que estava bêbado ou drogado, mas seria mentira. Eu estava completamente sóbrio e ciente de cada coisa que fazia. Lembro de gostar daquilo e de pedir mais. Até mesmo quando eles se juntaram ao meu redor e gozaram sobre o meu corpo nu e suado, aquilo pareceu maravilhoso.

Mas então o vídeo se espalhou. Todos passaram a saber quem eu era. Foi quando muitos descobriram que eu era gay. Na verdade, vários garotos já sabiam, mas como me comiam e não queriam que ninguém soubesse, mantinham segredo.

Eu era o tipo de aluno invisível, com poucos amigos. Depois disso, virei o mais famoso da escola — mas pela pior razão possível. Gostaria de dizer que a direção me ajudou, mas acho que sequer souberam. As provocações vinham em locais isolados: banheiros, vestiários, corredores vazios. Meus poucos amigos me abandonaram para não se envolverem com uma “puta” como eu.Fiquei sozinho. Perdido. Chorava quase todos os dias. Era minha mãe quem me consolava, mesmo sem saber exatamente o motivo. Pensei em contar, mas hoje percebo que sua reação só teria me destruído mais. O vídeo não ficou muito tempo online, pois em um trecho o rosto de um dos garotos apareceu. Ele também foi alvo de piadas, mas eu fui o mais humilhado — porque, no fim das contas, ele estava sendo o ativo e eu o passivo.

Foi ali que percebi que não valia a pena ser alguém que aceitava qualquer coisa por prazer. Decidi que seria diferente. Muitos meninos ainda me procuravam, mas eu os rejeitava. Precisava me valorizar. E mesmo tendo mudado minha atitude, minha fama já estava formada.

Isso aconteceu no final do ano passado. Quando saí daquela escola, prometi que tudo seria diferente. Que ninguém saberia que eu era gay até que encontrasse alguém que realmente valesse a pena. Mas, ao dividir o quarto com Théo, desencanei de esconder minha sexualidade — só mantive o juramento de me envolver apenas com quem valesse a pena.

Foi então que vi Daniel.

Pela primeira vez, senti algo real. Algo que nunca tinha sentido, nem com Gregório. De repente, todo o vazio da busca por prazer perdeu o sentido. Aquela foi a primeira vez que estive verdadeiramente apaixonado. O que tive antes foram paixonites: por um colega da escola, por um primo... Mas com Daniel era diferente. Intenso. Sincero. Algo pelo qual valia a pena lutar.

E, mesmo assim, eu joguei tudo fora naquela tarde.

“Desde que você apareceu na vida do meu irmão ele ficou deprimido, foi atropelado, teve uma arma apontada pra cabeça dele, levou uma surra e quase foi expulso! Ele parecia feliz antes. E isso é tudo sua culpa.”

As palavras de Théo ecoavam na minha cabeça, aumentando minha culpa. Eu baguncei a vida de Daniel, só para depois traí-lo. Deixei que meu velho eu tomasse o controle. Aquele garoto doce, cuja confiança eu destruí, não merecia isso. Ele merecia ter continuado feliz — talvez comigo longe da vida dele.

Théo estava certo. Talvez eu não merecesse Daniel. Talvez eu merecesse apenas ser usado por homens em busca de prazer. Talvez eu merecesse a humilhação de ter sido abusado por Gregório. Talvez eu merecesse, mesmo, uma vida miserável.

– Senti sua falta – disse, atendendo o telefone que interrompeu meus devaneios.

– Eu também – respondeu Daniel, com a voz embargada.

Naquele instante, meu coração parou. O medo de ele ter descoberto tudo me travou até a respiração. E se aquela tarde tivesse sido armada por Théo para provar quem eu realmente era? E se Nick só fez aquilo para destruir o meu namoro?

– O que aconteceu? – perguntei, com a voz trêmula.

Daniel contou tudo: desde a revelação da sexualidade do pai até a visita na cadeia. Aquele homem tinha ferido profundamente a alma do meu namorado, e nada justificava o que ele fez. Mas Daniel era incapaz de magoar alguém por vingança. Via em seus olhos a dor de cada vez que me deixava sozinho depois de ficarmos juntos. Daniel era uma pessoa boa demais. Seu coração era puro, e isso o tornava especial.

Por isso não me surpreendi quando ele disse que havia perdoado o pai — embora nunca fosse esquecer.

– ... O que me preocupa é o Théo – continuou, ainda chorando. – Ele disse que queria ver nosso pai queimando no inferno e depois foi embora. Eu nunca o vi tão magoado. Nem mesmo quando apanhou. Havia algo sombrio nos olhos dele... Eu não o reconheci.

Eu, sim, já tinha visto esse Théo. Frio, vingativo, sombrio. E mesmo assim me recusava a acreditar que esse lado existia de verdade.

– Ele só disse isso da boca pra fora – tentei tranquilizá-lo. – Está em choque. Carrega mágoas antigas. Vai passar.

– Espero que sim... – Daniel fungou, e fez-se silêncio. Apenas sua respiração irregular ao fundo. – Ele não saiu do quarto desde que chegamos. Nem responde. Estou com medo de que faça alguma besteira.

– Não diga isso! – soltei sem pensar, o que deve tê-lo assustado. – Théo só precisa de tempo. Ele vai se encontrar.

Ouvi uma música tocando ao fundo. Uma melodia familiar. Asleep, da banda The Smiths. Uma música que, com certeza, Nick tinha apresentado a ele.

– Ele está ouvindo Asleep – murmurou Daniel. – Isso é um bom sinal?

– Acredito que sim – respondi, sem convicção. – Quer que eu vá aí?

– Melhor não – ele sussurrou. – Acho que ambos precisamos de um tempo.

– Tem certeza? – perguntei, sentindo a rejeição doer como uma facada.

– Tenho sim – respondeu, fungando mais uma vez.

– Se precisar de mim, estarei aqui.

– Eu sei... Eu te amo.

Aquelas palavras despedaçaram o que restava de mim. Porque tudo o que eu havia feito me provava o contrário: eu não o merecia.

– Também te amo – respondi, após quase dois minutos em silêncio, questionando se alguém que ama de verdade faria o que eu fiz.

Daniel desligou, e fui tomar banho. Durante o fim de semana, não nos falamos. Nem sequer tentamos. Ele, provavelmente, afundado em preocupação com Théo. Eu, esmagado pela culpa.

Toda vez que pensava em ligar, uma voz dentro de mim repetia: “Você não o merece. Você o traiu. Théo está certo. Você trouxe sofrimento.”

Aquela voz me venceu.

Passei o fim de semana vendo episódios de Dexter. Meu pai me chamou para visitar minha mãe no hospital, mas eu não estava pronto. Fiquei em casa, sendo consumido pelo meu próprio julgamento. Um espírito acusador me lembrava, o tempo todo, que tudo o que eu tocava apodrecia.

Foi assim com Gregório, que virou um insensível. Com os garotos da escola, que só me usavam. Com Théo, que revelava um lado que nem ele conhecia. E agora com Daniel, que só sofria por estar comigo.

Talvez fosse mais fácil viver sem amor. Menos emocionante, sim. Mas menos doloroso. Amar machuca mais que qualquer surra. Corrói de dentro para fora. A decepção que o amor causa é mais afiada que qualquer faca.

Na segunda-feira, Daniel não foi à escola. E mesmo assim, eu não consegui ligar. Sabia que ele devia estar se perguntando por que eu não fazia isso... Mas eu simplesmente não conseguia.

Me lembrei de outubro, ano passado. Estava nu diante do espelho do banheiro. Não me reconheci. Era como olhar uma cópia de cera — a forma era a mesma, mas não havia alma. Chorei. Jurei que mudaria. Que queria ser digno de amor. E joguei tudo fora na primeira oportunidade.

– Oi, gostoso – disse Nick, sentando ao meu lado na arquibancada da piscina, onde eu esperava que Daniel aparecesse a qualquer momento. – Fiz o que você pediu.

– Como assim? – perguntei, confuso. Théo também não estava na escola.

– No sábado à noite, Théo me ligou. Fui lá ver como ele estava – disse com naturalidade.

– Você teve coragem de ir até lá depois do que aconteceu entre a gente?

– Faço isso direto – Nick deu de ombros. – Traio o Théo sempre. Gosto dele, mas às vezes ele me sufoca. Preciso espairecer.

– Você é nojento, Nick – levantei, indignado.

– Olha quem fala – retrucou ele. – Até parece que foi a primeira vez que você traiu o Daniel.

– Foi sim! – respondi, furioso. – E nunca mais vou fazer isso.

Ele riu.

– Sei. Você é uma puta sonsa, Bernardo. Já deve ter dado pra escola toda. Eu só fui mais um que te pegou.

A raiva explodiu. Dei um tapa forte no rosto dele, fazendo o sorriso sumir.

– Você não me conhece – falei, com lágrimas nos olhos. – Nunca traí meu namorado. E nunca mais vou trair ninguém. Pode ficar com o Théo, mas não me procure nunca mais.

– Sem problema – Nick levantou as mãos. – Já consegui o que queria mesmo. Só me arrependo de ter apagado o vídeo.

– Agradeço por isso, mas não te devo nada. E se você sequer insinuar algo sobre o que aconteceu, eu acabo com você.

– Não tenho medo de você – ele zombou.

– Deveria. Porque, como eu disse... você não me conhece.

E fui embora, deixando-o sozinho.

...

Daniel

Contei tudo para minha mãe, e ela entendeu que eu não conseguiria ir à escola na segunda-feira, assim como Théo também não conseguiria. Eu não queria contar nada para ela, mas ela precisava saber por que seu caçula chegava em casa batendo portas e se trancando no quarto, sem deixar ninguém entrar além do seu namorado. Quando minha mãe soube, teve um choque e quase desmaiou na sala, mas se recuperou rapidamente quando a segurei. Ela nunca desconfiou disso em todos os anos que passou casada com meu pai, mas, de certa forma, aquilo justificava o ódio dele por homossexuais.

Passei a noite de sábado para domingo acordado, pensando na infância do meu pai e em quanto ele deve ter sofrido. Claro que eu já tinha presenciado algo parecido em casa, quando Théo era pequeno, mas, apesar de desprezar meu irmão, meu pai só levantou a mão para ele quando ele se assumiu, aos treze anos. Não estou defendendo meu pai, mas talvez a ausência de punição física durante a maior parte da infância de Théo tenha contribuído para que ele tivesse menos traumas psicológicos. Traumas que, no entanto, transformaram meu pai nesse monstro. Gostaria de ter conhecido a pessoa meiga e sorridente que ele foi um dia e de lhe pedir para que nunca se perdesse. Queria dizer que, apesar de passar por momentos em que desejaria desistir e fazer o que mandassem, lutar por si mesmo o faria muito mais feliz. Porque ser quem você nasceu para ser não tem preço.

— Acho que no fundo da mente perturbada dele, meu pai teve uma boa intenção — disse Fernanda naquela tarde de domingo. Estávamos deitados na minha cama, como fazíamos quando éramos mais novos e ela ainda morava conosco. Passávamos horas conversando sobre a escola, amizades e programas de TV. Minha irmã também falava dos garotos, porque via em mim alguém com quem podia se abrir sem medo de julgamento. — Ele não queria que vocês sofressem, como o avô disse que ele sofreria.

— Eu sei, mas não consigo entender como ele achou que seria melhor ignorar o Théo a vida inteira, só para depois espancá-lo, me dar uma surra e nos ameaçar com uma arma. Como isso faria com que sofrêssemos menos do que simplesmente nos aceitar e acolher? Tudo bem que ele precisasse de tempo para aceitar, assim como a mamãe, mas pelo menos poderia ter sido compreensivo.

— O pai não é uma pessoa psicologicamente sã — ela falou, brincando com uma mecha do meu cabelo dourado — Na cabeça dele, isso faz sentido.

— Você já foi visitá-lo na cadeia?

— Não tive coragem — ela sorriu amarelo — Uma vez cheguei até a porta, mas lembrei do que ele fez a vocês e acabei voltando. Como ele está?

— Destruído — respondi, sem rodeios.

— Fizeram algo com ele? — perguntou, cobrindo a boca.

— Não — disse — Quero dizer destruído psicologicamente. Ele parece estar caindo na real, percebendo tudo de ruim que fez. Não tem mais aquele olhar orgulhoso de antes, parece mais humano. Até aceitou meu perdão.

— Você o perdoou? — Fernanda não parecia surpresa. Ela me conhecia bem o suficiente para saber que eu nunca teria uma vida plena sem perdoá-lo.

— Eu precisava — disse, enxugando uma lágrima que teimava em escapar — Mas estou preocupado com o Théo. Percebi que ele buscava um motivo para entender a forma como o pai o tratou durante toda a vida, e quando encontrou, conseguiu compreender. Vi isso nos olhos dele, mas ele não consegue perdoar e seguir em frente. Está preso a tudo isso e, por isso, não consegue ser plenamente feliz.

Fernanda soltou meu cabelo e sentou-se na cama, olhando-me com aqueles olhos azuis, cheios de seriedade.

— Espero que não me interprete mal, e você sabe que amo muito o Théo, mas eu consigo vê-lo de verdade. Algo que você não vê.

— Como assim? — perguntei, confuso.

— Me escuta até o fim antes de falar — ordenou — Théo não é santo, Daniel. Ele passou tanto tempo sem amor de pai, vivendo só rejeição, que criou uma escuridão dentro dele. Uma escuridão que ele direciona a você. Théo sempre teve inveja de você!

— Você está ficando louca — respondi, rindo enquanto me sentava.

— Eu disse para me ouvir até o fim! — respondeu com firmeza, usando o tom de voz que aprendeu com o pai. Eu odiava quando ela fazia isso, parecia que ela incorporava o lado dele. — Você era o queridinho do pai e da mãe. Popular, inteligente, bom nos esportes. O xodó da família. Talvez você não veja, mas tudo sempre girou ao seu redor, enquanto Théo e eu ficávamos em segundo plano. Eu nunca me importei muito, porque me destacava na escola e era popular, além de receber amor dos nossos pais. Mas para Théo era diferente. Ele nunca foi uma criança que nossos pais olhavam com orgulho. Ele era diferente, estranho. Nunca vou esquecer as vezes que o pai saía com você, e a mãe pedia para levar o Théo também, mas ele dizia que não queria. Você não via, mas ele chorava em casa até minha mãe dar um tapa no braço dele e colocá-lo de castigo. Lembra que quando você e eu contávamos como foi nosso dia na escola, nossos pais ouviam com atenção, mas quando era a vez do Théo, logo mudavam de assunto? Théo não recebia afeto, acho que nunca ouviu ninguém dizer que tinha orgulho dele. Agora sabemos que era assim porque o pai não conseguia olhar para ele sem se lembrar de si mesmo naquela idade, mas na época era uma incógnita. No começo, confesso que não percebia a diferença no trato que nossos pais tinham conosco, mas, à medida que fui crescendo, fui percebendo e ficando cada vez mais revoltada. Falei isso com a mãe uma vez, mas ela disse que eu estava maluca e que eles tratavam todos iguais. Foi então que me aproximei mais do Théo e, um dia antes dele se assumir, ele me contou que sentia inveja de você, porque você era perfeito e ele um peso morto. Théo realmente achava que não era nada e que estaria melhor morto. Agora, imagine como estava a cabeça dele, tendo que se aceitar homossexual enquanto carregava toda essa baixa autoestima? Deve ter sido um inferno que o deixou um pouco amargo. Você cuidou dele depois da surra, e tenho certeza de que isso fez com que ele te amasse muito, mas não apagou a inveja que ele tem de você. Depois que você se assumiu para a família e, com exceção do pai, todos te aceitaram mais facilmente, ele veio conversar comigo e disse que ainda sentia inveja do quanto todos te amavam a ponto de lutarem por você.

— Nós dois lutamos por ele! — interrompi, chocado com tudo o que ela dizia.

— Sim, mas e a mãe? — Fernanda perguntou — Ela encobriu o crime do pai, mas correu para a delegacia quando foi com você. Imagina como ele deve ter se sentido? Não estou dizendo que Théo seja má pessoa, mas ele guarda sentimentos ruins há anos. A inveja que sente de você, o trauma da rejeição dos pais e a surra que levou por nada. Ele se prendeu a esses sentimentos de tal forma que se tornaram quem ele é. Ele não perdoa o pai e não segue em frente porque não sabe para onde ir. Está confuso e perdido, sem ninguém para guiá-lo. Théo sofreu mais do que qualquer um nesta casa, e isso ele não esquece. Para você, perdoar o pai significa esquecer dois meses da sua vida. Para Théo, perdoá-lo significaria esquecer tudo o que conhece como vida.

— E como podemos ajudá-lo? — perguntei.

— Só podemos ajudá-lo quando ele quiser ser ajudado — respondeu Fernanda.

...

Bernardo

Andava sem rumo pelo campus na hora do jantar, até perceber que havia parado justamente diante da cabana do zelador — o mesmo lugar onde, pela primeira vez, nos entregamos um ao outro. Me aproximei devagar, tomado pelas lembranças daquela tarde. Daniel me levando até ali, me deitando sobre aquela velha mesa de madeira... Nossos corpos quentes se tocando, o cheiro da pele dele, o prazer intenso que me fazia perder o fôlego. Tudo era novo, arrebatador. Eu mal conseguia entender o que estava sentindo, só sabia que queria cada vez mais.

– Sabia que te encontraria aqui – ouvi aquela voz suave, que sempre fazia meu coração disparar.

Me virei, e lá estava ele. Seu olhar estava abatido, mas cheio de saudade. Não pensei duas vezes: corri até ele e me joguei em seus braços. Nossos lábios se encontraram num beijo urgente, cheio de desejo e carinho. Enlacei seu pescoço com os braços e enrosquei as pernas em sua cintura. Ele me segurava com firmeza e delicadeza pelas coxas, como se não quisesse me deixar cair — de jeito nenhum.

– Senti tanto a sua falta – murmurei entre um beijo e outro, como se aquela fosse a última vez que eu pudesse tocá-lo.

– Eu também – ele respondeu com a mesma intensidade – Estava morrendo de saudades da sua pele, do seu beijo.

– Senti falta do seu amor, do seu cuidado comigo – falei, já chorando – Eu te amo, Daniel. Te amo mais do que imaginei que fosse possível amar alguém. Não importa o que aconteça, nunca esqueça disso.

– Você está estranho – ele disse, preocupado – Aconteceu alguma coisa?

– Não... – menti, as lágrimas ainda caindo – Eu só percebi que talvez... eu não te mereça.

– O que é isso, Be? – Daniel franziu a testa – Você é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. Eu te amo. Para com essa ideia absurda de que não me merece.

– Tá bom – sussurrei, beijando-o mais uma vez, tentando fingir que aquilo bastava para calar a culpa dentro de mim.

– Eu te quero – ele sussurrou no meu ouvido, deslizando a mão pela minha coxa – Preciso de você agora.

Ele mordiscou minha orelha e aquilo me deixou completamente entregue. Sorri, o beijei com vontade, e ele me levou para dentro da cabana ainda no colo. Nos beijávamos sem parar, minha mão já começando a tirar sua camisa quando entramos... e nos deparamos com algo absolutamente inesperado.

Cinco adolescentes — três meninas e dois garotos — estavam distribuídos em cantos isolados da cabana, levemente iluminada por velas. Todos vestiam preto dos pés à cabeça, com maquiagem carregada. Cada um segurava um caderno, como se estivessem em alguma reunião secreta. A trilha sonora bizarra misturava rock com um quê de ópera sombria. Eu nunca tinha ouvido algo assim.

– Mil desculpas – Daniel parou de repente, surpreso – Não sabíamos que tinha gente aqui.

– Agora sabem. Então saiam – respondeu um dos garotos com uma voz tão fria que gelou minha espinha.

Daniel me colocou no chão e saímos dali cheios de vergonha e confusão. Quando passamos pela porta, demos de cara com um garoto de uns quinze anos, usando um sobretudo preto. Tinha a pele clara como porcelana e o cabelo preto como breu. Eu o reconheci — era o Lorenzo, da minha turma. Sempre calado no fundo da sala, evitado por todos por causa do estilo gótico sombrio.

– Olha por onde anda, Mortícia – Daniel ironizou, claramente abalado com a presença dele.

– Que o anjo da morte te leve ao sofrimento eterno – Lorenzo respondeu num tom gélido que fez meu estômago revirar.

– Vamos embora, Be – Daniel segurou minha mão e saímos dali o mais rápido possível.

Ele praticamente me arrastava pelo caminho, enquanto eu ainda olhava para trás, sentindo os olhos de Lorenzo cravados em mim. Era um olhar estranho, difícil de decifrar: uma mistura de ódio, curiosidade... talvez até algo mais. Aquilo me arrepiava por inteiro. Se estivesse sozinho, provavelmente teria saído correndo dali.

Mas, ao mesmo tempo... algo naquela cena me deixava intrigado. A música, as roupas, o clima quase ritualístico... Não era exatamente assustador. Era apenas diferente. Como se tivesse tropeçado numa parte esquecida de mim mesmo. E o jeito como Lorenzo me olhou? Parecia que ele enxergava algo que ninguém mais via — como se olhasse direto para dentro da minha dor.

...

Continua...

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Comentários

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Cada vez melhor. A cada capítulo você aborda mais temas diferentes e o leque de opções só aumenta fazendo disparar a nossa curiosidade e esperar ansiosamente a continuação. Obrigado.

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Nossa! Pior que eu entendo o Theo,mas espero que ele não faça coisas a qual vá se arrepender " o que é bem provável de acontecer". Sabia que Bernardo era safado mais a esse ponto? Imagine escutar de um otário (nick) que já " conseguiu o que queria de vc" como se fosse descartável? Mas infelizmente ele mesmo se presou a este papel... Só tou aqui imaginando como vai ser quando Daniel e Theo descobrirem. E essa seita maluca aí? Umh... esse conto só fica mais maluco e interessante.

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