O sol era um carrasco impiedoso. Castigava a terra, rachava o barro seco e fritava a pele de quem ousasse desafiá-lo. Lucas Mendes, porém, já era parte daquela paisagem. O sol não o queimava mais; tinha-o forjado. Cada músculo em seus braços e costas era um testamento de anos de trabalho bruto, de fardos de milho, cercas para consertar e gado para manejar. O suor que escorria por seu peito largo, descendo em rios salgados pelo abdômen definido pela força e não pela vaidade, era como uma segunda pele.
Ele ergueu mais um saco de sessenta quilos, o tecido áspero roçando em seu ombro nu. O esforço fez a veia de seu pescoço saltar, um mapa de pura potência masculina. Ele jogou o fardo na carroceria do caminhão velho com um baque surdo, o pó de milho subindo numa nuvem dourada que se agarrava à sua pele suada. Seus jeans, velhos e gastos, colavam em suas coxas grossas, e na frente, o volume pesado de seu pau descansava, uma promessa obscena e inegável, balançando com o ritmo de seu trabalho.
De longe, sob a sombra generosa da varanda da casa-grande, Caio Vasconcellos observava. Os olhos verdes, habituados à penumbra de apartamentos climatizados em São Paulo, semicerravam-se para focar na figura de Lucas. Um copo de uísque com gelo suava em sua mão, mas a secura estava em sua boca. Ele umedeceu os lábios, a ponta da língua traçando o contorno de sua boca bem desenhada.
“Porra… filho da puta. Como é que pode alguém suar desse jeito e ainda me deixar duro só de olhar?”, o pensamento arranhou sua mente, tão bruto e indesejado quanto a ereção que começava a forçar o tecido de sua calça de grife.
Caio era o oposto daquela cena. Sua pele era de um moreno claro que raramente via o sol sem um filtro de protetor fator 50. Seu corpo, definido em academias com ar-condicionado, era esteticamente perfeito, mas não possuía a densidade selvagem de Lucas. Era um corpo feito para ser admirado, não para o trabalho pesado. E naquele momento, tudo o que ele queria era profanar e ser profanado por aquele corpo rústico que se movia a cinquenta metros de distância. O foco de seu olhar desceu, impiedoso, para a mala que marcava o jeans de Lucas. Uma protuberância pesada, grossa, que parecia ter vida própria. Um animal adormecido.
Ele bebeu um gole do uísque, o álcool queimando sua garganta, mas não o suficiente para apagar o fogo que subia por seu baixo-ventre. Com um suspiro de irritação e desejo, ele deixou o copo na mesinha de vime e decidiu que a distância não era mais suficiente. Era hora de cutucar a fera.
Lucas sentiu a presença antes de vê-la. Era uma mudança sutil no ar, a substituição do cheiro de poeira e suor por uma nota cara de perfume amadeirado. Ele se virou lentamente, limpando o suor da testa com as costas da mão suja, e lá estava ele. Caio, o playboyzinho, o filho do patrão. Encostado no para-lama de sua caminhonete importada, braços cruzados, um sorriso de deboche no rosto.
“Já não te cansou viver cheirando bosta de boi, Lucão?” A voz de Caio era macia, quase sedosa, mas carregada de um veneno que Lucas conhecia bem. Era o veneno da superioridade, do desprezo disfarçado de brincadeira.
Lucas cerrou os dentes, o músculo de sua mandíbula saltando. O ódio era uma coisa familiar, um fogo antigo que ardia em seu peito sempre que Caio estava por perto. Um ódio que, para sua própria fúria, vinha sempre acompanhado de outra coisa. Uma pulsação baixa e quente em seu pau.
“E você? Ainda não cansou de viver às custas do papai, playboyzinho?” A resposta saiu ríspida, mais grossa que sua voz normal. Cada sílaba era uma pedra.
Caio riu, uma risada curta e sem humor. “Alguém tem que administrar o que homens como você constroem. É o círculo da vida, não acha?” Ele desencostou da caminhonete e começou a andar na direção de Lucas, lento, deliberado, como um predador que mede sua presa.
“Esse desgraçado…”, Lucas pensou, o coração batendo mais forte, uma mistura de raiva e uma antecipação doentia. “Eu devia era meter um murro na cara dele. Quebrar esse narizinho perfeito.” Mas outra imagem, mais suja e perturbadora, invadiu sua mente. “Ou… a pica. Porra, que raiva desse pau duro do caralho toda vez que ele chega.”
A ereção dentro de seu jeans respondeu ao pensamento, latejando com uma violência que o assustou. Era uma traição de seu próprio corpo. Ele odiava Caio. Odiava sua arrogância, seu privilégio, o jeito como ele olhava para tudo e todos como se fossem sua propriedade. E, acima de tudo, odiava o efeito que aquele desgraçado tinha sobre ele.
Caio parou a menos de um metro de distância. Perto o suficiente para que Lucas pudesse ver os cílios longos que emolduravam os olhos verdes, o brilho de malícia neles. Perto o suficiente para que o perfume dele entrasse em suas narinas e se misturasse ao seu próprio cheiro de suor e terra. A combinação era nauseante e, de alguma forma, inebriante.
“Você fede, sabia?”, Caio disse, o tom casual, mas o olhar fixo no peito nu e suado de Lucas. “Fede a trabalho. A sol. É um cheiro… animal.”
Lucas não respondeu. Apenas o encarou, a respiração presa na garganta. Ele sentia o sangue pulsando em suas veias, em suas têmporas, em seu pau. Cada nervo de seu corpo estava em alerta máximo.
Caio deu mais um passo, diminuindo o espaço entre eles a quase nada. Ele estendeu a mão, como se fosse tocar o peito de Lucas, mas parou no último segundo, os dedos pairando no ar. A tensão era elétrica, um campo de força crepitante. Então, com um movimento que era rápido demais para ser acidental e lento demais para ser inocente, Caio se virou para pegar uma ferramenta que estava sobre um fardo próximo. No processo, seu ombro esbarrou no de Lucas, e sua coxa roçou a lateral da perna dele.
Foi um toque mínimo, quase imperceptível. Mas para Lucas, foi como um ferro em brasa. Um choque elétrico que percorreu seu corpo inteiro e se concentrou em sua virilha. Ele arfou, um som baixo e gutural que morreu em sua garganta. Caio se endireitou, segurando a chave de fenda como se nada tivesse acontecido, mas Lucas viu. Viu o lampejo de triunfo nos olhos verdes. Viu o canto do lábio de Caio se curvar num sorriso quase invisível.
Ele sabia. O filho da puta sabia exatamente o que estava fazendo.
“Cuidado pra não se machucar, peão”, Caio disse, a voz cheia de uma falsa preocupação que era mais insultuosa que qualquer ofensa direta. Ele se afastou, caminhando de volta para sua caminhonete com a mesma calma predatória.
Lucas ficou parado, os punhos cerrados com tanta força que as unhas cravavam em suas palmas. Ele observou Caio entrar no veículo, ligar o motor que roncava com uma potência arrogante e partir, levantando uma nuvem de poeira vermelha.
Sozinho novamente, o silêncio do campo desabou sobre ele, quebrado apenas pelo zumbido das cigarras e pelo som de sua própria respiração ofegante. O ódio ainda estava lá, borbulhando como lava. Mas agora, a luxúria era mais forte. Seu pau estava dolorido dentro da calça, uma barra de ferro pulsante exigindo alívio. A raiva que sentia de Caio se misturou com a raiva que sentia de si mesmo, criando um coquetel tóxico e irresistível.
Ele olhou para os lados, garantindo que estava completamente só. O sol da tarde começava a baixar, pintando o céu com tons de laranja e roxo. O trabalho podia esperar. Aquilo não podia.
Com passos pesados e urgentes, ele caminhou até o velho galpão de ferramentas, um lugar que cheirava a óleo, graxa e madeira velha. A penumbra lá dentro era um alívio para seus olhos e para sua vergonha. Ele fechou a porta de madeira, o trinco enferrujado fazendo um som definitivo. Estava escuro, mas não o suficiente para esconder o volume furioso em sua calça.
Sua respiração era áspera. Cada inspiração trazia o cheiro do lugar, mas em sua mente, era o perfume caro de Caio que o sufocava. Ele se encostou na parede de tábuas, a madeira áspera arranhando suas costas nuas. Sem paciência para preliminares, ele abriu o botão e o zíper de seu jeans com uma urgência selvagem. O alívio quando seu pau foi libertado foi quase doloroso.
A tora de 21 centímetros, escura e grossa, saltou para fora, a cabeça latejante e úmida de pré-gozo. Era uma visão de pura masculinidade crua, um pedaço de carne que parecia ter vontade própria. E naquele momento, sua vontade era uma só: Caio.
“Filho da puta… playboy de merda…” ele sussurrou para o galpão vazio, as palavras um misto de xingamento e prece.
Sua mão grande e calosa envolveu o mastro de seu pau. A pele áspera contra a pele sensível era uma fricção que o levou ao limite instantaneamente. Ele fechou os olhos, mas a imagem de Caio estava gravada em suas pálpebras. O sorriso de escárnio, os olhos verdes cheios de malícia, o corpo perfeito que ele tanto desprezava e desejava.
Ele começou a se masturbar, o ritmo rápido, desesperado. Não havia ternura ou autodescoberta naquele ato. Era uma punição. Era um exorcismo. Ele estava tentando arrancar aquele desejo de dentro de si à força. Cada bombada era um soco que ele queria dar na cara de Caio. Cada gemido contido era um grito de frustração.
“Ah… porra… Caio…” o nome escapou de seus lábios num sussurro rouco, e odiou a si mesmo por dizê-lo. Odiava como o nome soava em sua boca. Odiava como a imagem do corpo de Caio nu, embaixo dele, se formava em sua mente. Caio, com aquele ar arrogante, sendo forçado a abrir a boca, a engolir cada centímetro daquele pau que ele fingia desprezar. Caio, com seus olhos verdes arregalados, não de escárnio, mas de puro prazer e submissão.
O pensamento foi tão vívido, tão poderoso, que seu corpo inteiro se contraiu. A base de seu pau latejou violentamente. O cheiro de seu próprio almíscar se misturou ao cheiro de óleo do galpão. Ele acelerou o ritmo, a mão subindo e descendo freneticamente, perseguindo um orgasmo que era tanto uma libertação quanto uma condenação.
Ele imaginou o toque de Caio. Não o esbarrão displicente, mas um toque real. As mãos macias do playboy em seu peito suado, os dedos traçando seus músculos, descendo por seu abdômen… a boca arrogante em seu pau. A imagem o quebrou.
Com um grunhido final, rouco e animalesco, ele gozou. Jatos grossos e quentes de porra explodiram de seu pau, sujando sua própria barriga e a parede de madeira escura do galpão. O esperma branco contrastava violentamente com a penumbra. Ele ficou ali, ofegante, a cabeça encostada na parede, o peito subindo e descendo. O prazer o deixou vazio, mas a raiva permaneceu, agora tingida de vergonha.
Ele olhou para a bagunça que havia feito. O cheiro de seu gozo pairava no ar, um testemunho de sua fraqueza. Ele se sentia sujo, não pelo suor ou pela terra, mas por aquele desejo que o acorrentava ao homem que ele mais odiava no mundo.
Limpou-se de qualquer jeito com um pano velho e gorduroso, ajeitou a calça e saiu do galpão, piscando contra a luz moribunda do fim de tarde. O ar lá fora parecia mais limpo, mas ele ainda se sentia contaminado por dentro.
A tensão não havia explodido. Ele apenas a alimentara. E ele sabia, com uma certeza aterrorizante, que aquilo era só o começo. O próximo encontro com Caio não terminaria com um esbarrão. A corda estava esticada ao máximo, e estava prestes a arrebentar.
O vapor enchia o banheiro da casa-grande, um santuário de mármore branco e metais cromados que parecia pertencer a outro universo, longe da poeira vermelha e do cheiro de curral. A água quente caía em cascata sobre os ombros largos e a pele clara de Caio Vasconcellos, escorrendo por seu peito definido e se perdendo na espuma que se acumulava em seu baixo-ventre. Mas a mente dele não estava ali, no luxo asséptico que o cercava. Estava lá fora, no calor brutal, com Lucas.
A imagem era tão nítida que ele podia quase sentir o cheiro. O cheiro de suor, de almíscar masculino, de trabalho duro. A visão de Lucas, com as costas curvadas sob o peso de um saco de ração, os músculos do braço se contraindo, a camiseta barata colada ao torso como uma segunda pele. E, acima de tudo, a imagem daquela mala pesada e grossa, forçando o tecido gasto do jeans, uma promessa violenta que fazia o próprio pau de Caio latejar em resposta.
Ele fechou os olhos, a cabeça tombada para trás sob o jato d’água. Sua mão, macia e bem-cuidada, envolveu sua própria rola, já dura e rosada. O toque era familiar, mas a fantasia era o que importava. Era sempre Lucas.
“Ah… Lucão…”, o nome saiu como um vapor junto com o da ducha. “Peão bruto do caralho…”
Sua mão deslizou para cima e para baixo, o ritmo lento, saboreando a construção do prazer. E com o prazer, vieram as memórias. Imagens que ele guardava como tesouros sujos, fragmentos de uma obsessão que vinha de muito antes.
Flashback. Catorze anos. O sol da tarde batendo na água barrenta do rio. Caio, escondido atrás de uma moita de guaviras, observava. Lucas, com seus dezesseis anos, a pele já bronzeada pelo trabalho, ria com outros garotos da fazenda. E então, num gesto de liberdade que fez o coração do jovem Caio tropeçar, Lucas arrancou a bermuda surrada e mergulhou na água. Nu. Caio prendeu a respiração. Viu as nádegas firmes, as costas largas, e quando Lucas se virou na água, viu pela primeira vez, sem o disfarce da roupa, o tamanho daquela pica escura, grossa, que balançava livre na água. Naquele dia, deitado na grama seca, com o cheiro do mato no nariz, Caio se tocou pela primeira vez pensando em outro homem. Pensando em Lucas.
O aperto em seu pau se intensificou. A memória era potente, um combustível para o desejo presente. Ele sempre fora assim. Enquanto seus amigos de colégio interno fantasiavam com modelos de revista, Caio sonhava com o cheiro de suor, com mãos calejadas, com corpos forjados pelo trabalho e não pela vaidade. Um fetiche pelo macho em seu estado mais puro, e Lucas era o arquétipo perfeito. A fantasia de uma vida inteira, sempre ali, ao alcance dos olhos, mas nunca ao alcance das mãos. O medo, a incerteza da reação, a barreira social que ele mesmo usava como arma, tudo isso o manteve à distância por anos.
Mas agora, algo havia mudado. Aquele breve confronto no dia anterior, o cheiro de Lucas misturado ao seu, o choque elétrico daquele toque… aquilo tinha quebrado alguma coisa dentro dele. A paciência.
“Chega de só olhar”, ele pensou, a voz de sua mente determinada e fria. Ele acelerou o ritmo da mão, a fantasia mudando do passado para o futuro. Lucas, não mais no rio, mas em sua cama. O corpo suado e sujo dele contra seus lençóis de mil fios. As mãos brutas dele em seu corpo. A boca dele, que só lhe dirigia insultos, sendo usada para outras coisas.
Com um gemido abafado que foi engolido pelo som da água, Caio gozou, o sêmen se misturando à espuma e escorrendo pelo ralo. Ele ficou parado por um momento, a respiração pesada, o corpo relaxado, mas a mente afiada. Aquele não era mais um desejo passivo. Era um plano. Lucas Mendes iria se render. Ele faria acontecer.
Mais tarde naquele dia, o sol ainda a pino, Caio encontrou seu alvo. Lucas estava consertando uma cerca perto do pasto, o suor já marcando suas costas, o martelo subindo e descendo com uma eficiência rítmica e hipnótica. Caio se aproximou por trás, silencioso, e parou a poucos passos, apenas observando. Cada martelada fazia os músculos do braço e das costas de Lucas se contraírem. O jeans, o mesmo de sempre, parecia ainda mais justo, a mala ainda mais proeminente.
Lucas sentiu a presença e parou, o martelo na mão. Ele não precisava se virar. Aquele perfume caro e irritante anunciava o visitante.
“Veio encher o saco de novo, patrãozinho?”, Lucas disse sem se virar, a voz carregada de sarcasmo.
“Admirando a sua… dedicação”, Caio respondeu, o tom de voz sacana, deslizando pelas palavras. Ele deu a volta, parando na frente de Lucas, bloqueando seu caminho. “Mas sabe, Lucão, esse serviço parece pesado demais pra um dia tão quente.”
Lucas o fuzilou com o olhar. “É o meu trabalho. Coisa que você não deve entender.”
Caio sorriu, um sorriso lento e predatório. “Eu entendo de muitas coisas. De investimento, por exemplo.” Ele deixou o olhar descer descaradamente pelo corpo de Lucas, parando na virilha. “E vejo muito potencial aí. Sendo desperdiçado.” Ele voltou a encarar os olhos de Lucas, a malícia brilhando. “Se cansar disso aí”, ele gesticulou para a cerca, “posso te dar um trampo melhor… lá no meu quarto.”
A proposta ficou no ar, pesada, explícita. O insulto era claro, mas a oferta era real. Lucas sentiu o sangue subir ao rosto, uma onda de fúria e… outra coisa. Uma faísca de excitação suja. A audácia do filho da puta era inacreditável.
“Vai tomar no cu, Caio”, a resposta veio como um rosnado. “E enfia a proposta junto.”
Caio riu, sem se abalar. “É uma oferta permanente. Pensa bem. Gosto de recompensar um bom trabalho.”
Antes que Lucas pudesse responder, Caio agiu. Num movimento rápido, ele tirou o chapéu de palha da cabeça de Lucas. Foi um gesto de posse, de desrespeito. Lucas se enrijeceu, pronto para reagir, mas Caio apenas olhou o chapéu, como se o avaliasse.
“Velho, hein? Meu pai precisa te dar um material melhor.” E então, ao devolver o chapéu, ele não apenas o colocou na cabeça de Lucas. Ele deixou sua mão pousar no cabelo suado por um instante, e então descer, os dedos roçando a nuca, e a palma da mão se apoiando no ombro musculoso. Um toque firme, que durou um segundo a mais que o necessário.
O corpo de Lucas o traiu instantaneamente. Ele sentiu o pau pulsar dentro da calça, uma onda de calor que o deixou tonto. Odiava aquilo. Odiava a reação, odiava a sensação da mão macia de Caio em sua pele, odiava, acima de tudo, que uma parte dele gostou daquele toque dominante. Ele se afastou com um tranco, como se tivesse sido queimado.
“Não me toca, porra”, ele disse, a voz rouca.
Caio apenas levantou as mãos em falsa rendição, o sorriso nunca deixando seu rosto. “Calma, peão. Só estava sendo… amigável.” Ele piscou. “Te vejo mais tarde.”
E se foi, deixando Lucas com o coração batendo descontrolado no peito, o cheiro de Caio em sua pele e uma ereção teimosa que se recusava a ceder. Ele se encostou na cerca, a respiração ofegante.
“Caralho…”, ele sussurrou para o nada. “Vou acabar fodendo esse desgraçado. Literalmente.”
A frase ecoou em sua mente. Não era mais um pensamento de raiva, mas de constatação. Uma aceitação aterrorizante de que ele estava perdendo aquela guerra. Cada provocação, cada toque, cada olhar de Caio era um tijolo a menos em seu muro de resistência. E o que mais o assustava era a pequena parte dele que queria ver aquele muro desmoronar por completo.
Naquela noite, a notícia se espalhou pela fazenda. Haveria uma festa na cidade vizinha, a tradicional festa da padroeira. Música, bebida, gente. Uma distração bem-vinda. Lucas pensou em ir, beber umas cachaças, talvez encontrar alguma garota e esquecer o inferno que Caio Vasconcellos havia instalado em sua vida.
Enquanto tomava um banho frio no banheiro rústico de sua pequena casa, a imagem do toque de Caio voltou. A sensação da mão dele em seu ombro. Ele olhou para baixo, para o próprio pau semi-ereto, e sentiu uma onda de confusão e excitação.
Do outro lado da propriedade, na varanda da casa-grande, Caio bebia outro uísque, observando as luzes da casa de Lucas se acenderem na escuridão. Um sorriso satisfeito brincava em seus lábios. Ele também iria à festa. E tinha a sensação de que aquela noite, longe dos limites da fazenda, seria a noite em que seu peão finalmente entenderia quem estava no comando. A caçada estava prestes a mudar de território.
A noite de sábado tinha um som e um cheiro específicos. O som era o baque surdo e repetitivo do sertanejo universitário, escapando dos alto-falantes de uma estrutura montada às pressas no parque de exposições. O cheiro era uma mistura de cerveja barata, espetinho de carne gordurosa e o perfume doce e floral das mulheres que circulavam em bandos. Era o ápice da vida social da cidade, um ritual de acasalamento barulhento e iluminado por luzes de neon.
No centro de um desses rituais, como um rei em sua corte improvisada, estava Caio Vasconcellos. Um círculo de pessoas o rodeava, rindo alto demais de suas piadas sem graça. Eram os puxa-sacos de sempre, filhos de outros fazendeiros ou gerentes de banco, todos orbitando o poder que o sobrenome Vasconcellos carregava. E havia as mulheres, os corpos bronzeados e as roupas curtas, os olhos brilhando com uma cobiça mal disfarçada, não por ele, mas pelo que ele representava: hectares, gado, uma vida fácil. Caio sorria, bebia sua cerveja e representava seu papel, mas seus olhos verdes varriam a multidão com uma impaciência predatória. Ele estava caçando.
Do outro lado do pátio lotado, Lucas Mendes tentava, com um esforço patético, fazer exatamente o oposto: se esconder. Ele estava encostado numa grade de metal com uma garrafa de cerveja suando na mão e uma garota chamada Aline falando sem parar ao seu lado. Ela era bonita, com longos cabelos pretos e um sorriso fácil, e em qualquer outra noite, Lucas talvez estivesse interessado. Mas não naquela. Sua mente era um território ocupado. Cada risada que ele dava era forçada, cada aceno de cabeça era mecânico. Seus olhos, contra sua própria vontade, eram puxados como ímãs na direção do grupo barulhento onde o playboy de merda reinava. Ele via a postura arrogante de Caio, o jeito como ele inclinava a cabeça para ouvir alguma vadia sussurrar em seu ouvido, e sentia o gosto amargo do ódio e da inveja em sua boca. Um ódio que era tão entrelaçado com o desejo que ele já não sabia onde um começava e o outro terminava.
Então, o olhar de Caio encontrou o seu por cima das cabeças da multidão. Foi apenas um segundo, mas foi o suficiente. Um reconhecimento, uma promessa silenciosa. O sorriso de Caio se alargou, mas não alcançou os olhos. Havia algo perigoso ali. Lucas desviou o olhar rapidamente, o coração martelando contra as costelas. Ele se forçou a prestar atenção em Aline, a rir de algo que ela disse, a deixar que ela tocasse seu braço. Um ato de rebeldia inútil.
A rebeldia, no entanto, foi o gatilho.
Do outro lado, Caio viu. Viu a mão da garota no braço de seu peão. Viu o sorriso forçado no rosto de Lucas. E uma onda de calor subiu por seu pescoço, tão intensa e súbita que o fez cerrar o punho em volta de sua garrafa. Era ciúme. Um ciúme primitivo, possessivo e feio.
“Filho da puta…”, o pensamento veio, bruto, sem filtro. “Queria era tá no lugar dela, comendo aquele peito suado, mordendo aquele pescoço…” Ele imaginou a si mesmo empurrando a garota para o lado, agarrando Lucas pela nuca e tomando aquela boca que o desafiava. A fantasia era tão forte que ele sentiu o pau pulsar dentro da calça jeans cara.
Chega. O jogo de olhares e toques acidentais havia acabado.
“Com licença”, ele disse para seu séquito, a voz subitamente fria, e começou a se mover. Ele não abriu caminho; a multidão se abriu para ele, como o mar se abrindo para um tubarão. Seu foco era total, sua trajetória, uma linha reta na direção de Lucas.
Lucas o viu chegando. O pânico e a excitação se misturaram em seu estômago. “Merda, merda, merda.”
“Aline, eu já volto”, ele disse, abruptamente, e se afastou dela, tentando se perder na multidão, mas era tarde demais.
Uma mão agarrou seu braço com uma força que não deixava dúvidas. “Onde pensa que vai, Lucão?”
A voz de Caio era baixa, um rosnado perigoso ao lado de seu ouvido, quase inaudível por cima da música. Lucas se virou, o rosto a centímetros do de Caio. Os olhos verdes queimavam. O cheiro de uísque e perfume caro o envolveu.
“Me solta, Caio”, Lucas sibilou, tentando puxar o braço, mas o aperto era de ferro.
“Vamos conversar.” Não era um pedido.
Caio o arrastou, sem delicadeza, para longe do centro da festa, para a escuridão atrás da estrutura do palco. Ali, o som da música era abafado, e o cheiro era de grama pisada e urina. Estavam sozinhos.
“Que porra você quer?”, Lucas explodiu, finalmente soltando o braço.
“Quero que pare de fingir.” Caio deu um passo à frente, invadindo seu espaço pessoal, encurralando-o contra uma pilha de caixas de som. “Sei que tu só tá com essa aí pra fingir que não pensa em mim, Lucão.”
A acusação era tão precisa que roubou o ar de Lucas por um segundo. A verdade era uma faca afiada. “Vai se foder, playboy de merda.” Foi a única defesa que lhe restou, o insulto familiar, sua armadura gasta.
O sorriso de Caio era cruel. “Sua boca diz uma coisa”, ele sussurrou, o olhar descendo para os lábios de Lucas, “mas seu pau duro dentro dessa calça conta outra história, não é?”
Lucas engoliu em seco. Ele podia sentir. Podia sentir a pulsação quente em sua virilha, a traição de seu próprio corpo.
“Deixa eu te mostrar o que tu quer de verdade.”
E então não houve mais palavras. A mão de Caio subiu rápida, segurando a nuca de Lucas com a mesma força possessiva com que o arrastara. A outra mão agarrou sua cintura, puxando-o para um choque de corpos. E então a boca de Caio esmagou a sua.
Foi um beijo bruto. Um ataque. Não havia nada de gentil ou hesitante. Era a colisão de meses de tensão, raiva e desejo reprimido. A língua de Caio forçou a passagem, invadindo a boca de Lucas com uma certeza absoluta. Tinha gosto de uísque, de arrogância e de uma necessidade avassaladora. Lucas resistiu por um instante, os punhos cerrados, mas o contato, a fricção, o calor, tudo conspirou para dissolver sua raiva em pura luxúria.
Sua mão subiu e agarrou a camisa de Caio, não para empurrá-lo, mas para se segurar. Ele respondeu ao beijo, a própria língua se entrelaçando com a de Caio numa batalha feroz. Era sujo, desesperado. Caio mordeu seu lábio inferior, com força suficiente para arrancar um gemido abafado de Lucas, um som que era parte dor, parte prazer extasiado.
A pegada de Caio em sua cintura se apertou, o quadril dele se pressionando contra o de Lucas, e não havia como negar a ereção dura que roçava a sua através do tecido do jeans. Estavam ambos duros como pedra, a prova irrefutável daquela verdade suja entre eles.
Tão subitamente quanto começou, o beijo parou. Caio se afastou, apenas o suficiente para que pudessem respirar. Suas testas estavam quase se tocando. A respiração de ambos era ofegante, nuvens de vapor na noite fria. Olhos nos olhos, não havia mais sarcasmo ou ódio. Apenas a verdade nua e crua. O choque do que haviam feito e a fome avassaladora por mais.
Lucas podia sentir o cheiro de seu próprio suor misturado ao perfume de Caio. Podia sentir o sangue pulsando em seu pau, em seus lábios inchados pela mordida. Estava perdido.
Caio sorriu, mas desta vez era um sorriso diferente. Um sorriso de vitória, mas também de cumplicidade. Ele se inclinou, a boca roçando a orelha de Lucas, a voz um sussurro rouco que incendiou cada nervo de seu corpo.
“Amanhã. Casa de selas. Ao meio-dia. Só nós dois.”
Era uma ordem disfarçada de convite. Um ultimato. O palco estava montado para o ato final.
Lucas hesitou. Uma última centelha de orgulho, de resistência, lutou dentro dele. Ele deveria empurrá-lo, xingá-lo, ir embora e nunca mais olhar para trás. Ele deveria… mas não conseguia. A imagem da casa de selas, o cheiro de couro, Caio, ele mesmo… a imagem era forte demais. O tesão era uma maré que afogava todas as outras sensações. Já havia vencido.
Ele não disse nada. Não precisava. O leve tremor de seu corpo, o jeito como seu olhar não conseguia se desviar dos lábios de Caio, tudo era uma resposta.
Caio pareceu entender. Ele deu um último aperto na nuca de Lucas, um gesto de posse final, e se afastou, desaparecendo de volta na escuridão em direção às luzes da festa.
Lucas ficou ali, encostado nas caixas de som, tremendo. Ele levou a mão aos lábios. Ainda podia sentir o gosto de Caio. O gosto de rendição. Sua rendição. A guerra tinha acabado. E ele tinha perdido. Ou talvez, só talvez, tivesse acabado de ganhar exatamente o que mais desejava.
A madrugada na fazenda tinha uma quietude quase sagrada. O céu, um veludo negro salpicado de estrelas, começava a clarear no horizonte, um roxo tímido anunciando um dia que ainda não nascera. O ar era frio e carregado com o cheiro de orvalho na grama, terra úmida e o odor masculino e reconfortante de couro velho. Esse era o cheiro da casa de selas.
Lá dentro, na penumbra cortada apenas por frestas de luar, Caio esperava. A camisa de linho estava aberta, revelando o peito definido, e sua respiração formava pequenas nuvens no ar frio. Ele não sentia o frio. Uma febre interna o consumia, uma antecipação tão intensa que era quase dolorosa. Sua calça jeans cara parecia pequena demais, a costura forçada pela ereção grossa que latejava a cada batida de seu coração. Ele não aguentara esperar até o meio-dia. A necessidade era imediata, uma fome que o tirara da cama e o levara até ali, o território de Lucas.
Então, um som. A porta de madeira pesada rangeu. Uma silhueta escura preencheu o vão, bloqueando a pouca luz. Lucas.
Ele entrou e fechou a porta atrás de si, mergulhando-os numa intimidade quase total. Ficaram parados, a uns cinco metros um do outro, apenas se encarando na escuridão. O silêncio era pesado, carregado com tudo o que não fora dito, com anos de olhares, com a violência do beijo da noite anterior. Não havia mais insultos a serem trocados, nem provocações. A hora do jogo havia passado. Agora era a hora do acerto de contas.
Com um acordo mudo, eles se moveram ao mesmo tempo.
A colisão foi uma explosão. Peito contra peito, boca contra boca. Foi um beijo selvagem, mais uma batalha que um carinho. Dentes se chocaram, línguas se enroscaram numa dança desesperada. As mãos de Lucas foram para a nuca de Caio, os dedos se enterrando em seu cabelo, puxando-o para mais perto. As mãos de Caio rasgaram os botões da camisa de Lucas, o som dos botões saltando se perdendo nos gemidos e arfares.
A boca de Caio abandonou a de Lucas e desceu, faminta, pelo maxilar, pelo pescoço, mordendo e lambendo a pele suada no cangote. Lucas arfou, a cabeça jogada para trás, entregando-se àquele ataque sensorial. O cheiro um do outro era inebriante, suor, perfume caro, desejo puro.
Caio afastou a camisa rasgada dos ombros de Lucas, expondo o peitoral largo e forte. Ele pressionou seu rosto ali, inalando, beijando. Lucas o agarrou pelos cabelos, a respiração ofegante, o pau uma barra de ferro dolorida contra a barriga de Caio.
E então, num movimento que quebrou todas as regras do jogo que haviam jogado até então, Caio se ajoelhou.
O arrogante, o provocador, o playboy. De joelhos no chão de terra batida da casa de selas, olhando para cima com uma veneração aterrorizante nos olhos verdes. Lucas ficou paralisado, chocado. A mão de Caio, trêmula de desejo, foi até o zíper de sua calça. Com uma urgência febril, ele o abriu, puxando o jeans para baixo junto com a cueca.
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