É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. – Livro de Marcos, Capítulo 9.
Ao longo da minha criação a religião foi um grande fator que permeou minha vida. Ela se desdobrou em diferentes âmbitos hora me impedindo de fazer mais, hora como uma barreira que eu tinha o prazer de transpor e deixar para trás. Muitos desses momentos de transposição vinham através do olhar. O olhar desejoso, que quer, tem vontade. Meu olhar por vezes queria algo que eu não podia ter, mas era através dele que eu experimentava de longe aquilo que não podia tocar e dava vazão a uma imaginação de imagens, histórias e experiências que não podia viver.
Até que, em meio a olhares, conheci o Pedro. Fazíamos parte do mesmo círculo de amizades, que era formado em grande parte pelo fio da religião. Estávamos nos mesmos lugares, falávamos relativamente das mesmas coisas, tínhamos uma diferença de um ano de idade e nos aproximamos inevitavelmente por tudo que tínhamos em comum (e pelo que não tínhamos também).
Pedro era do tipo que participava de tudo com poucas palavras. Gostava do seu próprio espaço, não gostava de lugares cheios e tendia a ficar no próprio canto. Isso foi uma das coisas que acabou fazendo com que nos aproximássemos, eu também não era muito fã de multidões e os espaços religiosos acabam sendo cheios delas. Então nós nos afastávamos. Na surdina íamos para um canto que virou nosso e conversávamos sobre a vida.
Nós dois gostávamos de jogos então falávamos muito deles. Eu não gostava muito de futebol mas ele sim, então ouvia enquanto ele falava. Ele não gostava muito de livros, mas eu sim e ele ouvia enquanto eu falava. E assim nossa amizade foi tomando contornos mais sólidos. De conversas no canto, passamos a fazer mais coisas juntos, passar mais tempo juntos, voltar a pé para nossas casas que eram na mesma rua e, eventualmente, dormir na casa um do outro. Jogávamos videogame e conversa fora noite a dentro e foi aí que descobrimos muita coisa um sobre o outro. Relações com a família, sonhos para o futuro, coisas favoritas.
Entre essas coisas, como é comum da idade, acabamos descobrindo sobre os desejos um do outro. Pedro gostava de Amanda, eu não gostava de ninguém, mas era legal ouvir ele falar sobre um futuro completamente idealizado (e infectado pelo ideal de futuro pregado pela igreja) com essa menina com quem ele nem tinha conversado tanto assim. Ele falava muito sobre outro grupo de amigos que tinha. Sempre que esse era o assunto, ele acabava falando sobre uma garota que era afim dele e como ela fazia de tudo para ficar grudada nele.
Ele não gostava dela do mesmo jeito, mas gostava da atenção que ela dava. Gostava de sentir ela sentada no colo dele e de como ela passava a mão por baixo da blusa dele para sentir o corpo.
— Nem tenho tanquinho. Não tem muita coisa pra sentir, mas ela gosta.
E a gente gostava também. Gostava de falar sobre e de sentir as reações que aquele cenário tão bobo gerava no nosso corpo. Especialmente quando as coisas ficavam quentes. Pedro já tinha ficado com ela e falou que enquanto eles se beijavam ela tinha pegado no pau dele, massageado com vontade, e falou aquilo enquanto fazia o mesmo movimento que ela. Quando a conversa ia para esse lado era inevitável que a gente falasse sobre sexo e mais inevitável ainda que ficássemos duros e era impossível, apesar das tentativas, esconder o volume nos shorts geralmente finos e desacompanhados de uma cueca (outra coisa que descobrimos um sobre o outro era que gostávamos de ficar sem cueca e passamos a fazer isso sempre que estávamos juntos).
No começo era um pouco constrangedor falar daquilo e era mais constrangedor porque sabíamos que estávamos excitados. Tentávamos esconder nossa dureza como se ela fosse motivo de vergonha. Conforme o tempo foi passado e fomos voltando ao tópico cada vez mais, a transgressão aumentou e o constrangimento foi cedendo lugar ao conforto. Não tentávamos mais esconder que estávamos excitados e deixávamos os volumes a plena mostra sem vergonha do outro ver que os shorts estavam com um relevo nem um pouco sutil. Agora, ao invés de esconder fazíamos questão de mostrar. Às vezes eu pulsava meu pau por baixo do short quando sabia que ele estava olhando e aquelas mexidas para ajustar e deixar a coisa menos visível deram lugar a carícias sem vergonha e provocativas.
Havia ali mais do que a fantasia do sexo, a ação do toque e o desejo de explorar com pessoas reais e imaginárias toda sorte de safadeza que nossas mentes com tesão pudessem imaginar. Acho que se fosse só a conversa a reação seria mais tranquila, mas quando conversávamos era palpável o tesão no ar, o desejo reprimido na fala e a vontade de fazer tudo o que não tínhamos a liberdade de fazer seja porque não tínhamos oportunidade, não sabíamos como ou nos sentíamos culpados demais para tentar. O que tínhamos era a cumplicidade de entender que não estávamos sozinhos nesses desejos e anseios, que outro além de nós estava pensando nas mesmas coisas e querendo as mesmas coisas. Apesar de o sexo ser considerado tabu e pecado, ainda pensávamos sobre e não éramos os únicos. É claro que já sabíamos disso, mas viver era diferente.
E uma vez que o assunto foi trazido à tona, foi impossível se desfazer dele. Passamos a compartilhar de tudo. Falamos de fantasias, punheta, pornô e tudo isso descamisados numa cama ou num sofá, com os paus duros e latejando por baixo dos shorts. Era gostoso, um momento de intimidade e cumplicidade que passava limites religiosos. Uma cumplicidade física se criou na qual passamos a nos sentir mais à vontade de ficar com pouca roupa perto um do outro. Dividíamos a mesma cama de casal na hora de dormir, e dormir só de cueca não era um problema. Acordar com o pau duro também não e a ereção se tornou como um despertador que nos contava que podíamos falar de sexo e putaria que o outro engajaria e renderia o assunto.
Depois desse tempo veio, numa tarde ensolarada na qual caminhávamos para encontrar nossos amigos, uma pergunta:
— Já mediu seu pau?
— Não. Você já?
— Também não. Quer medir?
— Agora?
— Não. Nem tem fita aqui pra medir. Mas aposto que o meu é maior.
— Sei não. O meu é grandinho.
— Vamos combinar o seguinte, vou viajar e volto segunda. Vai lá em casa de tarde e a gente mede e compara.
— Beleza.
Por quatro dias fiquei esperando o dia do retorno do Pedro para podermos comparar o tamanho dos nossos paus. Ambos já tínhamos visto toda sorte de pintos pelos pornôs que sabíamos assistir sozinhos mas nunca tínhamos visto o pau um do outro (e nem visto pornô juntos, por incrível que pareça). No momento da sugestão de comparar criou-se em nossas cabeças, se isso já não existia antes, a curiosidade de ver o pinto um do outro. Eu nunca tinha pensado nisso até aquele ponto, mas depois de marcado o compromisso fiquei imaginando como seria o pau do meu amigo.
É claro que eu já tinha visto o contorno dele já que estávamos mostrando nossas ereções sem pudor agora. Sabia que era um pau longo e, pela forma como o Pedro pegava nele, sabia que ele tinha um saco grande também. Ficar aqueles quatro dias na expectativa de finalmente tirar a única peça de roupa que ainda faltava para que a nudez se instalasse completamente entre nós me deixou ansioso.
Depois de uma longa espera a segunda-feira chegou, a tarde veio e eu fui até a casa do Pedro. Ele me atendeu sem camisa e com o costumeiro short azul do futebol. Eu já sabia que por baixo dele não tinha cueca e também já tinha ido do mesmo jeito. O motivo da visita estava dito no silêncio inicial entre nós e na conversa que veio depois. Ele me contou da viagem, eu contei do que tinha feito nos últimos dias. Ele falou que a mãe estava fora o dia todo e eu falei que isso era bom, teríamos o espaço só para nós. A cada palavra dita convidávamos o outro a criar coragem para falar o que queríamos fazer de verdade mas, apesar da intimidade e da agora habitual falta de pudor, ainda havia uma vergonha em assumir nosso desejo.
Então decidimos ir jogar videogame no quarto dele. Aquele lugar que tinha sido nosso refúgio particular durante os últimos meses e convidava a safadeza no momento em que estávamos só os dois entre aquelas paredes. Lembro que tirei a camisa assim que entrei no quarto, como se a pouca roupa fosse um código de vestimenta local. Nos jogamos na cama e colocamos um daqueles jogos de luta divertidos e que têm um seleto elenco feminino que sempre usa pouca roupa.
Eu e Pedro nos revezamos em pegar uma dessas por luta. Começamos a comentar sobre elas, coisas bobas do tipo “quem você ia preferir foder?”, “olha o peitão dela!”, “será que ela tá de calcinha?”, entre outras coisas permearam a nossa diversão naquela tarde. As risadas entremeadas por comentários picantes me excitavam mais do que as figuras sensuais na tela. Olhar para o lado e ver meu amigo empolgado, com as costas nuas e rindo de um comentário que eu tinha feito me excitava. Eu sentia o calor humano de estar perto dele e sabia que ele sentia o mesmo calor que eu. Já tínhamos arrancado todas as peças de roupa que podíamos, mas não todas que queríamos. E então, depois de uma sessão na qual ambos pegamos mulheres gostosas para jogar e fizemos comentários mais apimentados do que o geral, veio a sugestão:
— Vamos medir?
— Vamos. Tem fita?
— Não.
— Porra!
Ambos rimos e decidimos então ficar só na comparação. Mediríamos com os olhos e veríamos quem era o maior. Estávamos ambos deitados de bruços e então, sem cerimônia, nos colocamos sentados revelando o volume nos shorts.
— Tá duro aí, mano.
— Olha quem fala!
— Quer assistir alguma coisa?
Não era necessário assistir nada para manter a ereção. A excitação e tesão do momento eram suficientes para nós dois, mas era como se o pornô fosse a desculpa de que precisávamos para selar nosso segredo. Então Pedro trocou do videogame para a TV a cabo, onde tinha aqueles canais que passavam pornô 24 horas. A mãe dele não sabia que ele sabia a senha e ele já havia comentado várias vezes sobre fazendo convites velados e explícitos sobre como curtiria ver pornô comigo. Ele colocou em qualquer canal, sem escolher muito, até porque o foco não era o que estava passando na televisão.
Os sons da mulher gemendo e engasgando num pau enorme invadiram o quarto bem baixinho. Eu e Pedro nos encaramos por um momento, ambos massageando os paus sem saber bem o que fazer.
— A gente conta?
— Pra que?
Eu tomei a iniciativa e arranquei meus shorts sem decoro. Meu pau bateu na minha barriga e menos de um segundo depois o Pedro fez o mesmo, o dele fazendo o mesmo barulho de pele com pele. Ficamos nos encarando, os dois completamente nus, os paus inchados apontando um para o outro.
O dele era torto para a esquerda, o meu era torto para cima. O meu era mais peludo que o dele mas ele tinha um saco bem maior que deixava as bolas penduradas e balançando. Ambos éramos não circuncidados e ambos tínhamos paus veiúdos. Os dois acumulavam baba na ponta das cabeças cobertas.
Essa foi a primeira coisa que eu vi. Acho que foi a primeira que ambos vimos porque era o que queríamos ver, mas logo depois veio a percepção de que estávamos ali completamente pelados. Não havia mais pedaço de corpo que se escondesse entre nós e durante alguns segundos saboreamos aquela percepção olhando para o corpo um do outro. Pedro era mais franzino e eu mais gordinho, meus braços e coxas eram maiores e mais grossos que os dele, meu peitoral maior. Eu tinha a coxa e a bunda cobertas por uma camada não muito grossa de pelo preto, da mesma cor do meu cabelo. Pedro era completamente liso com exceção do pênis completamente coberto por um arbusto de pelos pretos e grossos.
Eu via o corpo branco do Pedro reagir à nudez compartilhada. Tenho certeza que ambos sentimos o mesmo calafrio, o mesmo nervosismo e o mesmo tesão. Não necessariamente um pelo outro, mas pelo momento e pela partilha dos nossos corpos naquele segredo que com certeza guardaríamos bem escondido dos outros. Era o início de uma cumplicidade que abrira uma porta que não seria mais fechada na nossa amizade.
Ali o verdadeiro propósito daquele momento tomou forma. Era mais do que comparar o tamanho do pau, até porque isso não tinha passado pela nossa cabeça nos breves segundos nos quais nos olhamos com curiosidade. O que a gente queria era só ficar pelado na frente um do outro e poder desfrutar dos nossos corpos em plena liberdade e matando a curiosidade de como seria ver outro cara pelado e duro também.
— O meu é maior.
— O meu é mais grosso.
Ficamos em pé lado a lado, as bundas também à mostra para comparar melhor. Ambos forçando os quadris para frente para parecer maior e ambos rindo disso. Quando finalmente fomos levar a medida à sério constatamos que estávamos certos. Ele era maior e eu era mais grosso. Ele era sacudo e eu nem tanto. Mas ambos éramos peludos e babões e isso estava bem claro por motivos óbvios.
Não comentamos muito mais sobre nossos paus. O olhar já preenchia tudo o que a gente queria naquele momento, inclusive a possibilidade de olhar para a tela e bater uma punheta. Ficamos ali em pé e pela primeira vez compartilhamos e observamos a masturbação um do outro. O momento era gostoso e ao mesmo tempo tenso.
Olhávamos mais para a tela mas ambos roubávamos uma olhada ou outra para a ação da mão do outro. Eu pegava firme ao redor do meu pau enquanto engolia a seco e sentia meu corpo esquentar. Via de soslaio que o Pedro fazia o mesmo mas massageava o saco de vez em quando. Foi uma punheta silenciosa a não ser pelos gemidos bem expressivos da atriz e do ator que transavam na tela. Ainda íamos descobrir que verbalizar o tesão durante a punheta compartilhada torna ela mais gostosa, mas uma coisa de cada vez.
— Vou terminar lá no banheiro.
Ele foi sem cerimônia e me deixou ali me masturbando sozinho. Confesso que o menos importante naquele momento era o filme na tv. O que me deixava excitado de verdade, que estava fazendo a baba do meu pau cobrir os meus dedos era pensar de novo e de novo na visão do meu amigo pelado e duro na minha frente. Acelerei o movimento de vai e vem, a pele do meu pau cobrindo e descobrindo a cabeça lustrosa. Pensei naquele momento que queria estar no banheiro com o Pedro para compartilharmos o ápice do prazer juntos também. Mas uma coisa de cada vez. Ele saiu do banheiro ainda pelado mas agora mole. Não precisou dizer nada para eu saber que era a minha vez de terminar.
Entrei no banheiro e fechei a porta sem parar de me masturbar por um segundo. Não demorou muito até sentir que ia gozar. Continuei e quando estava prestes a soltar os jatos, fechei a pele em volta da cabeça do meu pau e senti enquanto jato após jato ficava preso por baixo dela. Um arrepio de completo prazer percorreu o meu corpo e lembro de ter fechado os olhos. Fiquei ali alguns segundos, sentei no vaso e deixei a porra escorrer para dentro dele enquanto me limpava.
Com isso veio a claridade. Uma culpa enorme me pegou desprevenido porque até aquele momento eu estava completamente dominado pela curiosidade e pelo prazer. Foi ruim sentir que tudo aquilo que eu tinha feito nos últimos minutos, não, nas últimas horas, desde a conversa picante até o momento da gozada era errado. Quando eu saí do banheiro, também pelado e também amolecido, Pedro estava de short e camisa. Logo fiz o mesmo e ficamos em silêncio sem comentar o que havia acontecido.
Mas por dentro estávamos cheios de sentimentos. Eu pelo menos sabia que aquilo tinha sido gostoso, mas havia sido ensinado que aquele gostoso era errado então não poderia se repetir. Ao mesmo tempo eu queria muito que se repetisse. Estava com vergonha de perguntar ao Pedro se ele estava se sentindo da mesma forma então não o fiz. Ficamos em silêncio até quebrarmos ele para falar de outra coisa completamente diferente e, aos poucos, aquele episódio foi ficando para trás no tempo mas não menos vivo na nossa cabeça.
Lembro que quando cheguei em casa naquela segunda já tinha me livrado da culpa o suficiente para me masturbar de novo pensando naquela tarde. Gozei pensando na intimidade com o meu amigo, no pornô e, acima de tudo, no corpo dele e no meu em sintonia naquele momento de prazer. Mal sabia eu que depois daquele dia a culpa seria uma visitante constante porque nem eu nem Pedro estávamos dispostos a deixar o prazer do tesão compartilhado nos impedir de fazer aquilo tudo de novo.