Parte 1
O sábado amanheceu silencioso. Luiza despertou com a luz natural atravessando a janela do apartamento, espreguiçando-se devagar. Ainda nua, caminhou até o banheiro, onde deu início à sua rotina: banho, escovar os dentes e — já com mais naturalidade — a chuca. Já era parte de si, como quem se preparava para algo que talvez nem compreendesse por completo, mas sabia ser necessário.
Depois, ao abrir a gaveta, escolheu uma calcinha de algodão macio, branca com estampas delicadas de cerejinhas. “Confortável, mas ainda assim… sexy”, pensou com um leve sorriso envergonhado, ao vesti-la por baixo da roupa casual: jeans escuro, camiseta preta e tênis. De aparência neutra, masculina, como se fosse apenas o “Luiz” de sempre. Mas por dentro, tudo era outra coisa.
O celular vibrou com uma mensagem de Aline:
> “Bom dia, mulherzinha. Desce agora. Café da manhã te esperando. Hoje é dia de compras — e o seu homem tá pagando tudo 💋”
Luiza sentiu o estômago virar. Quase riu, quase respondeu que era exagero, mas no fundo… amava ser mimada assim. E odiava admitir.
Desceu de elevador até o apartamento de Aline e Júlia. Assim que entrou, sentiu o cheiro de café fresco e pão quentinho. Júlio já estava pronto, com jeans escuro, camiseta preta colada ao corpo e os longos cabelos presos para trás de forma discreta. Aline, por sua vez, usava um vestido leve de verão, com decote sutil e sandálias de salto. Os seios, sem sutiã, marcavam presença com elegância e provocação. Luiza não pôde evitar olhar, engolindo seco.
— Até que enfim, dorminhoca. — Aline provocou com um sorriso debochado. — Hoje você vai provar como toda mulher adora ganhar presente… ainda mais quando é o macho quem paga.
Luiza sentou-se à mesa sem comentar, mas o “macho” ecoou dentro dela como um disparo. Um arrepio percorreu seu corpo. Imaginou Roberto pagando por tudo. Por ela. A calcinha roçando na pele recém-depilada fez seu corpo estremecer levemente. Pensamento baixo, sujo, mas inevitável.
Após o café, antes de saírem, Aline entregou um salto da Júlia para que Luiza experimentasse rapidamente. E como esperavam, o número serviu perfeitamente. Aline sorriu, satisfeita.
— Isso vai facilitar muito. Já sei exatamente quais lojas quero passar hoje.
Na rua, seguiram a pé até a região das boutiques. A cidade ainda acordava aos poucos. Luiza caminhava entre os dois, quase tímida, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, escondendo o quanto estava ansiosa.
Entraram na primeira loja, especializada em calçados femininos. A vitrine exibia modelos ousados: scarpins de verniz, sandálias com tiras finas, botas de salto agulha.
Enquanto Aline já era recebida pela vendedora com beijos no rosto — uma morena alegre chamada Cléo —, Júlia pareceu congelar por um instante. Seus olhos se fixaram em algo mais à frente.
Luiza seguiu seu olhar. Próximo aos provadores, uma mulher elegante conversava com uma amiga. Vestido azul de alfaiataria, salto fino, cabelos escovados, maquiagem perfeita. Isabela. Aline a viu também. Seus olhos brilharam com malícia, e ela se virou para Júlia, sussurrando com doçura ameaçadora:
— Lembra do que eu disse, né, amor? Que um dia ia chegar a sua hora? Pois é… hoje é esse dia.
Júlia empalideceu. Olhou de volta para Isabela, que ainda não o tinha visto. Aline continuou, entregando três calcinhas e dois sutiãs que acabara de pegar da arara.
Aline olhou de lado para Júlio, e sem sequer mudar o tom de voz, soltou a frase que fez o corpo dele gelar.
— Lembra do que eu disse, né, amor? Que um dia ia chegar a sua hora? Pois é… hoje é esse dia.
Luiza não entendeu de imediato, mas percebeu que Júlio ficou paralisado. A linha do maxilar dele se contraiu. Em silêncio, Aline deu um passo à frente, como quem marca território, e passou a observar as araras de calçados femininos com naturalidade, sem olhar mais para ele.
Foi então que, na mente de Júlio, vieram as lembranças.
Semanas atrás, dentro da empresa, Aline havia flagrado uma troca de olhares entre ele e uma cliente de alto nível — Isabela, uma mulher madura, elegante e cheia de charme. Rica, bem-sucedida, e o tipo que adorava sentir que causava efeitos nos homens. Naquele dia, enquanto Aline observava de longe, viu Isabela tocar de leve o braço de Júlio enquanto sorria. Ele, desconcertado, apenas respondeu educadamente. Mas isso foi o suficiente.
A briga aconteceu naquela mesma noite.
Aline não o acusou diretamente, mas deixou claro o recado:
> — Eu sei que você gosta de me agradar. Mas se eu perceber que gostou do que aquela mulher fez... não vou te bater, não. Eu vou te lembrar — com gosto — quem você realmente é. Só vou esperar o momento certo. E ele vai chegar.
E chegou.
Agora, dentro da loja, Aline avistou Isabela novamente.
Estava a poucos metros, olhando sandálias ao lado de uma amiga. Ria baixo. Vestia-se com classe, usando um blazer claro sobre um vestido curto que revelava pernas torneadas e bem cuidadas. O salto alto dava a ela uma imponência quase cruel.
Júlio engoliu seco.
Luiza, ao lado de Aline, olhou de um para o outro e franziu a testa.
— Aconteceu alguma coisa? Quem é aquela mulher? — perguntou, em voz baixa, inclinando-se para Aline.
Júlio foi quem respondeu, com um sorriso pálido e nervoso.
— Uma cliente da empresa… Isabela. Aline tem… motivos pra lembrar dela.
Aline sorriu sem mostrar os dentes e soltou, sem tirar os olhos dos saltos:
— E ele tem uma escolha pra fazer.
A respiração de Júlio ficou mais pesada. Luiza apenas observou, silenciosa, sem saber se sentia pena ou medo — talvez as duas coisas.
E o jogo estava prestes a começar.
Parte 2
Júlio estava diante da arara de calcinhas, com as peças nas mãos e os olhos correndo entre Aline e as duas mulheres a poucos metros. Isabela e sua amiga analisavam lingeries sofisticadas, rindo baixinho e comentando tamanhos. Aline, impassível, o observava com um sorriso enigmático nos lábios.
— “Escolhe rápido… antes que eu escolha por você. E eu juro, vai ser pior.”
A frase de Aline havia ecoado na mente de Júlio como um comando final. E ele sabia o que isso significava. Conhecia o temperamento da esposa. Sabia do poder que ela tinha com a Dra. Helena, com as decisões da casa… com ele.
Luiza, ao lado, sentia o coração apertado. Não sabia se por pena, por fascínio ou por medo de também chegar àquele ponto. Observava tudo sem emitir palavra, apenas torcendo em silêncio.
Júlio respirou fundo. Apertou as calcinhas nas mãos. Aline o olhava com aquele brilho quase cruel nos olhos. E então ele caminhou. Cada passo parecia pesar mais do que o anterior.
Ao se aproximar de Isabela, ela levantou os olhos, surpresa.
— Júlio? — disse com um sorriso educado. — Que coincidência…
A amiga a olhou de cima a baixo, intrigada.
— Oi… — respondeu Júlio, com a voz propositalmente mais suave, quase delicada. A timidez era real, mas o tom... treinado. — Na verdade… eu não estou aqui exatamente por ela… — Ele indicou Aline com o queixo, depois baixou os olhos e abriu levemente a sacola nas mãos. — Eu vim comprar pra mim.
Isabela demorou alguns segundos para entender.
A amiga dela sussurrou:
— Gente… ele usa…?
Júlio forçou um sorriso.
— Eu uso, sim. Calcinha. Sutiã. Às vezes mais. Às vezes menos. Depende do meu humor… ou das ordens da minha esposa.
Silêncio.
Isabela piscou algumas vezes. Estava visivelmente tentando processar. E então soltou um risinho desconcertado.
— Jura, Júlio? Eu achava que você era homem de verdade…
Ela parecia mais magoada do que debochada.
A amiga deu um sorrisinho de canto.
— Coitada da Aline… ou não, né? Vai ver ela é quem manda mesmo.
Júlio ficou vermelho. Mas não hesitou.
— Aline é incrível. E… ela me dá tudo que eu preciso. Mesmo quando não é o que eu quero.
Ele se virou, caminhando de volta.
Do outro lado da loja, Aline o aguardava.
Luiza estava boquiaberta.
Júlio parou diante da esposa e entregou as peças. Aline pegou a sacola, passou os dedos por uma das calcinhas e sorriu como quem acabara de vencer um jogo que já sabia que ganharia.
— Tão bonitinhas essas, amor. Você vai usar qual primeiro?
— A que você mandar. — respondeu Júlio, baixando os olhos.
Aline virou-se para Luiza.
— E você, minha princesa, viu? Isso é o que acontece quando o macho escolhe certo. Evita seios GG e castidade eterna. Por enquanto.
Luiza tentou sorrir. Sentia o estômago revirar. E por algum motivo, as coxas apertaram involuntariamente.
Ao deixarem a loja, Aline caminhava na frente. Júlio e Luiza vinham atrás. Ele com o rosto ainda corado, ela… tentando entender tudo.
No caminho até a loja seguinte, Aline, com voz baixa, comentou:
— Aposto que ela não esperava que fosse eu quem manda não Júlio, ou melhor Júlia.
Luiza apenas sorriu, engolindo em seco. Uma nova loja estava à frente. E o dia estava só começando.
[ CONTINUA....]
Obrigada aos comentários . Fico muito feliz e ver wue estão acompanhando. Isso me motiva muito a continuar a escrever.
Bjsss 💋 💋 💋