A chave do Audi girou na ignição com um estalo seco, silenciando o motor e a música ambiente que mal chegava aos ouvidos de Marcos. Ele ficou ali, parado no estacionamento privativo, as mãos ainda no volante de couro, sentindo o ar-condicionado gelar seus últimos segundos de privacidade antes de entrar no jogo. Aos 31 anos, Marcos era uma obra de arte da contradição. O corpo era um mapa de dedicação: peitoral sólido, ombros largos e braços que preenchiam a manga da camisa social com uma pressão gostosa, fruto de anos de musculação regrada. Mas o rosto... o rosto era pura perdição. Um sorriso fácil que rasgava a barba por fazer, olhos castanhos que prometiam safadeza e uma energia crua, quase predatória. Ele era o tipo de homem que entrava num bar e o nível de testosterona do ambiente subia uns dez pontos.
Casado. Sim, a aliança de ouro amarelo brilhava em seu dedo anelar, um lembrete constante de uma vida que ele amava, mas que não bastava. Não para a fome que ele carregava. Entre os amigos, a piada era sempre a mesma, dita por ele com um orgulho canalha: "Casado também pasta, rapaziada. Quem come de tudo não passa fome". E ele comia. Com mulher, era um predador nato, o mestre da conquista, do beijo roubado, da noite que terminava em qualquer motel de beira de estrada.
Mas com homem... ah, com homem a dinâmica mudava. A caça se invertia. Aquele leão dominante, o rei da selva corporativa e dos churrascos de domingo, virava outra coisa. No sigilo, na escuridão de um encontro casual, na tensão de um olhar cúmplice num vestiário, ele gostava de levar ferro. Gostava da força que o dominava, da pegada que o imobilizava, de ser o objeto de um desejo tão bruto e animalesco quanto o seu. Era um segredo sujo e delicioso, guardado a sete chaves, a válvula de escape que o mantinha são.
E hoje, a coceira estava insuportável. Uma indicação de um colega de trabalho, "a melhor barbearia da cidade, cara, tratamento de rei", soou como a desculpa perfeita. Ele não queria um corte de cabelo. Ele queria caçar. Ou ser caçado.
A porta de vidro pesado se abriu com um zumbido suave, e o mundo exterior foi substituído por uma atmosfera meticulosamente construída. O cheiro era a primeira coisa que o atingiu. Uma mistura cara de sândalo, bergamota e algum produto de limpeza cítrico que não gritava "faxina", mas sussurrava "luxo". O chão de cimento queimado polido refletia a iluminação indireta, quente. Paredes em tons de cinza, poltronas de couro preto, estações de trabalho em madeira escura e metal. Tudo era clean, masculino, caro. Os outros clientes, todos homens, folheavam revistas de negócios ou digitavam em seus celulares, exalando a mesma aura de sucesso discreto.
E então, ele o viu.
Atrás de uma das cadeiras, estava o barbeiro. Gabriel. O nome que o colega havia mencionado. Ele tinha uns 29 anos, branco, mas não pálido. Havia uma saúde, um vigor nele. O cabelo escuro cortado num degradê perfeito, a barba cheia, mas aparada com uma precisão cirúrgica. E o corpo... porra, o corpo. Gabriel era um ursinho. Não gordo, mas robusto, peludo. Os braços, expostos pela camisa de botões dobrada até os cotovelos, eram cobertos por um tapete de pelos escuros que subiam pelos ombros e, Marcos podia adivinhar, se espalhavam por um peito largo e sólido sob o tecido. Ele se movia com uma eficiência calma, as mãos seguras, os gestos precisos. Tinha a cara de bom moço, o genro que toda sogra pediu a Deus. Mas Marcos, com seu radar para a putaria, via além. Havia algo nos olhos dele, uma profundidade, um segredo guardado por trás daquela fachada de profissionalismo exemplar.
Marcos sentiu a fisgada na base da espinha. Aquela vibração familiar. O início da caçada.
"Bem-vindo. Tem hora marcada?", uma recepcionista de sorriso ensaiado perguntou.
"Sim, com o Gabriel. Em nome de Marcos", ele respondeu, o sorriso safado já se armando no canto da boca, os olhos fixos no barbeiro do outro lado do salão.
Gabriel ergueu o olhar por um segundo, seus olhos encontrando os de Marcos pelo espelho. Foi uma fração de segundo, nada mais. Mas foi o suficiente. Um reconhecimento. Não de um rosto, mas de uma energia. Marcos viu. Ele sabia que Gabriel tinha visto.
Após alguns minutos, que Marcos usou para dissecar cada movimento de Gabriel com o cliente atual, a cadeira finalmente vagou.
"Marcos?", a voz de Gabriel era mais grave do que ele esperava. Calma, controlada.
Marcos se levantou, caminhando sem pressa, sentindo os olhares dos outros clientes, mas focando apenas no seu alvo. Ele se sentou na poltrona, que afundou sob seu peso com um suspiro de couro. O ritual começou. Gabriel jogou a capa de tecido negro sobre ele, o movimento rápido e profissional, mas seus dedos roçaram a nuca de Marcos por um instante a mais que o necessário.
"E aí, chefe. O que vamos mandar hoje?", Gabriel perguntou, seus olhos se encontrando no espelho.
"O de sempre. Dá uma acertada dos lados, baixa um pouco em cima. E a barba, alinha pra mim", disse Marcos, a voz propositalmente relaxada, como se não estivesse analisando cada microexpressão no rosto do homem à sua frente.
"Tranquilo. Vai querer uma massagem capilar? Ou uma máscara facial pra relaxar? Nossa black mask faz sucesso." A oferta era padrão, o tom era profissional. Mas o jeito que ele disse "relaxar", com uma pausa quase imperceptível, era um convite.
Marcos sorriu para o seu próprio reflexo. "Vou querer a massagem. Vamos testar esse serviço vip de vocês." Vamos testar você, ele pensou.
O trabalho começou. O zumbido da máquina, o som metálico da tesoura. Gabriel era bom. Muito bom. Suas mãos se moviam com uma confiança que era quase erótica. Ele não falava muito, e Marcos agradeceu por isso. O silêncio permitia que a tensão crescesse, se acumulasse no ar como eletricidade estática antes de uma tempestade. Marcos se concentrava nas sensações. O calor do corpo de Gabriel quando ele se inclinava, o cheiro dele — uma mistura do sândalo do ambiente com um perfume pessoal, amadeirado, e o cheiro mais primitivo de pele, de homem.
Era hora do primeiro movimento. Sutil. Inequívoco para quem soubesse ler os sinais.
Enquanto Gabriel trabalhava no lado direito de sua cabeça, Marcos relaxou o braço esquerdo, deixando-o escorregar para fora do apoio de couro da cadeira. O braço ficou ali, pendurado, vulnerável, um convite aberto no espaço apertado entre a cadeira e o corpo do barbeiro.
Ele não olhou. Continuou encarando o espelho, o rosto impassível. A isca estava lançada.
Gabriel não parou o que estava fazendo. Sua mão continuou guiando a máquina com a mesma precisão. Mas seu corpo se ajustou. Ele deu um pequeno passo para o lado, um movimento que pareceria natural para qualquer um que não estivesse prestando atenção. E então aconteceu.
A virilha dele. A lateral da sua virilha, coberta pelo tecido grosso da calça, roçou contra o bíceps de Marcos. Não foi um toque rápido, um esbarrão acidental. Foi uma pressão deliberada, lenta, que durou um, dois, três segundos. Marcos sentiu a dureza ali, o volume inconfundível do que o colega de trabalho, rindo, tinha chamado de "atendimento vip discreto". A mala pesada que Marcos, em sua imaginação, já tinha pintado como branca, grossa, rosada na cabeça. Gabriel estava armado. E ele sabia usar a arma.
O ar nos pulmões de Marcos ficou preso. Uma onda de calor subiu por seu pescoço, formigando na base do seu pau, que começava a despertar dentro da calça social. Ele não se moveu. Apenas absorveu a sensação, a confirmação. O jogo era real. E Gabriel não era apenas um participante; ele era um mestre.
O corte de cabelo terminou. Agora, a barba. Gabriel reclinou a cadeira. A toalha quente veio primeiro, cobrindo a metade inferior do seu rosto, o vapor abrindo seus poros, o calor abafando o mundo. Era uma cegueira sensorial, uma entrega forçada. Marcos só podia sentir, cheirar, ouvir. Sentia o peso das mãos de Gabriel em seu rosto, a proximidade do corpo dele.
Quando a toalha foi retirada, a espuma veio em seguida, aplicada com um pincel de cerdas macias. Os movimentos eram circulares, lentos, uma carícia disfarçada de procedimento. Então, a lâmina. O aço frio contra sua pele, a mão de Gabriel firme em sua mandíbula, guiando o corte com uma perícia assustadora. Cada passada da navalha era um arrepio. A intimidade daquilo era quase pornográfica. Um homem segurando uma lâmina na sua garganta, e a única coisa que Marcos sentia era uma excitação latejante.
Depois da lâmina, a limpeza. Gabriel usou uma toalha pequena e úmida para tirar o excesso de espuma. E aqui, ele quebrou o protocolo. Seus dedos, em vez de apenas passarem a toalha, se demoraram. Um carinho demorado na linha do maxilar. O polegar deslizou pelo canto da boca de Marcos, uma pressão quase imperceptível, mas carregada de intenção.
A cadeira voltou à posição normal. O trabalho estava feito.
Marcos se olhou no espelho. O corte era impecável. A barba, perfeita. Mas não era isso que ele via. Ele via o brilho em seus próprios olhos, a fome exposta. E, de pé atrás dele, o reflexo de Gabriel. O barbeiro tinha um sorriso mínimo, quase invisível, no canto da boca. Um sorriso de canto de boca que era um espelho do seu. Os olhos deles se cruzaram no vidro, e a comunicação foi instantânea, silenciosa, suja.
Eu sei o que você quer.
E eu sei que você sabe.
Isso foi só o começo.
Marcos se levantou, tirando a capa. O tecido escorregou por seu corpo, e ele sentiu o olhar de Gabriel acompanhando o movimento. Ele foi até o balcão, pagou pelo serviço, incluindo uma gorjeta generosa.
"Ficou excelente, Gabriel. Obrigado", disse Marcos, a voz rouca.
"Eu que agradeço pela confiança, Marcos. Volte sempre", Gabriel respondeu, o tom perfeitamente profissional, mas o olhar dizia outra coisa. Dizia "Volte logo".
Marcos caminhou para a porta, sentindo o pau latejar, uma promessa dolorosa dentro da calça. Ele não olhou para trás. Não precisava. O jogo havia sido estabelecido. As regras, entendidas. Ele empurrou a porta de vidro, e o ar quente e úmido da rua o atingiu como um tapa, despertando-o do transe.
Ele entrou no carro, o cheiro da barbearia ainda em sua pele, o toque fantasma da virilha de Gabriel em seu braço, o carinho do polegar em sua boca. A coceira não havia passado. Pelo contrário. Agora era uma necessidade febril, uma urgência. Ele deu partida no carro, o sorriso agora rasgando seu rosto por completo.
Ele não sabia quando, nem como. Mas ele voltaria.
O mês que se passou foi uma tortura lenta e deliciosa. Trinta dias. Setecentas e vinte horas. Cada uma delas pontuada por um eco daquela primeira visita. Marcos se pegava no meio de uma reunião de diretoria, o olhar perdido no nada, sentindo o roçar fantasma da virilha de Gabriel em seu braço. Estava na cama com a esposa, recebendo um carinho no rosto, e sua mente traidora o transportava para a cadeira de couro, para o polegar do barbeiro deslizando em sua boca. A fome, antes uma coceira intermitente, havia se tornado uma dor crônica, uma necessidade latejante na base do seu pau. Ele não queria mais apenas levar ferro; ele queria o ferro de Gabriel.
Aquele jogo de sutilezas havia se instalado em sua mente como um vírus. Gabriel, com seu disfarce de bom moço e corpo de urso peludo, era uma obsessão. O jeito que ele se movia, a seriedade profissional que mal escondia a putaria nos olhos, a promessa de uma mala pesada e leitosa escondida sob a calça... Porra. Marcos passou o mês inteiro se masturbando com a memória e a antecipação.
Quando o dia finalmente chegou, ele se vestiu para a guerra. Uma calça de sarja mais justa, que marcava bem a sua bunda e coxas, e uma camisa de linho que deixava os contornos do seu peitoral e dos braços evidentes. Ele queria que Gabriel visse exatamente o que estava provocando.
Ao entrar na barbearia, o cheiro familiar de sândalo e poder o atingiu, mas desta vez não era uma novidade, era um regresso. Um retorno ao campo de batalha. Seus olhos varreram o salão e o encontraram imediatamente. Gabriel estava finalizando um cliente, mas seus olhos, como ímãs, encontraram os de Marcos pelo espelho.
Desta vez, não houve hesitação. O reconhecimento foi instantâneo, e o sorriso de canto de boca de Gabriel foi imediato. Não era mais um sorriso de teste, de convite. Era um sorriso de boas-vindas. Um sorriso que dizia: Eu sabia que você voltaria. Estava te esperando.
Marcos apenas assentiu com a cabeça, um sorriso igualmente canalha se formando em seu rosto, e se sentou na área de espera, as pernas abertas, relaxado, projetando uma confiança que ele não sentia por dentro. Por dentro, seu coração martelava contra as costelas, e seu pau já dava os primeiros sinais de vida.
O cliente se foi, e a voz grave de Gabriel cortou o ar. "Marcos. Pode vir."
O caminho até a cadeira pareceu mais curto desta vez. Ele se sentou, e o ritual começou, mas a energia era outra. Estava mais densa, mais carregada. Quando Gabriel jogou a capa sobre ele, suas mãos se demoraram nos ombros de Marcos, apertando levemente, uma posse silenciosa, antes de prender a gola.
"E aí, patrão. Ansioso pra dar um trato na máquina?", Gabriel perguntou, a voz baixa, perto do ouvido de Marcos, enquanto arrumava os instrumentos. A pergunta era sobre o cabelo, claro. Mas nenhum dos dois acreditava nisso.
"Sempre", Marcos respondeu, olhando para o reflexo faminto de Gabriel no espelho. "Vim ver se a mão continua boa."
Gabriel riu, um som baixo, gutural. "A mão sempre melhora com a prática, chefe. Fica mais firme, mais precisa."
O zumbido da máquina começou. O som preenchia o silêncio, mas não conseguia abafar a tensão que crepitava entre eles. Gabriel trabalhava com uma nova ousadia. Seu corpo se pressionava mais contra a cadeira, seus movimentos eram mais largos, mais... descarados.
Então, Marcos repetiu o gesto. O braço esquerdo escorregou para fora do apoio, o mesmo convite do mês anterior. Uma jogada ensaiada, um código.
A resposta de Gabriel veio sem demora. Ele se moveu, e desta vez não foi um roçar. Foi uma sarrada. Uma pressão deliberada, forte, que empurrou o braço de Marcos contra seu corpo. Gabriel fincou a virilha ali, moendo lentamente, por dois, três segundos que pareceram uma eternidade. Marcos prendeu a respiração, sentindo o volume inconfundível, duro como pedra, pressionando contra seu músculo. Aquele volume prometido, a mala pesada, estava ali, acordada e pulsando contra ele. Uma onda de choque percorreu seu corpo, e seu pau deu um solavanco violento dentro da calça.
Ele soltou o ar, a voz saindo rouca, quase um gemido. "Porra... Tu não tá mais suave, hein?"
Gabriel se afastou minimamente, o suficiente para que seus olhos se encontrassem no espelho. O rosto dele estava sério, concentrado no corte, mas os olhos brilhavam com uma malícia fodida.
"A máquina vai ficando calibrada, chefe. A gente aprende onde apertar os parafusos."
O resto do corte foi uma tortura. Cada vez que Gabriel se inclinava, Marcos sentia o calor do corpo dele, o cheiro de sua pele. Ele estava duro, dolorosamente duro, e sabia que Gabriel também estava. Podia ver pela forma como o avental se esticava na frente, pela maneira como ele se movia, mais rígido, mais controlado.
Chegou a hora da lavagem e da massagem. Na cadeira reclinável, com a cabeça no lavatório, Marcos se sentiu completamente entregue. As mãos de Gabriel mergulharam em seu cabelo, mas desta vez os dedos eram mais fortes, mais possessivos. A massagem capilar virou outra coisa. As pontas dos dedos não apenas massageavam, elas apertavam, arranhavam levemente o couro cabeludo. As mãos desceram para o seu pescoço, os polegares cravando na sua nuca, naqueles pontos de tensão que se conectavam diretamente com a sua virilha. Ele apertou os ombros de Marcos, uma pegada de domínio, enquanto seu corpo se roçava sutilmente contra a parte de trás da cadeira, uma fricção discreta que enviava ondas de prazer por todo o corpo de Marcos.
De volta à cadeira principal para o ritual da barba. A toalha quente, a espuma. E então, a navalha.
Gabriel segurou seu rosto com uma mão, a lâmina brilhando na outra. O ambiente pareceu ficar em silêncio absoluto. O único som era a respiração pesada de ambos.
"A barba tá crescendo rápido", Gabriel sussurrou, a voz um veludo áspero. "Tem que manter o acesso livre, né?"
"Gosto quando tá bem aparada. Mais fácil de trabalhar", Marcos respondeu no mesmo tom, o pau ameaçando rasgar o tecido da calça.
Gabriel começou a passar a lâmina, a precisão de sempre, mas a energia era selvagem. E então, ele parou. A lâmina pairava perigosamente perto da jugular de Marcos. Com o dedo indicador da mão que segurava seu queixo, Gabriel tocou o lábio inferior de Marcos. Apenas um toque. A polpa do dedo, quente e um pouco áspera, pressionou levemente contra a boca dele, deslizando de um canto ao outro.
Foi um choque elétrico. Um ato tão íntimo, tão proibido naquele ambiente, que fez o mundo de Marcos parar. Ele olhou para cima, para o rosto de Gabriel, que o encarava de volta, os olhos escuros, dilatados, cheios de uma luxúria nua.
O dedo se retirou, a lâmina voltou ao trabalho como se nada tivesse acontecido. Mas tudo havia mudado. A última barreira de plausibilidade havia sido demolida.
Quando a cadeira voltou à posição vertical, eles se encararam pelo espelho. Os sorrisos não eram mais de canto de boca. Eram sorrisos abertos, maliciosos, de dois predadores que finalmente haviam admitido a mesma fome. Eram sorrisos de quem estava se fodendo com os olhos, prometendo o inferno e o céu na mesma medida.
O trabalho terminou. Marcos se levantou, o corpo inteiro vibrando. Ele foi até o caixa, o movimento rígido. O pagamento foi um borrão.
"Mês que vem tô aí de novo", disse Marcos, a voz um cascalho.
Gabriel se apoiou no balcão, cruzando os braços peludos sobre o peito. A pose era casual, mas a intensidade do seu olhar era avassaladora.
"Acho que sua barba vai precisar de uma manutenção antes disso", disse ele, o tom baixo, quase uma conspiração. "Daqui a umas duas semanas. Tenta pegar o último horário do dia. Sexta-feira. O movimento é mais tranquilo... a gente consegue trabalhar com mais calma, dar uma atenção... especial."
A proposta ficou no ar, pesada, explícita. Um horário no fim do dia. Mais calma. Atenção especial. Era o convite final. A chave do quarto do motel.
Marcos sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele apenas assentiu, incapaz de formular uma palavra. Seus olhos se cravaram nos de Gabriel por um último segundo. Estavam ambos se mordendo, a tensão chegando a um ponto de ruptura. A próxima visita não seria um jogo. Seria a consumação.
Ele saiu da barbearia e entrou no carro, batendo a porta com mais força do que o necessário. Apoiou a testa no volante, respirando fundo, tentando controlar o tremor nas mãos. Duas semanas. Ele tinha duas semanas para sobreviver antes de finalmente ter aquele urso fodido em suas mãos. Ou melhor, antes de se entregar completamente a ele.
As duas semanas se arrastaram como uma sentença. Cada dia era uma contagem regressiva febril. Marcos sentia a antecipação como um zumbido constante sob a pele, uma fome que o deixava desconcentrado no trabalho, distante em casa, um animal enjaulado esperando a hora da caça. Ele não se masturbou uma única vez. Queria chegar ao encontro com a porra acumulada de catorze dias, um reservatório de tesão pronto para explodir.
Naquela sexta-feira, ele dirigiu até a barbearia sentindo o sangue pulsar em lugares que não devia. Era fim de tarde, o sol se pondo num tom alaranjado doentio, e o mundo parecia se mover em câmera lenta. Ele estacionou o Audi, as mãos tremendo levemente ao desligar o motor. Ao sair, ajeitou a calça, sentindo o pau já semi-duro roçar contra o tecido, uma promessa do que estava por vir.
A placa de "Aberto" ainda estava iluminada, mas a barbearia tinha uma quietude de túmulo. As outras estações de trabalho estavam limpas, vazias. A cadeira da recepcionista, desocupada. No fundo do salão, sob uma luz solitária, Gabriel limpava suas tesouras com um pano. Ele ergueu os olhos quando Marcos entrou, e o mundo inteiro pareceu parar. Não houve sorriso desta vez. O olhar dele era pesado, cru, uma declaração de intenções.
"Chefe", foi tudo que Gabriel disse, a voz um trovão baixo.
"Gabriel", Marcos respondeu, a garganta seca.
Ele caminhou até a cadeira, o som de seus sapatos no cimento polido ecoando no silêncio. Sentou-se, e o couro frio foi um choque contra sua pele quente. O ritual começou, mas era uma versão acelerada, quase febril. A capa foi jogada sobre ele, o borrifador de água, o som rápido e agressivo da tesoura. Havia pouca conversa. As palavras eram desnecessárias. A comunicação acontecia no espelho, um duelo de olhares carregados de uma luxúria que já não se dava ao trabalho de se esconder. Marcos via a fome em seu próprio reflexo e a via espelhada, amplificada, nos olhos escuros de Gabriel.
O corte de cabelo terminou em tempo recorde. Então, Gabriel fez seu movimento.
Ele caminhou sem pressa até a porta da frente. Marcos acompanhou cada passo pelo espelho. O som do trinco girando foi como um tiro no silêncio. Click. O cadeado estava fechado. Em seguida, com um toque num painel na parede, Gabriel acionou as persianas. Com um zumbido baixo e elétrico, lâminas de metal desceram sobre o vidro, mergulhando o salão numa penumbra íntima, iluminada apenas pelas luzes quentes das estações de trabalho. O mundo lá fora havia desaparecido. Eles estavam sozinhos. Enjaulados.
O coração de Marcos disparou. O ponto de não retorno.
Gabriel voltou para trás da cadeira. Ele se inclinou, a boca perto do ouvido de Marcos. "Ainda temos que cuidar da barba... e da massagem."
Marcos apenas assentiu, incapaz de falar. A cadeira foi reclinada. Mas antes de começar, Gabriel fez algo que fez o ar fugir dos pulmões de Marcos. Ele, calmamente, abriu o zíper de sua calça, deixou-a cair no chão, e a chutou para o lado. Ficou ali, de pé, vestindo apenas uma cueca boxer preta, justa, que mal conseguia conter o volume impressionante de seu pau já completamente duro. O urso peludo estava pronto para o abate.
"Fica mais confortável pra trabalhar assim", ele disse, a voz rouca, a desculpa mais esfarrapada e mais excitante que Marcos já tinha ouvido.
Ele começou a massagem no couro cabeludo de Marcos, mas o braço esquerdo dele, como que por instinto, já estava pendurado para fora da cadeira. Gabriel se aproveitou disso. Ele pressionou a virilha contra o bíceps de Marcos, e desta vez era uma sarrada pesada, explícita. A cabeça do seu pau, envolta no algodão fino da cueca, roçava, pressionava, moía contra o braço de Marcos num ritmo lento e torturante.
"Sabe o que é?", Gabriel sussurrou, a voz carregada de uma vibração gutural, o hálito quente na orelha de Marcos. "Minha máquina... tá querendo vazar óleo faz tempo. A pressão tá alta demais."
Marcos virou a cabeça o suficiente para encontrar o olhar de Gabriel no espelho. Seus olhos estavam escuros, a boca entreaberta. A última gota de sanidade evaporou.
"Então vaza", Marcos rosnou, a voz irreconhecível. "Quero ver se esse óleo é quente mesmo."
Foi a senha. A explosão.
Apoie um autor independente e veja mais em: https://privacy.com.br/@Inimigointimo