Meu nome é Paulo, tenho 36 anos, e dizem que eu pareço um modelo de revista. Não é arrogância, é o que ouço desde jovem: loiro, olhos azuis claros como o céu de inverno, 1,90m de altura, ombros largos esculpidos por anos de musculação. Meu rosto tem linhas fortes, queixo marcado, e um sorriso que, segundo Viviane, minha esposa, “derrete corações”. Não me acho grande coisa, mas sei que chamo muito atenção, Dirijo um Audi A4 preto, polido até brilhar,e trabalho em casa, toda manhã levo Viviane até a escola onde ela dá aula. É nossa rotina, nosso ritual.
Viviane é a coisa mais linda que já vi. Aos 34 anos, ela é uma força da natureza: loira, cabelo liso até a cintura, olhos castanhos que parecem enxergar sua alma. Tem 1,68m, corpo malhado por anos de academia ao meu lado, com curvas que fazem qualquer um virar a cabeça. A bunda, firme e empinada, fica marcada nas calças jeans justas ou nas leggings que ela usa pra treinar. Os seios, médios, perfeitos, balançam levemente quando ela anda, e ela sabe o poder que tem. Não é só o corpo; é o jeito dela. Ela sorri com confiança, fala com firmeza, e tem uma risada que enche o ambiente. Na escola pública de período integral onde leciona matemática, no bairro do Campo Limpo, ela é adorada pelos alunos e respeitada pelos colegas. Mas também é alvo de olhares. Muitos olhares maliciosos.
Moramos numa casa ampla no Morumbi, com jardim bem cuidado, piscina nos fundos e uma varanda onde tomamos vinho nas noites de sábado. A sala tem um sofá de couro bege, uma TV de 65 polegadas, e paredes decoradas com fotos nossas: eu e Viviane na praia de Florianópolis, rindo com areia no rosto; outro clique na academia, suados, fazendo careta pro espelho. Nossa vida é boa, confortável, construída com trabalho duro. Eu cresci numa família simples, filho de um mecânico e uma costureira, mas aprendi cedo que aparência e carisma abrem portas. Viviane veio de uma família de professores, e sua paixão por ensinar é tão grande que ela recusou propostas pra trabalhar em colégios particulares. “Quero fazer diferença onde importa,” ela diz, e eu a admiro por isso.
Toda manhã, às 6h30, saímos de casa. Ela veste uma saia lápis preta ou uma calça social que abraça as pernas, uma blusa de botões que marca a cintura, e salto baixo, porque “não dá pra ficar de salto alto o dia todo na escola”. O perfume dela, um floral com toque de baunilha, invade o carro enquanto dirijo. No caminho, conversamos sobre o dia, rimos de alguma besteira, ou ela me conta sobre um aluno que finalmente entendeu logaritmos. Às vezes, coloco a mão na coxa dela, sentindo a pele macia sob o tecido, e ela me dá um tapa brincalhão. “Para, Paulo, tá dirigindo!” Mas o sorriso dela diz que ela gosta. Chegamos à escola por volta das 7h, e eu a deixo na portaria, onde o porteiro, seu Zé, um senhor de 60 anos com bigode grisalho, sempre acena com um “Bom dia, dona Viviane!”.
Foi numa dessas manhãs, há umas três semanas, que notei Flávia pela primeira vez. Viviane tinha acabado de descer do carro, a bolsa de couro pendurada no ombro, o cabelo solto brilhando ao sol. Eu estava ajustando o retrovisor quando vi uma menina parada na calçada, a uns dez metros, olhando na nossa direção. Ela era baixinha, não mais que 1,60m, magra, com uma bunda arredondada que chamava atenção no short jeans desfiado. Os seios médios marcavam a regata branca justa, e o cabelo loiro, liso e longo, caía quase até a cintura. Tinha uma tatuagem delicada no pulso, uma borboleta, e outra no tornozelo, um ramo de flores. Os olhos verdes, grandes, com cílios longos, davam a ela um ar quase angelical, mas havia algo no olhar… uma intensidade que não combinava com o rosto inocente. Ela segurava uma mochila preta nas costas e mastigava um chiclete, o movimento lento da boca quase hipnótico.
“Quem é essa?” perguntei, mais pra mim mesmo, enquanto Viviane se aproximava da portaria. Minha esposa olhou na direção da menina e sorriu. “É a Flávia, uma aluna minha do terceiro ano. Muito dedicada, coitada. Mora num abrigo aqui perto, perdeu os pais num acidente quando era pequena.” Viviane suspirou, o jeito maternal que ela tem quando fala dos alunos. “Ela é brilhante em matemática, quer cursar engenharia na USP.” Fiquei quieto, mas notei que Flávia não tirava os olhos de mim. Não era um olhar curioso, como o de uma adolescente vendo o marido da professora. Era… diferente. Direto, quase desafiador. Acenei de leve, por educação, e ela sorriu, um canto da boca subindo, antes de virar e entrar na escola.
Naquela tarde, quando fui buscar Viviane, Flávia estava lá de novo, na saída, conversando com duas colegas. Quando me viu estacionar, ela se despediu das amigas e veio na direção do carro, os tênis brancos batendo no asfalto. Viviane ainda não tinha saído, então fiquei esperando, o motor ligado. Flávia parou perto da janela do passageiro, se abaixou um pouco e disse, com uma voz doce: “Oi, seu Paulo, tudo bem?” Fiquei surpreso. Não esperava que ela soubesse meu nome. “Oi, Flávia, né? Tô de boa, e tu?” respondi, tentando soar natural. Ela riu, um som leve, quase infantil, e jogou o cabelo pro lado. “Tô de boa também. A Viviane é um amor, né? Melhor professora que já tive.” Assenti, meio desconfortável com a proximidade dela, o perfume adocicado invadindo o carro. “É, ela é incrível,” disse, olhando pro portão, torcendo pra Viviane aparecer logo.
Flávia se endireitou, mas antes de ir embora, lançou outro olhar, mais demorado, e disse: “Você é bem legal, seu Paulo. A Viviane tem sorte.” E foi embora, rebolando mais do que o necessário, o short jeans subindo um pouco a cada passo. Fiquei parado, o coração batendo mais rápido do que deveria. Não era desejo, ou pelo menos eu não queria que fosse. Era… inquietação. Algo naquela menina me deixava alerta, como se ela soubesse algo que eu não sabia.
Nos dias seguintes, Flávia começou a aparecer mais. Sempre na entrada ou saída da escola, sempre com um aceno ou um “Oi, seu Paulo!”. Às vezes, ela chegava perto do carro, puxava conversa sobre coisas banais: o calor, uma prova difícil, o show de uma banda que ela gostava. Eu respondia por educação, mas mantinha a distância. Viviane achava graça. “Ela é só uma menina carente, Paulo. Deve ver em você uma figura paterna,” disse uma noite, enquanto jantávamos filé mignon com purê de batatas. Ri, mas não comentei. Figura paterna? Não era isso que eu via nos olhos dela.
Foi numa sexta-feira que percebi os outros dois. Estava esperando Viviane na saída, o sol das 17h batendo no capô do carro, quando vi Flávia na calçada, rindo com dois caras. Um era alto, quase da minha altura, negro, com ombros largos e braços grossos que esticavam a camiseta preta. O cabelo era curto, e ele tinha uma cicatriz fina na sobrancelha esquerda. O outro era um pouco mais baixo, também negro, magro, mas com músculos definidos, uma tatuagem tribal no antebraço direito. Eles estavam encostados numa mureta, fumando algo que não era cigarro, o cheiro doce flutuando no ar. Viviane me contou depois que eram Nego e Adriano, também do terceiro ano, moradores do mesmo abrigo que Flávia.
O que me gelou foi o jeito que eles olharam pra Viviane quando ela saiu da escola. Ela estava linda, como sempre: saia preta até o joelho, blusa de seda azul, o cabelo preso num coque alto, óculos de armação fina no rosto. Caminhava com aquela confiança natural, a bolsa balançando no ombro. Nego e Adriano pararam de falar, os olhos fixos nela, como predadores avaliando uma presa. Nego deu um sorriso lento, mostrando dentes brancos, e murmurou algo pro Adriano, que riu baixo, batendo o ombro no amigo. Flávia, ao lado deles, olhou pra mim, como se quisesse ver minha reação. Senti um calor subindo pro rosto, uma mistura de ciúmes e raiva. Quando Viviane entrou no carro, sorri pra ela, mas minha mão apertou o volante com mais força do que o normal.
“Que foi, amor?” ela perguntou, ajustando o cinto. “Nada, só calor,” menti, ligando o ar-condicionado. Mas enquanto dirigia pra casa, não conseguia tirar da cabeça os olhares deles. Não era só desejo. Era algo mais escuro, mais faminto. E Flávia, com aquele sorriso de canto, parecia saber exatamente o que estava acontecendo.
Naquela noite, fizemos amor com uma intensidade que não sentia há meses. Viviane, deitada na nossa cama king-size, os lençóis brancos amassados, gemeu meu nome enquanto eu a puxava pra mim, as mãos firmes na cintura dela. O corpo dela, quente e macio, respondia a cada toque, e por um momento, esqueci tudo: Flávia, Nego, Adriano, os olhares. Mas quando deitei ao lado dela, ofegante, o teto branco do quarto parecendo infinito, uma imagem voltou: os olhos verdes de Flávia, me encarando pelo retrovisor. E, pior, os olhos de Nego e Adriano, devorando minha esposa como se ela fosse um troféu. Os dias seguintes passaram como uma névoa, mas cada um deles trazia Flávia mais pra perto, como uma maré que sobe devagar, mas não para. Na segunda-feira, quando deixei Viviane na escola, ela estava lá, na mesma calçada, a mochila pendurada num ombro só, o short jeans ainda mais curto, a regata preta colada ao corpo, mostrando a curva dos seios e a tatuagem da borboleta no pulso, que parecia pulsar sob a luz do sol. Ela acenou, mas dessa vez não veio até o carro. Apenas ficou lá, me encarando, os olhos verdes brilhando como jade, o sorriso de canto que parecia dizer: “Eu sei que você tá olhando.” E eu estava. Não queria, mas estava. O jeito que ela jogava o cabelo, o movimento leve dos quadris enquanto se afastava, tudo parecia calculado, como se ela soubesse o efeito que causava.
Viviane não notou. Estava ocupada com uma pilha de provas na bolsa, resmungando sobre como os alunos do segundo ano estavam “massacrando” as equações quadráticas. “Paulo, você acredita que o Joãozinho escreveu que x igual a infinito é solução pra tudo?” Ela riu, o som enchendo o carro, e eu forcei um sorriso, mas minha mente estava na calçada, nos olhos de Flávia. Quando saí do estacionamento, olhei pelo retrovisor, e lá estava ela, ainda me observando, agora ao lado de Nego e Adriano. Os dois estavam encostados na mureta, como sempre, mas dessa vez Nego apontou pra Viviane, que caminhava pro portão, e disse algo que fez Adriano rir alto, um som gutural que cortou o ar. Meu estômago revirou. Apertei o volante até os nós dos dedos ficarem brancos e acelerei, o motor do Audi rugindo mais alto do que precisava.
Naquela noite, tentei falar com Viviane sobre isso, mas as palavras travavam. Estávamos na cozinha, ela picando alho pra um risoto, o cabelo loiro preso num rabo de cavalo frouxo, a blusa de algodão larga deixando um ombro à mostra. “Amor, você já reparou nos alunos que ficam na entrada da escola?” perguntei, tentando soar casual. Ela ergueu uma sobrancelha, a faca parando no ar. “Os que ficam fumando na mureta? São só adolescentes, Paulo. Fazem pose pra impressionar.” Ela riu, voltando a cortar o alho, mas o tom dela era leve demais, como se não visse o que eu via. “Não sei, Vi. Eles olham pra você de um jeito… esquisito.” Ela parou, me encarando, os olhos castanhos brilhando com uma mistura de curiosidade e graça. “Esquisito como? Tá com ciúmes, amor?” Ela se aproximou, a mão cheirando a alho pousando no meu peito, e me deu um beijo rápido. “Você é lindo, mas tá vendo coisa demais.” Voltei pro assunto do risoto, mas a imagem de Nego apontando pra ela, o riso de Adriano, não saía da minha cabeça.
Na terça-feira, Flávia elevou o jogo. Cheguei pra buscar Viviane às 17h, o sol alaranjado refletindo no capô do carro. Ela estava lá, sozinha dessa vez, sem Nego ou Adriano. Vestia uma saia rodada vermelha, curtinha, que dançava com o vento, e uma blusa cropped que mostrava a barriga lisa, a tatuagem de flores no tornozelo brilhando contra a pele clara. Quando Viviane saiu, Flávia se aproximou do carro, se abaixando na janela do passageiro com uma naturalidade que me deixou tenso. “Oi, seu Paulo! Oi, dona Viviane!” A voz dela era melíflua, quase cantada, e ela se inclinou mais, o cabelo loiro caindo como uma cortina, o perfume doce invadindo o carro. “Tô precisando de uma carona, será que dá?” Antes que eu pudesse responder, Viviane, sempre a alma boa, disse: “Claro, Flávia, entra aí!” Fiquei quieto, o maxilar travado, enquanto ela pulava pro banco de trás, a saia subindo um pouco ao sentar.
No caminho pro abrigo, Flávia falava sem parar. “Dona Viviane, a senhora explica derivadas que nem minha mãe explicava as coisas. Tô apaixonada pela sua aula!” Viviane ria, encantada, enquanto eu dirigia, os olhos no trânsito, mas sentindo o peso do olhar dela pelo retrovisor. “Seu Paulo, você já pensou em ser modelo? Tipo, sério, você tem o porte!” Ela riu, e Viviane deu um tapinha no meu braço, brincando: “Eu falo isso todo dia!” Forcei uma risada, mas o tom dela, o jeito que ela se inclinava pra frente, a mão roçando o encosto do meu banco, me deixava alerta. Quando chegamos ao abrigo, um prédio cinza com grades nas janelas, ela desceu, mas antes se abaixou na minha janela, o rosto a centímetros do meu. “Valeu, seu Paulo. Você é um anjo.” Os olhos verdes travaram nos meus, e por um segundo, senti um calor subindo pelo pescoço. Ela piscou, lenta, e se afastou, rebolando até o portão.
“Que menina fofa,” Viviane disse no carro, mexendo no rádio. “Fofa?” repeti, a voz mais ríspida do que queria. “Ela tá te paquerando, Vi. Não viu o jeito que ela fala comigo?” Viviane revirou os olhos, rindo. “Paulo, ela é uma criança! Tem 18 anos, tá carente. Relaxa.” Mas eu não conseguia relaxar. Era mais que carência. Era um jogo, e Flávia sabia jogar.
Na quarta-feira, as coisas pioraram. Cheguei cedo pra buscar Viviane, e Flávia estava na portaria, conversando com Nego e Adriano. Ele, o Nego, era uma montanha de músculo, a camiseta preta esticada nos ombros, a cicatriz na sobrancelha dando um ar de ameaça. Quando Viviane saiu, linda numa calça social cinza e blusa de seda preta, os dois pararam, os olhos grudados nela. Nego mordeu o lábio, descarado, e Adriano deu um passo à frente, como se quisesse dizer algo. Flávia, ao lado, olhou pra mim, o sorriso de canto voltando, como se me desafiasse a reagir. Meu sangue ferveu. Quis sair do carro, encarar os dois, mas Viviane entrou, alheia, e disse: “Tô exausta, amor. Vamos?” Engoli a raiva, liguei o carro, mas pelo retrovisor vi Nego falar algo baixo pra Flávia, que riu, jogando o cabelo.
Na quinta-feira, Flávia apareceu na saída com um presente. “Fiz isso pra senhora, dona Viviane!” Ela entregou um caderno decorado com adesivos de estrelas, cheio de anotações de matemática. Viviane ficou encantada, folheando as páginas, enquanto Flávia se inclinava no carro, a blusa solta mostrando mais do que deveria. “Seu Paulo, você já viu o caderno da dona Viviane? Ela é genial!” Ela tocou meu ombro, leve, mas o toque queimou. “Você deve ter orgulho, né?” O tom era inocente, mas os olhos… os olhos eram um convite. Viviane não viu, ocupada com o caderno, mas eu senti o peso daquele toque, o calor subindo pro rosto. “É, ela é incrível,” murmurei, olhando pro para-brisa. Flávia sorriu, se afastando, mas não antes de piscar de novo, lenta, como se guardasse um segredo.
Na sexta-feira, o ciúmes virou uma febre. Cheguei na escola e vi Flávia, Nego e Adriano juntos, rindo alto. Viviane saiu, e os olhares deles a seguiram, famintos, descarados. Nego disse algo, apontando pra ela, e Adriano riu, batendo no ombro dele. Flávia, ao lado, olhou pra mim, e dessa vez o sorriso era mais largo, quase provocador. Quando Viviane entrou no carro, perguntei, tentando manter a voz firme: “Vi, você não acha que esses caras são… demais?” Ela suspirou, ajustando o cinto. “Paulo, já disse, são só garotos. Deixa de paranoia.” Mas não era paranoia. Era instinto. Flávia estava jogando comigo, e Nego e Adriano queriam algo que era meu.
Naquela noite, na cama, puxei Viviane pra mim com uma vontade que não explicava. Beijei o pescoço dela, as mãos apertando a cintura, o corpo dela respondendo com gemidos suaves. Mas enquanto metia, a imagem de Flávia, o sorriso dela, os olhos de Nego e Adriano, se intrometia. Era como se eles estivessem na sala, assistindo, rindo. Quando terminamos, deitei ao lado dela, o peito apertado. Viviane dormiu, o cabelo loiro espalhado no travesseiro, mas eu fiquei acordado, encarando o teto, sabendo que Flávia estava armando algo, e que Nego e Adriano eram mais que uma ameaça. Eram um perigo.