Conhecendo Lana e Iury

Um conto erótico de Lore <3
Categoria: Lésbicas
Contém 2539 palavras
Data: 03/07/2025 03:49:33
Assuntos: Lésbicas

Nós quatro estávamos sentados no sofá igual uma família de comercial de margarina, aguardando a ligação de D. Jacira e Sr. Zé com os irmãos da minha gatinha.

Enquanto Juh estava quietinha, morrendo de sono e se forçando a parecer sã, nossos filhos estavam bem animados com a chegada dos novos membros.

— Mamãe, o que a gente diz primeiro? — Mih perguntou.

— Também não sei, filha... — Respondeu.

— A gente já pode chamar de tio? — Kaká questionou.

— Será que eles vão querer? Porque eles são novos, né? — Milena observou.

— Acho que vocês podem começar por aí — Falei, rindo da empolgação.

Dei um cheirinho no pescoço da minha muiezinha e ela repousou a cabeça no meu peito por um momento, fiquei ali fazendo um cafuné gostoso enquanto as crianças permaneciam inquietas, dando pequenos pulinhos no sofá.

O celular de Juh vibrou e gritinhos animados foram ouvidos ao lerem o nome da vovó na tela.

— Vamos com calma para não assusta-los — Recomendei, fazendo carinho no rosto deles.

— Chega mais pertinho para vocês aparecerem — Juh pediu e eles tomaram praticamente toda a tela.

— Atende logo, mamãe! — Exclamou Milena.

Me posicionei atrás de Júlia, enquanto nossos filhos estavam entre as pernas da gatinha. Ela respirou fundo e finalmente aceitou.

— Oiii! — As crianças acenaram animadas.

Apenas meus sogros apareceram primeiramente.

— Que saudade de vocês! — Sr. José falou.

— Vovô, o senhor nem acordou a gente para dar um beijinho antes de sair — Milena cobrou.

— Foi mesmo! — Concordou , Kaique.

— Estava muito cedo... — Meu sogro tentou se explicar.

— Mas eu acho que vocês estão mais curiosos para conhecer duas pessoas que estão aqui com a gente, não? — Perguntou minha sogra.

— Sim!!!! — Eles responderam.

— Antes quero ouvir a voz do meu amorzinho — Disse meu sogro.

— Achei que ninguém ia perguntar por mim — Brinquei e eles riram, porque obviamente, Sr. Zé se referia a Júlia.

— Oi, tá tudo bem por aí? — Ela perguntou, com um sorrisinho sociável.

— Tudo bem, fora o frio... Estou doido para retornar e juntar vocês três logo — Falou meu sogro.

— E cadê eles? — Juh questionou, timidamente.

— Aqui... — D. Jacira passou o celular padra o lado, sem conseguir evitar um largo sorriso.

E finalmente, eles apareceram para nós. Lana, tinha a pele clara, os cabelos castanhos, levemente ondulados, caindo até os ombros, meio bagunçados. Iury também de pele clara, era ainda mais alto que a irmã. Tinha o cabelo bem baixinho, cortado na régua, e os mesmos olhos escuros e desconfiados que ela.

Ambos pareciam altos, magros, com traços que denunciavam certa tensão. Forçavam um sorriso meio sem jeito, nítido de quem está envergonhado, e, claro, completamente compreensível para um primeiro contato assim, carregado de expectativa e nervosismo.

Contudo, o que mais me chamou a atenção nos dois, foi o olhar. Por mais que estivéssemos em uma situação nova e eles parecessem estar curiosos, tinham um olhar difícil de ler. Firmes, marcantes, mas acima de tudo olhares de uma vida, uma vida desconhecida para nós e eu estava mais que disposta para escutar tudo o que eles quisessem me contar.

Resolvi quebrar o silêncio.

— Olá! Me chamo Lorena, sou esposa de Juh e é muito bom conhecer vocês e sejam muito bem-vindos a família, estou ansiosa para o nosso encontro pessoalmente. Quero dar logo um abraço nos meus cunhados! — Falei, me apresentando.

— Meu nome é Lana... — A ouvi dizer — A mãe e o pai faltaram de você, Lore, né? — Ela questionou.

Senti um aperto bem forte na minha mão ao ouvir as palavras pai e mãe saírem da boca da minha cunhada. Juh a segurava, olhando fixamente para o celular a nossa frente. Deslizei o polegar, tocando–da em forma de carinho, quase como um pedido silencioso para que minha gatinha se acalmasse.

— Isso, Lore! Eles falam bastante de vocês também, dois babões — Brinquei, e eles riram.

— Oii, eu sou Milena, tenho onze anos e sou... Sua... Pera, a gente pode chamar vocês de tios, né? — Mih perguntou, fazendo Lana sorrir.

— Devem e eu quero a benção! — Iury brincou, convencido e rindo de verdade pela primeira vez.

— Eu sou Kaique, tenho a mesma idade que Mih e... — Ele começou timidamente — Olha isso é um segredo de família, tá? Nós brincamos que somos gêmeos porque nascemos no mesmo dia, mas na verdade eu fui adotado depois que as mamães casaram — Meu filho disse, satisfeito.

— Kaká esqueceu um detalhe, eu sou mais velha doze horas — Minha filha completou, rindo do irmão.

— Também gosto de ser mais velha — Falou a minha cunhada.

— Mas eu sou maior — Retrucou, meu cunhado.

— De que isso importa realmente? — Lana perguntou, voltando-se para o irmão.

— A mamãe é mas velha que vocês — Milena observou.

— E menor que os dois... Eu acho... — Comentou Kaique.

Nesse momento eu rezei para tudo que existe no universo para minha muié falar alguma coisa e não deixasse o silêncio se instaurar.

— Oi, meu nome é Júlia... Sou a nova irmã mais velha de vocês! — Ela tentou ser o mais convincente possível — Já sabem quando vêm? — Perguntou.

— Amanhã, não é? — Iury confirmou com meus sogros.

— Então amanhã vamos nos conhecer! — Comemorou Kaká.

— Se não estivéssemos nessa droga de pandemia, COM CERTEZA, a gente teria organizado uma surpresa lá na pousada para vocês conhecerem a família inteira — Mih disse, indignada.

— Vocês gostam de natureza? Cachoeira? Essas coisas... — Perguntou Kaká, curioso.

— Prefiro mil vezes a natureza do que essa agitação toda — Lana pontuou.

— Então vocês vão amar a pousada — Conclui, e os dois sorriram.

— Quando puder, a gente vai se divertir muito por lá — Mih afirmou.

E nesse clima legal, a ligação se encerrou.

— Mamãe, o que vamos fazer para eles quando chegarem??? — Mih perguntou, entusiasmada.

— Hum... Não sei, não pensei em nada... — A gatinha respondeu, desanimada.

— Temos que fazer alguma coisa!!! — Vibrou Kaká, ficando de pé no sofá.

— A senhora não tá nem um pouquinho animada... Por quê? — Nossa filha questionou.

— Eu só estou com sono, não podemos ver isso amanhã? — Juh questionou.

— Amanhã eles chegam, maaaae!!!! — Kaká afirmou, impaciente.

— A senhora dormiu a tarde inteira e tá com sono agora? — Mih perguntou.

Imediatamente eu comecei a rir, a dúvida dela foi tão sincera e coesa.

— Estou com dor de cabeça... — Juh justificou, contendo o riso.

— Podemos ver algo na internet, um lugar que entregue em casa — Sugeriu Kaique.

— Pode ser, amor? — Perguntei.

— Pode sim... — Ela confirmou.

Então, as crianças e eu resolvemos essa questão. Não dava para preparar nada muito grande, mas também nós íamos conseguir deixar um pouquinho mais receptivo e aconchegante.

A maior exigência dos meus ajudantes foram lança confetes e eu atendi. D. Jacira havia dito que chegariam de tardezinha, então preparamos um café especial e encomendamos uma torta de vitrine com alguns doces.

Júlia já estava deitada e quando entrei no quarto me deparei com ela pressionando o travesseiro sobre o rosto.

— Nunca mais eu vou beber na vida — A gatinha lamentou, enquanto eu a abraçava.

— Hunrum, acredito... — Debochei, dando beijinhos em seu rosto.

— É verdade... — Juh murmurou, se encaixando sobre o meu corpo.

— E aí, o que achou? — Perguntei, me referindo a chamada.

— Não sei, amanhã vou saber melhor, mas foi estranho ouvir outras pessoas chamando meus pais de pais — Júlia respondeu.

— Imagino, amor... — Falei, iniciando um carinho em seus cachinhos.

— Amanhã não demora muito no hospital, não quero correr o risco de ficar sozinha com eles, não vou ter papo — Juh pediu.

— Vou pensar no seu caso — Brinquei.

— Amor, é sério! — Me advertiu, colocando a mão sobre as têmporas.

— Seria bem engraçado... — Continuei.

— Não seria, para... — Juh pediu, colando ainda mais o corpo em mim.

— Parei, vamos dormir, meu amô... — Disse-lhe e tentamos por algum tempo, mas ela se mantinha inquieta.

— Amor, eles pareciam... Meio tristes??? — Juh falou, após algum tempo.

— Senti algo misterioso no olhar, tipo assim? — Questionei

— Isso... E acho que dei uma fora quando falei: "Sou a nova irmã mais velha d vocês" — Júlia comentou.

— Ué, por quê? — Perguntei, sem entender.

— Lana me olhou estranho, acho que ela não gostou de mim — Juh pontuou.

— Ah, amor... Não vi isso, deve ter sido impressão... — Comentei.

— Espero que sim... Vamos tentar dormir... — Disse entre suspiros e assim fizemos.

No outro dia, após deixar um café bem forte para minha novinha ressaqueada, fui para o trabalho durante todo o dia, recebi mensagens do tipo:

"Já sabe quando vem, amor?"

Selfie com o café e um rostinho sofrido

"Por favor, chega cedinho hoje"

Foto de Milena e Kaique fazendo cartazes e cartinhas e pondo a mesa

"Saudade"

Foto do corte de cabelo com a legenda: "o que eu faço agora?"

Todas as mensagens faziam eu soltar um risinho para a tela e eu ia respondendo conforme dava. Mesmo sendo um dia apertado, consegui chegar em casa em um horário bom, já estava quase tudo pronto, porém ainda consegui ajudar trocando uma cortina, segundo Milena tinha muita informação e uma branca cairia melhor.

Como foi Júlia quem pediu o Uber para meus sogros, pudemos observar a corrida até que eles chegassem. Milena e Kaique se esconderam atrás do sofá e assim que os quatro entraram, as crianças pularam gritando: "Sejam bem-vindos!!!" e confetes voaram para todos os lados.

— Caralho! — Exclamou, Iury.

Ele recebeu um olhar da minha sogra e riu.

— Foi mal, foi mal — Se desculpou.

— Tranquilo, te entendo perfeitamente — Falei, indo abraçar os dois.

~ Minha boquinha é bem suja 🤣

Eles estavam bem tímidos, Juh falou primeiro com seus pais e depois deu um rápido abraço em cada um dos irmãos, também deu as boas vindas e eles sorriram em reciprocidade.

Quando sentamos para aproveitar daquela mesa, percebi um brilhinho no olhar deles, pelo menos conseguimos, dentro dos limites, fazê-los se sentirem especiais.

Iury sacou uma bolsinha na mesa e puxou uma canetinha de insulina, aplicando no seu abdômen.

— Que isso, tio? — Kaká perguntou, curioso.

— Tenho diabetes, aí preciso disso aqui dependendo do que vou comer — Ele respondeu.

— Dói? — Mih perguntou.

— Não... Quer dizer, as vezes dói, mas na maioria das vezes, não — Iury falou.

— Eu morro de medo de agulhas — Juh comentou, em um tom baixo.

— Graças a elas vou poder comer esse bolo — Ele respondeu, erguendo o prato — Mas também odeio... — Admitiu.

— Você também tem tia? — Mih perguntou para Lana, e se ela não fizesse isso eu faria.

— Não... — Ela respondeu, um pouco pensativa.

Fiquei me questionando o porquê de tanta reflexão, não consegui entender.

Ao final Kaká e Mih foram jogar Uno com os novos tios, Juh chamou D. Jacira para ir no quarto ajeitar o corte do cabelo dela (chamou toda dengosinha) e Sr. Zé e eu ficamos conversando.

— Lore, depois quero ver algumas coisas em relação a saúde deles — Falou meu sogro, em tom baixo.

— Certo, a gente vai conversando. É diabetes tipo um? — Perguntei.

— É... Mas nem é isso, são coisas mais delicadas. Vou deixar para conversar depois porque quero que eles se sintam a vontade — Ele me explicou.

— Tá bom, meu sogro, mas por favor, estenda o convite para mais uma pessoinha — Respondi, rindo.

— Claro, esse erro Jacira e eu não cometeremos mais — Sr. Zé respondeu, sorrindo também.

Ele estava todo serelepe, contando com tinha sido gratificante finalmente finalizar o processo. Falou que a assistente social falou sobre uma possível visita durante o primeiro ano e eu o tranquilizei porque na adoção de Kaique também foi citado, mas nunca aconteceu.

Quando eu pesquisei um pouco sobre busca ativa, eu vi mais a fundo o que é nos apresentado nos cursos. As crianças e adolescentes que ficam disponíveis, estão lá por serem rejeitadas por algum motivo. Idade, cor da pele, problema de saúde ou deficiência, geralmente. Como eles já eram quase maiores de idade, imaginei que era por conta disso, mas pelo visto havia também um outro fator.

Depois de um tempo Juh desceu com minha sogra.

— Olha, amor, não ficou tão ruim — E me mostrou o cabelo.

Desde que conheci minha gatinha, ela cultivava um longo cabelo escuro e volumoso, tirando apenas as pontinhas. Eu me amarro nos cachinhos dela e estava acostumada a vê-lo daquele tamanho, foi diferente... Mas não ficou feio, longe disso, dobrou de volume e ainda se mantinha no meio das costas. É impossível qualquer coisa na minha muié não ser ou ficar lindo!

— Continua linda, gatinha — Disse e dei um beijo em seu pescoço.

Nesse momento Iury e Lana se entreolharam e riram, eu acabei rindo também. Nós temos compulsão por esses beijinhos, esses carinhos e eles são normais para nós. Em nenhum momento parei para pensar sobre o que meus cunhados achavam. Acredito que houve uma conversa dos meus sogros antes informando que somos um casal homoafetivo e acho que reagiram bem, pois me trataram de maneira amigável por todo o tempo.

— Linda mesmo, só precisa de juízo — Brincou minha sogra, dando um beijinho na bochecha dela.

— Contou, foi? — Perguntei, me referindo ao dia anterior.

— Foi... — Juh me respondeu com um sorrisinho de canto.

— Acho que é melhor nós irmos, não quero pegar a estrada tão tarde — Informou meu sogro, levantando-se e encarando o relógio em seu pulso.

— Querem dormir aqui? — Juh questionou.

— Não, amor, tenho um compromisso cedo amanhã — O pai dela respondeu.

— Ah não... Pai, por favor, aquieta... Não é para ficar saindo... — Juh disse, em um lamento.

— Já falei com ele também — D. Jacira disse.

— É uma reparação manual, estarei sozinho — Meu sogro explicou, sem paciência, nós fazendo rir.

— Antes de irem vamos tirar fotos — Falou Mih, animada.

— Ótimo, quero uma de vocês três — Sr. José falou, apontando para seus três filhos.

Eles se juntaram meio desajeitados e sorriram sutilmente para a câmera. Todas as outras fotos saíram mais espontâneas do que as que Júlia, Lana e Iury estavam juntos.

Assim que eles foram embora Kaique e Milena vieram saltitantes até nós no sofá.

— Nossa, eu amei, amei, amei — Falou Kaká, rodopiando.

— Eu também, os achei muito legais!!! — Mih exclamou.

— Que bom que vocês gostaram... Fiquei muito orgulhosa d como vocês foram receptivos — Juh comentou, tentando os abraçar.

— Também gostei bastante, pena que não vai dar para ter aquele contato por agora... — Lamentei.

— Droga de pandemia — Disse Mih.

— Eu não aguento mais... Não posso ver meus avós, meus tios, meus primos e agora tenho novos tios que também não posso ver — Kaká completou.

— Precisamos nos proteger e proteger quem amamos — Falei, dando um beijo em cada.

— Mamãe, por que não dá um celular de presente para eles? — Mih perguntou.

— Assim a gente pode pelo menos conversar — Kaká complementou.

— Huuuum, verdade eles não têm... — Juh falou, pensativa.

— Acredito que vindo de você seria bom... — Comentei, com um sorriso sugestivo.

— Certo, certo... Vou ver isso — Ela respondeu e as crianças já comemoraram.

Aquela noite foi complicada para dormir, de hora em hora os ouvíamos ainda conversamos. Precisei levantar umas três vezes para intervir porque no dia seguinte eles teriam aula cedo. Eles estavam eufóricos e quiseram dormir no mesmo quarto, tivemos que separa-los, contudo, nem isso adiantou porque ficaram trocando mensagens. Resolvemos então recolher temporariamente os aparelhos. Juh deitou com Mih e eu com Kaká, até que pegaram realmente no sono.

Deitei sobre a cama morta de cansaço e esperei Júlia retornar para saber se ela queria conversar sobre a noite que tivemos, porém a gatinha estava no mesmo estado que eu, nos abraçamos e dormimos, eu um pouco mais do que Juh pois não trabalharia na manhã seguinte e sim durante a madrugada.

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Foto de perfil de Lore Lore Contos: 122Seguidores: 43Seguindo: 4Mensagem Bem-vindos(as) ao meu cantinho especial, onde compartilho minha história de amor real e intensa! ❤️‍🔥 (sou casada e completamente apaixonada por uma mulher ciumenta, mantenha distância ✋🏽💍)

Comentários

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Nossa, até parece q são anjos 🧐😂

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Eles são 😇😇

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Foto de perfil de RYU

Tenho uma sobrinha adotiva — filha do meu irmão — que chegou na nossa vida com quase quatro anos. A adoção é linda, eu apoio , mas pode mexer em lugares profundos e nem sempre fáceis.

A vida familiar por si só já tem tantas camadas, altos e baixos.

Foi bem diferente do que vivi com meus outros sobrinhos.

Lógico que não teve aquela sequência: gravidez, barriga crescendo, menina ou menino?. Não teve aqueles passos iniciais do bebê que chega e vai revelando aos poucos quem é (a primeira palavra, a primeira vez que andou)

No caso da minha sobrinha, ela me olhou pela primeira vez com um pouco de medo e uma certa indiferença. E eu entendo. Ela foi apresentada a um monte de adultos estranhos e disseram: “agora esse monte de gente é sua família”; “são seus tios, seus primos”

Imagino o quanto isso pode ser confuso pra uma criança. Os laços se formaram, sim, mas de outro jeito, outro tempo.

Ninguém vive a nossa vida. Mas tento entender em parte, a complexidade que a Juh viveu.

Lore, você escreve sobre momentos alegres, difíceis, delicados — e fico me perguntando: quando você escreve, você sente que algo muda dentro de você? Tipo… escrever te faz reviver o passado de outro jeito? Você sente de novo o que sentiu na época, ou de repente enxerga as coisas com um novo olhar?

Pergunto porque vivi algo assim recentemente. Escrevi um texto com um pedaço muito real do meu passado.

Não mudou o passado, lógico. Mas mudou o sentimento e mudou a forma como olho para o passado.

Fiquei com isso na cabeça. Você sente algo parecido ao escrever?

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A adoção é um ato belo e eu acho lindo que por aqui já encontrei exemplos, sempre de diferentes maneiras, porém com o amor da própria ação sempre vivo e muito visível.

Com uma criança é mesmo mais complicado, lembro do primeiro dia do meu sobrinho com o meu irmão e minha cunhada: "eu não quero ficar aqui, quero voltar para o abrigo" e Lorenzo respondeu: "agora nós somos o seu abrigo e vocês são o nosso".

Hoje meu sobrinho consegue entender a frase em plenitude, mas mesmo lá no momento de angústia, ele conta que sentiu um alívio absurdo e o medo passou imediatamente. Ele finalmente sentiu segurança em pessoas... 🥹

A questão de Juh já seria complicada pelo ciúme, porém tudo se complicou pela maneira que meus sogros resolveram conduzir a introdução do processo de adoção, contudo, tinha a parte mais fácil de que Júlia já era uma mulher adulta e conformada com fato de que a adoção já tinha acontecido. Foi uma escolha dos seus pais desagradável para ela, mas que ela se esforçou para se adaptar a nova realidade.

Olhando pelo lado de Lana e Iury: A idade não foi um fator positivo no quesito adaptação. Eles tinham quase 18 anos e pqp... 18 anos é uma vida!

Os dois tinham suas maneiras de agir e reagir, mas bom... Isso eu me aprofundo depois 😌✍🏽

Os dois, Ryu.

Quando comecei, relembrei muito como Mih e Juh sempre se deram bem e como eu não tive uma preocupação de fazê-las serem amigas porque isso aconteceu de maneira natural e até rápido demais. Eu me pegava comparando como é hoje em dia, o amor só se fortaleceu e elas têm uma relação linda, de mãe e filha.

Eu me emocionei bastante escrevendo a adoção de Kaká até o transplante. Não sei se consegui transparecer, mas mexe muito comigo a maneira como Deus desenhou a chegada do nosso filho até os nossos braços. São muitas coincidências e eu sempre digo que: tinha que ser ele!

Lembro de sentir a raiva viva e sufocante ao relatar Traumas #1 e Traumas #2, porém me ajudou a, não suavizar, isso jamais, contudo, perceber a maneira que conduzimos e nos apoiamos perante a um crime invadindo nossas vidas e deixando das marcas.

Para escrever eu tive que ouvir o áudio novamente e eu disse verdades muito bonitas nele. Anos se passaram e eu não mudaria uma vírgula, eu esperia a infinidade de tempo necessário para continuar tendo o combo de perfeição que é Júlia Oliver ❤️

Muitos outros me trouxeram uma nostalgia gostosa que resultaram em: "vamos fazer isso novamente?" e acabamos repetindo algo que gostávamos muito e sei lá porque não o fazíamos mais, talvez por não lembrar que era tão bom.

Algo que eu também percebi escrevendo minha história com a gatinha aqui na CDC, e até respondendo os comentários, é que o contexto que eu estou vivendo influencia bastante na maneira em que construo o texto.

As vezes fica mais melosinho, mais cômico, outras vezes mais melancólicos, alguns são bem reflexivos e até uns fúnebres e isso acontece por fatores externos variados que os leitores fazem ou não ideia.

Quando vocês mencionam que se divertiram ou riram, eu fico feliz porque sinto genuinidade nas palavras. O bom humor é uma marca que eu carrego comigo, e se aparecem nos capítulos é porque eu o vivi daquela maneira, sorrindo ou fazendo palhaçada para receber um 😁

Escrever, para mim, se tornou entrar no jardim da minha memória com uma tesoura na mão. Às vezes aparo galhos secos, visito belas rosas conhecidas e outras vezes encontro flores que nem sabia que tinham nascido ali...

Nem queria, mas ficou poético esse final 😂😂😂😂

Meu amigo, eu nem vou me desculpar mais... Apenas agradeço o seu carinho em continuar acompanhando nossa história!

Eu quero muito ler o que você escreve, e farei isso com meu amô, com certeza. Só que nossa vida é bagunçadinha, nos mudamos recentemente e de maneira repentina, estamos nos adaptando ainda. Não sei se reparou, mas os capítulos nem revisados estão sendo 😬

Qualquer hora eu broto, parceiro 🤝🏽❤️

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Eu tenho conversado também com outro autor aqui da CDC, o Turin, e comentava com ele sobre essa experiência de escrever — como tantas coisas têm emergido do inconsciente e ganhado forma nas histórias. Usei palavras parecidas com essas, mas confesso… como eu gostaria de ter a capacidade de me expressar como você, de escrever algo como:

"Escrever, para mim, se tornou entrar no jardim da minha memória com uma tesoura na mão. Às vezes aparo galhos secos, visito belas rosas conhecidas e outras vezes encontro flores que nem sabia que tinham nascido ali..."

Porque, na verdade, era exatamente isso que eu queria dizer.

A vida é engraçada. Quando eu fazia terapia, o psicólogo dizia que eu era mais fechado, que não costumava expor meus sentimentos com facilidade. E ele estava certo. Tentei me abrir mais por meio de outras atividades ( como as aulas de canto), buscando algum canal de expressão.

Mas foi escrevendo que eu realmente consegui. Liberei tanto dos meus sentimentos que, neste caso especifico, até eu mesmo me surpreendi.

É difícil explicar com exatidão, mas a sensação foi parecida com quando a gente come algo estragado, passa mal, e só encontra alívio depois de vomitar. Parece grotesco, mas é real: tinha algo dentro de mim que me fazia mal — no sentido psicológico — e, ao escrever sobre isso, foi como se eu tivesse, metaforicamente, vomitado. Expulsei aquilo de dentro de mim.

Vomitar é feio, é doloroso, é desconfortável... mas resolve. E escrever, algumas vezes, tem sido exatamente isso pra mim: um remédio meio amargo, mas que funciona.

Lore, eu imagino que a vida esteja bagunçada. Torço muito para que vocês superem essa fase. E agradeço, de verdade, por você continuar compartilhando suas histórias, mesmo na correria.

Só de saber que existe um casal como você e a Juh já me enche de alegria. ❤️

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Existem muitas formas de expressar o que sentimos, e acredito que cabe ao profissional explorar essas possibilidades junto ao paciente até encontrar a que o faça se sentir mais à vontade. Já trabalhei com pessoas que preferiam conversar, outras que se abriam melhor com atividades artísticas, e até casos presenciais em que o paciente se comunicava por bilhetes, porque falar era muito difícil para ele. Eu gostava de pedir duas playlists aos meus pacientes: uma com músicas que eles gostavam de ouvir e outra com músicas que traduziam como estavam se sentindo. Era uma forma de acessar o mundo emocional sem forçar tanto a fala.

Já ouvi muito: "você é psiquiatra e não psicóloga" ou "tá fazendo trabalho de psicóloga", sendo que,

na verdade, eu sempre acreditei que a saúde mental é um campo integrado. Meu objetivo nunca foi ocupar o lugar de outro profissional, mas oferecer ao paciente um espaço seguro e humano, onde ele se sentisse à vontade para existir com suas dores e suas formas de expressão. Acredito que, antes de qualquer técnica ou rótulo, vem a escuta e o cuidado, e se isso significa usar música, escrita, silêncio ou bilhetes, tudo bem. O que importa é o que funciona para cada pessoa.

Eu, pessoalmente, sempre me comuniquei melhor oralmente, mas com o tempo também tenho sentido coisas muito boas escrevendo. Parece que as palavras ganham outro peso quando a gente as coloca no papel, ou no nosso caso, na tela!

E eu preciso dizer: nunca li algo tão bonito sobre vômitos 😂

A sua capacidade de usar uma metáfora tão visceral e ainda assim tão precisa é impressionante. É isso mesmo, escrever às vezes pode ser um remédio amargo, mas que limpa por dentro 😅

Obrigada pelas palavras sempre gentis comigo e com a minha família. Você é 10, Ryu! A melhor coisa desse site são as amizades que faço! ❤️

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Boa noite, Lorena.

Liberei o texto para publicação.

Abraços!

Eduardo

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