Parte 3
As semanas que se seguiram foram marcadas por encontros cada vez mais intensos.
Dante não falava sobre aquilo com ninguém. No trabalho, continuava sendo o mesmo: direto, masculino, confiante. Mas quando a noite caía e Lucas chegava em sua casa — sempre de cabeça baixa, olhos atentos, e aquela energia de quem vive pra servir — Dante se tornava rei e fera ao mesmo tempo.
A cada novo encontro, as coisas ganhavam camadas. Não era mais apenas gozar na boca dele. Era usar como poltrona, dormir com o pau encostado na língua dele, mandá-lo ficar nu enquanto fazia tarefas simples — como lavar louça de joelhos, com o corpo marcado pelas pegadas do dono.
Mas algo começou a crescer ali. E Dante não sabia lidar.
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Uma noite mais lenta
Dante chegou do trabalho, exausto. Estava nervoso com um projeto que não tinha dado certo. Jogou a mochila no chão e gritou:
— Lucas? Tá aí?
O som de passos apressados ecoou pela casa. Lucas, que já frequentava quase diariamente a casa de Dante, apareceu de bermuda, sem camiseta, já com os olhos baixos. Dante olhou pra ele. A tensão no peito começou a aliviar só de vê-lo.
— Quero tua boca. Agora.
Lucas ajoelhou sem falar, e Dante sentou no sofá, abrindo o zíper.
Mas não foi como das outras vezes.
Dessa vez, Dante segurou a cabeça de Lucas com menos força. Enfiou devagar. Fechou os olhos. Deixou a respiração pesar. E sussurrou algo que Lucas nunca tinha ouvido:
— Eu não sei o que você tá fazendo comigo, cara…
Lucas parou. Tirou o pau da boca e o encarou. Aquilo… era emoção?
— Por que disse isso?
Dante desviou o olhar. Levantou-se. Caminhou pela sala.
— Porque isso tá passando do físico. Eu começo a pensar em você durante o dia. Em como tua boca me entende. Em como teu silêncio me conforta. E isso me deixa puto… porque eu nunca pensei que sentiria isso por um homem.
Lucas ficou quieto. Sabia que qualquer palavra errada poderia quebrar aquele momento raro de abertura.
Dante sentou-se outra vez.
— Eu não quero que você seja meu namorado. Não sei se quero te amar. Mas porra… eu quero você por perto. Não só pra gozar.
Lucas respirou fundo. Ajoelhou de novo, mas dessa vez de frente, com as mãos nas coxas de Dante.
— Então me deixa ser teu espaço seguro. Não te cobro amor. Só quero ser onde você descarrega o que o mundo não deixa. Leite. raiva. vontade. Cansaço. Pode ser?
Dante olhou nos olhos dele. Pela primeira vez, não como objeto, mas como alguém que sabia o próprio lugar — e ainda assim oferecia mais do que qualquer outro já ofereceu.
— Pode ser. — disse Dante. — Mas continua com a boca aberta. Porque eu ainda preciso de você… como meu depósito de gala.
Lucas abriu os lábios, feliz. Sabia que naquele momento, não havia nome para o que estavam vivendo. Mas havia entrega, desejo, e algo além da carne.
Algo que só existe quando dois corpos se reconhecem — mesmo quando a lógica diz que não deveriam.