06___PONTO DE BALA

Um conto erótico de Thomas Britto
Categoria: Heterossexual
Contém 1452 palavras
Data: 27/07/2025 16:34:06
Última revisão: 31/07/2025 12:54:43
Assuntos: Heterossexual

PONTO DE BALA

Bya chegou se arrastando e sentou-se no banco meio torto do ponto de ônibus. Por ironia ele também estava quente, mas aquele não era feito de couro. Agora, fora do carro dele, a calcinha úmida colada entre as pernas, se parecia com um troféu sujo — uma lembrança de um tipo de humilhação que ela não sabia nomear.

Depois que desceu do carro, não fazia ideia de como tinha chegado ali. Era como se alguém a tivesse colocado naquele lugar, sem pedir permissão.

Estava incomodada com o calor que a fazia transpirar, com os lábios inchados e o cabelo pesado. O gosto na garganta ainda era indigesto. A ânsia já tinha passado, mas o cheiro parecido com queijo azedo ainda fazia lembrança.

Sentia vontade de arranhar seu rosto e de lavar a boca com sabão.

Tentou se distrair no celular... Era como se naquele momento ela não estivesse ali. O ônibus passou mas ela não se moveu. Não conseguia pensar em ir pra casa e encarar tudo daquele jeito.

Talvez ficasse ali o resto da tarde. Ninguém parecia notar sua presença, ou ausência. Ela era só mais uma sombra como as outras sentada sob do sol.

Ficou olhando a rua, como quem espera por uma resposta sem nem ter feito a pergunta. Seus pensamentos agora tinham um colorido diferente e sua boca continuava com um sabor confuso.

Segurava o rosto com a mão, meio de lado, perdida nos próprios pensamentos, olhando o asfalto evaporar quando uma ideia surgiu:

— Gente... desculpa... alguém aí tem uma bala pra me dar? Qualquer coisa... bala, chiclete...por favor!

Parecia uma vendedora ambulante pedindo socorro.

Aquilo saiu um pouco alto e desesperado demais. A mulher ao seu lado levou um susto, sorriu e sem entender muito, tirou uma embalagem da bolsa. Bya aceitou a bala como se estivesse na igreja comungando e pedindo perdão pelo que havia feito. Jogou a bala na boca como se fosse algum tipo de remédio, respirou fundo. e pensou: se isso não resolver o problema de verdade pelo menos vai ajudar aliviar a consciência.

Um homem bem mais afastado veio se aproximando com um sorriso fácil.

— Se quiser mais uma bala moça, eu tenho. De menta, quer? — disse, como se oferecesse carinho.

Uma fúria sem explicação a tomou conta, Bya lançou um olhar duro e o ignorou. Foi quase grossa. Naquele momento ela já tinha o que precisava e o que não precisava também.

Logo em seguida, sentiu culpa. O rapaz não tinha nada a ver com o que tinha acontecido. Por sorte, o ônibus dele chegou dois minutos depois.

Ele subiu, acenando e ela fez de conta que não o viu. Apenas seguiu com os olhos o ônibus se afastando, até desaparecer pra sempre.

Ainda estava ali, imóvel, quando o celular vibrou em sua mão e ela se lembrou novamente de que ainda estava viva.

Era ele.

— E ai, já chegou, Bya?

— Não, ainda não... Tô aqui no ponto... esperando o ônibus.

— Mas já faz mais de uma hora... Achei que tava em casa.

— Tá sozinha aí fazendo o quê?

— Sei lá... tô aqui pensando besteira, acho. Fiquei meio encanada com o que aconteceu...

—Encanada? E eu aqui pensando o contrário: você mandou muito bem.

— Mas por quê?

— Bya... você se entrega demais. Isso muito especial, sabia? Você é atenciosa, parceira... Gostei disso.

— Mas, Diogo... foi errado... Eu achei que a gente fosse conversar, eu queria saber um monte de coisa, te conhecer melhor, sabe? Saí de casa achando que ia ser um jeito, mas foi de outro.

Diogo respondeu, tentando a convencer do óbvio:

— Relaxa Bya, agora já foi... As coisas são assim mesmo - você sabe que nem tudo acontece do jeito que a gente pensa, não sabe? Na faculdade mesmo tá cheio de garota assim: fica de papo, de conversinha... e só fica nisso, fazendo joguinho, bancando a difícil... Você foi o contrário. Eu curto gente mais solta, combina mais comigo.

—Sei lá, mas na próxima, quero conversar mais... Ainda não sei quase nada de você. E nem você de mim.

— Mas de você eu já sei o que preciso: que você me deixa maluco e que posso contar contigo pra tudo. Até pra cuidar das minhas roupas, tomar uma cerveja comigo... É difícil isso hoje em dia.

- Conversar, a gente vai conversando. E com o tempo as coisas vão fluindo. Não esquenta com isso agora não.

Bya relia a conversa se sentindo um pouco mais calma e confiante, como se talvez fosse haver um futuro – e por isso mesmo quis mostrar pra ele que ela era uma mulher séria:

— Mas sabe, é que eu tô com vergonha de você... porque acho que exagerei hoje.

— Como assim, exagerou Bya? Só se você exagerou de um jeito bom, porque se todas fossem assim, o mundo tava bem melhor.

— Sei lá... mas foi estranho...

— Eita... estranho? Como assim...do jeito que tá falando até parece que não curtiu muito ficar comigo.

— Não, lindo... imagina. Claro que eu gostei. Mas aconteceu uma coisa que foi muito esquisita... Não sei se você percebeu.

— Como assim, esquisita? Tipo o quê? Perguntou já um pouco irritado.

— O cheiro que tava, Diogo...

Ele respondeu quase sem hesitar:

— Ah, é isso... relaxa, Bya. Acontece às vezes, é coisa de homem...A gente tem cheiro mesmo, ainda mais quando o dia tá mais puxado, com o treino e esse calor que anda fazendo. Normal, a mulherada já sabe como que é, não achei que você ligava pra isso não...

Bya sentiu um clima no ar e resolveu amenizar:

—Ah, eu não sabia... é só porque me pegou de surpresa, mesmo. Achei até que não ia conseguir.

— Sério mesmo? Ia desistir de ficar comigo só por causa disso?

— Não, não... Eu é que fiquei meio atrapalhada na hora. Não quero que você fica achando que eu não gosto de você...

— Não sei se você percebeu que eu tava meio estranha...

— Eu percebi que você tava nervosa. Mas é normal... porque você ainda é muito tímida. E eu percebi também que você tava excitada, você tava gostando do rolê, não tava? Você nem quis parar...

— Mas teve uma hora que eu quis... achei que você não tivesse gostando.

— Se eu não tivesse gostando, você acha que eu ia deixar você continuar? Que eu ia ficar aqui trocando mensagem? Já tinha pego estrada essa hora...

— Desculpa, eu sei que é feio falar assim, mas é que o gosto e o cheiro... tava muito forte. Me travou.

— Mas Bya, mesmo assim você continuou, foi até o fim. Fez o que devia fazer. Foi uma mulher de verdade, Bya. Isso me diz muito sobre você.

Talvez fosse normal. Talvez ele tivesse razão. Talvez fosse só falta de costume... ou medo de perder a chance.

— ...sei lá.

— É só que... parece que eu fui outra pessoa hoje.

— E isso é bom... Era a Bya com Y que tava ali hoje. Essa mulher que eu vejo e que me mexe comigo. Você foi perfeita hoje, mesmo achando estranho fez tudo certo e se saiu muito bem... e olha que você ainda é nova, tem bastante tempo. Só precisa se acostumar, mas o bom é que tá aprendendo rápido.

Ela leu a última mensagem e sentiu algo entre orgulho e dúvida. Era um elogio? Um aviso? Não sabia ao certo. Mas era melhor do que o silêncio.

— Já entrou no ônibus? Falta muito?

— Ainda não... já passaram três. Vou no próximo.

— Tá mais calma então?

— Sim, sim... eu pedi uma bala aqui pra moça, tô melhor já, foi bom que mandou mensagem.

— Pediu bala? Então agora relaxa e vai pra casa. Toma um banho e pensa em mim, mas só nas coisas boas. Foi bom te ver.

— É, no fim eu também curti.

— Tá vendo Bya, eu sabia, ainda tô aqui lembrando da sua boca borrada. Sexy demais.

— Aí que vergonha Diogo, para...

— Vergonha nada, a gente tem que repetir logo esse rolê. Espera só quando eu voltar pra você ver...

Bya leu a última mensagem e se sentiu leve, respondeu com riso nos lábios:

— Tá bom, entendi...

— Me avisa quando chegar, e não vai esquecer minhas sacolas aí no ponto, hein...

A mensagem ficou ali, pendurada na tela. Ela subiu no próximo ônibus se sentindo um pouco menos pior.

A conversa e o hálito doce da bala tinham aliviado a confusão dentro da boca e da cabeça dela.

Encostou a cabeça no vidro, vendo a cidade passar devagar.

A calcinha úmida ainda a incomodava. Mesmo depois das mensagens ela não sabia dizer se tinha gostado daquilo tudo.

Talvez tivesse sido horrível. Talvez não.

Só sabia que de alguma forma ele ainda estava ali.

Úmido entre as pernas dela, e isso, por ora, bastava.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 3 estrelas.
Incentive thomas britto a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários