O sol de derramava-se sobre as ruas como mel dourado, iluminando com crueldade benevolente o cortejo que avançava pelo bairro mais exclusivo da cidade. Era uma tarde calculada para esta exibição - nem muito quente a ponto de causar desconforto, nem tão amena que passasse despercebida.
O Dom liderava o grupo com a precisão de um general em parada militar. Seu terno negro, cortado sob medida, sugava a luz ao seu redor como um buraco negro sartorial. Os detalhes - botões gravados com o símbolo Δ, o corte que acentuava seus ombros largos - eram assinaturas visuais de seu status. Seus passos ecoavam no silêncio respeitoso que se formava à sua passagem.
O Cortejo do Poder
Atrás dele, mantendo exatos três passos de distância, as submissas originais moviam-se com a graça sincronizada de animais de elite:
A atriz negra, com sua coleira de couro vermelho e orelhas felinas postiças, carregava-se como uma pantera domesticada. Seu vestido de malha transparente revelava marcas ritualísticas nas coxas - cicatrizes em padrões geométricos que contavam histórias de iniciação.
A loira, com adornos caninos e uma cauda discreta balançando em sincronia com seus quadris, lambia os lábios periodicamente num gesto que parecia involuntário, mas que fora meticulosamente condicionado.
As submissas grávidas completavam o séquito:
Júlia, com seu ventre já arredondado envolto num espartilho transparente que realçava cada curva da gestação, usava uma coleira branca com pingentes de cristal que tilintavam suavemente a cada passo.
Rafaela, mais contida mas não menos impressionante, trazia nas costas expostas uma tatuagem temporária com os dizeres "Propriedade do Δ" em letras góticas, renovada semanalmente como parte do ritual.
A Coreografia do Domínio
O Dom mantinha nas mãos quatro guias de couro italiano trançado, que convergiam para um único anel de platina em sua mão esquerda. A cada esquina, executavam pequenos rituais de exibição:
Na padaria francesa, ordenou que as grávidas se ajoelhassem sobre os degraus de mármore enquanto comprava croissants, seus ventres expostos à luz solar como oferendas.
No cruzamento principal, fez a loira beber água de uma tigela posta no chão, sob os olhares estupefatos de turistas que rapidamente desviavam o olhar ao encontrar seus olhos gélidos.
Em frente ao clube exclusivo, todas se alinharam contra o muro como estátuas vivas por exatos três minutos, imóveis a ponto de confundir pássaros que quase pousaram em seus ombros.
O Parque dos Juramentos
O destino final era o Jardim das Hespérides, área privativa onde as regras sociais ordinárias se dissolviam sob contratos de confidencialidade assinados por todos os moradores. Ali, o Dom soltou as guias mas não o controle:
— "Vocês são minhas — na luz ou na sombra. No silêncio ou no escárnio alheio. Na saúde ou na dor. Seus filhos serão criados nesta verdade antes mesmo de entenderem palavras."
As submissas responderam não com palavras, mas com ações coreografadas:
A atriz negra deslizou de joelhos até seus pés, desabotoando seu sapato com os dentes.
A loira apresentou seu pescoço para receber uma nova marca temporária com carimbo de cera quente.
As grávidas entrelaçaram as mãos sobre seus ventres e recitaram em uníssono: "Este corpo é templo, mas o altar é seu, Senhor."
O Retorno Triunfal
Na volta, tomaram um caminho diferente - passando deliberadamente pela avenida onde se concentravam os estúdios de cinema. Câmeras de turistas piscaram, celulares foram levantados, mas o Dom não acelerou o passo. Pelo contrário, pausou para ajustar pessoalmente a coleira de Rafaela, seus dedos acariciando a pulseira de monitoramento fetal que brilhava discretamente sob o tecido.
Os sussurros que os seguiam eram parte do espetáculo:
— "É algum filme?"
— "Deve ser performance art..."
— "Conheço aquela atriz, ela já foi indicada ao Oscar..."
Nenhuma pergunta foi respondida. Nenhum olhar se desviou. O cortejo seguiu até desaparecer atrás dos portões da mansão, deixando na esteira uma cidade que jamais entenderia completamente o que testemunhara - apenas sentiria, no peito, o eco perturbador de uma hierarquia que desafiava todos os seus conceitos de liberdade.