No apartamento do chefe - Capitulo 4

Um conto erótico de Santos
Categoria: Gay
Contém 730 palavras
Data: 23/07/2025 13:13:16
Última revisão: 23/07/2025 13:21:55

Ricardo precisava de uma pausa. A rotina no apartamento do Brooklin, com sua vista grandiosa e o silêncio que se tornara opressor, começava a sufocar. A imagem de Lucas no banheiro, semanas atrás, ainda rondava sua mente, trazendo uma mistura confusa de curiosidade, culpa e desejo — sentimentos que ele nunca tinha aprendido a nomear. Aos 58 anos, viúvo e com uma vida construída sobre regras e aparências, Ricardo sentia que precisava de ar. De distância. De clareza.

Foi assim que decidiu passar alguns dias em Brasília, junto aos filhos — Rafael, Thiago e Mateus. Talvez a companhia deles ajudasse a aquietar a mente e reordenar o coração.

Ao chegar à capital, foi recebido com o calor familiar de sempre. Rafael, o mais velho, com seus 38 anos, vivia com a esposa em uma casa elegante nos arredores da cidade. Já Thiago, de 35, e Mateus, de 32, dividiam um apartamento moderno e vibrante no centro. Ricardo optou por ficar com os dois caçulas — talvez inconscientemente buscando algo da leveza e liberdade que eles carregavam.

O apartamento dos filhos era um reflexo da personalidade deles: quadros coloridos nas paredes, uma varanda com vista para o Eixo Monumental e uma geladeira sempre abastecida com cervejas artesanais. Na primeira noite, sentaram-se na sala, uma garrafa de uísque sobre a mesa de centro, e deixaram a conversa fluir. Começaram falando de trabalho, de casos jurídicos, das lembranças de Clara. Mas, à medida que o álcool amaciava as defesas, o tom mudou.

“Pai,” disse Thiago, com um sorriso malicioso, “no escritório a gente leva tudo muito a sério… mas aqui fora, a vida é outra história.”

Ricardo franziu o cenho, intrigado. “Como assim, outra história?”

Mateus riu, bebendo um gole do uísque. “Relaxa, pai. A gente vive. Com intensidade, sem rótulos. Homem, mulher… o que importa é a conexão. Só pra deixar claro, a gente curte mais o ativo. O outro lado não é nossa praia.”

Ricardo congelou por um instante, o copo suspenso no ar. Aquela revelação o pegou de surpresa. Seus filhos — homens bem-sucedidos, confiantes, negros como ele — estavam ali, falando abertamente sobre uma liberdade sexual que ele sequer tinha cogitado. Por um segundo, a imagem de Lucas relampejou em sua mente, mas ele a afastou com força. “Vocês… estão falando sério?” disse, mais por instinto do que por reprovação.

Thiago deu de ombros, tranquilo. “Totalmente. A vida é curta demais pra viver trancado em padrões. A gente curte, se protege, e segue leve.”

Mateus completou, com um olhar mais denso: “E não se trata de ser isso ou aquilo. É sobre ser inteiro. Autêntico. A gente não quer julgar ninguém, nem viver com medo de ser julgado.”

Ricardo tomou um gole mais longo do uísque, deixando o silêncio preencher o espaço. Sempre viu os filhos como espelhos de si — homens íntegros, fortes, disciplinados. Mas agora, percebia que eles tinham ido além. Tinham encontrado uma liberdade que ele sequer sabia existir. “Eu… acho isso admirável,” disse enfim, com um sorriso hesitante. “Vocês têm coragem. E isso… eu respeito muito.”

Ele não sabia se era o efeito do uísque ou o impacto da conversa, mas sentiu uma pontada inesperada: inveja. Não da vivência dos filhos em si, mas da liberdade. Como se eles tivessem acesso a um segredo que ele ainda estivesse tentando decifrar.

Enquanto isso, em São Paulo, a ausência de Ricardo deixava um vácuo sutil na rotina de Lucas. Com o chefe fora da cidade, não havia razão para ir ao apartamento do Brooklin. Ele seguia no home office, trabalhando da própria sala, com a mesa improvisada tomada por papéis e café frio. Mas, por mais que os dias seguissem seu curso, a lembrança daquela última vez no apartamento continuava viva.

Lucas não esquecia o momento no banheiro. A pausa de Ricardo no corredor. O olhar silencioso que parecia dizer mais do que qualquer frase. Será que ele gostou do que viu? Será que aquilo mudou alguma coisa?

Ele tentava manter o foco nos processos, nos prazos, nos e-mails trocados com a equipe. Mas a ausência de Ricardo não apagava a presença que ele ainda sentia. A tensão permanecia, pairando como um perfume esquecido no ar.

E, lá no fundo, Lucas contava os dias para voltar ao apartamento. Para sentir de novo aquela proximidade carregada de dúvida. Para descobrir, quem sabe, se havia algo ali — algo que podia ser perigoso, ou talvez libertador.

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