Fala pessoal, tudo bem? Bom a partir de agora irei dar sequência nessa história e vou até o capítulo final, em seguida irei publicar a continuação do conto: “A pensão do Luizão” após isso teremos outras histórias incríveis! Espero que estejam gostando!!! Comenteeeemm!
Agora vamos ao conto….
Naquela noite, depois que Lucas deixou o apartamento, Ricardo ficou sozinho com seus pensamentos. Sentou-se no sofá da sala, enquanto as luzes da cidade brilhavam além das janelas do Brooklin, mas sua mente vagava longe dali. A imagem de Lucas no banheiro, com a porta entreaberta, não saía de sua cabeça. O jovem, com seus 26 anos, pele clara e corpo esculpido pela academia, surgia em sua lembrança de forma insistente — especialmente aquela silhueta, marcada pelo short justo e provocante. Ricardo fechou os olhos, tentando afastar a cena, mas ela voltava como um incêndio silencioso.
Será que Lucas era gay? Ele nunca dera sinais evidentes — sempre profissional, discreto, contido. Mas aquela cena… Seria apenas coincidência? Ou uma provocação silenciosa?
Aos 58 anos, viúvo havia poucos meses, Ricardo sentia o peso da solidão no apartamento que antes dividia com Clara. Nunca havia se permitido pensar em homens — ou pelo menos acreditava nisso. Mas ali, no silêncio profundo da noite, a lembrança de Lucas o consumia. Quase sem perceber, deixou a mão escorregar pelo corpo, como se conduzido por algo mais forte que a razão. O calor cresceu, e, antes que pudesse racionalizar, já estava deitado na cama, rendido a um desejo inesperado. Imaginou Lucas, o corpo dele, o instante breve no corredor. Deixou-se levar. Quando terminou, veio a culpa — pesada, silenciosa — misturada a uma curiosidade que ele não sabia como lidar. Prometeu a si mesmo que havia sido apenas um deslize. Um momento de fraqueza.
Lucas, por sua vez, também não conseguia tirar aquele instante da cabeça. Sabia que Ricardo o tinha visto — a pausa no corredor, o olhar que hesitou. A caminho da academia, repassava cada detalhe mentalmente. Será que ele gostou do que viu? Ou achou estranho? Um misto de vergonha e excitação percorria seu corpo. Parte dele queria testar os limites. Outra temia ultrapassar uma linha sem volta. Por ora, decidiu manter as coisas como estavam, deixando a tensão pairar no ar, silenciosa e constante.
As semanas seguintes seguiram calmas — ao menos na aparência. No apartamento, os dias eram tomados por trabalho, revisões de casos, cafés e diálogos profissionais. Ricardo mantinha a postura de sempre: firme, educado, com aquele tom grave que exigia concentração. Mas havia momentos em que o olhar dele permanecia sobre Lucas por tempo demais. Ou um comentário fugia do habitual. E, por mais que tentasse, Ricardo não conseguia apagar da memória a imagem do banheiro. Aquele instante abrira uma porta que ele não sabia se queria — ou se conseguia — fechar.
Talvez tentando dispersar a tensão crescente — ou apenas buscando quebrar a monotonia do home office — Ricardo decidiu organizar uma reunião descontraída com a equipe. Era uma sexta-feira à noite, e ele convidou os cerca de vinte funcionários do escritório: advogados, estagiários, assistentes, homens e mulheres. “Vamos fazer algo leve. Um vinho, boas conversas, sem pressão”, escreveu no e-mail. Lucas, ao ler o convite, sentiu um frio na barriga. Seria a primeira vez que veria Ricardo fora do contexto formal, cercado por outras pessoas, mas ainda assim tão próximo.
Na noite do evento, o apartamento estava impecável. A sala ampla, com vista panorâmica de São Paulo, estava decorada com mesas de petiscos, garrafas de vinho e uma playlist suave preenchendo o ambiente. Lucas chegou com os demais, vestindo uma camisa social ajustada e uma calça que moldava seu corpo com sutileza — nada tão ousado quanto o short de semanas atrás, mas ainda assim impossível de ignorar. Ricardo, como sempre, estava elegante: camisa de linho azul-escura, que realçava os ombros largos, e um sorriso gentil que escondia com perfeição tudo o que se passava dentro dele.
A noite fluiu com leveza — conversas, risos, histórias do escritório. No papel de anfitrião, Ricardo decidiu mostrar o apartamento completo, algo que poucos conheciam além da sala principal. “Venham, vou mostrar o resto. Essa casa é grande demais pra mim sozinho”, disse, com um tom brincalhão que escondia um certo vazio. O grupo o seguiu, admirando a cozinha moderna, a varanda com vista para o skyline, e a sala de jantar onde ele e Lucas frequentemente trabalhavam.
Por fim, chegaram à suíte principal — um espaço que Lucas nunca tinha visto. Quando a porta se abriu, revelou um quarto digno de revista de decoração. No centro, uma cama king-size com lençóis brancos impecáveis. Uma enorme janela de vidro ocupava toda a parede, revelando a cidade iluminada como um mar de estrelas. Lucas deixou escapar um “nossa” quase inaudível. O ambiente era elegante, mas profundamente íntimo. Detalhes pessoais revelavam mais de Ricardo do que qualquer conversa: uma foto discreta com Clara sobre a cômoda, um exemplar de Direito Constitucional na cabeceira, o aroma sutil do perfume dele no ar.
Lucas parou por um instante, absorvendo tudo. Ali era o lugar onde Ricardo dormia, vivia, enfrentava a ausência. Por um momento, imaginou-se naquele quarto em outro contexto — mas afastou o pensamento tão rápido quanto veio. Ricardo, ao lado, falava com os colegas sobre a vista, alheio ao turbilhão silencioso no peito de Lucas. Os elogios ao apartamento continuaram, as risadas fluíam, mas entre os dois, havia algo não dito. Uma tensão sutil, como uma corrente invisível, unindo-os sem permissão.
Quando a noite chegou ao fim, Lucas se despediu com um aceno discreto, sentindo o olhar de Ricardo segui-lo até a porta. Nenhuma palavra foi dita. Nenhum gesto ultrapassou o limite. Mas por dentro, ambos ardiam — cada um lidando, no silêncio, com os próprios segredos.