A campainha tocou como um aviso sutil de que nada seria como antes. Não foi um toque urgente. Foi seco, contido, quase educado. Mas o efeito foi imediato — o ar da casa mudou. Rebecca, ainda no quarto, parou de falar no meio de uma frase. Eu fiquei imóvel, os olhos presos na porta. A sala parecia pequena demais para conter a tensão que explodiu em silêncio.
Abri devagar, e lá estava ele. Vinícius.
Parado no corredor com uma postura tranquila demais para alguém prestes a comer a esposa de outro homem. Camisa preta ajustada ao corpo, o bíceps pulsando sob o tecido, o rosto barbeado e sério, como quem levou o convite a sério. Tinha algo de calmo nele, mas era aquela calma de quem já esteve em luta — de quem mede tudo ao redor antes de atacar. O olhar dele cruzou o meu por um segundo apenas. Um aceno breve com a cabeça, nada mais.
— Boa noite — disse, baixo.
Assenti, sem saber se minha voz sairia.
Ele entrou, os passos firmes no chão de madeira, e sentou no sofá com naturalidade ensaiada, como se aquele espaço já tivesse sido testado em pensamento mil vezes. Ficou ali, em silêncio, olhando em volta — não com curiosidade, mas com reconhecimento. O olhar de quem sabe que aquela casa tem cheiro de mulher, e que veio buscar justamente isso.
Rebecca apareceu pouco depois, descendo do quarto devagar, o salto ressoando como um relógio marcando o início do ritual. Usava um robe de cetim preto que deixava as pernas nuas até a metade da coxa. O cabelo solto, levemente ondulado, a boca com batom escuro. Ela andava com calma, mas os olhos... os olhos estavam cheios de tensão elétrica. Olhou para mim antes de ver Vinícius — e eu senti tudo naquele olhar. A promessa, o pedido de permissão, a cumplicidade. Depois olhou pra ele.
Eles não sorriram.
Não precisavam.
Os olhos dela disseram: você venceu.
E os olhos dele responderam: eu vim buscar.
Rebecca parou de frente para nós, ali no meio da sala, como se tivesse dividido o ambiente em dois: de um lado, eu, o marido; do outro, Vinícius, o novinho que ia possuí-la naquela noite. Por um instante, ninguém disse nada. Só o som abafado do ar-condicionado e minha própria respiração descompassada. Ela olhou pra mim primeiro, depois pra ele. E sorriu — pequeno, contido, cúmplice dos dois.
— Vinícius... você lembra do meu marido, né? — ela disse com voz baixa, quase doce.
Ele assentiu, educado.
— Claro. Boa noite, amigo.
A palavra "amigo" soou estranha. Quase cínica. Mas o tom dele era respeitoso. Polido. Não havia provocação no jeito dele falar — e talvez por isso fosse pior. Porque era real.
— Boa noite — consegui responder, tentando parecer menos quebrado por dentro.
Rebecca olhou para os dois, e soltou uma risadinha leve, de nervosa.
— Gente, não fica assim, não... parece entrevista de emprego.
Ela se aproximou de mim primeiro, pegou minha mão, apertou com força.
— Amor, respira... tá tudo certo. É só a gente realizando o que sempre imaginou. Eu tô aqui. Com você. E com ele. Mas com você, entende?
Eu assenti, engolindo seco. Ela se virou então pro Vinícius, que não desviava o olhar dela nem por um segundo.
— Tá nervoso?
— Um pouco. Mas... animado.
Ela sorriu mais abertamente.
— Então tá. Porque eu tô nervosa também. Mas com tesão. E isso é perigoso.
Vinícius finalmente falou comigo diretamente, a voz firme, mas sem arrogância.
— Eu só quero deixar claro que... eu respeito vocês. Isso aqui, pra mim, é algo que tem valor. Não é bagunça.
Rebecca olhou pra mim, depois pra ele.
— Eu não sou bagunça. Mas hoje... posso me bagunçar inteira. Se ele quiser ver.
Fiquei em silêncio, sentindo as palavras se alojarem em mim como algo entre um choque e uma bênção estranha.
— Eu quero ver — sussurrei.
Ela pegou nossas mãos, uma em cada lado, e entrelaçou.
— Então vamos com calma. Com verdade. E com vontade.
E ali estávamos: os três. De mãos dadas. De olhos arregalados. Prestes a viver a cena que até então só existia em pensamento. E mesmo sem ninguém dizer em voz alta, estava selado:
macho aliviado, fêmea satisfeita, corno feliz.
Enquanto comíamos, fingindo normalidade entre pedaços de pizza e goles de vinho, o verdadeiro banquete estava acontecendo em silêncio. Era o olhar entre eles. Vinícius não era desrespeitoso, mas também não fingia pudor. O olhar dele era direto, sem rodeios. Ele secava Rebecca com a naturalidade de quem sabe que em breve vai ter tudo aquilo nas mãos — e entre as pernas.
Ela percebia, claro que percebia. Mas não desviava. Pelo contrário: sustentava. Às vezes, mordia o lábio, ou fazia aquele movimento lento de cruzar e descruzar as pernas, o robe abrindo só o suficiente para deixar a pele à mostra, as coxas brilhando sob a luz quente da sala. Ela sabia exatamente o que estava fazendo com ele. E comigo.
A tensão subia como vapor. Eu via. Sentia. Cada vez que ele passava os olhos pelo decote dela, ou seguia o contorno do ombro até o pescoço, era como se traçasse um mapa do que logo iria explorar com a boca. E ela deixava. Permitindo o olhar, alimentando o desejo dele com gestos mínimos: um gole mais demorado no vinho, os dedos brincando com a taça, a risada baixa, a respiração um pouco mais curta.
Eu, no canto do sofá, observava tudo. O clima tinha deixado de ser leve. Agora era denso, quente, prestes a explodir. As palavras ainda vinham, mas os corpos já estavam conversando num idioma mais antigo. E ali, naquela triangulação silenciosa, eu soube: o que viria não era mais fantasia.
Era iminente. E era agora.
Depois da segunda taça de vinho, Rebecca se esticou no sofá e, com a voz mais doce do mundo, me olhou por cima do ombro:
— Amor… pega a sobremesa na geladeira? Aquela que eu comprei só pra hoje.
Assenti, meio atordoado. Fui até a cozinha com passos que pareciam mais longos do que deviam ser. O som da geladeira se abrindo, o frio batendo no rosto... tudo parecia fora de lugar, como se o tempo tivesse entrado em suspensão. Peguei o pote com as duas mãos, respirei fundo, e voltei.
Quando entrei na sala, ela já não estava mais no mesmo lugar.
Rebecca agora estava sentada bem próxima de Vinícius, as pernas cruzadas, o robe descendo um pouco mais, deixando uma parte do colo exposto. Ele tinha um braço ao redor da cintura dela, a mão pousada com naturalidade na lateral do quadril. Eles estavam relaxados, como se aquele fosse o lugar mais certo do mundo para os dois. Ela se inclinava levemente pra ele, o cabelo escorrendo pelo ombro, e os dois riam de algo que não ouvi.
Ela me viu parado na porta, e com aquele olhar que já me desmontava desde sempre — calmo, firme, carregado de tensão e carinho — disse:
— Coloca a sobremesa na mesa, amor. Vem cá. Tá tudo bem.
Ela sorriu, mas o sorriso era denso. Não era provocação. Nem piedade. Era realidade pura. Um gesto mínimo, mas carregado de poder.
Eu obedeci em silêncio. Porque naquele instante, ela já era dele. E ainda era minha. E o jogo… o jogo estava só começando
A sala estava mergulhada num silêncio espesso, desses que não incomodam — só carregam o ar de um peso delicioso. A TV ainda acesa, mas esquecida. Os três ali, próximos, corpos atentos. Rebecca girava a taça entre os dedos com movimentos suaves, como se pensasse alto só com o gesto.
— Foi uma luta bonita, né? — ela disse, sem olhar pra ninguém em específico.
Vinícius ajeitou-se no sofá, um leve sorriso nos lábios, o corpo relaxado, mas o olhar... o olhar estava afiado.
— Deu trabalho. Mas… valeu a pena.
Rebecca assentiu com um murmúrio, levando o vinho aos lábios, o batom manchando de leve a borda do cristal.
— Você lutou... como se tivesse algo esperando no fim.
Ele olhou pra ela por um segundo a mais do que devia.
— Eu tinha.
Eu respirei fundo, tentando manter o rosto neutro, mas sentia as têmporas quentes. Rebecca olhou pra mim então, devagar, com um sorriso que não era debochado — era cúmplice, íntimo.
— Amor… você lembra o que a gente combinou?
Assenti, sem precisar que ela completasse.
— E ele… — ela virou-se para Vinícius, o tom mais baixo, mais denso — ...ele cumpriu a parte dele.
— Eu faço questão de cumprir tudo — ele respondeu, sem elevar a voz, como quem promete em segredo.
Rebecca sorriu, fechando os olhos por um breve instante, sentindo algo dentro dela acender.
— Então acho... que o resto da noite também vai se cumprir. Do jeitinho que foi imaginado.
O silêncio voltou por alguns segundos, e dessa vez ninguém tentou quebrá-lo. Estava tudo dito, sem precisar ser dito. Só os corpos sabiam. E os olhos. E a tensão que já lambia a pele antes mesmo do primeiro toque.
Ela virou o rosto devagar, como quem não tem pressa nenhuma, e deixou os olhos pousarem nos dele. Um silêncio tomou conta da sala. Os dois se olharam por segundos longos, e então, como se o mundo tivesse dado um estalo mudo, Rebecca o beijou.
Não foi rápido. Não foi tímido.
Foi um beijo cheio, molhado, envolvido de calma e certeza. A boca dela encontrou a dele com fome contida, e ele a recebeu com as duas mãos subindo por sua cintura. Ela não escondeu nada. Beijou como quem se entrega com gosto, com sede, com saudade — mesmo com o marido parado ali, a poucos metros, assistindo.
E quando ela se afastou um pouco, os olhos ainda fechados, respirando devagar, olhou pra mim. Não disse nada. Só olhou.
E naquele olhar tinha tudo: permissão, confirmação, poder, afeto. Ela estava dizendo com os olhos: "É agora. E você está aqui. Pra ver tudo."
E eu… eu fiquei. Tremendo por dentro. Duro. Mudo. Feliz. E fodido.
Depois daquele beijo — lento, profundo, carregado de promessa — Vinícius não recuou. Ele ficou ali, o rosto próximo ao dela, respirando junto, como se o ar entre os dois tivesse adquirido um sabor novo. Rebecca ainda com os olhos fechados, a boca entreaberta, como quem pede sem palavras. E então ele foi. Sem pressa, sem hesitação.
As mãos dele começaram a explorar o corpo dela com uma naturalidade assustadora. Primeiro, subiram pela lateral da cintura, deslizando por baixo do robe. Depois, os dedos afundaram nas coxas dela, puxando-a de leve para mais perto. Rebecca se ajeitou no colo dele como quem encaixa onde sempre pertenceu. A perna cruzada se desfez, revelando mais do que escondendo. Ele passou a mão firme pelas costas dela, depois segurou com força a nuca, trazendo o rosto dela de volta para outro beijo, agora mais faminto.
As mãos dele agora a amassavam sem cerimônia: o robe se abriu mais, um seio escapou, e ele o tomou na mão como quem finalmente segura o que vinha desejando há meses. Rebecca não parava — rebolava no colo dele, mordia o lábio, sussurrava algo que eu não conseguia ouvir, mas sentia. Era o corpo dela reagindo, implorando. Ela se deixava tocar como nunca — ali, no sofá de casa, com meu olhar colado em cada gesto.
Era amasso, sim. Mas era muito mais. Era posse anunciada. E ela… estava pronta pra ser entregue inteira.
Ela gemeu baixo, um som abafado que me atravessou inteiro. Os dois já estavam esquecidos de mim — ou melhor, sabiam que eu estava ali, mas não era mais o centro. Eu era o espectador. E eles, o espetáculo.
Rebecca se afastou do beijo com a respiração acelerada, os lábios úmidos e um sorriso pequeno.. Levantou do colo de Vinícius com elegância preguiçosa, ajeitando o robe que já não cobria quase nada Ela ficou de pé no centro da sala, olhando pra ele de cima, como quem sabe o valor que carrega nas coxas.
— Ué, amor… — disse com um tom brincalhão, olhando entre mim e Vinícius — o combinado não era sofá, né? O combinado era, se ele vencesse a luta, me foderia na cama do casal...
Ela virou de costas com naturalidade, sem esperar resposta, e começou a caminhar em direção ao corredor. Os saltos batiam no chão com ritmo firme, decidido, deixando um rastro de tensão no ar. O robe balançava leve sobre a bunda, e cada passo parecia dizer: “tô indo cumprir a promessa.”
Antes de dobrar o corredor, ainda com o corpo meio de lado, lançou por cima do ombro, com aquele olhar afiado e risonho:
— Se quiserem me seguir… eu vou estar lá. Onde a aposta foi selada. Na cama do casal.
E sumiu pelo corredor, deixando só o som dos saltos — secos, provocantes, definitivos.
O troféu seria entregue agora. Ali. No altar de lençóis onde tudo começou. E onde tudo, finalmente, seria consumado.