O CÓDIGO DO PRAZER XVIII

Um conto erótico de Ryu
Categoria: Heterossexual
Contém 3167 palavras
Data: 22/07/2025 10:32:30
Última revisão: 23/07/2025 00:55:37

18 – Código Genético

O resto do ano passou rápido. Finalmente a empresa entrou em recesso. Simone, atolada com a instalação da nova unidade do hospital da família, não conseguiu tirar folga — por isso, nada de viagem.

No Natal, só fizemos uma visita rápida aos nossos amigos Sônia e Wilfredo, que agora tinham cinco filhos.

Com a virada do ano, a rotina voltou com força total. Começamos a prestar serviço para a metalúrgica do Eduardo. E, para surpresa de absolutamente ninguém, Marcos pediu Suzy em namoro — que aceitou sem pensar duas vezes.

Em janeiro, chegou o dia da eleição para síndico. Simone apareceu em cima da hora:

— Anderson — sussurrou, enquanto eu ajeitava minhas anotações — tenho algo incrível pra te contar.

Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, chamaram para iniciar a assembleia. Dos 24 condôminos, 21 estavam presentes. Camila venceu com 11 votos contra os 10 do Marcondes.

Ao ser declarada vencedora, Camila se levantou radiante e, como quem solta uma bomba com um sorriso no rosto, anunciou: estava grávida. Garantiu que, apesar da gestação, cumpriria com empenho o papel de síndica.

A assembleia foi encerrada. Quando as cadeiras começaram a ranger e os vizinhos se dispersavam em murmúrios, Simone me puxou suavemente pelo braço. Fomos até Camila.

— Parabéns, Camila — disse Simone, sorrindo.

Em seguida, ela olhou direto nos meus olhos. E me contou.

— Eu também estou grávida.

As palavras dela ficaram suspensas no ar. Senti o chão sob meus pés perder firmeza — não por medo, mas por tudo o que aquela frase significava. Um futuro novo entre nós dois.

Meu coração acelerou. Quis sorrir, dizer algo, tocar sua barriga — mas tudo em mim estava em silêncio, tentando gerenciar o impacto daquela revelação.

As duas se abraçaram, radiantes de felicidade, compartilhando aquele momento. Riam, falavam ao mesmo tempo, trocavam promessas de encontros e dicas de maternidade.

Simone estava grávida. Minha Simone. Minha companheira, mesmo sem papel passado.

Senti uma alegria contida, ao mesmo tempo, uma preocupação começou a tomar forma.

"Quando o bebê nascer, vou precisar estar mais presente. Mais do que nunca."

Talvez estivesse na hora de sair da sociedade. Vender minha parte. Respirar de novo.

Mas, antes que pudesse me entregar completamente à ideia, ela me olhou: Camila.

A nova síndica, com seu sorriso largo e as mãos repousando instintivamente sobre a barriga.

O pensamento que me atravessou quando ela revelou a gravidez gritou dentro de mim:

“E se... esse filho não for do marido dela? E se for meu?”

A pergunta latejava

Simone segurou minha mão. Senti um peso duplo, que vinha da dúvida e da culpa.

A vida foi seguindo e uma semana após, ocorreu a cerimônia de inauguração do nova Unidade do Hospital São Francisco.

Logicamente eu estava presente. A cerimônia estava transcorrendo, cheia de pompa e glamour.

Perto do final, respirei fundo. Meus dedos roçaram o estojo de veludo no bolso do paletó. O anel estava lá. Pequeno, clássico, sem exageros. Do jeito dela.

O pai de Simone, Dr. Álvaro, pegou o microfone para as palavras finais. Meu coração começou a martelar no peito.

— Antes de encerrarmos esta noite tão significativa — disse ele, com a voz firme de pai orgulhoso — eu gostaria de chamar ao palco um homem muito especial para a nossa família. Anderson, por favor.

Vi os olhos de Simone se arregalarem. Ela virou-se para mim, surpresa

As pernas ficaram meio bambas. Mas eu subi. Fui até ela.

No palco, diante de uma centena de pessoas, me ajoelhei.

— Simone… — minha voz saiu mais serena do que eu esperava. — Eu sempre soube que a vida com você seria intensa.

Agora que estamos esperando um filho, eu não quero mais continuar pela metade.

Quero ser tudo: companheiro, pai, parceiro. E, se você quiser, marido.

Abri a caixinha. O anel brilhou sob as luzes do auditório.

— Você aceita se casar comigo?

Por um segundo — longo demais — o mundo parou. E então ela riu, chorando:

— Claro que sim! — disse, e me puxou para um beijo entre aplausos e flashes.

Eu a abracei com força. A plateia inteira aplaudia.

Entre estas pessoas presentes estava ela: Camila.

Parada entre os convidados. Séria. Vestido deslumbrante, joias caríssimas, que só não brilhavam mais que seus lindos olhos azuis. Com os braços cruzados sobre a barriga.

Aquela barriga.

Ela não sorria. Não chorava.

Só me olhava.

Fixamente.

A dúvida voltou, fria e silenciosa, se aninhando no canto da minha mente.

“E se for meu?”

Mas eu segurei Simone mais forte.

A resposta viria — mais cedo ou mais tarde.

Por enquanto, tudo que eu podia fazer era continuar com a escolha que tinha feito.

Mesmo que o passado não estivesse tão enterrado quanto eu gostaria.

Meses depois

O tempo começou a correr como nunca.

Suzy pediu demissão da empresa, pois Marcos a pediu em casamento.

O que me deixou duplamente aliviado: Não precisava mais pagar a mesada de Suzy e também não teria aquela tentação em forma de mulher, todos os dias na empresa. E Mada perdeu a empregada. A mãe da Suzy não precisaria mais trabalhar.

Agora que seria pai, tinha que me focar na minha família. A gravidez transcorria bem. Descobrimos que seria uma menina.

Simone chorou na hora. Um nome veio quase naturalmente: Beatriz.

Simone disse que significava “aquela que traz felicidade.”

A previsão era para o final de setembro.

A cada ultrassom, Beatriz parecia mais real, mais próxima. Começamos a montar o quarto, escolher o berço.

Marcamos a cerimônia de casamento para março do ano seguinte. Tempo suficiente para Beatriz nascer, crescer um pouco, e Simone se sentir confortável com tudo.

Mas, mesmo com todos os planos, Camila ainda estava ali.

Grávida. De um menino.

Toda vez que eu a via, algo me prendia o ar por dentro.

E se for meu?

Não tive coragem de perguntar.

Ela também nunca tentou me procurar.

E, talvez por covardia, aceitei esse silêncio como um acordo tácito: fingir que nada aconteceu.

As vezes o destino tem um senso de humor estranho. Ou cruel. Talvez os dois.

Simone entrou em trabalho de parto de madrugada. Saímos às pressas, com a bolsa dela na mão e o coração saindo pela boca. No hospital São Francisco, tudo estava sob controle. Monitorada, serena — ou o mais serena que alguém consegue estar sentindo contrações a cada cinco minutos.

Beatriz estava chegando.

Enquanto Simone era levada para o centro obstétrico, fiquei na sala de espera, mãos suando, tentando parecer calmo. Os sogros chegaram logo depois. Nos abraçamos com força. A ansiedade estava no ar.

Foi então que a vi.

Camila.

Atravessando o saguão, apoiada no braço de Eduardo, também em trabalho de parto.

Nossos olhos se cruzaram por um segundo.

Ela desviou. Eu fingi que não vi.

Mas o choque me atingiu inteiro.

As duas. No mesmo dia. No mesmo hospital.

Horas depois, tudo aconteceu quase em sincronia.

Primeiro, soubemos que Camila dera à luz um menino. Gabriel.

Vi Eduardo andando pelos corredores com o bebê enrolado no colo. Passaram perto de mim, e eu fiz de tudo para não parecer curioso. Mas olhei.

O menino era a cara da Camila.

O formato do rosto, a pele um pouco mais clara. Mas havia ali algo familiar...

Leves traços japoneses. Discretos, mas presentes.

Eu, mestiço.

Eduardo também.

Aquele menino podia, sim, ser de Eduardo.

Mas então Beatriz nasceu.

E tudo que eu senti antes desapareceu.

Quando a enfermeira me trouxe minha filha nos braços, foi como se o mundo inteiro tivesse sido reduzido àquele instante.

Ela era pequena, quente, viva.

Mas…

Tinha cabelo.

Loiro.

Loiro como trigo.

Puxei o cobertor devagar, como se quisesse encontrar outra versão da realidade por baixo do pano.

Os olhos ainda fechados, o rosto ainda indefinido… mas nada ali lembrava a mim.

Não disse nada.

Nem quando Simone sorriu e disse que ela tinha meu queixo — coisa que eu mesmo não via.

Mas minha mente foi longe.

Fernando. Loiro, alto, sorridente demais.

E se...?

Fechei os olhos e voltei a olhar Beatriz.

Ela mexeu os lábios num gesto involuntário, como se tentasse sorrir.

Eu queria que tudo parasse ali.

Queria amar sem dúvida.

Queria ser só o pai feliz, o noivo apaixonado, o homem pronto.

Mas o destino — aquele velho brincalhão — agora me oferecia um espelho invertido:

E se Gabriel for meu?

E se Beatriz não for?

A ironia me cortava em silêncio.

Sorri. Beijei a testa da minha filha.

Disse que a amava.

E repeti isso baixinho, como uma prece, até que soasse verdadeiro.

Mas dentro de mim, uma pergunta nova começava a crescer.

E dessa vez, eu sabia: não conseguiria silenciar por muito tempo.

A alta veio no fim da tarde, quando o céu começava a ganhar tons de cobre. Recolhemos flores e lembrancinhas, agradecemos às enfermeiras pelo cuidado. Tudo parecia leve, solene, como se o mundo nos observasse em silêncio.

Chegamos em casa já com a noite se esgueirando pelas ruas. O ar tinha aquele cheiro de lar que se mistura com a ansiedade de algo novo. Instalamos o berço ao lado da cama. Simone ajeitou os lençóis, organizou fraldas, trocou a filha com mãos ágeis, quase instintivas.

Eu apenas observava.

Ou tentava.

Eu tentava não olhar demais para o cabelo da nossa filha...

Mas era inevitável.

A pele era bem clara, o cabelo loiro claro, os olhos — quando abertos — pareciam claros também. Nenhum traço evidente da minha ancestralidade. Nenhuma sombra do meu pai, ou do meu avô.

Simone notou. Claro que notou.

Ela sempre foi boa em ler silêncios. Ainda mais os meus.

— Você está estranho, Anderson — disse, com a voz calma, porém firme.

Demorei um pouco pra responder. Dei um meio sorriso.

— Só cansado… muita coisa na cabeça.

Ela me olhou com uma mistura de paciência e leve irritação.

— Você está se perguntando por que a Beatriz não tem traços japoneses, não está?

A frase me pegou de frente. Não neguei. Também não confirmei.

— Olha… — ela continuou, se ajeitando na poltrona — você é mestiço. Metade japonês. Eu não tenho ascendência oriental. Isso significa que a Beatriz tem apenas um quarto da carga genética japonesa. A chance de ela não manifestar traços visíveis é totalmente real.

Aliás, isso é mais comum do que você imagina.

Fiquei quieto. Ela seguiu, agora no tom professoral que usava quando explicava medicina para leigos.

— A genética não funciona como mistura de tinta. Às vezes um traço pula uma geração, às vezes desaparece completamente. Isso não tem nada a ver com paternidade, tem a ver com expressão genética.

Assenti. Concordei com tudo. Meus avós alemães eram loiros, vai ver era isso.

E no fundo, parte de mim queria acreditar na explicação. Ela fazia sentido. Era lógica. Serena.

Lembrei daquele dia no hospital, quando disse que só teríamos filhos bonitos se eles puxassem à Simone. Talvez os anjos tenham concordado — porque a Beatriz puxou tanto à Simone que mal sobrou espaço pra mim.

Mas…Gabriel.

A imagem do menino ainda estava fresca na minha memória. O bebê de Camila. O bebê de Eduardo.

Ele parecia mais comigo do que minha própria filha.

E essa ideia me perseguia, como um inseto zumbindo dentro da cabeça.

— Se quiser… — Simone disse, com a voz baixa — a gente pode fazer um teste de DNA.

Aquilo me desmontou um pouco.

Ela estava sendo honesta. Aberta.

E mesmo assim, eu…

— Não precisa — respondi. Rápido demais. — Eu confio em você.

Ela sorriu, com alívio.

Se levantou, caminhou até mim, e me abraçou por trás, passando os braços pelos meus ombros.

— Então relaxa. Ela é nossa. E vai ter o que for pra ter, no tempo dela.

Eu fechei os olhos.

Dei um beijo na mão dela.

Mas não relaxei.

A dúvida, mesmo pequena, continuava ali.

Fina. Invisível. Persistente.

Um mês depois

Tinha acabado de chegar do mercado, com uma sacola de fraldas e outra com frutas. O elevador estava lento. Resolvi ler o quadro de avisos do condomínio, e foi ali que tudo mudou de novo.

Um papel branco, afixado com fita transparente e uma moldura preta em volta. Letras sóbrias, diretas:

"Comunicamos, com pesar, o falecimento de Eduardo Sato, morador do apartamento 12. O velório ocorrerá amanhã, das 8h às 13h, no Cemitério da Paz, seguido de cremação às 14h."

Eduardo. Morto.

Fiquei parado. O corredor parecia mais frio, mais silencioso do que o normal.

Meu cérebro tentou reagir com lógica. Pensei em acidente. Infarto. Qualquer coisa. Mas não fazia sentido.

Eduardo estava bem. Tinha visto ele há poucos dias, saindo com o carrinho do bebê, Gabriel todo enrolado num cobertor azul.

Meus dedos tremiam enquanto desbloqueava o celular.

Liguei pra Simone.

— Alô? Amor?

— Anderson? — a voz dela veio séria, cansada — Eu ia te ligar agora…

— Você viu?

— Sim. Acabei de saber. O Fernando me mandou mensagem. Disse que ficou chocado… Eduardo estava se recuperando bem.

— Do quê? Ele estava doente?

— Foi um ataque cardíaco fulminante. Fernando disse que ele vinha evoluindo bem. Até ontem, mas que sempre há risco.

— E morreu hoje?

— Ontem, numa reunião com a família dele. Suzy e Marcos vão se casar e eles estavam reunidos para falar sobre a cerimônia.

Fiquei em silêncio. A sacola de fraldas pesava no meu braço, mas eu não sentia nada. Só um frio seco na nuca.

— Fernando achou estranho — ela continuou — porque ele estava bem.

— No aviso fala em cremação, amanhã.

Simone não respondeu. E eu também não disse mais nada.

Simone ficou em silêncio por alguns instantes.

— É… — disse por fim, com a voz baixa. — Muito rápido, né?

— É. Rápido demais.

Uma pausa longa.

Podíamos ouvir a respiração um do outro. Cada um digerindo a mesma informação por caminhos diferentes.

— Bom… qualquer coisa, me chama — ela disse, num tom que tentava soar prático.

— Tá. Vou subir.

Outra pausa.

— Se cuida, Anderson.

— Você também, Simone.

Desliguei, mas fiquei ali, parado, encarando o papel no quadro de avisos.

Cremação. Amanhã.

Rápido mesmo.

A palavra martelava na minha cabeça, junto com outras que eu não queria pensar: pressa, urgência, limpeza. Como se alguém quisesse apagar tudo. Fechar a conta. Encerrar um capítulo antes que alguém folheasse de volta.

Meu olhar varreu o corredor vazio. Nenhuma porta entreaberta. Nenhum som.

Guardei o celular, os músculos duros como pedra. A sacola de fraldas ainda pendia do braço, mas parecia um peso morto.

Foi quando o elevador chegou, com aquele apito agudo que mais parecia um alerta.

Entrei como um autômato. Apertei o botão do 11º andar.

Minha mente girava sem parar.

Eduardo está morto.

Camila está sozinha.

Gabriel está sem pai.

E se ele nunca fosse o pai?

E se agora tudo mudasse?

As portas se fecharam.

Uma sensação incômoda começou a crescer dentro de mim.

A morte de Eduardo parecia errada. Apressada.

Conveniente demais.

E, no fundo, mesmo que eu odiasse admitir, algo em mim sussurrava:

Agora não tem mais ninguém entre você e a verdade.

Nunca gostei de velórios. O silêncio que não é silêncio, as vozes abafadas, o cheiro de flores que sufoca. E aquele dia … estava ainda pior.

Entrei segurando a mão da Simone. Ela apertava a minha com firmeza, como se quisesse me lembrar que estava ali, que éramos um casal. Que não havia espaço para dúvidas. Mas havia. Dentro de mim, elas se multiplicavam.

O salão estava iluminado demais. Frio. O corpo de Eduardo repousava no centro, cercado de flores brancas, lírios, orquídeas. Flores caras, como tudo o que ele tocava em vida. Mesmo morto, Eduardo ainda exalava aquele ar de superioridade. Inacessível até no caixão.

Meus olhos procuraram por ela antes mesmo de eu perceber o que estava fazendo. E lá estava Camila.

Sentada num banco de madeira ao lado do corpo. Os olhos vermelhos, o rosto molhado. Chorava de verdade — ou parecia. E era isso que me confundia. Porque se fosse atuação, era perfeita. E se não fosse… então, o que era tudo isso?

Atrás dela, notei Marcos sendo amparado pela noiva. Suzy o abraçava com força, tentando conter os soluços dele. A dor dele era evidente, comovente. Mas minha atenção logo voltou novamente para Camila.

Ela não parecia uma assassina.

Mas era impossível ignorar a hipótese. Ninguém além de mim sabia do que aconteceu entre nós. Uma única noite. Uma falha. Ou uma armadilha — ainda não sei. Só sei que, depois daquilo, Camila agiu como se nunca tivesse acontecido. E eu... eu também tentei. Mas agora, vendo aquele bebê dormindo num cobertor azul, a dúvida me comia vivo.

Gabriel podia ser meu filho.

E Eduardo, com todos os milhões dele, agora estava morto. Ataque cardíaco, disseram. Mas eu conversei com o Wilfredo. Existem substâncias. Coisas que o corpo não acusa. Mortes limpas. Mortes planejadas.

Simone se inclinou e sussurrou no meu ouvido:

— Tá tudo bem?

Assenti com a cabeça. Menti com o pescoço.

Camila levantou o rosto. Os olhos dela encontraram os meus. Não disse nada. Nem precisava. Tinha algo naquele olhar — um peso, um aviso, talvez até um pedido. Por um segundo, todo o barulho ao redor desapareceu. E me vi de volta àquela cobertura. Àquele início de noite. Àquela escolha que nunca deveria ter feito.

Desviei o olhar. O coração batia mais rápido do que devia. Eu precisava saber a verdade. Se ela matou Eduardo. Se Gabriel é meu. Se essa história toda é só tragédia... ou trama.

Mas não era hora. Ainda não. No fundo, eu sabia.

Esse velório não era o fim. Era o começo.

Eduardo agora era cinza em alguma urna de mármore, e o mundo continuava girando.

Na manhã seguinte, desci para pegar correspondência, mais por hábito do que por necessidade. Foi quando vi o aviso no quadro de vidro, ao lado do elevador:

COMUNICADO AOS CONDÔMINOS

Informamos que a Sra. Camila R. Sato apresentou, formalmente, sua renúncia ao cargo de síndica deste condomínio.

Conforme previsto no regimento interno, o Sr. Marcondes assumirá a gestão interina até nova assembleia.

Li o bilhete três vezes. Assinado por Zelinda, a funcionária da administração. Fria, neutra, como sempre.

Camila tinha sumido. Ninguém a tinha visto desde o velório. Nenhum sinal dela, nenhum movimento na cobertura. Falei com o porteiro. Ele disse que ela não levou nada. Nenhuma mudança, nenhum caminhão, nem uma mala. Somente o Porsche que não estava mais na garagem.

A cobertura continuava com as luzes apagadas. Como se tivessem enterrado a casa junto com Eduardo.

Liguei para Sônia:

— Sonia, consegue ver se o inventário do Eduardo já corre no sistema?

Ela não perguntou por quê. Só pediu o CPF, que eu tinha no contrato que assinamos com a metalúrgica.

Me retornou uma hora depois:

— Já está aberto, sim. Inventário judicial. O menino, Gabriel, foi habilitado como herdeiro. Está representado pela mãe.

— Camila? — perguntei, quase sem voz.

— Sim

Silêncio.

— Tem muitos bens, Anderson. Vai demorar. Tem imóveis, investimentos, empresa, ações no exterior. E com menor envolvido... vai demorar. Tem que passar pelo Ministério Público.

Agradeci, mas minha cabeça já estava a mil.

Camila tinha renunciado. Sumido. Não levou nada, a não ser o carro.

Eu precisava saber onde ela estava. O que estava tramando. E se aquele menino, era mesmo meu filho.

Se Camila armou tudo isso, fez com calma. Com paciência.

E agora, desaparecia como fumaça.

Continua ...

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Comentários

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A ex Vizinha é esperta demais 🤔. Enganou o marido, engravidou de outro homem para enganar o corno para dizer que o filho é dele ,mata o coitado para não ter provas contra ela e ainda por cima some do apartamento sem levar nada ! Agora eu achei estranho o filho mais velho não está no velório do Pai,e também esse sumiço repentino da Camila

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Você se atentou a um detalhe importante e fico muito feliz em ver que está envolvido com a trama!

Sobre o Marcos, você tem toda razão. No texto original ele não foi citado no velório, não por estar ausente, mas porque, do ponto de vista do Anderson, naquele momento o foco estava todo em Camila e na tensão em torno dela.

Na construção da cena, a presença do filho não era essencial para o desenrolar da trama... mas concordo com você: mesmo que não fosse o centro da narrativa, a ausência de menção a ele pode soar estranha.

Por isso, fiz uma pequena edição no texto e agora Marcos aparece sim.. A presença dele agora está registrada de forma breve, por não ser algo tão essencial para a trama, mas de forma clara e explicita.

Obrigado pelo toque!

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Esta história tá parecendo uma série policial, ou de drama... kkkk

Parabéns... Muito bom!!!

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Eu acho que o próximo capítulo vai reforçar ainda mais a sua opinião.

Muito obrigado!

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Rapaz, você conseguiu ferrar a cabeça do Anderson de formas opostas.

O título foi tão bom que deu para prever o teor da história por ele.

Agora é esperar para ver como isso vai continuar.

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Anderson não consegue resistir a uma mulher bonita. Acabou com esse problema.

Temos mais nove capítulos pela frente.

Vamos ver como vai continuar.

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Duas crianças nascem no mesmo dia.

Uma é filha dele, mas talvez não seja.

A outra é filho do vizinho, mas talvez seja dele.

🥴Eu acho que o Anderson tá ferrado!

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Tá com jeito!

Vamos ver o que vem pela frente.

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